QUANDO A GENTE ACHA QUE JÁ VIU O PIOR QUE AS PESSOAS TÊM A OFERECER, DESCOBRE QUE SE ENGANOU. A EXEMPLO DO UNIVERSO E DA ESTUPIDEZ HUMANA, O MAL TAMBEM É INFINITO.
Dos mais de R$ 3 trilhões subtraídos dos "contribuintes" anualmente — montante equivalente a 33% do PIB — cerca de 95% são destinados à manutenção da máquina pública. A maior parte dos 5% restantes — quase R$ 90% bilhões por ano, segundo o Portal da Transparência — escoa pelo ralo da corrupção, e a má administração do pouco que sobra se encarrega de fazer com que os serviços essenciais não atendam às necessidades da população.
Em 2023, o gasto federal com Educação representou apenas 6% do orçamento total, enquanto a Saúde ficou com cerca de 8%. Em 2024, o rombo nas contas pública atingiu R$ 28,7 bilhões, e o déficit nominal do setor público consolidado — formado por União, Estados, municípios e estatais — R$ 1,111 trilhão (no acumulado de 12 meses até agosto). Em contrapartida, filhas e viúvas de generais acumulam pensões que podem chegar a R$ 70 mil — ao menos 26 dependentes de militares recebem mais de R$ 50 mil mensais sem sofrer abate-teto, e a viúva de um capitão-tenente da Marinha é pensionista desde junho de 2019 na condição de "pessoa designada".
Observação: O economista Edmar Bacha — um dos "pais" do Plano Real — cunhou o termo "Belíndia" para descrever um país onde os ricos têm uma qualidade de vida belga e os pobres vivem numa miséria indiana, e seu colega Delfim Netto, o termo "Ingana" para se referir a um país com impostos de Inglaterra e serviços públicos de Gana.
Num país onde até morador de rua — que subsiste à custa da caridade alheia — paga 81% de imposto quando compra uma garrafa de cachaça, os nobres ministros do STF percebem salários mensais de R$ 44.000 — 2.281% a mais que a média do trabalhador brasileiro —, mais penduricalhos, ganhos extras e mordomias.
Na Câmara Municipal de São Paulo, nossos valorosos edis aumentaram os próprios salários de R$ 24.754,79 para R$ 26.080,98 e se autoconcederam um vale-alimentação de R$ 1,8 mil por mês. No Senado, além dos 2,7 mil cargos comissionados de livre nomeação, os parlamentares contam com mais 150 servidores de carreira, cujo salário médio é de R$ 39 mil, mas pode chegar a R$ 48 mil com a inclusão do abono permanência. No gabinete pessoal do presidente da Casa, alguns aspones embolsam mais de R$ 40 mil mensais.
Todo ex-presidente tem direito vitalício a 2 veículos blindados e 8 servidores — entre seguranças, motoristas e assessores, com licenciamento, combustível, manutenção, seguro, salários, diárias e passagens bancados pelo suado dinheiro dos contribuintes — como ensinou a ex-primeira-ministra da Inglaterra Margareth Thatcher, "não existe essa coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos". O ex-presidiário mais famosa desta banânia manteve esses benefícios enquanto gozava férias compulsórias na carceragem da PF em Curitiba, embora não tenha informado o que seu staff fazia naquele período.
Segundo a coluna Vozes, a gastança com os ex-inquilinos palacianos que ainda pertencem ao mundo dos vivos atingiu R$ 3,7 milhões em junho de 2023. Só com diárias e passagens de seguranças e assessores, a despesa foi de R$ 1,5 milhão. Encabeçando a lista de esbanjadores, Bolsonaro torrou R$ 816 mil em viagens — 55% do total gasto pelos ex-presidentes, com exceção de Lula, cujas despesas de ex-mandatário estão suspensas durante sua terceira — e queira Deus derradeira — (indi)gestão. Os três meses que ele passou homiziado na cueca do Pateta, em Orlando (EUA), custaram R$ 826 mil em diárias e passagens de seguranças e assessores.
Segundo colocado no ranking da gastança e futuro hóspede da Papuda, Fernando Collor torrou R$ 425 mil com diárias e passagens para seu entourage (o total das despesas chegou a R$ 780 mil. Michel Temer fechou o semestre com gastos de R$ 500 mil (R$ 130 mil com diárias e passagens da sua equipe de apoio). José Sarney contribuiu com R$ 380 mil no semestre, e Fernando Henrique, com R$ 315 mil. Dilma Rousseff, que recebe quase R$ 300 mil mensais como presidanta do Banco dos Brics mas mantém sua equipe de apoio, custou R$ 270 mil (até abril) em gratificações.
Os gastos de 2021 a 2024 somaram mais de R$ 30 milhões — entre 2021 e 2022, Lula integrava o rol dos ex-presidentes e os gastos de Bolsonaro não eram levados em conta no cálculo. Em 2021 e 2022, ainda sob a gestão do aspirante a tiranete, as despesas do petralha foram de R$ 1.163.461,90 e R$ R$ 1.798.652,45, respectivamente. Em 2024, o ex-presidente que mais custou aos cofres públicos foi Collor (R$ 1.648.154,93), e quem menos gastou foi FHC (R$ 673.397,59). Dilma torrou R$ 1.648.013,44; Bolsonaro, R$ 1.540.795,50; Temer, R$ 1.210.637,50; e Sarney, R$ 962.400,81.
Observação: Os gastos dos ex-presidentes são disponibilizados na página "Dados abertos de ex-presidentes" da Secretaria-Geral da Presidência da República com atraso de dois meses. Despesas com diárias e passagens são publicadas na página de "Consultas detalhadas", no item "Viagens a serviço", com dados até junho. Os salários dos seguranças e assessores podem ser encontrados em buscas individuais em "Servidores e pensionistas", sempre no Portal da Transparência.
Rebotalho da ditadura, mau militar, parlamentar medíocre e pior mandatário desde Tomé de Souza e "mito" dos apatetados, Bolsonaro vive pendurado no Erário desde 1973 — ano em que ingressou ingressou na Escola de Cadetes de Campinas (SP) — e sempre gostou mais de dinheiro do que de ideologia, mas soube se valer desta para obter aquele, fazer do Planalto sua Disneylândia particular e se tornar um homem de muitos milhões. Após deixar a caserna pela porta dos fundos, ele se rendeu à parolagem estúpida e brutalista que lhe rendeu — a ele e a sua prole — votos, dinheiro e patrimônio.
Mesmo derrotado nas urnas, o aspirante a golpista jamais descuidou do caixa. Sob o pretexto de pagar os advogados encarregados de sua defesa e as multas judiciais, amealhou mais de R$ 17,2 milhões em doações (!?), depositou o equivalente a 10 salários-mínimos (mediante 17 pix diferentes) na conta de um sobrinho que trabalha numa lotérica (!?) e aplicou o restante em renda-fixa.
Enquanto aguarda a instauração do processo que pode lhe render mais de 20 anos de cadeia e outros 30 de inelegibilidade, o abantesma do Planalto posa de perseguido político, mas, a exemplo de Lula — que diz ter sido absolvido pelo STF e reconduzido à fictícia condição de alma viva mais honesta do Brasil —, só finge acreditar nas bobagens que diz. E nem precisaria, já que a estupidez humana é infinita e gente que endeusa bandidos não falta neste país.