No livro Cartas de um Antagonista, lançado há quase uma década com artigos escritos numa época em que o Brasil não era muito melhor que o de hoje, mas ainda nutria ilusões sobre o combate à corrupção, Mario Sabino transcreveu uma fala do escritor peruano Mario Vargas Llosa (na assembleia da Associação Interamericana de Imprensa de 2015):
"A corrupção é um problema grave, a maior ameaça para a democracia, especialmente com as novas e recentes democracias latino-americanas. O Brasil parecia ter decolado, mas o que o freou de repente e está provocando o retrocesso? A corrupção, que está de volta mais forte do que nunca, acima do pico de todos os níveis já alcançados, vinda de um governo que todos no mundo acreditavam exemplar: Lula implantou um governo profundamente corrupto. Dá até vertigem os montantes bilionários roubados pelos grandes ladrões do governo Lula. A história da Petrobras é incrível. É uma indicação do que pode acontecer se não se combater a corrupção, que se manifesta na América Latina de maneira muito perturbadora. Já não são os guerrilheiros, utopias socialistas, os golpes. São todos ladrões, como os narcotraficantes. Seria terrível se a democracia continuasse a ser esmagada e sufocada pela corrupção."
Quase uma década depois, vamos todos acreditar que Lula é inocente e foi vítima desse tipo de narrativa de Mario Vargas Llosa assim como Maduro é vítima da narrativa da ONU, dos EUA, da União Europeia, dos opositores do chavismo e dos 7 milhões de cidadãos que fugiram da Venezuela porque seu presidente é um ditador.
Vamos todos acreditar que os procuradores e juízes da Lava-Jato eram os bandidos, que Marcel Odebrecht era o mocinho perseguido injustamente pela fora-tarefa, cujo objetivo era inabilitar a candidatura de Lula e eleger Bolsonaro.
Vamos todos acreditar que foi Lula quem salvou a democracia brasileira daquele energúmeno chamado Bolsonaro, que o petista e seu espúrio partido são defensores da liberdade de imprensa independente e que não há perseguição política contra quem colocou Lula e outros machuchos na cadeia pelos crimes de lavagem de dinheiro e de corrupção.
Vamos todos acreditar que corrupção, afinal de contas, não é um problema grave, mas sem esquecer a máxima do Marquês de Maricá:
"Um povo corrompido não pode tolerar governo que não seja corrupto".
