quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (QUARTA PARTE)

O que se vê no Brasil de hoje é basicamente uma divisão entre sectários do lulopetismo e adeptos do bolsonarismo. Para os que têm o imbrochável insuportável na conta de "mito", o deus pai da Petelândia é o exemplo pronto e acabado do desempregado que deu certo. Faz sentido: o ex-tudo deixou de ser operário quando fundou do PT (1980), mas já não dava expediente em chão de fábrica desde 1972, quando se tornou dirigente sindical. Numa conta de padeiro, dois terços de seus 78 anos recém-completados foram dedicados à "arte da política", não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. 

O mentecapto mefistofélico com vocação para tiranete também nunca foi fã do batente. Quando assumiu a Presidência, seu expediente diário era de, em média, 5,6 horas; no segundo ano de mandato, de 4,7 horas; no terceiro, de 4,3 horas; no último, de pouco mais de 3 horas. Depois da derrota nas urnas, a média caiu para ridículos 36 minutos por dia. Isso também também faz sentido: se o capetão nunca foi pegar no pesado, por que mudaria seus hábitos a 2 meses de deixar o cargo? 

Observação: O estudo Deixa o homem trabalhar? apontou que o mandrião trabalhava 18 horas semanais a menos que um trabalhador celetista e 14 horas a menos que um servidor público federal da administração direta. Que gastava mais tempo em almoços (média de 1,3 hora) do que em reuniões com ministros de Estado (menos de 1 hora). Que participou de apenas cinco eventos "envolvendo explicitamente o tema vacina", nos quais investiu, em média, 0,9 hora por compromisso. Sua média diária só ultrapassava 4 horas quando ele estava em trânsito (como em 18 novembro de 2012, quando regressou do Catar). Mas esse critério nos levaria a considerar o tempo como "jornada de trabalho" o tempo gasto em motociatas pelo país, comendo farofa nas ruas de Brasília ou passeando de jet-ski no Guarujá e no litoral catarinense. 
 
Pendurado no erário desde os tempos da caserna, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre sempre gostou mais de dinheiro que de ideologia. E se valeu desta como instrumento para obter aquele. Quando percebeu que havia mercado para a parolagem estúpida e brutalista, rendeu-se a ela. E ela lhe rendeu — a ele e sua prole — votos, dinheiro e patrimônio. E assim tornou-se um homem de muitos milhões. S
ob o escudo de uma impunidade quase absoluta, fez da Presidência sua Disneylândia particular, que tentou perpetuar através de um golpe Estado. O golpe fracassou, mas o golpista jamais descuidou do caixa. Nem mesmo quando fingia lutar uma cruzada moral e patriótica. 
 
Derrotado pelo ex-presidiário mais famoso do Brasil, o mandrana sacripanta se encastelou no Planalto, de onde assistiu aos protestos antidemocráticos protagonizados por fanáticos acampados em portas de quartéis. A dois dias de entregar a faixa, homiziou-se na cueca do Pateta, onde ficou
 o final de março de 2023. Inelegível até 2030 por decisão do TSE, passou a posar de vítima enquanto explora seus devotos — um bando de imbecis travestidos de militantes, comandado por um imbecil travestido de ex-presidente — que, cegos pelo fanatismo ou por interesses ocultos, parecem não se constranger com suas desculpas esfarrapadas. 
 
O naufrágio do Titanic tornou-se a melhor metáfora para o ponto final de qualquer enredo trágico. No papel de maestro da orquestra da célebre embarcação, o capitão deveria ser o primeiro a notar que um script que evolui do patriotismo épico para um reles caso de roubo de joias é o roteiro de um desastre. A imagem mais fascinante é a dos militares deslizando pelo salão como músicos fieis de uma banda marcial a caminho do fundo. Ao arrastar para o epicentro do escândalo o general Cid, a PF mostrou que a água invadiu os trombones: o pai do tenente-coronel enrolado migrou da condição de estrelado de mostruário para a de contrabandista de joias quatro estrelas
 
A tradicional família militar dividiu a ribalta com um mafioso de comédia e criminalista de estimação da Famiglia Bolsonaro. Com as caldeiras explodindo, os fardados continuam tocando sem desafinar, evitando incluir no fundo musical a partitura de uma delação. É como se, com a água pelos beiços, o futre mandasse a orquestra tocar com brio. 
Expurgado do Poder, já não podia mandar cortar o salário dos músicos, mas eles continuam a postos e, parecendo enxergar virtude na depravação, mostravam-se dispostos a executar a partitura do abantesma da ditadura até o último glub-glub, quando já não haveria mais botes salva-vidas à disposição.

Continua...