terça-feira, 3 de dezembro de 2024

O TEMPO PERGUNTOU AO TEMPO QUANTO TEMPO O TEMPO TEM...

... E O TEMPO RESPONDEU AO TEMPO QUE NÃO TEM TEMPO PRA DIZER AO TEMPO QUE O TEMPO DO TEMPO É O TEMPO QUE O TEMPO TEM.

A diferença na passagem do tempo para objetos que se deslocam em velocidades diferentes é um dos aspectos mais discutidos e menos compreendidos da Teoria da Relatividade. Seus efeitos fazem parte do nosso dia a dia, mas as "dimensões sobre-humanas" envolvidas — foguetes e gêmeos que viajam em naves espaciais, etc. — dificultam a compreensão desse fenômeno.
 
Certa vez, um leigo pediu a Einstein que trocasse em miúdos a "relatividade do tempo", e o físico respondeu: "Coloque a mão na chama de um fogão e um minuto lhe parecerá uma hora; sente-se junto daquela 'pessoa especial' por uma hora e essa hora lhe parecerá um minuto."

Por levar em conta nossas emoções, expectativas e o quanto as tarefas exigem de nós num determinado período, nosso cérebro registra a passagem do tempo de maneira "flexível". Segundo estudos recentes, até o idioma que falamos e o sistema de escrita que adotamos (da esquerda para a direita ou vice-versa) fazem diferença. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Ministros do STF avaliam que o relatório da PF fortalece a possibilidade de a PGR apresentar uma única denúncia contra Bolsonaro, reunindo elementos ligados à trama golpista, às joias sauditas e à fraude em cartões de vacina, pois se tratava de uma "única organização criminosa". 
As provas obtidas mostram que o ex-presidente teve participação no planejamento e na atuação dos atos para a viabilização do golpe, que acabou não ocorrendo "em razão de circunstâncias alheias à sua vontade". 
A partir de 6 de dezembro, no escurinho do plenário virtual, as togas decidirão sobre o pedido de afastamento de Moraes da relatoria dos inquéritos. Nos bastidores, dá-se de barato que Bolsonaro receberá um não como resposta. 
Estima-se que o PGR denunciará os 37 indiciados  no primeiro trimestre de 2025 — num país sério como o nosso, não faz o sentido uma parte do Judiciário trabalhar durante o recesso para apressar o julgamento dessa "suposta" tentativa de golpe. 
Uma vez denunciados e convertidos em réus, Bolsonaro e seus asseclas serão julgados em plenário e condenados por 9 a 2 (vencidos os votos de Nunes Marques e André Mendonça). Isso se o ex-presidente não fugir antes (detalhes no post de amanhã). 
Os kids pretos vigiaram Lula durante dois meses. A PF deveria fazer o mesmo em relação a Bolsonaro, que, em situações de perigo, tem o hábito de pensar com as pernas.
 
Cronos era o deus do tempo na mitologia grega (e devorava os próprios filhos, mas isso é outra conversa), daí usarmos o termo “cronológico” para situar eventos em nossa linha temporal. Mas não se sabe se o tempo passa para nós, se somos nós que passamos por ele, ou se ele é apenas uma convenção criada para colocar alguma ordem no caos. Mas isso não muda o fato de que "viajamos rumo ao futuro" desde o instante em que nascemos e "visitamos o passado" quando olhamos as estrelas, pois o que vemos no céu é a luz que elas emitiram há milhões ou bilhões de anos. 
 
Nossos ancestrais começaram a contar o tempo quando perceberam padrões no amanhecer, no anoitecer, nas fases da Lua e nas mudanças sazonais. Os ciclos diurnos e noturnos foram provavelmente as primeiras unidades de tempo usadas pelos humanos, e as fases lunares, uma das primeiras maneiras de dividir o tempo em períodos maiores, o que ensejou a criação dos calendários lunares. 
 
Consideramos o tempo como o pano de fundo de uma sucessão de eventos que fluem numa direção preferencial. De acordo com o princípio da causalidade, as causas sempre precedem as consequências, e é por isso que o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje, e o que acontece hoje faz o mesmo em relação ao que vai acontecer amanhã. Mas o tempo não é o mesmo em todos os lugares. Um relógio sobre um móvel não marca o mesmo horário de outro que está no chão, assim como o tempo de quem está na praia é diferente do tempo de quem está no topo do Monte Everest. Quanto mais próximo do centro da terra, maior a força da gravidade e mais lenta a passagem do tempo.


