É MERGULHANDO NO ABISMO QUE RECUPERAMOS OS TESOUROS DA VIDA.
Em janeiro de 2014, uma "bola de fogo" caiu na costa nordeste de Papua-Nova Guiné. Sua velocidade, brilho e local da queda foram registrados por sensores do governo dos EUA e guardados em um banco de dados até 2019, quando o astrofísico Abraham Loeb liderou uma expedição para recuperar os fragmentos do fundo do mar.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Dias atrás, em mais um pronunciamento eleitoreiro extemporâneo, o presidente que prometeu devolver a picanha e a cervejinha à mesa dos mais pobres disse que quer saber onde é que teve um ladrão que passou a mão no direito do brasileiro de comer ovo. Não porque a subnitrição do povo preocupe sua excelência, mas porque a inflação dos alimentos é a grande responsável pelo aumento da rejeição popular ao governo e à pessoa do governante.O mistério, no entanto, dispensa investigação. O preço do ovo disparou porque o milho encareceu 30%, as galinhas entraram em greve por conta das altas temperaturas, as exportações cresceram quase 60% e, para completar, o sumiço da carne da mesa do brasileiro fez a demanda por ovos subir. Já os ovos de chocolate, que sempre custaram proporcionalmente mais do que chocolates em barra e bombons, estão custando os olhos da cara.
Mesmo sendo o sexto maior produtor mundial de cacau, o Brasil precisa importar de 20 a 25% do que processa para dar conta da demanda interna. Em 2023, as mudanças climáticas e a seca causada pelo El Niño fizeram a produção africana despencar entre 40% e 50%. O mercado, sempre atento a oportunidades, usou a alta de 189% no preço do cacau como desculpa para que o coelhinho da Páscoa atualizasse sua tabela. Assim, um ovo de chocolate de 100g pode custar mais do que 10 barras de chocolate de 80g — porque tradição tem seu preço, e não é para qualquer um.
Mas nem tudo está perdido! Como a Páscoa cai no terceiro domingo do mês que vem, ainda dá tempo de apostar em 16 sorteios da Mega Sena. Vai que…
Descobertas como essa ajudam pesquisadores na busca de evidências de vida extraterrestre —
não falo de homenzinhos verdes, como nos filmes de ficção científica, mas de dispositivos tecnológicos muito mais avançados do que os aviões, sondas e naves espaciais construídos pelos terrestres. No entanto, alguns astrônomos viram o anúncio como uma distorção da percepção pública de como a ciência realmente funciona — o astrofísico da Arizona State University Steve Desch, por exemplo, disse que as "afirmações malucas" de Loeb poluem a boa ciência com "sensacionalismo ridículo".
Loeb é autor de centenas de artigos sobre buracos negros, matéria escura, as primeiras estrelas e o destino do Universo. Ele se interessou pela busca por alienígenas em 2017, quando o Oumuamua passou por nosso planeta. Seu artigo sobre a descoberta foi rejeitado pelo The Astrophysical Journal, mas acabou sendo publicado depois o Comando Espacial dos EUA anunciou que as medições da velocidade do objeto eram precisas o suficiente para inferir a origem interestelar. Em contrapartida, o físico de meteoros Peter Brown não só pôs em dúvida a precisão dos dados do Departamento de Defesa dos EUA como contestou a possibilidade de o Oumuamua ser alienígena.
Durante a Conferência de Asteroides, Cometas e Meteoros, que ocorreu enquanto a expedição de Loeb em alto mar estava em andamento, Desch argumentou que, se a bola de fogo estivesse se movendo tão rápido quanto foi relatado, ela teria se queimado completamente na atmosfera. Loeb discordou e enviou as esferas para análise e datação rigorosas nos laboratórios das universidades de Harvard, de Berkeley e da Bruker Corporation. Em Berkeley, o próprio Loeb conduziu um experimento que revelou a presença de urânio e chumbo nas esferas, cuja idade é comparável à do nosso sistema solar.
Por si só, o fato de a bola de fogo ter vindo de outra vizinhança cósmica não comprova a existência de vida extraterrestre. De acordo com o astrônomo Don Brownlee — que coletou bolinhas cósmicas do fundo do mar na década de 1970 —, se o material não contêm níquel, ele provavelmente não é de um meteorito natural, e se nenhum oxigênio é encontrado, ele dificilmente teria passado pela atmosfera da Terra.
Loeb confirmou a ausência de níquel, porém não falou sobre o oxigênio. Ele reconhece que pode estar equivocado, mas diz que é preciso testar as ideias experimentalmente. Desch, por usa vez, disse que objetos interestelares podem estar por aí, mas que não vê evidências de que algum deles tenha caído na Terra, e alfinetou Loeb dizendo que não se deve dar ao público a impressão de que os cientistas inventam coisas.
Loeb e sua equipe devem voltar em breve às águas ao norte de Papua-Nova Guiné para caçar relíquias maiores da bola de fogo de 2014, bem como buscar, na costa de Portugal,
restos de um segundo meteoro que pode ser de origem interestelar. Para Rob McCallum, cofundador da EYOS Expeditions e principal organizador da expedição, Loeb pode estar errado, mas só
saberemos se pesquisarmos.