sábado, 2 de dezembro de 2023

NÃO É A MAMÃE


O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: "ASSISTIR AOS NOTICIÁRIOS PODE CAUSAR ÚLCERAS GÁSTRICAS". 

O fim da ditadura não foi uma consequência natural do "espírito democrático" dos generais-ditadores Geisel e Figueiredo nem se deu sem turbulências e acidentes de percurso. O processo de abertura só foi concluído graças às manifestações populares que eclodiram em 1983 e levaram às ruas milhões de pessoas empunhado bandeiras e vestindo camisetas com os dizeres "EU QUERO VOTAR PARA PRESIDENTE". 

Numa época em que a Internet engatinhava (as redes sociais só surgiriam dali a duas décadas), a população compareceu espontaneamente para aplaudir líderes políticos que defendiam volta das eleições presidenciais diretas, suspensas pelo golpe militar de 64. Vinte anos depois, no dia da votação da PEC Dante de Oliveira, uma manobra de bastidores urdida pelos fardados impediu a obtenção dos votos necessários à aprovação do projeto na Câmara. Mas o processo de reabertura já havia passado do ponto sem retorno.
 
O desgaste governo militar ensejou a eleição (indireta) de Tancredo Neves. Por uma trapaça do destino, o político mineiro foi hospitalizado horas antes da cerimônia de posse e foi declarado morto 38 dias e 7 cirurgias depois, e o que deveria ter sido festa da democracia virou luto nacional. Cogitou-se a possibilidade de o Sr. Diretas, então presidente da Câmara, ser alçado ao Planalto, mas prevaleceu o entendimento de que o posto caberia a José Sarney, que foi o candidato a vice na chapa de Tancredo. E o resto é história recente.
 
Karl Marx disse que história se repete como tragédia ou farsa. No Brasil, ela costuma reproduzir fielmente o passado. Hoje, preside esta banânia (pela terceira vez) o ex-presidiário mais famoso da história, que derrotou Bolsonaro em 2022 tendo como principal cabo eleitoral a péssima gestão do mau militar, parlamentar medíocre e golpista de carteirinha.
 
Prefiro não comentar o que penso do terceiro reinado de Lula, mas relembro que demagogos, populistas e outras espécies de maus políticos não brotam nos gabinetes por geração espontânea, mas pelos votos da récua muares que o Criador escalou para povoar o país do futuro que nunca chega.
 
Voltando à frase de abertura desta postagem, preparem o Omeprazol: se a indicação de Flávio Dino para o STF for aprovada (e tudo indica que será), 7 dos 11 togados serão fruto de indicações feitas durante gestões petistas — as exceções são Gilmar Mendes (a verdadeira herança maldita de FHC), Alexandre de Moraes (indicado por Temer) e Nunes Marques e André Mendonça (nomeados pelo imbrochável e insuportável Messias que não miracula). Como a legislação impõe a aposentadoria compulsória aos semideuses supremos quando eles completam 75 anos de vida, Dino, se aprovado, permanecerá na Corte até 2043, e Cristiano Zanin, o ex-advogado pessoal de Lula, até 2050. É muita assombração para pouco castelo.
 
Observação: Dino assumirá o acervo de 344 ações que estavam sob a relatoria da ex-ministra de Rosa Weber, entre as quais se destacam o pedido de investigação contra autoridades pela atuação na pandemia e o processo sobre o indulto natalino. Caso siga à risca suas declarações de que deixará de ter lado político ao receber a toga, o ainda ministro da Justiça decepcionará seu benfeitor, que conta com sua fidelidade a posteriori. 
 
No périplo de "beija-mão" da semana passada, Dino disse que ministros do STF "não têm partido, ideologia ou lado político", e que "mudará de roupa" se seu nome for aprovado. Embora seja desejável que ele deixe de lado suas convicções esquerdistas e seus vínculos históricos com Lula, sabe-se que isso não passa de discurso de quem está na bica de se encontrar com os senadores de oposição. 
 
Estima-se um placar apertado, mas ninguém acredita que a indicação de Dino não seja aprovada. 
 
A conferir.