Janja começou a seguir Lula nos anos 1990, na esteira das "caravanas da cidadania" lideradas pelo petista. A amizade ganhou força em 2011, quando ela o convenceu a fazer uma palestra no Rio, e a busca ficou mais fácil em 2018, quando ela se instalou no acampamento montado nas imediações do prédio em que o então presidiário mais famoso do Brasil cumpria pena.
As visitas conjugais se amiudaram e, em 2022, a namorada do ex-presidiário virou primeira-dama — parecendo acreditar que quem vota num candidato elege um casal. No dia da posse, segurando a cadela Resistência, Janja subiu a rampa do Planalto antes do marido, e atribuiu a cena sem precedentes à necessidade de comandar o último ensaio para a entrega da faixa por um grupo de "representantes do povo brasileiro" escolhido por ela própria.
No início do terceiro mandato de Lula, Janja apareceu para uma entrevista à TV Globo vestindo um terninho branco abotoado sobre uma blusa roxa e carregando o que parecia um livro com mais de mil páginas — que, como ela própria esclareceu, era a lista do patrimônio da residência presidencial. "Vou mostrar como este lugar foi entregue para a gente", ameaçou. Em seguida, culpou o primeiro casal anterior por diversos estragos — de mesas avariadas a rasgos no revestimento de poltronas e focos de infiltração no teto. Ao longo da conversa, escancarou defeitos de fabricação que, somados, identificavam uma genuína alpinista social prenhe de deslumbramento.
Janja ocupa o gabinete do Palácio do Planalto que Michelle "Micheque" Bolsonaro ocupou de 2019 a 2022. Em seus tempos de primeira-dama, Marisa Letícia exigiu uma sala, mas nunca se soube o que fez nela, em 8 anos no posto, alguém que somou quatro declarações públicas. Sabe-se que deixava a sala no final da tarde, entrava sem bater no gabinete do marido e, com ou sem testemunhas por perto, comunicava que era hora de voltar para casa.
A agenda e o número de funcionários à disposição Janja são mantidos em sigilo, mas sabe-se que, ali, a exigente primeira-dama planeja contratações e demissões, compras de todo tipos e a próxima viagem do primeiro-casal, bem como transforma em adversário quem atravessa seu caminho — como Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil, que, no início de 2023, impediu a compra de uma mesa para o Alvorada, no valor de R$ 200 mil e vazou para imprensa que o sofá e a cama de casal custaram R$ 65 mil e R$ 42 mil, respectivamente.
Em Washington, Janja se meteu entre Lula e Joe Biden na hora da foto. Na índia, desembarcou ao lado do marido, juntou as palmas das mãos, recitou “namastê” e avisou que, se ninguém a segurasse, sairia dançando — mas apagou o vídeo quando foi lembrada de que tanta animação destoava das inundações devastadoras no Rio Grande do Sul. Em Delhi, de mãos dadas com Lula, invadiu a área em que os membros do G20 seriam fotografados com o primeiro-ministro Narendra Modi — e estava caprichando na pose quando foi gentilmente convidada a se retirar. "Lula não largava minha mão", justificou.
Em maio de 2023, a rainha-consorte contratou três chefs para comandar a cozinha do Alvorada. Sua impaciência com subordinados transborda até com câmeras por perto — como na reinauguração do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, quando confiscou um microfone para repreender a funcionária do cerimonial: "Segura um pouco, que ele nem entregou a faixa".
No coração do poder, Janja se sente tão à vontade quanto deputado em sexto mandato. Invade reuniões ministeriais sem pedir licença, dá bronca em quem irrita Lula com más notícias, nomeia e demite. Com Lula o marido retido em Brasília por conta da posse do ministro Barroso na presidência do STF, ela visitou a região gaúcha alagada pela tragédia e prometeu socorro aos flagelados e ajuda aos desvalidos.
Ao virar capa de revista, deixou claro que o que antes parecia difícil de engolir se tornara intragável. Na sessão de fotos de Bob Wolfenson, usou seis trajes concebidos por estilistas brasileiros dos quais é cliente. "Compro o que eles fazem porque a gente precisa falar mais sobre moda brasileira", justificou. Entre outras declarações, informou que continuará palpitando sobre o que lhe der na telha: "Não é porque sou mulher do presidente que vou falar só de batom". Mas reafirmou sua antiga paixão por cremes para os cabelos, cosméticos, roupas e sapatos — como os da grife Hermès, avaliados em cerca de R$ 8,5 mil.
Depois de Lula, das roupas de grife e dos sapatos caríssimos, o que Janja mais ama são as viagens no avião presidencial. Só nos dez primeiros meses de governo, visitou 19 países, hospedando-se nos melhores hotéis, com diárias de fazer corar bilionários da Forbes. Também cabe a ela conferir a lista de integrantes das comitivas — que ultrapassam 300 felizardos. Chegou até a pedir ao marido uma aeronave nova, com banheiro, cama de casal e maior autonomia de voo.
Observação: Durante sua primeira gestão Lula aposentou o Boeing 707 usado desde 1986 e comprou um Airbus A319CJ (vulgo Aerolula) por US$ 56,7 milhões — mais US$ 13,5 milhões para incluir uma suíte presidencial. A aeronave tem vida útil até 2033, mas cogita-se equipar um dos Airbus A330 herdados da gestão Bolsonaro com uma suíte de casal, banheiro com chuveiro, escritório, sala de reuniões e 100 poltronas para acomodar a comitiva presidencial e os jornalistas. Conforto é prioridade para a primeira-dama, como ele deixou claro ao renovar a mobília do Alvorada.
