O PIOR CEGO É AQUELE QUE SE RECUSA A ENXERGAR
Vimos que viajar no tempo se tornou o fruto mais cobiçado da árvore da relatividade depois que semente de uma tecnologia capaz de nos levar a outras épocas foi plantada por H.G. Wells em 1895, com o romance A Máquina do Tempo.
Essa possibilidade é tratada com ceticismo por boa parte da comunidade científica, mas a história está repleta de exemplos de pioneiros que foram ridicularizados por suas ideias até que o tempo provasse que eles estavam certos.
Foi assim com Nicolau Copérnico, que desafiou o geocentrismo, com Joseph Lister, que revolucionou a medicina com a desinfecção, e com Alfred Wegener, que propôs a teoria da deriva continental, entre tantos outros.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”, diziam os famosos versos de Carlos Drummond de Andrade no poema intitulado “Quadrilha”, publicado em 1930 em “Alguma poesia” —, que sintetiza os desencontros da vida amorosa e as dificuldades humanas em estabelecer laços, com cada indivíduo seguindo em uma direção.
Já a “quadrilha” do bolsonarismo, revelada na noite de quarta-feira, 20 de agosto, em relatório da Polícia Federal, é menos singela: Eduardo mandava um “vá tomar no cu” para o pai “ingrato do caralho” quando era chamado de imaturo e recebia dele a orientação de esquecer “qualquer crítica” ao ministro Gilmar Mendes; dizia ao genitor que Tarcísio de Freitas “sempre esteve de braço cruzado vendo voce se fuder [sic] e se aquecendo para 2026” e era chamado de “babaca” que fala “merda” por Silas Malafaia.
Drummond contava que “João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”. Bobi Filho, com R$ 2 milhões transferidos por Bibo Pai, ficou nos EUA com seu porta-voz Paulo Figueiredo; o “mito” tinha no celular um pedido de asilo “que viabilizaria sua evasão do Brasil em direção à República Argentina”, mas acabou em prisão domiciliar em Brasília; Malafaia, em vez de ir para o convento, virou alvo de busca e apreensão; e todos eles foram indiciados pela PF por coação no curso do processo da trama golpista, na qual o Messias que não miracula figura como réu, ao lado de outras pessoas que ele próprio colocou na história — como também R$ 2 milhões na conta de sua esposa, “Micheque”, enquanto Zero Três R$ 200 mil reais na conta da mulher, Heloisa; ambos com a finalidade de contornar possíveis bloqueios em suas próprias contas.
Enviadas 95 anos depois, as mensagens de WhatsApp trazidas reveladas pela PF ilustram os barracos da vida bolsonarista e confirmam que sacrificar os outros para salvar Jair Bolsonaro sempre foi a escolha da família. Se “a anistia light passar”, os EUA “não irão mais ajudar”, disse Eduardo ao pai. “Neste cenário vc: não teria mais amparo dos EUA, o que conseguimos a duras penas aqui, bem como estaria igualmente condenado [no] final de agosto. Eu acho que não vale a pena”, escreveu o deputado. E mais: “A narrativa de Tarcísio te sucedendo, que já há acordo para isto, está muito forte [...] Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer.” Essa pressão foi insuflada por Malafaia em vídeo publicado nas redes sociais.
Em privado, o líder religioso (!?) cobrava do ex-presidente golpista um “discurso maior” e o orientava a direcionar a narrativa para os interesses do grupo. Bolsonaro, em áudio enviado ao aliado, manifestava receios de escancarar a chantagem, mas dizia atuar naquele sentido, de que “se não começar votando a ANISTIA, não tem negociação sobre tarifa”. “Resolveu a anistia? Resolveu tudo. Não resolveu? Já era.”
No poema de Drummond, todos têm paixões não correspondidas, exceto Lili, que não ama ninguém, mas acaba casando com alguém de fora, de nome comercial: J. Pinto Fernandes. Na poesia bolsonarista exposta pela PF existem 50 tons de xingamentos, ameaças e chantagens, todos eles usados para lidar com a velha e incontornável paixão dos Bolsonaro pela impunidade, agora não mais correspondida.
Com “O ANTAGONISTA”
Em 1500, Cabral levou 40 dias para vir de Portugal a Pindorama; no final dos anos 1990, o Concorde cruzava o Atlântico em cerca de 3 horas. Em 1915, Einstein forneceu as equações matemáticas que mais tarde descreveriam os buracos negros, mas morreu sem ter certeza da existência desses corpos celestes — cuja imagem direta só foi capturada em 2019, quando o Event Horizon Telescope fotografou o M87.
