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sábado, 21 de outubro de 2017

E VIVA O ELEITOR BRASILEIRO


Os políticos não surgem do nada, são eleitos pelo voto popular. O problema é que a cada minuto nasce um idiota no Brasil, e todos eles vêm com título de eleitor.

É nossa ― e de mais ninguém ― a culpa de 1/3 do Congresso Nacional ser composto de investigados, denunciados e réus na Lava-Jato. E eu não me surpreenderia nem um pouco se, no ano que vem, quando teremos a chance de remover o entulho, de substituir todos os deputados federais e 2/3 dos senadores, trastes como Renan Calheiros, Romero Jucá, Fernando Collor, Paulo Maluf e distinta companhia aparecerem na lista dos mais votados.

Observação: Renan é réu por peculato e investigado em 17 inquéritos; 13 deles oriundos da Lava-Jato. Jucá responde a 13 inquéritos; 8 oriundos da Lava-Jato. Collor, que tem uma capivara de fazer inveja ao bandido da luz vermelha, é réu por corrupção, mas tem foro privilegiado, e só deus sabe quando o processo será julgado. Maluf, que há anos é procurado pela Interpol e já foi condenado pelo STF a 7 anos e lá vai fumaça, continua solto ― e ajudando a fazer as leis deste país ― graças a uma miríade de embargos protelatórios.

Sobre a vergonhosa votação que restabeleceu o mandato de Aécio Neves, o mineiro dos 2 milhões de reais, escreveu o colunista Helio Gurovitz

“Entrou em curso, a pleno vapor, a operação ‘estanca-sangria’ ― a imortal expressão cunhada pelo senador Romero Jucá no áudio em que foi flagrado conspirando contra a Lava-Jato. Jucá fez questão ontem de abandonar um tratamento para diverticulite em São Paulo, subir à tribuna do Senado e fazer um ataque virulento ao ex-procurador-geral Rodrigo Janot. ‘A organização criminosa do Janot está caindo por terra’, disse. ‘Ele teve que engolir a sangria, teve que engolir as opiniões, as agressões, os absurdos’. A população brasileira terá, enquanto isso, de engolir os discursos de Jucá, os palavrões de Aécio e a cavalgada desenfreada contra a Lava-Jato nos gabinetes de Brasília. Nem mesmo as eleições do ano que vem servirão de refresco. Dos 81 senadores, 54 poderão concorrer à reeleição. Desses 54, 29 votaram a favor de Aécio. Os outros 15 que o livraram têm mandato garantido até 2023”.

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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

COMO DESCOBRIR SE O PC ESTÁ INFECTADO POR SPYWARE ― FINAL

POLÍTICA É A ARTE DE PROCURAR PROBLEMAS, ENCONTRÁ-LOS, DIAGNOSTICÁ-LOS INCORRETAMENTE E DAR OS REMÉDIOS ERRADOS.

De uma maneira geral, os programas espiões se aproveitam da inexperiência ou ingenuidade das vítimas para invadir os sistemas-alvo sem ser detectados ou barrados por softwares antivírus e de firewall ― até porque essas ferramentas não são “idiot proof”, ou seja, não são capazes de proteger o usuário de si mesmo. Para piorar, as ferramentas de segurança (notadamente as gratuitas) podem não oferecer a interface em português como opção, o que dificulta a compreensão das mensagens e, consequentemente, pode levar um usuário menos atento a autorizar uma ação que deveria bloquear, e vice-versa. Além disso, eles também podem se disfarçar de aplicativos confiáveis ― ou ser instalados “de carona” com aplicativos legítimos ―, ser executados a partir de anexos de email camuflados ou links maliciosos, aproveitar-se de vulnerabilidades no sistema ou nos programas para burlar a vigilância das ferramentas de proteção e por aí afora.

Em face do exposto, a identificação de ameaças tão sutis requer muita atenção, pois só assim o usuário poderá notar “sinais específicos” de infecção. O consumo anormal de memória e/ou de ciclos do processador quando o computador está ocioso é um bom exemplo, como também o travamento recorrente ou lentidão incomum na execução dos aplicativos, movimentos erráticos do ponteiro do mouse na tela do monitor, acionamento da câmera (webcam) à revelia do usuário, surgimento de ícones estranhos na área de notificação do sistema, abertura inexplicável janelas, navegação lenta, e por aí vai. O problema é que o diagnóstico nem sempre é conclusivo, visto que problemas de software e falhas de hardware também podem ser responsáveis pelas anormalidades retro citadas.