A vida que Janja teria pedido a Deus se acreditasse Nele fica ainda mais ensolarada quando a mídia amplifica seus poderes. O jornal francês Le Monde chegou a qualificá-la como "vice-presidente de fato" — uma ascensão e tanto para quem nasceu em União da Vitória (PR), numa família "reacionária e conservadora", que reprovou sua filiação ao PT em 1983, quando ela tinha 17 anos. Em 1986 foi, contratada pela liderança do partido na Assembleia Legislativa do Paraná. Em 2005, já no primeiro mandato de Lula, virou "socióloga de campo" em Itaipu — sem concurso. Ao deixar o emprego para se dedicar em tempo integral ao vidão de primeira-dama, embolsava R$ 20 mil mensais.
Primeiras-damas não têm mandato por voto popular nem ocupam qualquer cargo ou função na esfera administrativa. No entanto, com o aval de Lula, a atual segue cumprindo uma agenda própria de encontros e reuniões. Em setembro de 2023, representou Lula (que se recuperava de uma cirurgia no quadril) em compromissos no Vale do Taquari (RS). Era esperado que o vice. Geraldo Alckmin, o fizesse, mas Janja ocupou o posto informalmente.
Se não fosse prisioneira do deslumbramento, Janja poderia administrar com competência programas sociais, como fizeram suas antecessoras. Valorizasse a discrição, poderia tocar projetos específicos — qualquer comparação com Ruth Cardoso seria um insulto à memória da ex-primeira-dama. Mas ela parece vocacionada a se intrometer em tudo, e acaba não fazendo nada. Suas atitudes lembram as de Eva Perón (1919-1952), com quem ela disse se identificar. Evita — como ficou conhecida a primeira-dama no regime populista de Juan Perón — atuou como ministra de fato do Trabalho e da Saúde durante o governo do marido, mas o protagonismo de Janja reflete o deseja de ampliar sua influência com base apenas no vínculo conjugal.
"Minhas conversas com o presidente são em casa, no dia a dia, e nos fins de semana, tomando uma cervejinha. Ele me ouve com muita atenção", garante a doutora em tudo. Durante um jantar oficial na China com Xi Jinping, quebrou o protocolo ao pedir a palavra para criticar algoritmos de uma rede social. A situação foi constrangedora, mas ela não se deu por achada: "Não há protocolo que me faça calar, recitou madame — e Lula não viu nada de mais. À semelhança de Hillary Clinton e Cristina Kirchner, Janja parece ambicionar mais e mais poder — talvez até o Palácio do Planalto se o marido não disputar a reeleição, optando por ser a "eminência parda" num eventual governo dela.
Com seus carros blindados, seguranças vergados sob o peso de armas automáticas, cartões de crédito com sigilo centenário e diárias de hotel no exterior que se aproximam dos R$ 40 mil, Lula e Dilma representam a caricatura do milionário brasileiro subdesenvolvido. Levam vidas de paxá a custa dos impostos que nós pagamos ao abastecer o carro ou comprar uma dúzia de ovos. Neste Brasil às avessas, o governo soca mais impostos na economia em vez de cortar despesas, e promete que os ricos pagarão a conta. Mais uma vez, a safadeza se repete: o dinheiro "tirado dos ricos" vai para as burras do Estado, e não há ninguém mais rico que o Estado nesta republiqueta de bananas.
O padrão de vida de Lula, de Janja e de quem mais mama nas tetas do Tesouro não será afetado pelo aumento do IOF. Magistrados e castas do funcionalismo continuarão recebendo salários de R$ 100 mil ou 200 mil mensais, enquanto o povo paga mais caro pelo crédito, perde o emprego, enfim, toma na tarraqueta com mais um "Plano Caracu" — em que o governo entra com a "cara" e o povo com... o resto.
Se imposto eliminasse a pobreza, não haveria pobres no Brasil. Ao jogar os pobres contra os ricos. Lula, Janja e a extrema esquerda requentam a velha "guerra de classes". É a velha cantilena de sempre: o pobre só é pobre porque existe o rico, e o rico só é rico porque tira dinheiro do pobre. Mas "acabar com os ricos" não soluciona o problema dos pobres. Lula promove hoje o maior programa de concentração de renda do mundo — enriquecendo o Estado — e o maior programa de perpetuação da miséria — o Bolsa Família, com 54 milhões de dependentes. Fala em políticas sociais e opção pelos pobres, mas a única opção que faz é por si mesmo e por seus apaniguados.
Resumo da ópera: Enquanto Janja viaja sozinha para a Rússia num avião da FAB com capacidade para 200 passageiros, ostentando bolsas e acessórios de preços estratosféricos, Lula não sabe há mais de 40 anos o que é a fila no SUS, no transporte público, ou o valor da conta de luz. Juntos, forma um casal podre de rico, como os que aparecem na revista Caras, exibindo a mesa do café da manhã em suas mansões cinematográficas, símbolo perfeito de um país virado do avesso.
Triste Brasil.