Deflagrada pela PF no último dia 17
e alardeada como “a maior operação de todos os tempos”, a Carne Fraca se revelou uma reedição atualizada do proverbial Parto da Montanha ― na fábula de Esopo, depois de um estrondo ensurdecedor,
a montanha tremeu, rachou, deixando as pessoas apavoradas, mas, do meio dos
escombros, o que apareceu apenas um mísero camundongo: centenas de agentes
foram mobilizados para prender 30 gatos-pingados (muitos dos quais já foram
soltos), além do que, por conta de irregularidades em 0,5% dos 5.000
frigoríficos sujeitos a fiscalização, passou-se para a população a ideia de que
toda a carne vendida no Brasil e exportada para cerca de 150 países estaria
imprópria para o consumo.
Integrantes da Lava-Jato avaliam que o texto de Requião prevê punição para o chamado “crime de hermenêutica”, o que permitiria, por exemplo, punir um juiz que condenou alguém, mas, posteriormente, teve a decisão revista por uma instância superior. Rodrigo Maia disse que uma nova votação do projeto na Câmara seria “ilegal”, pois a casa já votou o texto em 30 de novembro do ano passado. Na ocasião, o texto foi desfigurado, restando aprovadas somente quatro das dez propostas originais.
Vamos acompanhar para ver o que vai resultar de todo esse imbróglio.
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Não se nega que PF trouxe a luz mais um escândalo envolvendo fiscais corruptos, apadrinhamento
político, cobrança de propina e coisa e tal, mas os pífios resultados da
operação estão longe de justificar a paulada que as revelações, feitas de
maneira atabalhoada e generalizada, produziram na claudicante economia
tupiniquim. E ainda países como China,
Hong Kong, Egito e outros que, tradicionalmente, importam bilhões de dólares
em carnes, embutidos e derivados já tenham suspendido os embargos aos produtos
brasileiros, o prejuízo é astronômico.
A inépcia da operação caiu como uma
luva para parlamentares corruptos (entre réus da Lava-Jato e investigados pela
Justiça em outras instâncias, com destaque para notórios integrantes da Lista de Janot), que se apressaram a
requentar o aziago projeto de “medidas contra o abuso de autoridade”, cujo
propósito não é outro senão intimidar investigadores, procuradores, promotores,
magistrados e por aí afora. Na última quarta-feira, na CCJ do Senado, o peemedebista Roberto
Requião, relator do PL nº 280/16, leu seu relatório a toque de caixa, a
despeito de alguns de seus pares entenderem que a leitura do relatório só
deveria ser feita depois de o assunto ser debatido numa audiência pública ― o
que foi objeto do requerimento apresentado pelo sanador Randolfe Rodrigues, da Rede
Sustentabilidade. A votação acabou não acontecendo, uma vez que o senador Antonio Anastasia, que presidia a
sessão, concedeu vista coletiva.
O PL 280/16, de autoria de Renan
Calheiros (réu por peculato, investigado em mais uma dúzia inquéritos e um
dos integrantes da Lista de Janot),
estava na pauta da última sessão deliberativa do plenário do Senado em 2016,
mas, após a derrubada do regime de urgência de votação, foi enviado à CCJ, e
vem provocando reações contrárias de magistrados, como o juiz Sérgio Moro, e da Associação dos Juízes Federais do Brasil. Na última terça, Janot apresentou uma proposta alternativa, que não considera
abuso de autoridade a divergência na interpretação de lei ou na avaliação de
fatos e provas, desde que fundamentada, e defende que agentes públicos não
podem ser punidos pelo exercício regular de suas funções. Requião ignorou solenemente a proposta de Janot, mas a comissão do Senado deverá ouvir o PGR.
Voltando ao projeto de Lei contra
abuso de autoridade, o ministro Luiz Fux
diz que o STF não pode mais
interferir nos projetos em discussão no Congresso que tratam dessa questão;
eventuais decisões anulando a medida só serão possíveis depois que as propostas
forem aprovadas e se tornarem lei. Em dezembro, ele havia suspendido a
tramitação do projeto de lei de iniciativa popular das dez medidas contra a corrupção, cujo texto original não previa
crimes de abuso de autoridade cometidos por juízes e integrantes do Ministério
Público, mas que foi alterado pelo plenário da Câmara para incluir esse ponto.
Assim, a proposta, que já tinha seguido para o Senado, voltou para a Câmara, a
quem foi determinada a conferência das assinaturas dos apoiadores.
Em geral,
projetos de iniciativa popular tem sua autoria assumida por parlamentares, o
que dispensa essa conferência, mas o argumento não sensibilizou o ministro,
para quem a proposta deveria seguir o rito desse tipo de projeto. A Câmara
conferiu se as assinaturas eram seguidas do número de documento de
identificação do apoiador, e com isso o número caiu de 2,028 milhões para 1,741
milhão.
Integrantes da Lava-Jato avaliam que o texto de Requião prevê punição para o chamado “crime de hermenêutica”, o que permitiria, por exemplo, punir um juiz que condenou alguém, mas, posteriormente, teve a decisão revista por uma instância superior. Rodrigo Maia disse que uma nova votação do projeto na Câmara seria “ilegal”, pois a casa já votou o texto em 30 de novembro do ano passado. Na ocasião, o texto foi desfigurado, restando aprovadas somente quatro das dez propostas originais.
Vamos acompanhar para ver o que vai resultar de todo esse imbróglio.
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