Assim, se você suspeita de que alguém ou algum programinha malicioso o está monitorando sub-repticiamente, desconecte o computador da internet para evitar que a situação se prolongue e as consequências se agravem. Feito isso, execute uma varredura completa com seu antivírus. Caso ele não esteja atualizado ou você desconfiar que sua eficácia foi comprometida, baixe o Microsoft Safety Scanner em outro computador, transfira o arquivo executável para um pendrive, conecte o dispositivo ao PC supostamente infectado e faça uma varredura completa no sistema. Aliás, diversos antivírus são disponibilizados também em versões “portáteis”, que você pode baixar e salvar numa partição diferente daquela em que o Windows está instalado, num HD externo, num pendrive, enfim... Afinal, melhor ter e não precisar usar do que precisar usar e não ter.

Mantenha o software do seu PC sempre atualizado. No caso do Windows, você pode rodar o Update Windows regularmente (pelo menos uma vez por semana), embora seja mais indicado habilitar as atualizações automáticas (veja mais detalhes nesta postagem). Tenha em mente, porém, que não só o sistema, mas todos os aplicativos do seu PC precisam ser atualizados, seja através das correções disponibilizadas pelos respectivos fabricantes, seja através da substituição da versão em uso pela mais recente. Isso pode ser feito manualmente, através de um comando quase sempre presente nas configurações ou no menu Ferramentas dos programas, mas é mais fácil recorrer a aplicativos dedicados, que analisam o software do seu PC e apontam os que precisam de correções/atualizações. Dentre as diversas opções disponíveis, eu recomendo o Filehippo App Manager, o OutdateFighter e o R-Updater ― os três são gratuitos o para uso pessoal.

Melhor ainda é você instalar a excelente suíte de manutenção Advanced System Care, que, dentre um vasto leque de funções, não só baixa e instala patches (remendos) importantes para o Windows, mas também identifica programas de terceiros que estejam desatualizados e disponibiliza os links para as devidas correções. Note também que novas versões dos aplicativos costumam corrigir erros/falhas de segurança e acrescentar funções e aprimoramentos, razão pela qual a atualização é recomendável não só do ponto de vista da segurança, mas também da funcionalidade dos apps.

Por melhor que seja o seu arsenal de segurança, não deixe de fazer checagens regulares com antimalwares online, que rodam direto do navegador ― dispensando instalação e posterior remoção ― e fornecem uma “segunda opinião” sobre a saúde do seu PC. Os meus preferidos são o ESET Online Scanner, o House Call Free Online Virus Scan e o Norton Security Scan. Todos são eficientes e gratuitos, mas não oferecem proteção em tempo real, de modo que complementam, mas não substituem o antivírus residente.

Era isso, pessoal. Espero ter ajudado.


