Numa matéria sobre a sucessão presidencial, a revista ISTOÉ desta semana destaca Jair Bolsonaro, a quem se refere como aquele que reverencia torturadores, chama os
direitos humanos de “esterco da vagabundagem”, diz que só quem “fraqueja” gera
filha mulher, que preferiria um filho morto a homossexual ― e que já conta
com quase 20% de intenções de voto.
Com efeito, é inegável que o controverso deputado vem se
esforçando para suavizar seu perfil de predador (lembram do Lulinha “Paz e Amor” de 2003?). Mas
será mesmo que, graças aos maus eleitores de sempre, teremos de pagar esse
preço para não ter o molusco de nove dedos e seu espúrio partido de volta no
comando deste pobre país?
Muita água vai rolar até outubro do ano que vem, e tudo que
disse até agora é mera especulação. Mesmo assim, vale a pena ler as
considerações expendidas na reportagem, que, dentre outras coisas, destaca que Bolsonaro se elegeu deputado graças aos
votos de pessoas aparentemente tão preconceituosas quanto ele, e que, nos
últimos meses, vem se aproveitando da crise de segurança e a escalada da
corrupção para ampliar sua faixa de simpatizantes, apresentando-se como o
candidato ideal para quem perdeu a confiança na política tradicional.
Ainda segundo a matéria, Bolsonaro significa um retrocesso para o Brasil. Ele leva Messias no nome, mas é um ovo de
serpente que dificilmente conduzirá o Brasil por um bom caminho. Do ponto de
vista político, seria como manter o país sob um Fla-Flu constante. E, pior,
debaixo de um tacape manejado por um troglodita desprovido de freios.
Bolsonaro sabe que grassa no eleitorado um sentimento de
desolação e, para chegar lá, joga exatamente para essa plateia. Por isso,
tornou-se um fenômeno nas redes sociais, com mais de cinco milhões de
seguidores, além de admiradores fieis. No entanto, suas declarações rasas
demonstram total despreparo para assumir o cargo mais importante da nação.
Para alguém com tantos anos de vida pública, seus conhecimentos
sobre a economia são de uma superficialidade chocante ― ele próprio admite que
não entende nada do riscado e diz que basta nomear um ministro da Fazenda que
seja do ramo para ficar tudo certo. Mas quem conhece seu estilo centralizador
sabe que não é bem assim; até seus aliados reconhecem que delegar não é o seu
forte.
Na semana passada, os conceituados “Financial Times” e “The
Economist” teceram críticas contundentes ao deputado, que veem como um
demagogo de direita comparável aos presidentes dos EUA, Donald Trump, e das Filipinas, Rodrigo
Duterte. Ainda não se sabe exatamente qual foi a reação do pré-candidato a
essas críticas, mas sabe-se que ele perdeu a compostura ao revidar um artigo da
colunista Miriam Leitão, que
questionou seu total despreparo para lidar com a economia. “Miriam
Leitão, a marxista de ontem,
continua a mesma. Seu lugar é no chiqueiro da história”, rosnou o
ex-militar. Mas em nenhum momento entrou no mérito da questão nem ofereceu
argumentos que afastassem a nítida impressão de que ele não tem a menor noção
sobre a maioria dos temas importantes para o País.
No Parlamento, o deputado integra as bancadas da bala e
evangélica, mas, no tapete verde da Câmara, mostra-se desagregador, sem
espírito de grupo. Não por acaso, jamais conseguiu construir relações sólidas
com nenhum partido pelos quais já passou ― PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL e o
atual PSC. Talvez venha mesmo a disputar a Presidência pelo o PEN, ou
Patriotas, já que esse deve ser o novo nome da legenda. O fato é que, sem uma
base sólida no Congresso, nenhum presidente conseguirá governar o País (como
compravam a péssima gestão de Dilma
e os perrengues enfrentados por Temer
desde qua a substituiu).
Bolsonaro não
esconde sua admiração pela ditadura que assolou o País por mais de duas
décadas. Segundo ele, “o erro da ditadura
foi torturar e não matar” ― em maio de 1999, ao defender o fechamento do
Congresso num programa de TV, o hoje candidato à presidência escancarou sua
veia autoritária: “deviam ter fuzilado
corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique”.
As consequências da eleição de um populista radical e
agressivo ― seja de esquerda ou de direita ― podem ser funestas para uma nação
que começa a se recuperar de um longo período de recessão e tenta reencontrar o
caminho do crescimento. A saída, portanto, não é o extremismo. Ao contrário.
Mais que qualquer outra coisa, o Brasil precisa de união.
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