sábado, 30 de agosto de 2025

O ÚLTIMO REFÚGIO DOS CANALHAS

BRONCOS, MAS CAPAZES DE DIVIDIR O POVO AINDA MAIS BRONCO EM FACÇÕES EXTREMISTAS FANÁTICAS

Se o patriotismo é “o último refúgio dos canalhas”, como diz o escritor inglês Samuel Johnson (1709-1784), então esse refúgio está lotado no Brasil, onde lulopetistas e bolsonaristas se esmeram em transformar esse sentimento de pertencimento a uma comunidade nacional em arma política para fins eleitorais.

Dias atrás, Lula e seus ministros participaram de uma reunião usando bonés azuis onde se lia “O Brasil é dos brasileiros”, um constrangedor contraponto governista aos bonés vermelhos Make America Great Again  — o movimento político nacionalista liderado por um lunático chamando Donald Trump. Ainda estamos a mais de um ano da eleição presidencial, mas já é possível antever que essa patacoada será o grande mote do lulopetismo na campanha.

 

O patriotismo fajuto que o xamã petista abraçou não tem qualquer relação com os reais interesses e necessidades da Pátria. Ao presidente e seus marqueteiros só interessa explorar eleitoralmente o elo afetivo dos brasileiros entre si e deles com o lugar em que nasceram ou escolheram viver, no momento em que o Brasil é agredido pelos EUA de Trump. 


No limite, Lula quer se confundir com a própria ideia de pátria, e não à toa, na reunião ministerial, a título de reafirmar sua disposição para defender o Brasil contra os EUA, leu um discurso de Getúlio Vargas, o autocrata que quis inventar uma identidade brasileira moldada conforme seus propósitos autoritários. 

 

Nesse discurso, Vargas denunciava “forças internacionais” que se uniram aos “eternos inimigos do povo humilde”, que “procurarão, atingindo minha pessoa e o meu governo, evitar a libertação nacional e prejudicar a organização do nosso povo”.

 

Como se percebe, Lula se vê como Vargas, isto é, como a própria personificação do Brasil e de seu povo — donde se conclui que qualquer ataque a ele equivale a crime de lesa-pátria cometido por traidores do Brasil. Não é à toa que o slogan do governo, apresentado na reunião, passará a ser “Do lado do povo brasileiro”, que substituirá o “União e reconstrução”. Em vez de união, o lulopetismo agora quer que se escolha um lado — o do “povo brasileiro”, obviamente encarnado em Lula.

 

Enquanto isso, “patriotas” bolsonaristas, que há anos prejudicam o País, esmeram-se em criar uma crise nacional sem precedentes a título de livrar da cadeia o “mito” que, a exemplo de Lula, também se considera a própria encarnação do Brasil. Nesse contexto, mobilizar uma força estrangeira para pressionar magistrados tidos como inimigos do ex-presidente seria, na verdade, um gesto para salvar o País e a democracia brasileira. 

 

O brado retumbante de Jair Bolsonaro — “Brasil acima de tudo” — é tão verdadeiro quanto uma nota de três dólares. Dono de um próspero empreendimento familiar, dedicado a fazer dinheiro com rachadinhas e afins sob a proteção de mandatos políticos, o ex-presidente golpista nunca se importou com partidos, com o decoro parlamentar, com a Constituição ou com o Brasil. Seu propósito sempre foi e continua a ser a exploração do ressentimento de eleitores insatisfeitos com a política para acumular patrimônio pessoal. 


Bolsonaro, que jamais respeitou a farda que um dia vestiu e que foi capaz de conspurcar seguidamente o 7 de Setembro, invoca o patriotismo não no sentido de inspirar união e orgulho, e sim com o objetivo de semear o antagonismo, do qual extrai votos e poder. Nessa guerra entre patriotas de fancaria, perdemos todos. 


De um lado, temos um entreguista que, com a expectativa de safar-se da cadeia, pôs-se a serviço de um governante estrangeiro que humilha o Brasil como quem dá um peteleco numa mosca. De outro, temos um contumaz oportunista, convencido de ter encontrado a fórmula para ganhar mais um mandato presidencial sem a necessidade de apresentar programas de governo e soluções efetivas para os reais problemas brasileiros. 


No meio dos dois ficam os brasileiros (fodidos e mal pagos) que amam seu país e só querem um governo decente.


Com Estadão