O PROBLEMA DO MUNDO DE HOJE É QUE AS PESSOAS INTELIGENTES ESTÃO CHEIAS DE DÚVIDAS E AS IDIOTAS, CHEIAS DE CERTEZAS.
Por que nos lembramos do passado, mas não do futuro? Por que um ovo quebrado nunca volta a ser inteiro? Essas perguntas intrigaram o astrônomo britânico Arthur Eddington, que foi buscar a explicação no conceito de entropia — previsto na Segunda Lei da Termodinâmica — que mede a desordem ou aleatoriedade de um sistema. Em um sistema isolado (como o Universo), a desordem permanece a mesma ou aumenta, mas jamais diminui espontaneamente.
Um vaso de porcelana, por exemplo, é uma estrutura altamente ordenada até cair e se espatifar em centenas de cacos, quando então ele se move de um estado de baixa entropia (ordem) para um estado de alta entropia (desordem). Como o processo inverso jamais acontece sozinho, ou seja, os cacos não se juntam espontaneamente, a "seta termodinâmica do tempo" é a seta da entropia e, portanto, unidirecional.
O "passado" é o estado em que as coisas eram mais ordenadas e o "futuro", a direção para onde a desordem é maior. Como o universo está preso nessa jornada inevitável da ordem para a desordem, o tempo como o conhecemos só pode avançar, e assim o passado molda o presente e o presente constrói o futuro.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Moraes rejeitou o pedido de avaliação médica feito pelo governo do DF para determinar se Bolsonaro tem condições de cumprir pena no complexo prisional da Papuda, onde José Dirceu, Sérgio Cabral e Valdemar Costa Neto, entre outros políticos famosos, já estiveram presos. A expectativa é que o pedido volte a ser analisado depois que o cumprimento da pena for decretado.
Outros seis réus condenados no mesmo processo também podem ter o cumprimento de pena decretado em breve, inclusive três ex-generais do Exército que foram ministros no governo Bolsonaro: Augusto Heleno, Walter Braga Netto, e Paulo Sérgio Nogueira. Como benefício do acordo de colaboração premiada, Mauro Cid foi condenado a apenas dois anos de reclusão em regime aberto. Os demais devem ficar detidos em presídios comuns, como o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, ou em salas especiais dentro de quartéis do Exército e da Marinha em Brasília e no Rio de Janeiro.
Diz o ditado que o diabo mora nos detalhes, e o detalhe é que o mundo que vemos — o microcosmo — obedece às regras da física clássica (como as leis de Newton e a relatividade de Einstein). Nesse universo, tudo é intuitivo e determinístico, mas basta mergulhar no microuniverso das partículas subatômicas para essas regras deixarem de funcionar. Nos domínios da física quântica, regidos por leis completamente diferentes e anti-intuitivas, lida-se com possibilidades, não com certezas.
Uma partícula pode existir em múltiplos estados ao mesmo tempo (ou seja, estar em vários lugares simultaneamente) até o momento em que a medimos. Além disso, duas partículas podem estar conectadas de forma que, ao medir uma, sabemos o estado da outra, não importa a distância que as separa. Essa divisão entre o mundo clássico e o quântico é um dos maiores mistérios da física moderna, e a busca por uma Teoria de Tudo é, em essência, a tentativa de encontrar um conjunto único de leis que unifique essas duas realidades.
Segundo o físico Yakir Aharonov, da Universidade de Chapman, na Califórnia, há indícios de que as escolhas feitas agora (ou seja, no presente) podem influenciar o estado de uma partícula no passado. Conhecida como retrocausalidade quântica, essa hipótese sustenta que a relação tradicional de causa e efeito pode se inverter em certas condições, o que desafia o senso comum sobre o fluxo do tempo.
Para compreender isso, é preciso revisitar a dualidade onda-partícula — conceito segundo o qual elétrons e fótons podem se comportar ora como ondas, espalhando-se em várias direções ao mesmo tempo, ora como partículas, seguindo um caminho definido. Note, porém, que esse comportamento não depende apenas da partícula em si, mas da forma como ela é observada — em outras palavras, é o ato de medição que decide se veremos um padrão de interferência (onda) ou um ponto localizado (partícula).
Essa curiosa dependência entre observação e realidade levou os físicos a questionarem até onde vai a relação entre causa e efeito. Na década de 1970, o físico John Wheeler propôs o Experimento da Escolha Atrasada, sugerindo que a decisão do observador — feita após a partícula atravessar um aparato — pode influenciar como ela havia se comportado antes. Décadas depois, o Apagador Quântico de Escolha Retardada reforçou essa ideia ao mostrar que, no caso de duas partículas entrelaçadas, mesmo separadas por grandes distâncias, a medição de uma parece definir instantaneamente o estado da outra, como se a “ligação” entre as duas transcendesse o espaço e o tempo.
Por estar restrita ao mundo subatômico, onde as leis da natureza parecem seguir uma lógica própria — ou talvez várias lógicas simultâneas — essa “retrocausalidade” não significa necessariamente que seja possível viajar no tempo, reencontrar o passado e alterar grandes eventos, apenas que o estado de uma partícula depende não só das condições iniciais, mas também do resultado final da medição. Em outras palavras, o passado e o futuro estariam entrelaçados em uma mesma estrutura, e a realidade surgiria desse elo duplo.
Alguns físicos consideram essa hipótese uma alternativa elegante às interpretações mais ousadas da mecânica quântica, como a dos “muitos mundos” ou do “colapso aleatório da função de onda”. Se a retrocausalidade estiver correta, talvez não haja necessidade de múltiplos universos se ramificando — basta uma teia quântica onde causas e efeitos se estendem em duas direções temporais.
Sob a lente da filosofia, se o futuro pode influenciar o passado, o que dizer do livre-arbítrio? E se nossas escolhas já estivessem “escritas” nas condições futuras que ainda não aconteceram? Seríamos autores de nossas decisões ou apenas personagens de uma história que se ajusta em ambas as pontas do tempo?
Para tentar responder a essas perguntas, é preciso ter em mente que a retrocausalidade não viola a causalidade clássica nem permite enviar informações instantaneamente. O fenômeno respeita as restrições da relatividade e não contradiz o fato de que, no mundo macroscópico, o tempo segue sua marcha adiante. Por outro lado, ele demonstra que o tempo, no nível quântico, não é tão rígido quanto costumamos imaginar.
Talvez o universo funcione como um roteirista que escreve o enredo, assiste ao desfecho e, insatisfeito com o resultado, reescreve as cenas iniciais para que tudo faça sentido. A diferença é que, nesse caso, nós somos os personagens — e o roteiro, por mais estranho que pareça, ainda está sendo editado em tempo real… ou quase.
No fim das contas, talvez o tempo não seja uma estrada que percorremos, mas uma tapeçaria tecida em duas direções, com o futuro puxando os fios do passado enquanto o presente tenta dar sentido ao desenho. Se for assim, cada escolha nossa seria não o início de algo novo, mas o eco de um resultado que já estava lá, esperando para acontecer.
Um pensamento desconfortável, é verdade… mas quem disse que o universo está preocupado com nosso conforto?