FAÇA UM POLÍTICO TRABALHAR: NÃO O REELEJA!
Assistir ao noticiário requer estômago forte. Além das onipresentes notícias sobre naufrágios, ataques terroristas, quedas de aeronaves e violência de todo tipo ―, eventos relacionados com a política não raro transbordam para as páginas policiais, seja devido à péssima qualidade de nossos representantes no Legislativo e governantes no Executivo, seja por conta da falta de esclarecimento (para não dizer estupidez) do povo que os elegeu. 
Como se não bastasse, ainda temos de aturar pronunciamentos estapafúrdios do Pato Donald [Trump], testemunhar atrocidades cometidas por integrantes da nossa mais alta Corte de Justiça e assistir a um criminoso condenado sair, travestido de candidato, em campanha antecipada pelo Brasil afora, afrontando a parcela pensante da população ― que só não volta às ruas para protestar contra esse descalabro porque está mais preocupada em sobreviver. Aliás, talvez pelo mesmo motivo que Michel Temer, com míseros 5% de apoio popular ― recorde negativo de um presidente desde a ditadura ―, não enfrente protestos nacionais (manifestações realizadas por grupelhos de vândalos, recrutados pelo PT nas fileiras da CUT, do MST, do MTST e outras agremiações de imprestáveis não contam). 
O que acontecerá quando as outras duas denúncias contra Temer vierem ― o que não deve tardar, pois falta menos de um mês para a troca do comando da PGR ― é outra história. Não há mais de onde tirar dinheiro para pagar o michê das meretrizes do Parlamento, embora nem o presidente nem os deputados pareçam ter se dado conta ― haja vista a tentativa de inserir no já estropiado texto da reforma política os R$ 3,6 bi (0,5% do orçamento da União) destinados a bancar campanhas eleitorais de suas insolências. Vão trabalhar, vagabundos!
Antagonista questionou um ministro do TSE sobre a caravana desavergonhada de Lula pelo Nordeste. A resposta foi a seguinte: 
A legislação eleitoral brasileira acabou ficando um pouco mais flexível, permitindo manifestações políticas antes do prazo, desde que não haja expresso pedido de voto. Todavia, o que temos é uma caravana, com ônibus caracterizado, militantes com bandeiras, faixas de ‘presidente’, ou seja, uma campanha explícita fora de hora. Ainda que não haja pedido expresso de voto, está mais do que claro que se trata de uma atividade que conduz a essa percepção. Se não for interpretado assim, vira hipocrisia. O candidato vai dizer que está cumprindo a lei, já que está fazendo tudo, mas… não está pedindo voto expressamente. Lula não pode insultar nossa inteligência. Está, repito, mais do que explícito o cunho eleitoral dessa caravana. E ele está utilizando a lei (que impede o pedido expresso de voto) para fraudar seu objetivo. Em última instância, ele está fraudando a lei”. 
O magistrado salientou ser preciso verificar a origem dos recursos utilizados para a realização dessa caravana, mas que a Justiça Eleitoral só pode se posicionar sobre o assunto se for provocada para tal.
Para encerrar: Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente impichado na era pós-ditadura militar, integra agora a seleta confraria dos senadores réus na Lava Jato, ao lado de Gleisi Hoffmann e do peemedebosta Valdir Raupp. Na última terça-feira, a 2ª Turma do STF acolheu parcialmente a denúncia apresentada contra ele pela PGR (em 2015), por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Mas se você sonha em viver para ver o pseudo caçador de marajás no xilindró, redobre os cuidados com a saúde: Paulo Maluf, que há três meses foi condenado a 7 anos, 9 meses e 10 dias de prisão em regime fechado, continua solto, em pleno exercício do mandato e com trânsito livre no Congresso Nacional, a despeito de os ministros da 2ª Turma do STF terem determinado sua interdição para o exercício de cargo e função pública de qualquer natureza pelo dobro da pena privativa de liberdade. É por isso que se diz que bandido burro vai para a cadeia e bandido esperto entra para a política!
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domingo, 8 de janeiro de 2017

AINDA SOBRE O PERIGOSO SAUDOSISMO


Ontem, na abertura desta sequência, eu falei brevemente sobre o golpe de 1964, a ditadura militar, o processo de redemocratização do país, a campanha pelas Diretas Já, a eleição (indireta) do primeiro presidente civil após 21 anos e a posse do vice, José Sarney, devido à morte de Tancredo ― consequência de uma diverticulite aguda, embora não faltem teorias da conspiração que defendem outras versões). Disse também que se cogitou a possibilidade de Ulysses Guimarães assumir a presidência ― até porque ele havia sido indicado pelo PMDB para disputar com Maluf os votos do Colégio Eleitoral ―, mas o político paulista acabou preterido pela coligação PMDB/PFL, com o mineiro Tancredo candidato a presidente e o maranhense Sarney a vice. Mesmo assim, o Sr. Diretas ― como Ulysses ficou conhecido ― teve um papel preponderante na Nova República, sobretudo na liderança da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou nossa Carta Magna de 1988 ―, até um trágico acidente de helicóptero, em 12 de outubro de 1992, pôr fim à carreira e à existência desse ícone da política tupiniquim (e dar margem a mais teorias da conspiração).

Observação: A Constituição Cidadã não foi exatamente uma pérola jurídica, como comprovam dezenas de emendas incorporadas ao texto nos anos subsequentes e a necessidade premente de reformas ― como a Política, a Trabalhista, a Tributária e a Previdenciária ― que nenhum presidente teve peito para fazer (com a possível exceção de Temer, que já conseguiu promulgar a PEC do teto dos gastos, mas isso é outra conversa). Aliás, ao discursar durante a promulgação da nova Constituição, o próprio Ulysses reconheceu as imperfeições da Lei, que contribuíram para elevar a carga tributária dos 22,4% do PIB, em 1988, aos atuais 36%, como forma de sustentar as novas obrigações do Estado (direitos básicos de cidadania, como educação, previdência social, maternidade e infância).

