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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

CULTURA INÚTIL

QUEM SABE FAZ, QUEM NÃO SABE ENSINA.

Embora o assunto fuja um pouco do nosso trivial, resolvi pegar um gancho no post de anteontem para esmiuçar algumas expressões que muita gente ouve e até usa no dia-a-dia, mas cujo significado ou origem nem sempre conhece — em outras palavras, “ouve-se o galo cantar, mas não se sabe onde”.


Jogar a toalha é o mesmo que pedir o boné; ou seja, desistir, dar-se por vencido. A expressão tem origem no boxe, onde o corner (espécie de treinador) joga uma toalha dentro do ringue para sinalizar ao árbitro que seu lutador desiste do combate e reconhece a vitória do adversário (a propósito, pedir o boné é mais usado como sinônimo de deixar o emprego, pedir demissão).

Ideia de jerico é algo estúpido, estapafúrdio — até porque jerico é o mesmo que jumento.

Boca de siri é o que se pede ao interlocutor quando se deseja que o assunto da conversa fique em segredo. A expressão advém do fato de a boca do siri — crustáceo semelhante ao caranguejo — ser minúscula e difícil de abrir.

Confundir alhos com bugalhos é o mesmo que trocar as bolas, ou, por extensão, meter os pés pelas mãos. O que muita gente não sabe é que bugalhos são bulbos comestíveis de textura semelhante à do alho, cujo formato de pênis inspirou um fado que os marujos lusitanos cantavam nos tempos de Cabral: “não confundas alhos com bugalhos / nem tampouco bugalhos com c***lhos”.

Bode expiatório, como o próprio nome sugere, é o inocente útil escolhido para levar a culpa pelo que outros fizeram. O bode era o animal mais comumente oferecido em sacrifício, nos rituais pagãos, como forma de expiar os pecados daqueles que efetivamente os cometeram.

Entre a cruz e a caldeirinha (ou entre a cruz e a espada) significa estar num dilema, numa situação difícil em que não se sabe para que lado correr. Para alguns, a tal da caldeirinha remete ao utensílio em que os padres colocavam a água benta para purificar o ambiente e os fiéis, mas há quem afirme que estar entre a cruz e a caldeirinha é escolher entre Deus e o Diabo. Seja como for, a imagem do dilema permanece.

Sem eira nem beira designa um pobretão, alguém que não tem onde cair morto. Eira é um tipo de quintal, enquanto beira tanto pode ser uma faixa de terra quanto uma aba de telhado.

Perder as estribeiras equivale a rodar a baiana, descer do salto, subir nas tamancas, armar um barraco. Significa perder a compostura ou a paciência e, por extensão, dar um esporro monumental. Estribeira é a correia que prende o estribo onde o cavaleiro coloca o pé quando sobe na montaria; assim, quem perde a estribeira perde o controle do animal e acaba em maus lençóis (no século XVIII, visando dizimar uma tribo de índios hostis aos ingleses, o comandante das tropas britânicas nos EUA mandou distribuir aos nativos lençóis e cobertores provenientes de um hospital onde ocorrera uma epidemia de varíola.

Cair a ficha é de uma obviedade ululante, mas não para quem nasceu a partir da década de 90 só conheceu telefones públicos de cartão. Nos orelhões, a gente colocava uma ficha na ranhura e ouvia-a cair num compartimento interno do aparelho quando a chamada era atendida — quando a ligação não era completada, a ficha era devolvida ao usuário, embora isso nem sempre acontecesse. Nos EUA e em outros países mundo afora, os telefones públicos funcionam com moedas, mas o brasileiro sempre foi avesso avesso a carregar moedas, sem mencionar que a inflação corroía rapidamente seu valor. Tudo isso para dizer que, quando alguém meio “tapado” finalmente compreende alguma coisa, a gente diz que “caiu a ficha”.

Paciência de Jó tem a ver com o personagem bíblico homônimo, que foi submetido a inúmeras provações pelo diabo, mas suportou tudo estoicamente, sem jamais perder a fé em Deus. 
Separar o joio do trigo é diferenciar coisas boas de ruins, verdades de mentiras, e por aí afora. Joio é o nome dado a uma praga que prolifera no meio das plantações, daí o significado da expressão ser óbvio.

Já a imagem que ilustra este post traduz a expressão tirar água do joelho — uma maneira “educada”, ainda que um tanto "pueril", de alguém dizer que vai urinar.

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