Mostrando postagens com marcador eleições presidenciais. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador eleições presidenciais. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 6 de março de 2018

O PLANO Z DO PT



O PT está com o mesmo problema de Diógenes na Grécia antiga. O filósofo, como se conta na história, andava pelas ruas de Atenas, em plena luz do dia, carregando na mão uma lanterna acesa. “Para que essa lanterna, Diógenes?”, perguntavam os atenienses que cruzavam com ele. “Para ver se eu acho um homem honesto nesta cidade”, respondia.

É o que o PT está procurando hoje entre os seus grão-senhores um sujeito honesto, ou, pelo menos, que tenha uma ficha suficientemente limpa para sair candidato à Presidência da República. Está difícil achar essa figura. O “Plano A” do partido para as eleições sempre previu a candidatura do ex-presidente Lula. Quem mais poderia ser? Nunca houve, desde a fundação do PT, outro candidato que não fosse ele e quem achou um dia que poderia se apresentar como opção jaz há muito tempo no cemitério dos petistas mortos e excomungados.

Como no momento Lula está condenado a doze anos e tanto de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro, sem contar outras sentenças que pode acumular nos próximos meses, sua candidatura ficou difícil. O “Plano B” previa que em seu lugar entrasse o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner mas o homem acaba de ser indiciado por roubalheira grossa num inquérito da PF, acusado de levar mais de 80 milhões de reais em propina em seu governo. O “Plano C” poderia incluir a atual presidente do partido, mas Gleisi Hoffmann também é acusada de ladroagem pesada, e só está circulando por aí porque tem “foro privilegiado” como senadora; aguarda, hoje, que o STF crie coragem para resolver o seu caso um dia desses. (De qualquer forma, seria um plano tão ruim que ninguém, nem entre a “militância” mais alucinada, chegou a pensar a sério no seu nome.)

O “Plano D”, ao que parece, é o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Ele é uma raridade no PT de hoje não está correndo da polícia, nem cercado por uma manada de advogados penalistas. Em compensação, tem de lidar com a vida real. O problema de Haddad não é folha corrida, mas a falta de voto. Na última eleição que disputou, perdeu já no primeiro turno para um estreante, o atual prefeito João Doria, e de lá para cá não aconteceu nada que o tivesse transformado num colosso eleitoral.

Um “Plano E” poderia ser o ex-ministro Ciro Gomes. Mas Ciro não é do PT, os petistas não gostam dele e o seu grau de confiança nos possíveis aliados é mínimo. “É mais fácil um boi voar do que o PT apoiar um candidato de outro partido”, disse há pouco. Daí para um “Plano F”, “G” ou “H” é um pulo. Sempre haverá algum nome para colocar na roda. Resolve? Não resolve.

O problema real é que o PT se transformou há muito tempo num partido totalmente franqueado ao mesmo tipo de gente, exatamente o mesmo, que sempre viveu de roubar o Erário em tempo integral. O partido, hoje, é apenas mais uma entre todas essas gangues que infestam a política brasileira. A dificuldade eleitoral que o PT encontra no momento não é o fato de que Lula foi condenado como ladrão duas vezes, na primeira e na segunda instâncias. É que, tirando o ex-presidente da campanha, nada muda o submundo ao seu redor continua igual. Ou seja: o partido não vai se livrar da tradicional maçã estragada e tornar-se sadio outra vez. A esta altura, o barril todo já foi para o espaço. De plano em plano, podem ir até a letra “Z” sem encontrar o justo procurado por Diógenes.

Texto de J.R. Guzzo.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

segunda-feira, 5 de março de 2018

AINDA SOBRE TEMER, REELEIÇÃO E INTERVENÇÃO FEDERAL



Continuando de onde paramos na postagem anterior:

Tanques e soldados nas ruas não são novidades para os cariocas, mas, para que tenha chances reais de produzir resultados substantivos, a intervenção federal precisa ir bem além, começando por deixar claro de onde virão os recursos, quem vai pagar o quê, e como. Demais disso, é fundamental que se faça uma devassa nas polícias civil e militar e na administração dos presídios, e que se exerça um controle efetivo sobre o abundante afluxo de armas e drogas ― é bom não esquecer que as autoridades não conseguem barrar nem mesmo a entrada de celulares nas penitenciárias.

