Até pouco tempo
atrás, quase ninguém levava a sério a possibilidade de Dilma ser
impichada. No entanto, depois de 5 anos, 4 meses e 12 dias tomando decisões
erradas, gerando uma recessão histórica, manipulando contas, sabotando
estatais, promovendo desemprego em massa e compactuando com todo tipo de
falcatruas eleitoreiras, Dilma foi suspensa da presidência, e agora
aguarda o julgamento final, que deve apeá-la de vez do cargo e cassar seus direitos
políticos por oito anos ― a votação, ao que se espera, deve ocorrer entre os
próximos dias 30 e 31.
Com sua costumeira
arrogância, Dilma apresentou dias
atrás, naquele incompreensível arremedo de português que lhe é peculiar, uma “carta aos senadores e à nação” com uma
distorção da realidade que a transforma em vítima. Além disso, voltou a
afrontar o Congresso e o STF com sua desatinada tese de “golpe
de estado” e a defender um estapafúrdio plebiscito estapafúrdio sobre novas
eleições para presidente ― que, se prosperasse, teria de ser avalizado por
votações em dois turnos na Câmara e no Senado e se arrastaria até 2018, quando
termina o mandato tampão de Michel Temer.
Esse “testamento para a posteridade” serviu
apenas para enfatizar a incompetência e inabilidade de Dilma para governar. Num mea-culpa inusitado, ainda que
extemporâneo e baldio, ela engoliu o orgulho e chegou a reconhecer que errou, mas por ter escolhido Michel Temer para
vice ― como e isso tivesse sido uma opção pessoal, não um acordo partidário
― e por imaginar que a crise teria uma solução rápida ― sem reconhecer em
momento algum que a desgraça que aí está foi criada por ela e seu séquito de
imprestáveis. Se fosse sincera no reconhecimento de seus erros, disse o senador
Ronaldo Caiado, uma carta seria pouco; ela teria de escrever uma enciclopédia de má conduta da gestão
pública.
Como ofensiva derradeira, Dilma resolveu comparecer ao julgamento para se defender das
acusações ― como se fosse possível defender o indefensável ―, sem ter a percepção
de que isso serve apenas para legitimar o processo de impeachment e desmascarar
sua estúpida e despropositada tese de “golpe de estado”.
Vindo da mulher sapiens, essa postura não chega a
surpreender; o que causa espécie mesmo é ela se agarrar tão desesperadamente a
um cargo para o qual não foi talhada e que jamais exerceu com um mínimo de competência.
Mas basta ler as entrelinhas para concluir que o que mais a preocupa não é o
vexame de deixar o Planalto pela porta dos fundos ou a perda das mordomias de
presidente da Banânia, mas a perspectiva de acabar na cadeia ― talvez até na
distinta companhia de seu abjeto predecessor e mentor. Afinal, pesam contra ela acusações que vão bem além das pedaladas
fiscais e outros desmandos administrativos (ou crimes de responsabilidade).
Semanas atrás, a
petista foi promovida à condição de investigada, e pode vir a ser condenada
criminalmente por interferir na Lava-Jato
e tentar obstruir a Justiça ― afinal, não faltam indícios de que tenha
conspirado para nomear Marcelo Navarro
para o STJ em troca do compromisso
de soltar presos da Lava-Jato,
articulado uma tentativa de evitar a delação do ex-senador Delcídio do Amaral e nomeado Lula
para a Casa Civil visando tirá-lo do alcance do juiz Sergio Moro.
Por essas e
outras, talvez Dilma devesse rever
seus planos de passar oito meses viajando pela América Latina. Sem a prerrogativa
de foro privilegiado, ela poderá ser processada em primeira instância com
outros acusados de obstruir a Justiça, como Mercadante, Cardozo, e o
próprio sumo pontífice da petelândia e capo di tutti i capi ― vale lembrar
que Delcídio foi preso por muito
menos.
Resumo da ópera: A abertura de inquérito pelo STF, autorizada por Teori Zavascki no último dia 15, é o pior revés que a bruxa má experimentou
desde sua ascensão ao poder. Isolada e sem apoio ― até mesmo da facção
criminosa travestida de partido político que atende pelo nome de Partido dos Trabalhadores ―, ela vê
ruir o castelo de cartas com que vinha tentando entrar para a história como uma
governante proba e acima de qualquer suspeita, mas traída pelo vice e cassada
sem provas por um nefasto “golpe de estado”. De uns tempos a esta parte,
todavia, o mantra de que se valia desde o início de seu imprestável segundo
mandato ― de que seu governo foi marcado pela independência na investigação da corrupção e pela inexistência de
acusações de enriquecimento pessoal ― já não convence ninguém, diante da cachoeira
de provas de que o petrolão abasteceu
suas duas campanhas à presidência.
Enfim, cada coisa
a seu tempo. Vamos aguardar o resultado do impeachment para depois tecer
comentários sobre um provável indiciamento pelo MPF e consequente julgamento e condenação da guerrilheira de
araque, nefelibata da mandioca e mãe de todas as crises.
Atualização: Por volta das onze horas da manhã de ontem, depois que eu já havia concluído este texto, Ricardo Lewandowski, presidente do STF, antecipou o intervalo para almoço devido ao tumulto que se instalou no plenário do Senado. O primeiro bate-boca começou mais cedo, quando o senador petista Lindbergh Farias atacou o democrata Ronaldo Caiado, a quem chamou de “desclassificado”. Caiado respondeu em off que Lindbergh tem mais de 30 processos no STF e "cracolândia em seu gabinete. Lewandowski determinou que os microfones fossem desligados e suspendeu a sessão por cinco minutos. Em seguida, Renan Calheiros, presidente da Casa, pediu aos senadores que reduzissem as questões de ordem repetidas, e a propósito de uma declaração feita ontem pela petralha Gleisi Hoffmann, afirmou: “Esta sessão é uma demonstração de que a burrice é infinita. A senadora Gleisi chegou ao cúmulo de dizer que o Senado não tem condição moral de julgar a presidente”, lembrando que ela e o marido, o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo, foram indiciados por corrupção passiva na Lava-Jato. Renan chegou a ameaçar suspender o depoimento de Dilma, marcado para a próxima segunda-feira, caso a troca de acusações entre os parlamentares no plenário do Senado continuasse. “Ele não tem esse poder porque nem preside a sessão de julgamento. A única forma de o depoimento não ocorrer na segunda-feira é se não forem concluídas as oitivas das testemunhas”, rebateu a também senadora petista Vanessa Grazziotin. Diante disso, Lewandowski interrompeu os trabalhos, que deverão ser retomados após o recesso para almoço. Resta agora aguardar para ver o que vai acontecer a partir de então.
Segunda atualização: Bem mais tarde, quando a noite já ia alta e o Senado havia se esvaziado, foram concluídos os questionamentos aos dois primeiros depoentes da defesa, com a maior parte das perguntas sendo feitas por defensores da petista e membros da base governista abrindo mão de fazer indagações para acelerar o processo. Vamos continuar acompanhado. Novidades relevantes a qualquer hora na minha comunidade http://cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br
Bom sábado a todos e até mais ler.