Retomando o fio da meada: Embora houvesse apoiado o regime militar e votado contra a emenda Dante de Oliveira (detalhes no capítulo anterior), Sarney procurou cumprir as promessas de campanha ― aliás, foi a partir do seu governo que os prefeitos dos municípios voltaram a ser escolhidos pelo voto popular. Mas faltavam-lhe o carisma e o traquejo administrativo da velha raposa mineira, e, para piorar, ele herdou dos 21 anos de ditadura um país arruinado, com inflação, desemprego e dívida externa nas alturas.

No início de 1986, Sarney implantou o primeiro de seus muitos “pacotes econômicos”, que ficou conhecido como Plano Cruzado. Nossa moeda, que até então era o cruzeiro, sofreu um corte de 3 zeros e foi rebatizada com o nome de cruzado, e tanto os preços quanto os salários foram congelados. Todavia, faltou a equipe econômica combinar o jogo com o “dragão da inflação”, que ignorou solenemente o decreto presidencial ― aqui entre nós, será que Sarney e o então ministro da Fazenda Dilson Funaro acreditavam mesmo que cortar 3 zeros, mudar o nome da moeda e congelar preços e salários e extinguir a correção monetária seria suficiente para extirpar o câncer inflacionário?

Observação: Essa não foi a primeira vez que se utilizou esse expediente para resgatar a credibilidade do dinheiro brasileiro: do real, herdado do padrão monetário português e que era mais usado no plural (“réis”, “mirréis”, “contos de réis”), passamos ao cruzeiro em 1942, que perdeu os centavos em 1964, ao cruzeiro novo em 1967 (depois de novo corte de 3 zeros) e voltamos ao cruzeiro em 1970. Em 1984, suprimiram-se os centavos, e dois anos depois, após novo corte de 3 zeros, a moeda passou a se chamar cruzado. Novo corte de zeros ocorreria em 1989, dando origem ao cruzado novo, que voltou a se chamar cruzeiro em 1990, foi promovido a cruzeiro real em 1993 e, após ter o valor nominal dividido por 2.750, voltou às origens, ou seja, tornou a se chamar real em 1º de julho de 1994, durante o governo de Itamar Franco (veja a tabela de conversão na imagem que ilustra esta matéria).     

O Plano Cruzado fez água em poucos meses, embora a população tenha apoiado a iniciativa do governo (o que faz o desespero, não é mesmo?), fiscalizado os aumentos e denunciado as remarcações de preços. Mas a euforia durou pouco: os produtos sumiram das prateleiras, os fornecedores passaram a cobrar ágio e a inflação voltou a subir. Sarney e seus notáveis responderam com outros “choques econômicos”, como os planos Cruzado II, Bresser e Verão, mas nenhum deles vingou. Depois de reinar por 5 anos (pois é, Sarney garantiu que a “Constituição Cidadã” estendesse de 4 para 5 anos a duração de seu mandato), o bode velho passou a faixa para Fernando Collor de Melo ― esse, sim, o primeiro presidente pós-ditadura eleito pelo voto popular. E deu no que deu.

Observação: No final de 1989, havia 22 candidatos à Presidência da Banânia, dentre os quais Ulysses Guimarães (líder do PMDB), Paulo Maluf (do PDS), Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB) e o apresentador Silvio Santos, que acabou tendo a candidatura impugnada pelo TSE, por irregularidades no registro partidário. Mas os principais postulantes ao cargo acabaram sendo Collor, do nanico PRN, e Lula, do PT.

Collor derrotou Lula no segundo turno e herdou de Sarney um país com uma inflação de quase 2.000% ao ano. Um dia depois da posse, a pretexto de dar “o tiro certeiro no dragão da inflação”, o marajá caçador de marajás anunciou o Plano Brasil novo (ou Plano Collor, para os íntimos). Na concepção de sua equipe, capitaneada pela ministra Zélia Cardoso de Mello ― que, mais adiante, se casaria com Chico Anysio, que por seu turno, ficaria conhecido como “o humorista que casou com a piada” ―, conter a pressão inflacionária exigia reduzir a quantidade de dinheiro em circulação. Para tanto, o governo confiscou as economias dos brasileiros, bloqueando o acesso a tudo que excedesse 50 mil cruzados novos, tanto nas contas correntes quanto nas cadernetas de popança e outros investimentos. A moeda voltou a se chamar cruzeiro, mas os cruzados novos retidos continuaram a existir e foram devolvidos, mas em 12 parcelas, já na moeda nova, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de 6% a.a. ― o que acarretou perdas substanciais e provocou um aumento significativo nas taxas de suicídio. Do ponto de vista prático, todavia o Plano Collor serviu apenas para gerar uma brutal recessão (para se ter uma ideia, o PIB encolheu 4,5% no primeiro ano de seu governo).