Isso é só o começo, mas já é muita pedra no caminho do general-interventor, que foi escalado para comandar uma operação cujas únicas preparações foram uma reunião do presidente com ministros de sua cozinha e outra com o marqueteiro Elsinho Mouco. Aliás, para o marqueteiro de Temer, empurrar a bandeira do combate à criminalidade dá ao presidente condições de disputar o voto dos mais pobres e dos eleitores que simpatizam com a candidatura de radical de direita Jair Bolsonaro. “O Temer jogou todas as fichas na intervenção (...). Ele já é candidato”, disse Mouco ao colunista Bernardo Mello Franco, de O GLOBO.

Temer desconversa, até porque disputar a reeleição com índices abissais de aprovação popular e a imagem associada a malas de dinheiro nas mãos e em apartamentos de amigos próximos é coisa de napoleão de hospício. Mas vivemos num país onde a ignorância campeia solta e o candidato preferido pelos desculturados é um criminoso condenado... então, por que não tentar? O momento não poderia ser melhor: com um primeiro lugar vago (só a militância vermelha ainda não vê que a Lei da Ficha-Limpa tornou Lula inelegível e que sua prisão pode ser decretada assim que o TRF-4 julgar os benditos embargos declaratórios-protelatórios, o que deve acontecer ainda neste mês), um segundo com proposta de voltar 30 anos no relógio da história e um terceiro disputado por um aglomerado de pigmeus ciscando em torno de migalhas.

Temer parece estar convencido de que deve entrar na disputa, e se enrola na bandeira da segurança pública para continuar no jogo. Mais do que se reeleger, porém, importa-lhe mesmo é chegar às urnas com cacife suficiente para negociar seu apoio em troca de alguma espécie de salvo conduto na Lava-Jato para si e os seus.

Pesquisas realizadas em janeiro situavam Temer no mesmo patamar de Henrique Meirelles e Rodrigo Maia, que patinam em torno de 1%. Na sexta-feira pós-Carnaval ― logo após o anúncio da intervenção, portanto ― uma enquete realizada pelo IBOPE a pedido do governo deu conta de que 82% dos entrevistados aprovavam o decreto presidencial. Isso bastou para que o humor do presidente mudasse do desânimo com o sepultamento da reforma da Previdência para a euforia com a intervenção. Impulsionado por esse vento de cauda, Temer empacotou 15 medidas ― tidas, agora, como prioritárias ― e as defendeu como solução para aumentar a produtividade da economia. A maioria delas, no entanto, parte de projetos que tramitam há tempos no Congresso e, a julgar pela fragilidade do governo, deverá continuar engavetada. O próprio Rodrigo Maia disse que essas medidas eram “café frio e velho”, e que o Congresso vai voltar o que julgar importante. E Eunício Oliveira seguiu pela mesma linha: “A pauta do Congresso quem faz somos nós; não é o governo que faz a pauta aqui”.  

Não é fácil mensurar o número de brasileiros que acreditam em soluções militares. Por outro lado, é impossível negar que população vem sendo sistematicamente insultada por decisões de um STF que presta vassalagem a condenados por corrupção, é feita de trouxa por uma caterva de deputados e senadores da pior catadura, tem seus direitos mais básicos violados por criminosos e vê o Judiciário soltar quem deveria estar preso ou manter fora da prisão quem deveria estar lá dentro.

Enfim, tanto no caso da intervenção quanto no da sucessão presidencial, sobram perguntas e faltam respostas. Vamos acompanhar e torcer pelo melhor.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

terça-feira, 21 de novembro de 2017

A AMEAÇA TOTALITÁRIA (ou ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA)


Numa matéria sobre a sucessão presidencial, a revista ISTOÉ desta semana destaca Jair Bolsonaro, a quem se refere como aquele que reverencia torturadores, chama os direitos humanos de “esterco da vagabundagem”, diz que só quem “fraqueja” gera filha mulher, que preferiria um filho morto a homossexual ― e que já conta com quase 20% de intenções de voto.

Com efeito, é inegável que o controverso deputado vem se esforçando para suavizar seu perfil de predador (lembram do Lulinha “Paz e Amor” de 2003?). Mas será mesmo que, graças aos maus eleitores de sempre, teremos de pagar esse preço para não ter o molusco de nove dedos e seu espúrio partido de volta no comando deste pobre país?

Muita água vai rolar até outubro do ano que vem, e tudo que disse até agora é mera especulação. Mesmo assim, vale a pena ler as considerações expendidas na reportagem, que, dentre outras coisas, destaca que Bolsonaro se elegeu deputado graças aos votos de pessoas aparentemente tão preconceituosas quanto ele, e que, nos últimos meses, vem se aproveitando da crise de segurança e a escalada da corrupção para ampliar sua faixa de simpatizantes, apresentando-se como o candidato ideal para quem perdeu a confiança na política tradicional.

