SE VOCÊ JULGAR UM CÃO POR SUA HABILIDADE DE SUBIR EM ÁRVORES, PASSARÁ A VIDA INTEIRA ACREDITANDO QUE O BICHO É ESTÚPIDO, QUANDO NA VERDADE O ESTÚPIDO É VOCÊ.
O comportamento do ser humano ao longo da história diz muito sobre a natureza da humanidade, e o fato de a única "forma de vida" que fomos capazes de criar até agora (os "vírus de computador") ser destrutiva não deixa dúvidas sobre o que significa "criar vida à imagem e semelhança".
A "vida" como a conhecemos se formou a partir de cadeias de átomos de Carbono. Quando o Universo surgiu (há 13,8 bilhões de anos, segundo a Teoria do Big Bang), não havia Carbono, e o calor era tamanho que toda a matéria estava em forma de partículas. Cerca de um minuto depois, a temperatura caiu para cerca de um bilhão de graus celsius, e os nêutrons passaram a se decompor em prótons, ligarem-se a eles e formar átomos de Hélio.
O universo continuou esfriando e se expandindo, mas a atração gravitacional de regiões com densidades ligeiramente mais altas do que as outras desacelerou essa expansão. Dois bilhões de anos depois, essas regiões entraram em colapso e formaram galáxias com estrelas mais massivas que o Sol, e essa estrelas converteram Hidrogênio e Hélio em elementos mais pesados, como Carbono, Oxigênio e Ferro, explodiram como supernovas e pulverizaram esses elementos, que se tornaram matéria-prima para as gerações posteriores de estrelas.
Nosso sistema solar se formou há cerca de 5 bilhões de anos, a partir de restos de estrelas, e a Terra, por volta de 4,5 bilhões de anos atrás, a partir de elementos como Carbono e Oxigênio. Estima-se que 1 em cada cada 5 sistemas solares tenha um planeta de tamanho semelhante ao do nosso orbitando sua estrela na região que os astrônomo chama de "Cachinhos Dourados" — numa alusão ao conto infantil homônimo, segundo o qual a protagonista não gosta do mingau doce como o do bebé urso nem salgado como o do papai urso, mas "no ponto certo", como o da mamãe ursa. Essa região é considerada "habitável" porque a temperatura na superfície do planeta suporta a existência de água líquida.
Observação: Uma vez que a probabilidade de uma molécula de DNA surgir por flutuações aleatórias é muito pequena, é possível que a vida tenha sido trazida para a Terra por rochas que se desprenderam de Marte durante a formação do Sistema Solar, mas isso é outra conversa.
Os últimos 10 mil anos produziram mudanças detectáveis no DNA humano, mas a quantidade se torna inexpressiva quando comparada a do conhecimento transmitido de geração em geração, que cresceu exponencialmente. Segundo Stephen Hawking, o DNA em um zigoto humano contém 3 bilhões de pares de bases nitrogenadas, e ainda que grande parte da informação codificada nessa sequência possa ser redundante ou estar inativa, a quantidade de informação útil equivale a cerca de 12,5 MB.
Ao longo dos milhões de anos que os humanos levaram para evoluir dos símios, a informação útil em seu DNA mudou uns poucos milhões de bits. A "fase darwiniana" durou cerca de 3,5 bilhões de anos, e produziu seres que desenvolveram a linguagem para trocar informação. Nos últimos dez mil anos, o registro interno da informação transmitido às gerações posteriores no DNA pouco mudou, mas o registro externo (em livros e outras formas de armazenamento de longa duração) aumentou barbaramente.
Podemos não ser mais fortes que nossos antepassados cavernícolas, mas diferimos deles pelo conhecimento que acumulamos ao longo dos último 300 mil anos. A escala de tempo para a evolução no período de transmissão externa, que costumava ser de milhares de anos, agora gira em torno de 50 anos, mas os cérebros com que processamos essas informações evoluíram na escala de tempo darwiniana (de centenas de milhares de anos), e isso vem causando problemas.
No século XVIII, alguém levaria poucos anos para ler todos os livros escritos até então. Atualmente, alguém lesse um livro por dia levaria 104.110 anos par ler os 38 milhões que compõem o acervo da Biblioteca Nacional do Congresso (EUA), sem falar que cerca de 400 mil novas obras escritas em inglês são publicadas anualmente. Por outro lado, se considerarmos que um romance de bolso contém cerca 300 kB de informação e que nosso cérebro consegue armazenar 2,5 Petabytes... enfim, faça as contas.
Podemos não ser mais fortes que nossos antepassados cavernícolas, mas diferimos deles pelo conhecimento que acumulamos ao longo dos último 300 mil anos. A escala de tempo para a evolução no período de transmissão externa, que costumava ser de milhares de anos, agora gira em torno de 50 anos, mas os cérebros com que processamos essas informações evoluíram na escala de tempo darwiniana (de centenas de milhares de anos), e isso vem causando problemas.
No século XVIII, alguém levaria poucos anos para ler todos os livros escritos até então. Atualmente, alguém lesse um livro por dia levaria 104.110 anos par ler os 38 milhões que compõem o acervo da Biblioteca Nacional do Congresso (EUA), sem falar que cerca de 400 mil novas obras escritas em inglês são publicadas anualmente. Por outro lado, se considerarmos que um romance de bolso contém cerca 300 kB de informação e que nosso cérebro consegue armazenar 2,5 Petabytes... enfim, faça as contas.
