Como vimos anteriormente, carros 0km com transmissão automatizada deixaram de ser comercializados em 2020. Assim, resta a quem deseja o conforto da automação escolher entre um modelo com conversor de torque e um continuamente variável (ou recorrer ao mercado de usados, mas aí é outra conversa). Também como vimos, as duas opções remanescentes são fruto de tecnologias distintas, mas a maneira de dirigir é semelhante: como não há pedal de embreagem, o motorista usa apenas o pé direito para acionar o acelerador e do freio.
Botões ou teclas podem substituir a alavanca seletora em alguns modelos, mas Park, Ré, Neutro e Drive (representadas pela primeira letra de cada uma) têm presença garantida em todos. Em alguns casos, "+" e "-" ou "M" (de Manual) permitem trocas sequenciais e "1" e "2 ou (a letra "L", de Low) limitam a transmissão às marchas de maior torque, o que é útil tanto em subidas íngremes quanto em descidas de serra, já que o "freio-motor" ajuda a manter a velocidade sob controle.
Dependendo da configuração escolhida pelo fabricante, a troca sequencial pode ser feita pelas paddle-shifts (ou "borboletas"), posicionadas atrás do volante, ou pela própria alavanca, movendo-a para a direita e empurrando levemente para a frente ou para trás (a marcha selecionada só será aceita se for compatível com as rotações do motor naquele momento). Outra maneira de obter força do motor — em ultrapassagens, por exemplo — é usar o kick down: ao pressionar o pedal do acelerador além do final do curso, aciona-se um botão que reduz até duas marchas de uma só vez.
Mesmo quando a posição P não existe (o que era comum nos câmbios automatizados antigos), só é possível ligar o motor com a alavanca em N — e, conforme o modelo, com o pedal do freio pressionado. Já a letra "S" (de Sport), quando presente, troca as marchas em rotações próximas da faixa de potência máxima, proporcionando uma "tocada" mais esportiva. Mas a posição mais usada no dia a dia é D, na qual o sistema utiliza todas as marchas disponíveis — que podem ser 4, 5, 6, 8, e assim por diante.
Observação: Motores de combustão interna transformam a energia calorífica da mistura ar-combustível em energia mecânica. Em linhas gerais, o torque é associado à força e a potência, à velocidade (esse conceito não muito exato, mas facilita a compreensão). Multiplicando-se o torque pelo giro do motor (rotações por minuto) chega-se à potência (quantidade de energia gerada num certo espaço de tempo). Torque e potência crescem conforme a rotação aumenta, atingem o ápice num determinado regime de giros e declinam a partir daí. Para aproveitar o torque do motor numa arrancada, engrena-se a 1ª marcha, acelera-se até 1.500 RPM além da faixa de torque máximo e solta-se o pedal da embreagem. Os automáticos não têm pedal de embreagem e, sem launch control, não há como fazer isso. Se o torque for abundante em baixas rotações, eles até "cantam pneu" na arrancada, mas nos menos potentes o torque máximo é produzido em rotações elevadas, daí os carros com motor aspirado de baixa cilindrada e transmissão automática (sobretudo CVT) serem mais "letárgicos". Vale lembrar que, quanto menor a faixa de RPM em que o torque máximo surge e quanto mais plana for sua “curva”, tanto melhor será o desempenho do veículo no uso misto (cidade e estrada).
O trilho que a alavanca seletora percorre pode ser reto ou em ziguezague. Modelos em ziguezague visavam evitar mudanças acidentais com o carro em movimento — no Jaguar XJ, o trilho formava a letra J, daí esse modelo ter ficado conhecido como J Gate —, mas o estilo mais simples e a facilidade de uso levou a maioria das montadoras a adotar a versão retilínea.
Independentemente da configuração do trilho, a posição R fica entre P e N. A sequência P-R-N-D-L (definida pela norma 571.102 da Federal Motor Carrier Safety Administration) foi instituída para prevenir engates indesejados — ou seja, o motorista só engata a ré com o carro em movimento se mover propositalmente a alavanca de D para N e de N para R —, mas acabou sendo utilizada mundialmente. A ordem P-N-D-L-R chegou a ser adotada em alguns veículos, mas foi abandonada devido ao risco de o motorista engatar da ré quando ao tentar usar uma marcha mais baixa (no caso, a posição L). Mas a parte da sequência obrigatória é apenas a P-R-N; a posição das demais marchas fica a critério de cada fabricante.
Observação: Nas transmissões modernas, quando a ré é engatada com o carro em movimento o sistema interpreta a ação como insegura e coloca o câmbio em N, mesmo que a manopla indique que ele está em ré (em alguns modelos, um sensor de rotação impede também a mudança para P, visando evitar o travamento das rodas).
Nos filmes americanos é comum vermos os carros darem um pequeno solavanco quando são estacionados. Isso acontece porque a alavanca em Park trava as rodas motrizes mecanicamente, e os motoristas de lá não costumam acionar o freio de mão. Como essa trava não foi projetada para suportar todo o peso do veículo, é recomendável mudar a alavanca de D para N, soltar o pedal do feio, puxar o freio de mão, tornar a pisar no freio e então mudar a alavanca para P e desligar o motor. Na maioria dos automáticos sem sistema keyless, só é possível tirar a chave da ignição com a alavanca em P.
Até não muito tempo atrás, acreditava-se que o óleo da transmissão tinha duração "vitalícia" — bastava verificar o nível e adicionar óleo se quando necessário. Atualmente os fabricantes recomendam fazer a troca a cada 50 mil quilômetro (ou a cada 5 anos, o que ocorrer primeiro), ou mesmo antes, se o veículo for usado em condição severas. E o mesmo se aplica aos filtros (consulte o manual do veículo para mais informações).
As transmissões automáticas atuais são mais robustas e eficientes do que as de antigamente, mas ainda impactam em alguma medida o desempenho do motor o consumo de combustível. Isso sem falar que alguns modelos são problemáticos por natureza, e que os usados nem sempre foram bem cuidados pelos antigos proprietários. Assim, convém pesquisar na Web por eventuais "defeitos congênitos" (como a abominável PowerShift da Ford, que eu mencionei no 5º capítulo desta sequência), e fazer a busca pelo código da transmissão, já que o mesmo modelo pode ser identificado por outros nomes (no caso do PowerShift, por MPS6 na Volvo e 6DCT250 na Caoa Chery.
Resumo da ópera: Os câmbios automáticos modernos são mais robustos e exigem menos manutenção que os de antigamente. A melhor maneira de prolongar sua vida útil é trocar o óleo e os filtros nos prazos recomendados pelo fabricante, sem falar que a manutenção preventiva costuma pesar menos no bolso do que a corretiva. Considerando que muita gente põe o carro à venda quando nota algum problema na transmissão, visando transferir o "pepino" para futuro "propriotário", só feche o negócio depois que um mecânico de confiança der sinal verde.