Observação: Em valores atuais, os NCz$ 50 mil correspondem a R$ 5 mil ― quantia que Zélia admitiu, mais adiante, ter sido escolhida de forma aleatória (segundo alguns, por sorteio).   

O governo do hoje senador por Alagoas teve aspectos positivos, dentre os quais o início do processo de desestatização e a abertura comercial do país, com o fim da reserva de mercado e a redução gradual das tarifas de importação, Como eu costumo dizer, se não fosse por ele, talvez a gente ainda dirigisse “carroças” como as que eram fabricadas aqui nos 70 e 80, embora pagasse por elas preços de automóvel de primeiro mundo. Um bom exemplo é o Galaxie Standard ― versão empobrecida do luxuoso Landau, lançada pela Ford no início dos anos 1970 para fazer frente a concorrentes como o Opala, da GM, e o Dodge Dart, da Chrysler. Atualizado pelo IGP-DI/FGV, o preço daquela “carroça”, que era de NCr$ 25.950, corresponde atualmente a R$ 160 mil.    

Hoje, comparado ao petrolão, o “Esquema PC” ― que embasou o processo de impeachment contra Collor ― parece coisa de ladrão de galinha, de bandido pé-de-chinelo, mas levou o marajá dos marajás a renunciar, visando evitar a cassação de seus direitos políticos. Todavia, o Congresso julgou-o assim mesmo, e Collor ficou inelegível por 8 anos. Paulo César (PC) Farias, seu amigo pessoal e tesoureiro de campanha, morreu assassinado poucos anos depois, o que até hoje dá margem a diversas teorias da conspiração (eu, particularmente, acredito em “queima de arquivo”, mas até aí...). Com a deposição de Collor, Itamar Franco, que já era presidente interino desde 2 de outubro, foi efetivado no cargo. Mas isso já é conversa para a próxima postagem. Abraços e até lá.

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sábado, 7 de janeiro de 2017

SAUDOSISMO - CUIDADO COM O QUE VOCÊ DESEJA

Para alguns, a palavra “saudade” existe somente no português; para outros, isso não passa de um mito. Verdade ou não, o termo ficou em 7º lugar no ranking das palavras mais difíceis de traduzir da empresa britânica Today Translations.

Saudade deriva do latim solitas, solitatis, que, em latim, significa “solidão”, “desamparo”, “abandono”. Daí o significado de “desejo de um bem do qual se está privado”; “lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las”.

Segundo a professora Luísa Galvão Lessa, Doutora em Língua Portuguesa pela UFRJ e membro da Academia Brasileira de Filologia, os demais idiomas têm dificuldade em traduzir ou atribuir um significado preciso a “saudade”, mas o fato de uma língua não ter palavra que, por si mesma, possa traduzir-se por “saudade” não significa que o povo que a fala não conheça tal sentimento. Tal conceito pode ser, nessa língua ou em outras, expresso por mais de uma palavra. No inglês, por exemplo, têm-se várias tentativas: homesickness (equivalente a saudade de casa ou do país), longing e to miss (sentir falta de uma pessoa); no castelhano, te extraño; no francês, j’ai regret, e no alemão, Ich vermisse dish.

Talvez essas expressões não definam com exatidão o sentimento luso-brasileiro de saudade, mas aí já é outra história; para os propósitos deste preâmbulo, interessa dizer que a lembrança é o elo que liga o passado ao presente, e que é fundamental separar a saudade do saudosismo de achar que tudo era melhor, mais bonito e mais feliz.

Saudosistas, não raro, idolatram um passado que nunca existiu. Um exemplo disso é que, diante do calamitoso cenário político atual, algumas pessoas dizem ter saudades dos tempos da ditadura, mas, quando se vai se ver, nem se conheciam por gente nos assim chamados “anos de chumbo”. E conhecimentos não-empíricos, de segunda-mão, obtidos através de inexatos livros de História, não autorizam, salvo melhor juízo, pleitear volta dos militares.

