quarta-feira, 1 de novembro de 2023

iOS X ANDROID — DE VOLTA À (IN)SEGURANÇA

UM APAZIGUADOR É AQUELE QUE ALIMENTA UM CROCODILO NA ESPERANÇA DE QUE ELE VENHA A COMÊ-LO POR ÚLTIMO.
 
O fim do mês encerra a passagem do Brasil pela presidência Conselho de Segurança da ONU e marca a volta do país a sua real dimensão. Não se nega a importância dos papéis que Lula, o Itamaraty e Celso Amorim desempenharam no contexto da guerra entre Israel e o Hamas. Tudo na correta proporção do que era possível na conjuntura. Desproporcionais foram algumas reações ufanistas sobre o papel do Brasil, cujo protagonismo era transitório e devido a circunstância específica. Quando não se sopesam corretamente os fatos, presta-se serviço à desinformação.
Lula desdisse o que havia dito sobre disputar a reeleição em 2026, e voltar atrás agora seria entregar o governo antes do tempo. Havendo sentido na probabilidade de ele não ir a um quarto mandato aos 81 anos de idade e tendo quase perdido o terceiro para uma figura de péssimas credenciais, o primeiro da fila para disputar seria Haddad. Seria, porque o presidente não reforça — antes fragiliza — seu ministro da Fazenda quando pontifica a respeito do que não entende e elege o "mercado" como seu malvado predileto. A impossibilidade da meta do déficit zero era voz corrente, mas insistir nela sinalizava um desestímulo ao estouro das contas. 
Menos de um ano e o governo já aderiu ao Centrão — que não aderiu ao governo. Minoria no Parlamento, o PT tampouco faz valer sua maioria no Executivo para ajudar. Só não atrapalha mais com as posições vocalizadas por Gleisi Hoffmann porque a sacerdotisa da seita não é interlocutora autorizada. Haddad era tido como tal até Lula retirar sua autoridade indo no sentido contrário ao adotado por Itamar Franco quando deu autonomia ao titular da Fazenda, abrindo caminho para eleger o sucessor.
Itamar conteve por um período o temperamento difícil e manteve a mira direcionada ao objetivo maior de médio prazo. Em sua insensata certeza de ser o guia genial de todos os povos, Lula faz o oposto e ainda contrata escândalos futuros, contribuindo para tornar turvo o horizonte da reeleição.

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Comunicações móveis confiáveis e seguras são essenciais nos dias de hoje. O iOS parece ser mais seguro do que o Android devido às restrições a programas de terceiros e à loja rigorosamente controlada, mas relatos envolvendo infecções por malware em dispositivos da Apple vêm se tornando cada vez mais comuns. 

Até mesmo a líder global em cibersegurança Kaspersky — que utilizava iPhones como meio padrão de comunicação mobile — foi alvo de ataques. Após uma investigação minuciosa e o lançamento da ferramenta Triangle check, projetada para procurar automaticamente vestígios de infecção, a empresa russa recebeu uma enxurrada de mensagens de usuários de iPhones, com relatos de infecção em seus dispositivos. 
 
Paradoxalmente, a afirmação (tantas vezes repetida) de que o iPhone é indiscutivelmente mais seguro que smartphones com sistema Android só piora a situação, pois transmite uma falsa sensação de segurança. Mesmo depois de a ameaça ter sido divulgada, foi preciso convencer os usuários a buscar vestígios do malware em seus dispositivos — e eles ficaram genuinamente surpresos quando descobriram que haviam sido infectados.
 
A ideia de “por que alguém iria me hackear?” é reconfortante, mas perigosa. Você não precisa ser o alvo principal para que invadam seu telefone; basta estar relacionado a um alto executivo ou funcionário do governo, participar de reuniões ou simplesmente estar fisicamente perto do verdadeiro alvo do ataque. O fato de Exploits para iOS e Android terem preços semelhantes em fóruns da dark web e plataformas como a Zerodium indica como os cibercriminosos veem o nível de segurança desses sistemas. A diferença está na disponibilidade de ferramentas para combater as ameaças. 
 
Se os golpistas explorarem a mais recente vulnerabilidade zero-day para burlar os mecanismos de segurança da Apple, os usuários provavelmente nem perceberão o que aconteceu. Devido às restrições do sistema, mesmo os melhores profissionais teriam dificuldade em descobrir exatamente o que os cibercriminosos estavam buscando. Por outro lado, smartphones Android contam com inúmeras opções de segurança completas, ao passo que as supostas vantagens do iOS em caso de ataque podem se tornar desvantagens, pois a natureza fechada de seu ecossistema impede o acesso de pesquisadores de segurança externos, favorecendo os atacantes. 
 
A proteção implementada pela Apple bloqueia o acesso dos usuários a sites maliciosos e os impede de baixar arquivos APK adulterados, por exemplo, mas, no caso de ataques contra iPhones — que, como a prática demonstra, estão ao alcance de cibercriminosos sofisticados —, eles só podem esperar que a Apple detecte a acção dos criminosos tempestivamente.

Foram descobertos na App Store alguns aplicativos maliciosos que, sob certas condições, falsificavam dados pessoais do usuário. Ainda que isso não possa ser considerado uma ameaça em massa, não deixa de ser um precedente perigoso, pois evidencia que a bandidagem conseguiu driblar os rigorosos controles da Apple e disponibilizar seus aplicativos fraudulentos na loja oficial da empresa.

Uma solução de segurança opera com base no princípio de imunidade adquirida, ou seja, protege contra ameaças semelhantes com as quais a ferramenta já teve contato. Num mundo perfeito, todos teríamos celulares com imunidade inata, que impedissem por padrão quaisquer ações indesejadas. Mas não vivemos num mundo perfeito. E esse dispositivo ainda não existe.