quarta-feira, 22 de novembro de 2023

O AMIGO DOS AMIGOS

 


Lula desejou boa sorte ao novo governo argentino, mas não citou nominalmente o lunático ultrarradical que derrotou o mafabé peronista. Também sinalizou que não comparecerá à cerimônia de posse do dito-cujo, que o chamou de "corrupto" e "comunista". Causa espécie a reação de certas pessoas quando alguém simplesmente estabelece um fato — faz sentido, por exemplo, um obeso mórbido de 150 kg ficar puto quando alguém diz que ele é gordo?


Parte da diplomacia tupiniquim apostava que Milei trocaria a retórica inflamada da campanha por gestos práticos que atenuassem os "ataques" ao presidente desta banânia, mas o portenho decepcionou os apostadores do Itamaraty e irritou os torcedores do governo ao participar de uma videochamada com Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo. 


Lula, que esperava uma reação amistosa após trombetear que "o Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos", recebeu uma canelada. Ao convidar Bolsonaro para a posse e obter dele resposta positiva, o doidivanas argentino como que desconvidou o petista, que enviará um representante a Buenos Aires.


Observação: É patético o esforço do mito dos descerebrados para pegar carona na vitória do tresloucado portenho. Claro que parte da imprensa ajuda, imaginando relações de causalidade onde não há nem mesmo correlações, mas isso é conversa para outra hora.


Um relacionamento pouco amistoso entre o Planalto e a Casa Rosada será ruim para nós, que temos na Argentina seu terceiro maior parceiro comercial, mas pior para eles, às voltas com uma ruína econômica que desaconselharia o desprezo do desassisado recém-eleito pelos negócios com o mercado brasileiro. 


Lula parece conformado com a ideia de manter uma "relação entre Estados", mas Milei, numa evidência de que há males que vêm para pior, reiterou a promessa de campanha de tirar a Argentina do Mercosul. Remando na contramaré, o petista conversou com a presidente da Comissão da União Europeia sobre a conveniência de apressar o fechamento do acordo comercial entre os dois blocos.


Quando amigos e aliados políticos ou ideológicos são pegos em atos hediondos, a esquerda saca da cartola o truque da "equivalência moral", que admite que o lado "favorito" cometeu erros, nas ressalta que o "outro lado" é igualmente culpável pela situação ou pratica os mesmos atos. Lula já abusou da equivalência moral em defesa do amigo Putin, afirmando que Zelensky era "tão responsável" pela guerra quanto o autocrata russo. E repetiu a dose ao dizer que "a decisão da guerra foi tomada pelos dois países", e que o presidente ucraniano "não toma a iniciativa de parar", como se ele devesse simplesmente desistir de defender seu país diante de uma agressão unilateral russa.


Seguindo o script da equivalência moral, disse o grande estadista de Garanhuns: "houve um ataque terrorista do Hamas, e que o condenamos desde o início" — o que não é muito preciso, já que as reações iniciais do Itamaraty foram pífias. E acrescentou: "Israel fazendo o que está fazendo com hospitais, crianças e mulheres [...] é uma atitude igual ao terrorismo". Na véspera, ele havia dito que "depois do ato de terrorismo provocado pelo Hamas, as consequências, a solução do Estado de Israel é tão grave quanto foi a do Hamas, porque eles estão matando inocentes sem nenhum critério".

Em última análise, o que Lula propõe é a validação da "estratégia do monstro", que força a permanência das crianças onde há um alvo militar camuflado sob uma estrutura civil para impedir qualquer ação israelense — inclusive a de tentar "matar o monstro sem matar as crianças". Nada surpreendente vindo de quem defende ditadores carniceiros na América Latina e fora dela, está sempre pronto a justificar e relativizar tudo quando se trata dos parceiros de ideologia (ou "inimigos do meu inimigo") que tenham adversários em comum. E quando as atrocidades desses amigos inviabilizam qualquer justificativa, as mentiras igualam o que não há como ser igualado.