QUEM SABE FAZ,
QUEM NÃO SABE ENSINA.
Embora o assunto fuja um pouco do nosso trivial, resolvi pegar
um gancho no post de anteontem para esmiuçar algumas expressões que muita gente
ouve e até usa no dia-a-dia, mas cujo significado ou origem nem sempre conhece —
em outras palavras, “ouve-se o galo
cantar, mas não se sabe onde”.
Jogar a toalha é
o mesmo que pedir o boné; ou seja,
desistir, dar-se por vencido. A expressão tem origem no boxe, onde o corner (espécie de treinador) joga uma
toalha dentro do ringue para sinalizar ao árbitro que seu lutador desiste do
combate e reconhece a vitória do adversário (a propósito, pedir o boné é mais usado como sinônimo de deixar o emprego, pedir
demissão).
Ideia de jerico é
algo estúpido, estapafúrdio — até porque jerico
é o mesmo que jumento.
Boca de siri é o
que se pede ao interlocutor quando se deseja que o assunto da conversa fique em
segredo. A expressão advém do fato de a boca do siri — crustáceo semelhante ao caranguejo — ser minúscula e difícil
de abrir.
Confundir alhos com bugalhos é o mesmo que trocar as bolas, ou, por extensão, meter os pés pelas mãos. O que muita
gente não sabe é que bugalhos são bulbos comestíveis de textura semelhante à do
alho, cujo formato de pênis inspirou um fado que os
marujos lusitanos cantavam nos tempos de Cabral:
“não confundas alhos com bugalhos /
nem tampouco bugalhos com c***lhos”.
Bode expiatório,
como o próprio nome sugere, é o inocente útil escolhido para levar a culpa pelo
que outros fizeram. O bode era o animal mais comumente oferecido em sacrifício,
nos rituais pagãos, como forma de expiar os pecados daqueles que efetivamente
os cometeram.
Entre a cruz e a
caldeirinha (ou entre a cruz e a
espada) significa estar num dilema, numa situação difícil em que não se
sabe para que lado correr. Para alguns, a tal da caldeirinha remete ao utensílio em que os padres colocavam a água
benta para purificar o ambiente e os fiéis, mas há quem afirme que estar entre a cruz e a caldeirinha é
escolher entre Deus e o Diabo. Seja como for, a imagem do dilema permanece.
Sem eira nem beira
designa um pobretão, alguém que não tem
onde cair morto. Eira é um tipo
de quintal, enquanto beira tanto pode
ser uma faixa de terra quanto uma aba de telhado.
Perder as estribeiras
equivale a rodar a baiana, descer do salto, subir nas tamancas, armar um
barraco. Significa perder a compostura ou a paciência e, por extensão, dar
um esporro monumental. Estribeira é a
correia que prende o estribo onde o cavaleiro coloca o pé quando sobe na
montaria; assim, quem perde a estribeira perde o controle do animal e acaba em maus lençóis (no século XVIII,
visando dizimar uma tribo de índios hostis aos ingleses, o comandante das
tropas britânicas nos EUA mandou distribuir aos nativos lençóis e cobertores provenientes de um hospital onde ocorrera uma
epidemia de varíola.
Cair a ficha é de
uma obviedade ululante, mas não para quem nasceu a partir da década de 90 só
conheceu telefones públicos de cartão.
Nos orelhões, a gente colocava uma ficha na ranhura e ouvia-a cair num
compartimento interno do aparelho quando a chamada era atendida — quando a ligação
não era completada, a ficha era devolvida ao usuário, embora isso nem sempre
acontecesse. Nos EUA e em outros países mundo afora, os telefones públicos
funcionam com moedas, mas o brasileiro sempre foi avesso avesso a carregar moedas, sem mencionar que a inflação corroía rapidamente seu valor. Tudo isso para dizer que, quando
alguém meio “tapado” finalmente compreende alguma coisa, a gente diz que “caiu a ficha”.
Paciência de Jó tem
a ver com o personagem bíblico homônimo, que foi submetido a inúmeras provações
pelo diabo, mas suportou tudo estoicamente, sem jamais perder a fé em
Deus.
Separar o joio do
trigo é diferenciar coisas boas de ruins,
verdades de mentiras, e por aí afora. Joio
é o nome dado a uma praga que prolifera no meio das plantações, daí o significado
da expressão ser óbvio.
Já a imagem que ilustra este post traduz a expressão tirar água do joelho — uma maneira “educada”, ainda que um tanto "pueril", de alguém dizer que vai urinar.
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