A ditadura militar foi instituída em março de 1964, com a deposição do então presidente João Goulart e a posse do marechal Humberto de Alencar Castello Branco, e se estendeu ao longo de 21 anos, sob o comando dos generais Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo, nessa ordem. 

Em 1968, o “linha-dura” Costa e Silva decretou o AI-5, produzindo um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros que prevaleceram durante os “anos de chumbo”, o período mais repressivo do governo militar. Em 1974, Geisel deu início ao lento processo de abertura que, 11 anos depois, poria fim no regime de exceção com a eleição (indireta) de Tancredo Neves ― o primeiro presidente civil em mais de duas décadas ―, embora quem assumiu o posto foi seu vice, José Sarney.

O fim da ditadura não foi uma “consequência natural do espírito democrático” de Geisel e Figueiredo, e tampouco transcorreu sem turbulências e acidentes de percurso. Aliás, o processo de abertura só foi concluído devido às manifestações populares pró-diretas, que em 1983, reuniram 1,5 milhão de pessoas na Candelária (RJ) e 1 milhão no vale do Anhangabaú (SP). A mais emblemática delas lotou a Praça da Sé (também em São Paulo), em janeiro de 1984, com 300 mil pessoas carregando faixas e vestindo camisetas onde se lia a inscrição “EU QUERO VOTAR PARA PRESIDENTE” ― note que os manifestantes apareceram espontaneamente para ouvir e aplaudir líderes como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Leonel Brizola, Fernando Henrique Cardoso, Lula e outros políticos, artistas e intelectuais que se revezavam ao microfone, pois a internet era então uma ilustre desconhecida e as redes sociais só surgiriam e se popularizariam quase duas décadas depois.

Observação: Em rápidas pinceladas, a “Revolução de 1964” ― cuja data “comemorativa” é 31 de março ― foi um golpe de Estado desfechado na madrugada de 1º de abril daquele ano, quando líderes civis e militares conservadores derrubaram o presidente João Goulart, a pretexto de afastar do poder um grupo político que supostamente flertava com o comunismo.

Nos movimentos pró “Diretas Já”, pugnava-se pela aprovação da emenda constitucional Dante de Oliveira, que visava restaurar o direito às eleições diretas suspenso pelos militares. No dia da votação, exatos 20 anos depois do golpe, uma manobra de bastidores tirou da Câmara 112 deputados, e a emenda foi rejeitada, a despeito do clamor das ruas. Em outras palavras, o povo foi traído pelos políticos, para variar. Mas o desgaste do governo propiciou a eleição (indireta) de Tancredo Neves, que venceu Paulo Maluf no Colégio Eleitoral (por 480 votos a 180), depois de unir o PMDB à chamada Frente Liberal, formada por dissidentes do PDS, que dava sustentação ao governo militar.

Em janeiro de 1985, o então deputado federal Ulysses Guimarães ― que chegou a ser cogitado para disputar a presidência da República pelo PMDB contra o pedessista Paulo Maluf, mas acabou sendo preterido pela chapa “mista” formada com o PFL de Sarney ― entregou a Tancredo o programa denominado Nova República, que previa eleições diretas em todos os níveis, educação gratuita, congelamento de preços da cesta básica e dos transportes, entre outras benesses. Com esperança e ânimos redobrados, os brasileiros ansiavam pela chegada do dia 15 de março, data prevista para a posse do primeiro presidente civil depois de 21 anos e a volta dos militares às casernas. Mas o que deveria ser a festa da democracia se transformou em luto nacional: Tancredo foi internado na véspera da posse e faleceu em 21 de abril (num dos maiores cortejos fúnebres já vistos no país, seu esquife foi acompanhado por mais de 2 milhões de pessoas por São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, a caminho de São João Del Rey, onde o corpo do político foi sepultado).

Depois de algumas discussões jurídicas sobre a possibilidade de o então presidente da Câmara dos Deputados (Ulysses Guimarães) assumir a presidência, prevaleceu o entendimento de que José Sarney, vice na chapa de Tancredo, deveria ser empossado. E foi o que aconteceu, para o bem e para o mal, como veremos no próximo capítulo desta retrospectiva. Abraços a todos e até lá.

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