O físico italiano Carlo Rovelli ensinou que aquilo que chamamos de tempo é um emaranhado de camadas de fenômenos que podem ser relevantes para alguns e irrelevantes para outros. Se nossas medições fossem precisas o suficiente, veríamos que o tempo corre em velocidades diferentes, dependendo de onde está o observador e de como ele se movimenta. Só não percebemos essas diferenças porque as velocidades que experimentamos no dia a dia são muito pequenas

 

Para atestar a irrealidade do tempo usando o pensamento lógico e um baralho, o filósofo e matemático britânico J.M.E. McTaggart dividiu as cartas em duas pilhas, ordenou-as cronologicamente na primeira e aleatoriamente na segunda, e concluiu que a noção de tempo linear (como na primeira pilha) não basta para capturar a realidade dos eventos, e que sem a ordem temporal (na segunda pilha), os eventos ainda existem, mas não há um "antes" ou "depois". 

 

Num segundo experimento, McTaggart dividiu as cartas em três pilhas, e a introdução da terceira pilha demonstrou que, mesmo que tentemos classificar os eventos em termos de passado, presente e futuro (como na segunda pilha), a realidade dos eventos (terceira pilha) não depende dessa categorização. Diante disso, o tempo não é uma propriedade objetiva do universo em que vivemos, e se ele é um processo que precisa de tempo para acontecer, é preciso tempo para descrever o tempo, e se essa circularidade viola a lógica, então o tempo não existe de verdade.


Segundo Stephen Hawking, se o calendário fosse apenas uma convenção, nossa existência estaria pré-definida desde o Big Bang. Se tudo que existe fosse um efeito-cascata de causas e consequências, o plasma de quark-glúon dos primeiros instantes do universo já estaria destinado a dar origem à matéria, às estrelas, aos planetas e a formas de vida como nós. Na esteira desse raciocínio, nossa correria para cumprir prazos e horários se deve a uma ilusão criada por nós mesmos, da mesma forma que o coelhinho da Páscoa foi criado para impulsionar a venda de chocolate.
 
À luz da física tradicional, o tempo é uma dimensão real tão fundamental quanto o espaço — que Einstein unificou com o tempo num tecido contínuo que ele batizou de espaço-tempo. Mas mesmo que possamos viver nossa vida baseados na ilusão útil do tempo e assumir que tudo é uma sequência de momentos independentes, ainda temos de acordar na hora certa todas as manhãs. Mas há controvérsias. 

 

Para descobrir se, sem a referência das horas, nossos ciclos de sono, alimentação e produtividade se mantém normalmente, o cientista francês Michel Siffre viveu dois meses numa caverna escura, a 130m de profundidade, sem relógio nem qualquer outra maneira de saber o tempo. A única fonte de luz de que ele dispunha era uma lâmpada de mineração, que ele usava para cozinhar, ler e escrever em um diário pessoal. Sempre que se comunicava com a equipe, ele media o próprio pulso e contava os segundos até 120, mas o tempo real cronometrado por seu staff girava em torno de 5 minutos. 

 

Siffre concluiu que, sem os indicadores naturais ao longo dia (como nascer e pôr-do-sol), seus ciclos passaram a ser de 48 horas ao invés de 24. O experimento deveria ter durado 30 dias, mas ele só deixou a caverna depois de 2 meses depois — que lhe pareceram menos de um, pois seu tempo psicológico foi reduzido a menos da metade do tempo cronológico. Suas anotações deram origem ao livro "Beyond Time", lançado em 1964. 

 

Siffre morreu em agosto passado, aos 85 anos de idade. Ao longo de meio século de carreira, ele colaborou com diferentes organizações, entre as quais o Exército francês, que financiou um experimento visando descobrir se um soldado poderia duplicar sua atividade em estado de vigília, e a Nasa, que o procurou para entender os efeitos de missões espaciais de longa duração nos astronautas.


Continua...