quarta-feira, 24 de abril de 2024

DA MITOLOGIA GREGA À FÍSICA QUÂNTICA

O PRÓPRIO VIVER É MORRER, PORQUE NÃO HÁ UM ÚNICO DIA EM NOSSA VIDA QUE NÃO SEJA UM DIA A MENOS NELA.

presidente do IBGE Marcio Pochmann abandonou o didatismo da convenção internacional que tem no meridiano de Greenwich o divisor das duas metades longitudinais do planisfério e colocou o Brasil no centro do mapa-múndi. Três dias depois do lançamento da aberração, Lula postou no Twitter: A Terra é redonda
Recriar o que não serviu e criar o que claramente não vai servir parece ser a especialidade do atual governo (não que o anterior fosse melhor, longe disso)É a ideologia do vácuo absoluto demonstrando que se pode emburrecer ainda mais o Brasil — o centro imaginário de um mundo que não existe. A pergunta é: qual será o próximo passo? Substituir o sistema métrico-decimal eurocentrista por outro nativo? 
Quando for entregue às escolas na qualidade de 9ª edição do Atlas Geográfico Escolar, a aberração petista servirá apenas para confundir os estudantes, que já penam para fazer contas banais e escrever frases com sujeito, verbo e predicado.
Pensando bem, Dilma também penava para juntar lé com cré numa frase que fizesse sentido, e hoje embolsa cerca de R$ 300 mil mensais (noves fora as mordomias) para brincar de presidente do Banco do Brics. E os discursos de seu criador e mentor — que se orgulha de ter preguiça de ler — continuam sendo garranchos verbais. Triste Brasil.

Segundo a mitologia grega, Urano devolvia os filhos ao útero de Gaia para evitar que um deles o destronasse. Mas Gaia escondeu Chronos e o encarregou de castrar o pai. Quando o pimpolho cresceu e atendeu ao pedido da mãe, foi confinado pelo genitor no mundo subterrâneo ("reino" para onde os gregos supunham que as almas fossem após a morte física). 
Como a história se repete, Chronos devorou os filhos que teve com Raia, Raia escondeu Zeus numa caverna em Creta, Zeus cresceu e, a pedido da mãe, obrigou o pai a regurgitar seus irmãos. Ao cabo de uma guerra que durou 10 anos, Zeus derrotou Chronos e conquistou a imortalidade.
 
No livro Tempo: O Sonho de Matar Chronos, o físico Guido Tonelli
 explica o fluxo do passado, presente e futuro discorrendo sobre realidades onde as leis da física clássica não se aplicam. Embasado na mecânica quântica e na teoria da relatividade, ele sustenta que o tempo é um elemento material que "ocupa o universo inteiro, que vibra, oscila e se deforma". 
Assim como em sua obra anterior — Gênesis: a história do universo em sete dias, lançada em 2019 —, o autor conduz o leitor pela evolução do entendimento sobre nossa existência, mas "Gênesis" se baseia nos conceitos mais modernos da física para explicar como tudo começou, e "Tempo" discute questões seminais, como "o que é o tempo?", "ele existe, mesmo ou é só uma ilusão?", "conseguiremos um dia derrotá-lo?", e por aí afora. 

Tonelli sustenta que, se dois astronautas viajassem em direção a um buraco negro supermassivo, um deles mantivesse a nave a uma distância segura do fenômeno e o outro cruzasse o "horizonte de eventos",  o tempo pareceria continuar passando normalmente para este último, mas um sinal de rádio que ele enviasse para o colega que ficou fora buraco negro levaria uma eternidade para ser recebida. Em outras palavras, alguns segundos no interior de um buraco negro correspondem a milhares de anos fora dele.

Ainda segundo o físico italiano, o tempo flui diferente em diferentes regiões do Universo, e apenas tecnicidades nos impedem de dobrá-lo a nosso favor. No passado, o ser humano se via como um ser frágil em meio a um cosmo eterno, formado pelo Sol, pelas estrelas, pelos planetas e por divindades imortais. Como não havia ferramentas capazes de medir com precisão distâncias e passagens de tempo pequenas demais ou exageradamente grandes, nossos ancestrais recorriam à mitologia e à religiosidade.

Segundo a Bíblia, a criação do mundo se deu em 6 de outubro de 3761 a.C., mas a ciência têm sólidas evidências para sustentar que a espécie humana surgiu há 300 mil anos, na África, a partir da evolução de outros primatas, que todos habitamos o mesmo Universo criado há 13,8 bilhões de anos, que a Terra surgiu há 4,5 bilhões de anos e que o espaço-tempo como campo e substância nasceu a reboque do Big Bang e do surgimento da massa e da energia no cosmo. 

Tonelli não se aventura por uma definição precisa do que é o tempo, mas o aponta como uma substância e como parte de um campo onipresente, e faz referências a cientistas que exploram as teorias mais modernas da mecânica quântica sobre o tema, como Carlo Rovelli, que é reverenciado por suas pesquisas seminais sobre a existência da "gravidade quântica em loop" (detalhes nesta postagem).
 
Em 2012, Rovelli iniciou uma palestra afirmando que o tempo não existe. Isso não significa que ele não acredite na existência do tempo, mas que, em sua visão, em vez de medida cronológica como a usada nos calendários, o tempo é na verdade uma variável resultante da crescente entropia do cosmo ao longo de seus quase 14 bilhões de anos de existência.
 
Observação: Em A Ordem do Tempo, de 2017, Rovelli explora as concepções que a humanidade já teve acerca desse elemento crucial da realidade, de Newton, que teorizava duas formas de tempo, e Einstein, para quem o espaço-tempo resultaria de deformações do campo gravitacional, ao atual estágio de pesquisas.
 
Voltando a Tonelli, o subtítulo do livro Tempo: O sonho de matar Chronos remete ao desejo de superar a mortalidade, mas apesar de acreditar na possibilidade de dobrar e manipular o campo do espaço-tempo, o autor não vislumbra qualquer possibilidade de nos tornarmos imortais, como Zeus teria se tornado após derrotar o pai. "Nada é eterno, toda estrutura de matéria, seja um humano, uma estrela, uma galáxia, é frágil intrinsecamente, e cedo ou tarde tudo se acaba", pondera Tonelli

Enquanto partículas elementares como o bóson de Higgs têm duração de microssegundos, estrelas, planetas e galáxias permanecem no cosmo por bilhões de anos. No fim, se a estrutura do Universo não mais suportar o espaço-tempo,  será o verdadeiro Apocalipse, mas contado pela Física quântica. 

Com BBC