A capacidade do cérebro humano pode vir a ser uma grande limitação no futuro, e um perigo ainda maior para as próximas gerações são os instintos e os impulsos agressivos que nos acompanham desde o tempo das cavernas. A agressão, na forma de subjugar e matar outros homens e tomar suas mulheres e sua comida, era fundamental para a sobrevivência de nossos antepassados mais remotos, mas agora pode destruir a espécie humana e grande parte do restante da vida na Terra, e nada indica que a evolução darwiniana nos fará mais inteligentes e afáveis nos próximos séculos.
A boa notícia é que podemos consertar defeitos genéticos controlados por um único gene. Supondo que consigamos usar a engenharia genética para ampliar nossa inteligência e neutralizar instintos como o da agressividade, a vida baseada em DNA poderá se estender por milhares de anos. Se a humanidade reconstruir a si mesma e eliminar o risco de destruição suicida, poderá colonizar outros planetas e estrelas.
Viagens interestelares não ornam com formas de vida baseadas no DNA. De acordo com a teoria da relatividade, nada pode se mover mais rápido do que a luz, de modo que um bate e volta até a estrela mais próxima levaria muito mais que os 4,25 anos que sua luz demora para chegar até nós. A ficção científica supera esse obstáculo com curvaturas no espaço-tempo e universos paralelos, mas nada indica que, na prática, isso se tore possível no médio prazo. E vale lembrar que, se um dia conseguirmos viajar mais rápido que a luz, poderemos voltar no tempo, e isso causaria problemas como o dos paradoxos.
Se o argumento sobre a escala de tempo para o surgimento da vida estiver certo, podem existir um sem-número de estrelas orbitadas por planetas habitados, e alguns desses sistemas podem ter se formado bilhões de anos antes do nosso. Mas a pergunta que não quer calar é: por que nossa galáxia não está repleta de formas de vida mecânicas e biológicas? Por que a Terra não foi não foi visitada, ou mesmo colonizada, por alienígenas de civilizações milhares de vezes mais avançadas que a nossa?
Talvez a probabilidade do surgimento expontâneo da vida seja tão remota que a Terra se tornou o único planeta no universo observável em que isso ocorreu. Por outro lado, sempre que falamos em vida tendemos a pensar em vida inteligente como uma consequência inarredável da evolução. Mas nada garante que seja assim, até porque o próprio Princípio Antrópico nos leva a desconfiar de tais argumentos.
É mais provável que a evolução seja um processo aleatório, com a inteligência sendo um entre inúmeros resultados possíveis. Para a vida na Terra, a inteligência pode ter sido um desenvolvimento pouco provável, já que, na cronologia da evolução, os seres unicelulares levaram 2,5 bilhões de anos para se transformar em multicelulares. E da feita que esse tempo corresponde a metade do tempo que falta para o Sol explodir... Enfim, não se descarta a possibilidade de encontramos outras formas de vida na galáxia, mas é pouco provável que encontremos vida inteligente.
É mais provável que a evolução seja um processo aleatório, com a inteligência sendo um entre inúmeros resultados possíveis. Para a vida na Terra, a inteligência pode ter sido um desenvolvimento pouco provável, já que, na cronologia da evolução, os seres unicelulares levaram 2,5 bilhões de anos para se transformar em multicelulares. E da feita que esse tempo corresponde a metade do tempo que falta para o Sol explodir... Enfim, não se descarta a possibilidade de encontramos outras formas de vida na galáxia, mas é pouco provável que encontremos vida inteligente.
Outra razão pela qual uma forma de vida incipiente pode não se tornar inteligente seria o choque de um asteroide ou um cometa contra o planeta que ela habita. Em 1994, a colisão do cometa Shoemaker-Levi com Júpiter produziu enormes bolas de fogo, e uma colisão de um corpo bem menor com a Terra, há 65 anos, causou a extinção dos dinossauros (alguns pequenos mamíferos primitivos sobreviveram, mas qualquer organismo do tamanho de um ser humano foi aniquilado).
É difícil estimar a frequência de tais colisões, mas uma média aceitável giraria em torno de 20 milhões de anos. Assumindo que essa estimativa esteja correta, a vida inteligente na Terra se desenvolveu porque tais colisões não ocorreram nos últimos milhões de anos, e outros planetas da galáxia em que a vida possa ter se desenvolvido não tiveram um tempo suficientemente longo sem colisões para ensejar o surgimento de seres inteligentes. E há ainda a possibilidade de a vida se formar e se tornar inteligente, mas o sistema ficar instável e se autodestruir — é uma perspectiva pessimista, mas isso não a torna menos possível.
Observação: Máquinas poderiam ser projetadas para fazer viagens interestelares, aterrissar num planeta adequado, escavar minas e conseguir material para produzir mais máquinas, que poderiam ser enviadas a mais estrelas e se tornar uma nova forma de vida — baseada em componentes mecânicos e eletrônicos em vez de macromoléculas — capaz de substituir a vida baseada em DNA da mesma forma que o DNA pode ter substituído uma forma de vida anterior.
Enfim, quem viver verá. Ou não.