“Morre-se de várias
coisas no jornalismo, menos de tédio”, dizia o saudoso Ricardo Boechat. E com efeito: dia sim, outro também a mídia leva
ao ar uma nova novela ou um novo e emocionante capítulo de alguma novela que esteja em curso. Bons exemplos são tragédia em Brumadinho — note que até hoje a imprensa
fala em “x” mortos e “y” desaparecidos, como se fosse possível haver
sobreviventes — e o imbróglio Fabrício
Queiroz/Flávio Bolsonaro — que
promete novas emoções depois de ter sido temporariamente “esquecido” devido ao
sucesso retumbante do curta-metragem produzido e dirigido por Carlos Bolsonaro, o vereador que deixou
a Câmara para palpitar na transição do governo federal e, en passant, criar crises palacianas metralhando desafetos e
pretensos usurpadores, traidores e o escambau. Aliás, dizem as más línguas que “o garoto” se
escafedeu e levou com ele o primo que encarregara de ficar de olho no
papai quando ele voltasse a verear na Cidade Maravilhosa. Quanta maldade!
Não estou pegando no pé dos Bolsonaros por simples implicância. Fazê-lo seria me rebaixar ao nível dos militantes da causa petista, que defendem caninamente seu eterno líder — um corrupto desprezível, mas que o fanatismo desbragado dessa caterva transmuda na quintessência da lisura, na figura de preso político condenado sem provas (a 25 anos, e isso é só o começo)
e jogado no xadrez para não voltar a "espalhar o bem" entre os milhões de pobres, descamisados, desvalidos e desalentados deste grande país. Só falta essa escumalha dizer que o crápula de nove dedos está preso porque é preto e pobre. Se é que já não disse. Mas vamos ao que interessa.
Bolsonaro foi eleito para fazer contraponto à corrupção metastática que se espalhou impiedosamente ao longo dos
13 anos e fumaça de gestões lulopetistas. Isto posto, não há como não ver com preocupação os
desserviços produzidos pela ingerência da filharada real no governo federal.
Embora eu seja um admirador confesso do ex-juiz Sérgio Fernando Moro, não posso deixar de discordar — com todas as vênias de estilo — do que ele disse um dia depois de o porta-voz Otávio Rêgo Barros confirmar a exoneração de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência da República. Litteris: "No mundo real não existe nenhuma crise dentro do governo. O governo está apresentando projetos", e desculpe se isso parece laudatório do atual governo, mas o governo tem sido absolutamente exitoso nas propostas e projetos que tem apresentado”. De qual "mundo real" estamos falando, ministro?
Embora eu seja um admirador confesso do ex-juiz Sérgio Fernando Moro, não posso deixar de discordar — com todas as vênias de estilo — do que ele disse um dia depois de o porta-voz Otávio Rêgo Barros confirmar a exoneração de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência da República. Litteris: "No mundo real não existe nenhuma crise dentro do governo. O governo está apresentando projetos", e desculpe se isso parece laudatório do atual governo, mas o governo tem sido absolutamente exitoso nas propostas e projetos que tem apresentado”. De qual "mundo real" estamos falando, ministro?
O governo parece ter "duas personalidades". Enquanto uma se esfalfa para formar maioria no Congresso para aprovar a reforma da Previdência (outra novela interminável) e as medidas de combate ao crime organizado e a corrupção, a outra age como o sujeito da velha piada da casca de banana. Vimos isso claramente nesse monumental rebosteio produzido
pela denúncia da Folha e
potencializado pelo filho do pai — pai que primeiro apoiou seu pitbull, mas logo se viu obrigado a se retratar e cobrir de elogios o desafeto que, num passe de mágica, passou
de colaborador valioso a “homem bomba”, com potencial para despejar um caminhão
de merda no ventilador palaciano...
Observação: Numa conversa com o Presidente, o ministro Onyx Lorenzoni disse que Gustavo Bebianno se comprometeu com “Jorge” (Jorge Oliveira, subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil) a não fazer ataques a Bolsonaro depois de deixar o governo. “Ele disse ao Jorge: ‘O que eu tinha para fazer, eu fiz ontem, eu não dou mais nenhuma palavra, acabou tudo ontem. Eu tô te dando a minha palavra. Ok?’”, relata Lorenzoni no áudio. Diante da suposta promessa de Bebianno, Onyx cita uma nota publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, segundo a qual o ex-ministro está “preparando documentos” sobre a campanha, republicada pelo O Antagonista, e afirma ao presidente que Bebianno pediu ao site que apagasse o conteúdo. A nota não consta mais entre as publicadas pelo O Antagonista. Em outro trecho da conversa, Bolsonaro demonstra preocupação com os processos judicias de cuja defesa Bebianno se encarregou gratuitamente: “Se ele me cobrar individualmente o mínimo, eu to f…”, disse o Presidente. “Tem que vender uma casa minha no Rio para pagar.”
