segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

AINDA SOBRE BURACOS NEGROS, BRANCOS E DE MINHOCA

É TOLO AQUELE QUE ERRA O ALVO E CULPA O ARCO EM VEZ DE CORRIGIR A MIRA.


O ato de hoje em Brasília marca o primeiro ano desde o infame ataque às sedes dos Três Poderes. Que não se perca na história, que se repita ao longo do tempo, eternizando na memória dos brasileiros — sejam quais forem suas convicções político-ideológicas, religiosas, ou em que estágio de exacerbação emocional estejam — o acontecido em 2023. Na dinâmica democrática, as posições tendem a se alternar de quando em vez (no Brasil, essa alternância tem sido do ruim para o pior, mas isso é outra conversa). Não é conveniente, por conseguinte, o uso político-partidário da cerimônia desta tarde, nem — muito menos — que ela se travestisse dos figurinos da polarização. Em teoria, quanto mais robusto for o ato e a compreensão de que com a legalidade não se brinca, tanto menor será a possibilidade de a infâmia se repetir — lembrando que o impossível só existe até alguém duvidar dele e provar o contrário.

A ficção científica retrata os buracos negros como portais que levam a outras dimensões. Os cientistas acreditam que alguém indestrutível que mergulhasse num buraco negro veria o relógio marcar o tempo normalmente, mas não saberia a localização exata do horizonte de eventos ao mergulhar nele devido ao princípio de equivalência de Einsteine teria o corpo "espaguetizado" pela singularidade (detalhes nos capítulos anteriores). 

A astrofísica teoriza a existência de buracos de minhoca — distorções no espaço-tempo causadas por objetos supermassivos  — no interior dos buracos negros. Em tese, eles funcionam como atalhos cósmicos, encurtando a distância entre dois pontos do espaço-tempo. Para entender melhor, imagine uma folha de papel com um X no extremo esquerdo e um Y no extremo oposto. Se você dobrar essa folha ao meio, X a Y ficarão próximos o bastante para ser trespassados por um alfinete.
 
Através de um buraco de minhoca, uma espaçonave levaria minutos para alcançar um ponto do espaço-tempo distante 10 milhões de anos-luz. Por outro lado, os buracos de minhocas demandam muita energia para permanecer estáveis por muito tempo, e, ainda que assim não fosse, haveria outras dificuldades a superar.
 
ObservaçãoOs buracos de minhoca (ou pontes de Einstein-Rosen) foram teorizados pela primeira vez em 1916 pelo físico austríaco Ludwig Flamm. Em 1935, baseando-se na relatividade geral, Albert Einstein e Nathan Rosen propuseram a existência dessas pontes (ou "atalhos") no espaço tempo. Ao contrário dos buracos negros, os buracos de minhoca ainda não foram observados, de modo que sua existência permanece como uma projeção teórica. No entanto, como bem pontou o astrofísico Carl Sagan, "ausência de evidência não é necessariamente evidência de ausência" . 
 
Enquanto o buraco negro absorve tudo que está a seu alcance, o buraco branco "regurgita" tudo que seu oposto "engoliu". Explosões de raios gama (que emitem mais energia em 10 segundos do que o Sol em 10 bilhões de anos) podem ser causadas por buracos brancos 
— acredita-se inclusive que o Big Bang tenha sido deflagrado por esse tipo de fenômeno
 
Supõe-se que buracos brancos surjam quando buracos negros colapsam sobre si mesmos, sob a força da própria massa (salto quântico). Na definição do físico italiano Carlo Rovelli "um buraco negro é um buraco no cosmos onde as coisas podem entrar, mas não sair, e um buraco branco é um buraco de onde elas podem sair, mas nada pode entrar". Em outras palavras, estes regurgitam tudo o que aqueles engoliram. 
 
O físico teórico Erik Curiel explicou que "as equações de campo da relatividade geral não escolhem uma direção preferida do tempo, e se a formação de um buraco negro é permitida pelas leis do espaço-tempo e gravidade, então essas leis também permitem os buracos brancos". 
 
Criar um buraco branco seria como apertar um botão de "retroceder" de um buraco negro, donde a dificuldade de compreender como eles ser formam. E dada a impossibilidade de voltar no tempo e vê-los sendo gerados, os cientistas admitem sua existência apenas em teoria. Mas vale lembrar que os buracos negros não passavam de teoria até pouco tempo atrás. 
 
Continua...