Como também, ainda que a dilatação temporal prevista na Relatividade Geral seja incontestável, avançar décadas (ou séculos) no futuro, como nos filmes de ficção científica, esbarra em limitações relativísticas e exige energias muito além da capacidade das tecnologias atuais. Ainda assim, se as prosaicas caravelas evoluíram para transatlânticos, e as geringonças dos bicicleteiros Wilbur e Orville Wright para aeronaves capazes de superar a velocidade do som, a construção de espaçonaves que alcancem velocidades próximas à da luz (cerca de 1,08 bilhão de quilômetros por hora) pode ser apenas uma questão de tempo.
Só não se pode dizer quanto tempo: a sonda mais rápida lançada até agora alcançou 692 mil quilômetros por hora (0,064% da velocidade da luz) em dezembro do ano passado. A essa velocidade, seria possível cruzar os Estados Unidos de ponta a ponta em apenas 23 segundos, chegar à Lua em meia hora, ao Sol em 9 dias (lembrando que a distância média entre a Terra e o Sol é de 150 milhões de quilômetros, percorrida pela luz em 8 minutos e 13 segundos) e ao buraco negro mais próximo do nosso sistema solar em 2,4 milhões de anos — viagem que, à velocidade da luz, levaria cerca de 1,5 mil anos. Mesmo sendo a nave mais rápida já construída pela humanidade, a PSB ainda é cerca de 1.560 vezes mais lenta do que a luz.
Cabe aqui abrir um parêntese para traçar um paralelo entre as viagens no tempo e a existência de seres alienígenas. Como sugeriu Carl Sagan, se não existe vida fora da terra, o Universo é um enorme desperdício de espaço. Não me refiro a bioassinaturas de gases que, na Terra, são produzidos apenas por processos biológicos (como as identificadas recentemente pelo Telescópio Espacial James Webb), nem aos "homenzinhos verdes" descritos pelos ficcionistas dos anos 1950/60, mas a seres inteligentes, capazes de realizar viagens interestelares.
Também nesse campo a história oferece terreno fértil para teorias da conspiração. Um exemplo clássico é a crença de que o avanço tecnológico se tornou mais expressivo a partir dos anos 1950 devido à engenharia reversa de naves alienígenas, especialmente alimentada por suposições envolvendo a Área 51. Outra suposta evidência de presença alienígena remonta à construção das pirâmides de Gizé. A maior delas, com 174 metros de altura por 230 metros de largura, é composta por mais de dois milhões de blocos de pedra de até 80 toneladas cada.
Na versão oficial, dezenas de milhares de trabalhadores egípcios teriam usado cinzéis para cortar os enormes blocos de pedra, toras de madeira para rolá-los por centenas de quilômetros pelo deserto, rampas em espiral para empilhá-los, e simples ábacos para calcular o alinhamento dos monumentos com os pontos cardeais e a constelação de Orion. Curiosamente, a maior das três pirâmides (Quéops) foi erguida por volta de 2600 a.C., mas sua latitude (299.792°N) corresponde numericamente à velocidade da luz (299.792.458 m/s) — um número que só seria conhecido 4.500 anos depois. Ademais, se os antigos egípcios tivessem medido a velocidade da luz, eles a teriam registrado como 571.033.253 côvados por segundo, uma vez que o sistema métrico só foi criado em 1791 d.C.
Como explicar que os Contos das Mil e Uma Noites descrevessem tapetes voadores e cavernas que se abrem ao comando "Abre-te Sésamo" milhares de anos antes da invenção de aviões e portas automáticas? De duas, uma: ou a imaginação dos "escritores das arábias" era muito mais prodigiosa que a dos ficcionistas de hoje, ou suas "fantasias" retratavam coisas que, de algum modo, eles já conheciam.
Teorias da conspiração bem construídas são cativantes, sobretudo quando as explicações que propõem parecem mais aceitáveis do que as oficiais. Até recentemente, o Pentágono negava toda e qualquer evidência de OVNIs (ou UAPs, como passaram a ser chamados), mas isso mudou nos últimos anos diante da miríade de avistamentos inexplicáveis relatados por pilotos da Força Aérea e da Marinha dos EUA, controladores civis e aeronautas dos mais diversos países.
Muitos desses avistamentos envolvem objetos com capacidades que superam a tecnologia conhecida — acelerações e manobras extremas, ausência de fontes de propulsão visíveis, etc. — e são corroborados por dados de radar, infravermelho e sistemas eletro-ópticos. O governo americano continua enfatizando que "natureza não identificada" não significa necessariamente "origem alienígena" — essa hipótese só é admitida, e com relutância, quando não existe nenhuma outra explicação se sustenta.
Continua...