sábado, 19 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 37ª PARTE — CAPÍTULO ESPECIAL: LOOPS TEMPORAIS

A VIDA É FEITA DE CICLOS. QUEM NÃO APRENDE A FINALIZÁ-LOS FICA PRESO NUM LOOP INFINITO.

Dias atrás, a caminho do dentista, eu conversava com minha cara-metade sobre como o paradoxo dos gêmeos facilita a compreensão da dilatação temporal. Quando desembarcamos do Uber, agradeci a viagem ao motorista, que, para minha surpresa, agradeceu a aula de física e disse que gostaria de entender melhor a questão dos loops temporais. 

Como não era possível resumir a ópera parado em fila dupla diante do consultório, prometi enviar por mensagem o endereço do meu blog. No entanto, quando tentei localizar o post específico, constatei que havia abordado a assunto em mais de uma oportunidade, mas jamais me aprofundado — na mais detalhada, havia feito somente uma remissão ao filme Feitiço do Tempo.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Ao pedir ao STF a condenação de Bolsonaro a 43 anos de cana, o procurador-geral sinalizou que o xadrez virá com ou sem tarifaço. A certeza de que está prestes a virar presidiário, a briga autofágica entre Tarcísio de Freitas e Eduardo Bolsonaro, o impacto direto do tarifaço de Trump sobre empresários e trabalhadores brasileiros e as medidas cautelares — uso de tornozeleira eletrônica, proibição de acessar redes sociais e de conversar com zero três, entre outras — deixaram o "mito" desnorteado. Ao perceber que se enfiou num redemoinho, ele fez o que sempre faz: criou (mais) uma realidade paralela, onde Tarcísio e Eduardo fizeram as pazes e a família não tem nada a ver com a chantagem americana. Mas a tentativa de escapar de fininho esbarra nos fatos. 
Logo após o tarifaço, Dudu Bananinha imprimiu suas digitais no cabo da arma  comemorando o “intenso diálogo” com o governo dos EUA e afirmando que a carta de Trump a Lula, condicionando a suspensão da medida à anistia do pai, “confirma o sucesso daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade”. Desde então, o clã vem usando o tiro como moeda de troca.
Declarando-se “apaixonado” por Trump, Bolsonaro posou de negociador: “Me deem o passaporte de volta, que eu converso com ele.” A oferta soou mais como tentativa de fuga de um quase-presidiário do que como solução. Alcolumbre e Motta, percebendo o risco de afundar nessa canoa furada, reposicionam-se e se reaproximam do governo — o que, além de destravar a pauta de Lula no Congresso, bloqueia qualquer tentativa de anistiar o patriarca. 
No fim das contas, Trump virou cabo eleitoral de Lula — e está arrastando Bolsonaro e Tarcísio para o buraco.

A história se passa em Punxsutawney, no estado da Pensilvânia (EUA), durante as comemorações do tradicional Dia da Marmota. O protagonista é um repórter meteorológico mal-humorado que cobre a festa pela quarta vez consecutiva, se vê obrigado a pernoitar na cidadezinha devido a uma nevasca e acaba revivendo o dia da festa, a cada manhã, como se o tempo tivesse deixado de passar. Uma boa síntese, sem dúvida, mas limitada ao básico dos básicos. 

Loops temporais são conceitos físicos nos quais o tempo é fechado sobre si mesmo. Em termos técnicos, podemos associá-los à ideia de curvas temporais fechadas (CTCs), previstas como soluções matematicamente válidas da relatividade geral, mas altamente especulativas do ponto de vista físico. Nessas soluções, o espaço-tempo se curva de tal maneira que um viajante poderia, teoricamente, retornar ao próprio passado e reviver eventos. Suas causas podem ser sobrenaturais, científicas ou psicológicas, e somente quem está "consciente" se lembra dos eventos anteriores — o tempo "se reinicia" após cada ciclo, fazendo com que tudo volte ao ponto inicial — e pode usar o conhecimento acumulado para tentar mudar o resultado a cada repetição.

Do ponto de vista narrativo, os loops são usados para explorar a repetição e a transformação: ao vivenciar várias vezes a mesma sequência de eventos, o personagem adquire conhecimento e habilidade suficientes para alterar o curso das coisas — ou, pelo menos, para modificar sua própria compreensão da realidade. É como se a consciência fosse o único elemento fora da curva, ou, mais poeticamente, como se a consciência fosse a única coisa que não se dobra ao tempo.

 

Na ficção científica, o conceito também se articula com questões epistemológicas, éticas e metafísicas: se o tempo se repete infinitamente, qual o valor das escolhas? As ações ainda importam? A previsibilidade dos eventos compromete a liberdade? Longas como No Limite do Amanhã ou episódios como Cause and Effect (de Star Trek: The Next Generation), tensionam essas questões ao limite, mostrando personagens presos em loops que só conseguem romper mediante um aprendizado ou sacrifício extremo.

 

As CTCs são soluções válidas nas equações de Einstein — como no famoso "cilindro relativístico de Tipler" ou nos buracos de minhoca de Kip Thorne —, mas a existência dos loops violaria o princípio da causalidade, exigiria condições de energia negativa (não observadas empiricamente) e levantaria paradoxos temporais. Ainda assim, o físico Igor Novikov propôs a chamada "autoconsistência" como possível resolução: em um universo com CTCs, apenas eventos que não causam paradoxos podem ocorrer, como se o próprio espaço-tempo se autoajustasse.

 

Talvez o fascínio pelos loops não se limite à física ou à ficção: há quem veja neles metáforas existenciais profundas, desde os ciclos de repetição cotidianos até ideias filosóficas — como o "eterno retorno", de Nietzsche. Quiçá essa combinação entre rigor, imaginação e angústia existencial explique por que esse fenômeno continua a nos enredar, seja nas telas, nas páginas da teoria física ou em nossas próprias vidas.

 

No fim das contas, talvez o verdadeiro loop não seja o do tempo físico, mas o das nossas escolhas — repetições obstinadas, disfarçadas de progresso, que invariavelmente conduzem à autossabotagem. Segundo o Gênesis, Deus criou o mundo e tudo que nele existe em seis dias, viu que "tudo era bom" e descansou no sétimo. Mas mal sabia Ele que sua cria se dedicaria, sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia, a arquitetar o colapso e tornar o caos não uma exceção, mas a regra.

 

Espero que isso satisfaça a curiosidade do motorista cujo comentário me deu o tema desta postagem) e interesse aos leitores que têm acompanhado esta longa sequência sobre viagens no tempo.