EU SOU CALMO; SÃO AS PESSOAS QUE ME IRRITAM.
Albert Einstein foi o maior físico do século XX — senão de todos os tempos —, e Henri Bergson, um dos filósofos mais eminentes de sua época. Em abril de 1922, os dois se encontraram para debater ideias sobre o tempo. O físico alemão já havia publicado sua teoria da relatividade, enquanto o filósofo e diplomata francês, prestes a lançar Duração e Simultaneidade, considerava-se intelectualmente superior ao rival.
Quando Bergson afirmou que a Filosofia ainda tinha seu espaço na compreensão do tempo, Einstein rebateu dizendo que o "tempo dos filósofos" não existe. Isso abriu uma verdadeira Caixa de Pandora sobre a relação entre a Ciência — segundo a qual a experiência da passagem do tempo é secundária, até ilusória, e transcende a percepção individual — e a Filosofia — para a qual a vivência subjetiva do tempo não pode ser reduzida às medições dos relógios. Foi a partir dessas discussões que se consolidou a visão einsteiniana de que espaço e tempo formam uma estrutura indissociável — o espaço-tempo — onde o tempo é mais uma dimensão do espaço.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Numa evidência de que quem sai aos seus não endireita, Eduardo Bolsonaro será encostado no banco dos réus no próximo dia 14 — mesma data que seu pai entrará na reta de chegada da prisão em regime fechado, com provável escala na Papuda antes da análise de um previsível pedido de reclusão domiciliar humanitária.
Pai e filho tornaram-se protótipos de uma família autossuficiente: eles mesmos cometem os crimes, eles mesmos fornecem as provas, eles mesmos complicam a defesa, oferecendo eloquentes indícios de que, ao contrário do que postula a teoria de Darwin, está em curso um processo de regressão de certas espécies.
Bergson reconhecia que a teoria da relatividade era interessante, mas não passava de uma teoria. Einstein defendia que, sem a noção de dilatação temporal, a Física se perderia num emaranhado de contradições. No entanto, o francês alertava que não se poderia aceitar a Ciência sem um olhar crítico, histórico, social e político; afinal, "o tempo é o que se faz e o que faz com que tudo seja feito".
Embora a dilatação do tempo tenha sido confirmada experimentalmente por meio de relógios extremamente precisos, Bergson registrou em seu livro que esse suposto atraso de um relógio em relação a outro não existia de fato, e acusou Einstein de cometer o "erro cartesiano" de equiparar seres humanos a máquinas. Para este, o rival tinha uma visão do tempo que, por não ser objetiva, não poderia corresponder à realidade. Como tantas vezes ocorre hoje na política polarizada do Brasil, os seguidores do cientista tornaram-se críticos do filósofo — e vice-versa.
Meses após desse debate, Einstein recebeu o Prêmio Nobel de Física. Embora a láurea se devesse a suas descobertas sobre o efeito fotoelétrico, ficou subentendido que ele havia derrotado Bergson e que cabia à Física — e não à Filosofia — explicar a natureza do tempo. Bergson manteve suas convicções, mas não voltou a fazer comentários públicos sobre Einstein ou sua teoria. Ainda assim, seu livro acabou sendo malvisto, e sua interpretação da relatividade, considerada simplista demais.
Fato é que ainda hoje persistem questões sobre o tempo que nem a Ciência, nem a Filosofia conseguiram plenamente elucidar — como vimos ao longo desta sequencia e voltaremos a ver nos próximos capítulos.