Ainda segundo a matéria, Bolsonaro significa um retrocesso para o Brasil. Ele leva Messias no nome, mas é um ovo de serpente que dificilmente conduzirá o Brasil por um bom caminho. Do ponto de vista político, seria como manter o país sob um Fla-Flu constante. E, pior, debaixo de um tacape manejado por um troglodita desprovido de freios.

Bolsonaro sabe que grassa no eleitorado um sentimento de desolação e, para chegar lá, joga exatamente para essa plateia. Por isso, tornou-se um fenômeno nas redes sociais, com mais de cinco milhões de seguidores, além de admiradores fieis. No entanto, suas declarações rasas demonstram total despreparo para assumir o cargo mais importante da nação.

Para alguém com tantos anos de vida pública, seus conhecimentos sobre a economia são de uma superficialidade chocante ― ele próprio admite que não entende nada do riscado e diz que basta nomear um ministro da Fazenda que seja do ramo para ficar tudo certo. Mas quem conhece seu estilo centralizador sabe que não é bem assim; até seus aliados reconhecem que delegar não é o seu forte.

Na semana passada, os conceituados “Financial Times” e “The Economist” teceram críticas contundentes ao deputado, que veem como um demagogo de direita comparável aos presidentes dos EUA, Donald Trump, e das Filipinas, Rodrigo Duterte. Ainda não se sabe exatamente qual foi a reação do pré-candidato a essas críticas, mas sabe-se que ele perdeu a compostura ao revidar um artigo da colunista Miriam Leitão, que questionou seu total despreparo para lidar com a economia. “Miriam Leitão, a marxista de ontem, continua a mesma. Seu lugar é no chiqueiro da história”, rosnou o ex-militar. Mas em nenhum momento entrou no mérito da questão nem ofereceu argumentos que afastassem a nítida impressão de que ele não tem a menor noção sobre a maioria dos temas importantes para o País.

No Parlamento, o deputado integra as bancadas da bala e evangélica, mas, no tapete verde da Câmara, mostra-se desagregador, sem espírito de grupo. Não por acaso, jamais conseguiu construir relações sólidas com nenhum partido pelos quais já passou ― PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL e o atual PSC. Talvez venha mesmo a disputar a Presidência pelo o PEN, ou Patriotas, já que esse deve ser o novo nome da legenda. O fato é que, sem uma base sólida no Congresso, nenhum presidente conseguirá governar o País (como compravam a péssima gestão de Dilma e os perrengues enfrentados por Temer desde qua a substituiu).

Bolsonaro não esconde sua admiração pela ditadura que assolou o País por mais de duas décadas. Segundo ele, “o erro da ditadura foi torturar e não matar” ― em maio de 1999, ao defender o fechamento do Congresso num programa de TV, o hoje candidato à presidência escancarou sua veia autoritária: “deviam ter fuzilado corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique”.

As consequências da eleição de um populista radical e agressivo ― seja de esquerda ou de direita ― podem ser funestas para uma nação que começa a se recuperar de um longo período de recessão e tenta reencontrar o caminho do crescimento. A saída, portanto, não é o extremismo. Ao contrário. Mais que qualquer outra coisa, o Brasil precisa de união.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A SOCIEDADE BRASILEIRA E O ELEFANTE DE DRUMMOND


A maioria de nós está apreensiva com a falta de alternativas para a sucessão presidencial, e não sem razão. Todavia, mais importante que a descobrir "um nome" é a sociedade civil criar meios para controlar o governo, pois não elegemos anjos, mas pessoas de carne e osso.

De certo modo, já exercemos algum controle, mas somente em relação a grandes temas, já que tratamos como normais e cotidianas as inúmeras aberrações que colocam a nação de cabeça para baixo, como o recente pedido oficial de Geddel Vieira Lima para saber o nome e o telefone de quem o denunciou.

Felizmente, a procuradora-geral Raquel Dodge negou esse absurdo ― que, se acolhido, daria início a uma prática inusitada: caso a polícia revelasse o nome e o endereço do delator, estaria quebrando o anonimato de informantes e permitindo que eles fossem assassinados (ou alguém acha que Geddel queria apenas tomar uma cervejinha com o dito-cujo?). Mas só o fato de tamanha aberração ter existido e circulado como uma notícia normal dá uma boa ideia de como anda o Brasil.