Ao longo da última semana, li notícias, opiniões e
ilações sobre a tal “crise imaginária” que dariam um livro de boas 500
páginas, e até agora não sei se o mentiroso e vilão da história é Bebianno, Bolsonaro, ou se ambas as alternativas estão corretas. No mundo real, ninguém minimante racional acha que Jair Messias Bolsonaro, tendo sido
deputado federal por quase 30 anos, tem um passado de monge budista. Quando
mais não seja, seu temperamento explosivo e suas opiniões polêmicas lhe renderam
duas ações penais por injúria e incitação ao crime de estupro. Detalhe: a tramitação desses processos foi sobrestada por determinação do ministro Luiz Fux, mas não devido ao suposto “viés bolsonarista” do
magistrado, como querem fazer crer os esquerdistas incorrigíveis, mas porque a
Constituição, em seu artigo 86, § 4º, impede
que o Presidente da República, na vigência do mandato, seja responsabilizado
por atos estranhos ao exercício das suas funções.
Observação: Jair Bolsonaro se tornou réu no STF em
2016 por ter dito, num bate-boca com a deputada petista Maria do Rosário, que "não a estupraria a porque ela era muito
feia". Também em 2016, Jean Willis,
então deputado pelo PSOL e hoje auto
exilado na Espanha, cuspiu em Bolsonaro e afirmou que cuspiria de
novo, quantas vezes quisesse. Apesar de sua fama de "truculento" o capitão disse que a
cusparada foi um fato gravíssimo, mas nem por isso processaria o cuspidor (muitos teriam lhe quebrado as fuças, mas isso é outra conversa).
Desperdiçar o tempo precioso da
nossa Suprema Corte — que já não prima pela celeridade — com esses “crimes
hediondos” imputados a Bolsonaro é, a meu ver, um absurdo monumental, mas vivemos sob a égide do “politicamente correto”. Não
estivessem providencialmente mortos, Lamartine
Babo e Engelbert Humperdinck correriam
o risco de terminar seus dias na cadeia; o primeiro por ter composto o samba ”O
teu cabelo não nega”, e o segundo por ter escrito o conto de fadas Hansel e Gretel (ou Joãozinho e Maria,
como os protagonistas foram batizados pelo tradutor), em cujo final, se não me
falha a memória, os dois irmãozinhos queimam a bruxa malvada em seu próprio
forno.
Vamos combinar: amar os filhos — e até mesmo ouvi-los em
questões políticas — é humano, mas deixar-se manipular por eles e deixá-los espalhar crises a seu talante, de acordo com
seus interesses particulares é um perigo institucional.
Como bem pontou Merval Pereira em
sua coluna, o Presidente ainda tem
popularidade suficiente para seguir em frente e se tornar um grande líder
político, mas precisa sair da bolha radicalizada em que ele e seus filhos fazem
questão de permanecer.
Observação: Marcelo Álvaro Antonio, outro suposto laranjeiro do PSL, pediu ao STF que a corte avoque para si a investigação sobre as denúncias publicadas pelo jornal O Estado, que estão sendo apuradas no âmbito da Justiça Federal de Minas. O argumento é de que os fatos teriam ocorrido durante o mandato de deputado estadual, do qual Antonio se licenciou para assumir o ministério do Turismo. O pedido chegou no último dia 18 ao gabinete do ministro Luiz Fux, que foi sorteado para relatar a ação. Segundo Onyx Lorenzoni, o governo “observa” e “acompanha” a situação do ministro do Turismo, mas ainda não se cogita de sua exoneração.
Bambalalão / Senhor capitão / Quem não aprende com os erros / Acaba de calças na mão.
Observação: Marcelo Álvaro Antonio, outro suposto laranjeiro do PSL, pediu ao STF que a corte avoque para si a investigação sobre as denúncias publicadas pelo jornal O Estado, que estão sendo apuradas no âmbito da Justiça Federal de Minas. O argumento é de que os fatos teriam ocorrido durante o mandato de deputado estadual, do qual Antonio se licenciou para assumir o ministério do Turismo. O pedido chegou no último dia 18 ao gabinete do ministro Luiz Fux, que foi sorteado para relatar a ação. Segundo Onyx Lorenzoni, o governo “observa” e “acompanha” a situação do ministro do Turismo, mas ainda não se cogita de sua exoneração.
Bambalalão / Senhor capitão / Quem não aprende com os erros / Acaba de calças na mão.