Em 9 de outubro de 1979, perguntado por um menino de 10 anos como
ele se sentiria se fosse criança e seu pai ganhasse salário mínimo, o então presidente Figueiredo respondeu: "Eu
dava um tiro no coco." Na época, o mínimo em São Paulo correspondia
a US$ 76. O general tentou consertar, dizendo que "trabalharia para ajudar o pai",
mas foi pior a emenda que o soneto.
Na última terça-feira o episódio se repetiu em versão
revista e atualizada. Em áudio divulgado no site do Ministério Público, o procurador de Justiça de Minas Gerais Leonardo Azeredo dos Santos reclamou do
salário ao procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, dizendo que teve que baixar “seu estilo de
vida” para sobreviver:
“Quero saber se nós, no ano que vem, vamos continuar nessa situação ou
se vossa excelência já planeja alguma coisa, dentro da sua criatividade, para
melhorar nossa situação. Ou se vamos ficar nesse mizerê" (o
grifo é meu). "Quem é que vai querer ser promotor, se não vamos mais ter
aumento, ninguém vai querer fazer concurso nenhum. [...] "Estou
deixando de gastar R$ 20 mil de cartão de crédito e estou passando a gastar R$
8 (mil), para poder viver com os meus R$ 24 mil. Vamos ficar desse jeito? Nós
vamos baixar mais a crista? Nós vamos virar pedinte, quase?”
Se R$ 24 mil
mensais é "mizerê", fico pensando como Azeredo classificaria o salário
mínimo (R$ 998). "Desgracê"?
E o que dizer dos 12,6 milhões de desempregados, que não recebem nem essa
"merreca"?
O Estado (leia-se o
povo, pois o governo não gera recursos; os servidores públicos
são pagos com o dinheiro dos impostos)
desembolsa mensalmente R$ 35.462,22
para pagar um procurador, que, depois dos descontos de previdência e IR, recebe R$ 23.751,36. Um
promotor em início de carreira já entra na instituição recebendo R$ 30.404,42 (R$ 20.487,81 após descontos).
Diferentemente de servidores do Executivo, o MP não sofre com parcelamento e atrasos de salários. Por conta de indenizações e remunerações temporárias ou retroativas, Leonardo custou ao Erário, em janeiro deste ano, R$ 99.474,02. Em dezembro de 2015, foram R$ 145.670,65 (após os descontos, o pobre coitado embolsou "míseros" R$ 132.988,26).
Diferentemente de servidores do Executivo, o MP não sofre com parcelamento e atrasos de salários. Por conta de indenizações e remunerações temporárias ou retroativas, Leonardo custou ao Erário, em janeiro deste ano, R$ 99.474,02. Em dezembro de 2015, foram R$ 145.670,65 (após os descontos, o pobre coitado embolsou "míseros" R$ 132.988,26).
Outro pronunciamento estapafúrdio que bombou nas redes
sociais: Carlos Bolsonaro, que se licenciou
do cargo de vereador no Rio de Janeiro para palpitar em tempo integral nos assuntos
do Governo Federal, tuitou que as
"vias democráticas" atrasariam ou impossibilitariam
"a transformação que o Brasil quer".
"Por vias democráticas a transformação que o
Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer.
Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos
dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!", escreveu
Carluxo em sua conta no Twitter.
A declaração repercutiu mal entre políticos de todos os
espectros ideológicos: desde o PT e
o PSOL até o DEM e o PSDB, incluindo o vice-presidente, Hamilton Mourão. Como Figueiredo antes dele, o filho do
presidente também tentou remendar: "O que falei: por vias democráticas as coisas
não mudam rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram mudanças
urgentes". Mais uma vez, a emenda fiou pior que o soneto, sobretudo
porque o moçoilo voltou a atacar seus críticos, chamando-os de "canalhas" e "lixos".
Para não ficar só nisso: A CPMF foi criada em 1997 e extinta em 2007, após uma grande campanha
contrária de empresários e setores da sociedade civil. Doze anos depois, ela volta a nos assombrar, já que sua exumação vem sendo cogitada pela equipe econômica do governo como solução para
engordar os cofres públicos neste tempos de vacas magras.
Em julho, Bolsonaro descartou a ressurreição do imposto impopular, e tornou a fazê-lo na
última sexta-feira. Mas vale lembrar que o capitão já quebrou diversas
promessas de campanha, a começar pela propalada cruzada anticrime e
anticorrupção, já que no seu governo a família vem primeiro.
Pela proposta de reforma
tributária em elaboração pela equipe do ministro Paulo Guedes, a CPMF (não com esse nome, evidentemente) pode ser
recriada para compensar a desoneração da folha de pagamento em todos os setores
da economia. O tributo teria entre 0,5% e 0,6% sobre as movimentações
financeiras, e teria de ser por meio de uma PEC, o que exigiria 308 votos em
duas votações na Câmara e 49 votos em outras duas votações no Senado.
Por enquanto,
não há clima no Congresso para aprovar o finado "imposto do cheque",
mas é bom lembrar que na política as coisas mudam como as nuvens no céu. Você olha, e elas estão
de um jeito; minutos depois já está tudo diferente. De todo modo, vale acrescentar que essa brincadeira sem graça já custou o cargo de Secretário da Receita Federal a Marcos Cintra, que não pediu demissão, como inicialmente afirmou o ministro-chefe da Casa Civil, mas foi penabundado por determinação do presidente da Banânia. Aliás, é impressionante que Cintra, que tem 74 anos, ainda não aprendeu que peixe morre pela boca.