Enfim, a vida continua... Engolindo um sapo aqui, outro acolá, acostumamos o estômago para os grandes batráquios de fim de mandato. Um deles, que está sendo urdido nos bastidores do Congresso e no próprio STF é a derrubada da prisão em segunda instância ― que tanto os parlamentares quanto alguns ministros do Supremo veem como saída para neutralizar não só a Lava-jato, mas todas as operações que envolvam políticos corruptos. Enunciado como uma tese jurídica, o fim da prisão em segunda instância faz sentido pois todos são inocentes até que a sentença seja confirmada pelo STF. Na prática, todavia, reverter o entendimento será um retrocesso que resultará fatalmente em impunidade geral. Todos terão direito a uma trajetória semelhante à de Paulo Maluf, que de recurso em recurso vai tocando a vida, exercendo mandatos e até defendendo outros acusados de corrupção, como o próprio Michel Temer.

Enquanto essas coisas acontecem, o debate entre os que querem a mudança tende a focar no perfil do líder que nos vai salvar. Em que rua, em que esquina o encontraremos? Acho improvável que um grande líder aflore desse mar de lama ― e mesmo que surja, ele não será um anjo enviado do Céu. A despeito do que afirma a autodeclarada alma viva mais honesta do Brasil, não elegeremos anjos em 2018 ― e nem em qualquer outro pleito. Até lá, precismos fortalecer as organizações que trabalham com a transparência, fortalecendo, consequentemente, a sociedade civil como um todo.

Nem todos pensam da mesma maneira, naturalmente, mas a situação que o país atravessa é dramática e requer empenho para que pontos de convergência sejam encontrados. A fronteira do pessimismo não nos deve desesperar. Há algumas instituições funcionando, há grupos trabalhando na busca da transparência, há a possibilidade real de que todos os que querem mudanças encontrem um denominador comum.

Como o poeta que fabrica um elefante com seus parcos recursos, a sociedade terá de construir seu sistema de defesa. Alguns móveis velhos, algodão, cola, a busca de amigos num mundo enfastiado que duvida de tudo ― o Elefante de Drummond é inspirador.

Texto inspirado num artigo publicado por FERNANDO GABEIRA no Estadão

Visite minhas comunidades na Rede .Link:
http://acepipes-guloseimas-e-companhia.link.blog.br/

domingo, 22 de outubro de 2017

DORIA, A FARINATA E A IGNORÂNCIA QUE CAMPEIA SOLTA

TODOS TÊM DIREITO A SUAS OPINIÕES, MAS ISSO NÃO TORNA OS IMBECIS MENOS IMBECIS.

Nas campanhas eleitorais, a primeira vítima é o bom senso. Prova disso são os recentes ataques ao prefeito João Dória, por conta de um projeto que visa alimentar a população mais carente com a “farinata” ― farinha produzida a partir de alimentos que seriam incinerados pelos produtores e supermercados por estarem próximos do final de sua validade, e que pode ser adicionada a pães e bolos ou usada para “engrossar” sopas e ser distribuída sem custos por entidades cadastradas (igrejas, templos e sociedade civil) e pela própria prefeitura.

Alegando que “os pobres precisam de alimentos frescos” e outras falácias que tais, detratores do prefeito põe em risco a iniciativa, que, aliás, nem é de Dória, mas sim um antigo projeto da Igreja Católica, que ora corre o risco de ser cancelado por causa de um bando de demagogos. Para D. Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, “seria uma pena algo que nasceu para ser bom, por equívocos ou manipulação política, seja de qual lado for, venha a ser de alguma forma amputado ou boicotado”.

No Brasil, ter sucesso é crime ― pelo menos, na visão dos invejosos que perderam a esperança de chegar lá. Por ser uma cara nova na política, um empresário bem-sucedido, dono de um patrimônio invejável, Doria é visto como o protótipo do mauricinho milionário, atacado pelos petistas por antagonizar Lula, pelos tucanos, por “ter traído” seu padrinho político Geraldo Alkmin, e por muitos dos que o elegeram, por seu açodamento em transformar o sucesso da eleição local em antecipação ao pleito presidencial ― como fez antes dele José Serra, que usou a prefeitura como trampolim para sua [malograda] candidatura à presidência. Por conta de suas constantes viagens pelo Brasil e mundo afora, circula há alguns dias nas redes sociais uma piadinha segundo a qual Paul McCartney aprecem mais em Sampa do que o prefeito ― em 9 meses de mandato, Doria ficou fora mais de 60 dias; em sua defesa, o tucano afirma que os deslocamentos ocorreram para promover a capital e buscar investimentos; de janeiro a agosto, ele completou 2.943 horas trabalho, quase 1.200 horas a mais do que a jornada prevista na CLT, de 220 horas/mês.

