Os roteiristas costumam retratar os buracos negros como portais para outras dimensões, embora os "verdadeiros atalhos cósmicos" sejam os buracos de minhoca — fenômenos ainda não comprovados experimentalmente que surgem devido à curvatura do espaço-tempo resultante da atração gravitacional de estrelas supermassivas e colapsam quase instantaneamente, antes mesmo que a luz tenha tempo de atravessá-los.
Observação: Para entender melhor esse conceito, pegue uma folha de papel A4, faça uma marca na margem superior e outra na margem inferior, dobre a folha ao meio e veja que, assim, as duas marcas podem ser trespassadas por um grampo ou alfinete. Da mesma forma, uma espaçonave que adentrasse um hipotético buraco de minhoca atravessável seria impulsionada em direção à saída com a velocidade da luz e desembocaria em outra galáxia — neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Na noite de quarta-feira, o desgoverno Lula foi pego de surpresa pela derrubada do decreto que aumentava as alíquotas do IOF. Ato contínuo, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias e Fernando Haddad recorreram ao argumento — tão ridículo quanto eles próprios — de que Lula busca apenas fazer "justiça tributária". Não colou, a não ser, talvez, para uma militância de nicho: segundo levantamento da consultoria Bites, feito a pedido d’O Globo, a tentativa de emplacar a expressão “Congresso inimigo do povo” nas redes sociais teve repercussão pífia. Por outro lado, no mesmo dia em que as duas Casas derrubaram o decreto que aumentava a carga tributária, o Senado sacramentou o projeto da Câmara que eleva o número de deputados federais de 513 para 531 a partir das próximas eleições.
Resumo da ópera: não há anjos no céu de Brasília. O Congresso pode até ser inimigo do povo — mas Lula, que conduz o país ao caos fiscal enquanto finge se preocupar com os mais pobres, não é muito diferente.
Diferentemente dos buracos negros — que já foram fotografados —, os buracos de minhoca ainda não foram avistados. Sua existência é baseada na Relatividade Geral, embora a mecânica quântica e a Teoria das Cordas também ofereçam perspectivas. Diversos físicos renomados acreditam que, se esses "túneis cósmicos" forem tão comuns quanto os buracos negros e apresentarem entradas com raios entre 100 e 10 milhões de quilômetros, detectá-los é apenas uma questão de tempo.
O buraco negro mais próximo — GAIA BH1 — fica a cerca de 1,5 mil anos-luz de distância da Terra. Isso significa que, movendo-se a 99% da velocidade da luz, uma nave levaria mais de 1.500 anos para chegar até ele. A dilatação temporal tornaria a viagem praticamente instantânea pelo referencial dos astronautas, mas a tecnologia de que dispomos está longe de permitir a construção de uma nave tão veloz. E ainda que assim não fosse, os intensos gradientes de maré próximos ao horizonte de eventos do buraco negro comprimiriam a nave e seus ocupantes horizontalmente e os esticariam verticalmente, num processo conhecido como espaguetificação.
Supondo que a espaçonave fosse indestrutível, os astronautas perceberiam o tempo passar normalmente e cruzariam o horizonte de eventos em um tempo finito — que, para um observador externo, tenderia ao infinito. Mas não notariam qualquer mudança abrupta ao atravessar essa fronteira, conforme previsto pelo princípio da equivalência de Einstein.
Acredita-se que os buracos de minhoca surgem e desaparecem tão rapidamente que nem a luz é capaz de atravessá-los. Para evitar que suas paredes colapsem sobre si mesmas e formem um buraco negro, seria preciso que uma forma exótica de matéria exercesse pressão negativa. Alguns efeitos quânticos — como o Efeito Casimir e o Princípio da Incerteza de Heisenberg — geram energia negativa em escalas microscópicas, mas extrapolar esse fenômeno para o nível macroscópico e acumular energia suficiente para manter a passagem aberta continua sendo um desafio teórico e tecnológico monstruoso.
Observação: Energia negativa e matéria exótica não são sinônimos. A energia negativa é um tipo específico de efeito quântico, enquanto o termo "matéria exótica" se refere, de forma mais ampla, a qualquer substância que provoque repulsão gravitacional. Assim, toda energia negativa é matéria exótica, mas nem toda matéria exótica depende exclusivamente de energia negativa. Já o termo "singularidade gravitacional" remete a pontos onde as leis tradicionais da física não se aplicam. No centro dos buracos negros, por exemplo, ela possui densidade infinita, distorcendo o espaço-tempo de tal forma que, para escapar, seria necessário superar a velocidade da luz — o que é impossível segundo a relatividade.
Continua...