quinta-feira, 25 de abril de 2024

BURROS, ZURROS E WHATSAPP

A JUVENTUDE É DESPERDIÇADA NOS JOVENS, E O TEMPO NEM SEMPRE TORNA AS PESSOAS EXPERIENTES: ALGUMAS SIMPLESMENTE FICAM VELHAS.
 
Sob a batuta de Renato Feder, a Secretaria da Educação de São Paulo informou que passará a utilizar o ChatGPT para produzir aulas digitais, e que os professores, responsáveis pela formulação do conteúdo, irão apenas a "avaliar" as aulas geradas pela IA. Receoso da má repercussão da novidade, Tarcísio de Freitas declarou que "não se pode deixar de usar a tecnologia por preconceito", mas que "nada vai substituir o papel do professor. O histórico da administração de Feder aconselha a plateia a tomar as declarações do governador bolsonarista com a "parcimônia" e "todas as reservas necessárias." 
Em agosto, ao anunciar abriria mão dos "rasos e superficiais" livros didáticos distribuídos pelo MEC, o secretário se absteve de informar em que parecer técnico escorou sua avaliação, limitando-se a dizer que o material impresso seria substituído por slides de produção própria. Mas a realidade prevaleceu ante a fantasia: dezenas de milhares de alunos da rede pública não têm como acessar o conteúdo eletrônico e a maioria da escolas não tem como imprimir as apostilas. 
Descobriu-se também que os tais slides, além de "rasos e superficiais", continham erros crassos, como atribuir a Lei Áurea a D. Pedro II e informar que em 1961, quando era prefeito de São Paulo, Jânio Quadros "assinou um decreto vetando o uso de biquínis nas praias da cidade" (Jânio era presidente da República, e não e não existem praias paulistanas.
Contra esse histórico marcado pela desinteligência, a adoção IA na produção de material didático digital para os estudantes paulistanos pode ser apenas mais um convite para o exercício da ignorância natural.

Com a popularização das redes sociais, a mídia deixou de dominar as massas e passou a ser controlada por elas. O problema é que as massas são despreparadas, ignorantes, rudes e perniciosas. 

O escritor português José Saramago ensinou que "a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito". Seu colega italiano Umberto Eco, crítico do papel das novas tecnologias na disseminação de informações, lecionou que "o drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade".
 
Observação: O autor de O Nome da Rosa enfatizou ainda que "eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel", e que, antes das redes sociais, "os idiotas da aldeia tinham direito à palavra somente em um bar, depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade."
 
Quando se dá voz aos burros, perde-se o direito de reclamar dos zurros. Mas pelo menos se pode calar os chatos que invadem nosso WhatsApp e disparam frases de autoajuda ou de cunho religioso, correntes da felicidade, piadas sem graça, vídeos e outras mensagens indesejáveis e incomodativas — e cobram resposta se a gente não se manifesta prontamente. 

Fazer uma faxina na lista de contatos pode não ser a solução para o problema, mas ajuda a reduzir a aporrinhação. Então, abra o WhatsApp, localize o contato (in)desejado, abra uma conversa, toque nos três pontinhos para acessar as configurações (no canto superior direito da janela) e toque em Silenciar notificações — ou chute o balde de uma vez tocando em Mais e depois em Bloquear. 
 
Aproveite o sossego (enquanto puder).