Observação: Administrar uma megalópole como São Paulo é uma missão quase impossível. Com uma população 50% maior que a Nova Iorque e uma frota de veículos três vezes superior à suportada pela malha viária, Sampa seria um desafio até mesmo para Hemiunu ― o administrador da Pirâmide de Gizé, a maior obra do planeta por muitos séculos. Desde que assumiu, Doria contabilizou sucessos e fiascos. A abertura de empresas, por exemplo, que levava mais 3 meses, agora leva menos de 10 dias; a contratação de professores para as escolas municipais dobrou em relação à administração anterior; o Corujão da Saúde foi tão bem-sucedido que originou o Corujão da Cirurgia; a distribuição gratuita de remédios à população carente preencheu as lacunas (82 itens) e agora oferece todos os 187 principais medicamentos; 320 empresas doaram R$ 660 milhões à prefeitura, e por aí segue a procissão. Já os camelôs continuam fazendo a festa na Av. Paulista e nas marginais; faltam médicos na rede pública; a cracolândia não desapareceu, foi pulverizada e vem proliferando em outras regiões; o número de vagas nas creches continua insuficiente para atender à demanda; a pavimentação de ruas e calçadas deixa muito a desejar; o problema dos semáforos, herdado da gestão Haddad, levou 9 meses para ser resolvido e 8 de 9 serviços de zeladoria estão longe do ideal. Se as desestatizações avançaram, as ciclovias, os corredores de ônibus e outros projetos importantes continuam marcando, sobretudo por falta de recursos: ao sair da prefeitura, Haddad disse ter deixado R$ 5,5 bilhões em caixa, dos quis R$ 3 bilhões seriam de saldo líquido, mas a maior parte desse dinheiro estava comprometida com despesas de curto prazo e, ao final da primeira semana de janeiro, sobraram pouco mais de R$ 230 milhões (Haddad recebeu a prefeitura de Kassab com quase R$ 500 milhões de saldo líquido).

Doria baseia seu marketing no “falem mal mas falem de mim”, e essa superexposição o torna vulnerável a críticas nos meios de comunicação, nas redes sociais, e por pseudo-intelectuais ― como os que defenderam Dilma durante o impeachment e almejam ver Lula de novo na presidência. E convenhamos: o alcaide lida mal com críticas ― venham elas de onde vierem ―, cai facilmente em provocações e, quando precisa decidir se dá vazão à raiva ou contemporiza, ele quase sempre escolhe a primeira opção.

Como salienta J.R. Guzzo, com Doria o simples desacordo não é suficiente; ele desperta a ira em estado bruto dos inimigos, os “sentimentos mais primitivos” do ser humano, é detestado simplesmente por ser Doria. Quase ninguém o julga pelo que faz, apenas pelo que pensa ― ou diz que pensa ―, pouco importando se sua gestão é boa ou ruim. O que interessa é falar que ele é do mal e que está sempre errado, mesmo se disser que o Natal cai no dia 25 de dezembro. É o tipo da coisa que só emburrece um debate que já é burro, como acontece com praticamente tudo o mais quando se conversa sobre política, hoje em dia, neste país. O ato de pensar é cada vez mais desprezado; parece algo desnecessário, irritante e ofensivo, sobretudo se alguém diz alguma coisa que não combina com “o que a sociedade está dizendo”.

Nessa desordem mental, a última preocupação é julgar alguém por suas realizações concretas. Não há diferença sensível entre sua gestão e a anterior, do ponto de vista da “zeladoria”. O abandono, a inépcia e a miséria de resultados continuam os mesmos. A prefeitura não consegue cuidar dos sinais de trânsito, do calçamento abominável das ruas, do corte de mato nas áreas verdes, da iluminação pública, do estacionamento abusivo nas ruas, da limpeza dos bueiros, do lixo largado pelas calçadas. Não conseguiu, nem sequer, eliminar uns poucos metros nas faixas de ciclismo mais extravagantes que o prefeito anterior criou, com o propósito de punir “os ricos” e dar lições de ideologia viária à população. Os problemas, na visão da Prefeitura, se dividem em apenas duas categorias: os muito difíceis e os impossíveis de resolver.

O zelador quer ser síndico, mas não consegue cuidar nem do portão da garagem ― não faz, simplesmente, o serviço para o qual foi eleito. Mas quem está interessado nesse tipo de detalhe? Nem pensar. É muito mais fácil dizer que Doria é de direita ― e não se fala mais no assunto.

Visite minhas comunidades na Rede .Link: