Mostrando postagens com marcador medidas anticrime e anticorrupção. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador medidas anticrime e anticorrupção. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 31 de maio de 2019

SÉRGIO MORO — O PREGO QUE SE DESTACA É O QUE LEVA A MARTELADA



Bolsonaro saiu fortalecido das manifestações do último domingo, mas quem brilhou mesmo foi o ministro Sérgio Moro, que é visto pela banda podre do Congresso como perseguidor de políticos — e que, por obra e graça dessa mesma banda podre, não só teve de engolir a perda do Coaf como também subscrever (juntamente com o presidente e os ministros Guedes e Lorenzoni) um pedido aos senadores para que votassem a MP 840 do jeito que ela passou na Câmara.

ObservaçãoMinistros do STF e integrantes do Centrão disseram à Folha de S. Paulo que a adesão à marcha bolsonarista deve ser “creditada em boa medida à figura do ministro Sergio Moro, que teria ‘salvado’ as manifestações pró-governo”. Nesse caso, que aprovem o pacote anticrime e mantenham Lula na cadeia.

Por que a coisa chegou a esse ponto? Porque o Planalto e o Legislativo andam às turras, e a medida provisória que redesenhou a Esplanada dos Ministérios e transferiu o Coaf para a pasta da Justiça e Segurança Pública perderia a validade se não fosse aprovada até a próxima segunda-feira (detalhes na postagem anterior). No apagar das luzes da última terça, o texto-base foi chancelado no Senado por 70 votos a 4, e o destaque que previa o retorno do Coaf para Moro foi rejeitado.

Observação: Uma ação apresentada pelo Podemos ao Supremo, visando levar o Coaf de volta ao ministério de Moro, foi sorteada para o ministro Edson Fachin, mas isso é outra história.

Por alguma razão, Bolsonaro não se empenhou como poderia (ou deveria) para manter o Coaf sob a asa de Moro. Mas insistir nessa questão aos 48 minutos do segundo tempo, como fizeram o Major Olimpio — que teimava em apresentar um destaque durante a votação da medida — e outros aliados do governo não seria a estratégia mais acertada. E de burro Jair Bolsonaro não tem nada. A despeito do que parece, a maioria dos “tiros no pé” que ele e seus filhos são acusados de dar tem um propósito, mas isso também é outra conversa.

Uma explicação que me ocorre para a inércia do presidente é o imbróglio envolvendo Fabrício Queiroz, ex-factótum do clã dos Bolsonaro e assessor do filho zero um, que veio à luz por obra e graça do Coaf — fortalecido por Moro nos 5 meses em que o conselho esteve sob seu comando. “Mas o Coaf ficou no governo, e Moro e Guedes jogam no mesmo time”, minimizam alguns. Talvez. Mas o ministro da Economia tem outras prioridades. Para bom entendedor...

Falando nessa novela Fabrício Queiroz/Flávio Bolsonaro, a situação do parlamentar se complica a cada novo e emocionante capítulo. Custa acreditar que ele não tivesse conhecimento do que seu então assessor fazia debaixo de seu nariz, para não mencionar a evolução patrimonial do próprio Flávio, proveniente, segundo ele, de negócios imobiliários (envolvendo 14 apartamentos e 23 salas comerciais). Essa verão é tão convincente quanto a de que os R$ 1.2 milhões que Queiroz movimentou entre 2016 e 2017 foram produto da compra e venda de carros usados. Aliás, fala-se que R$ 7 milhões passaram pela conta do dito-cujo nos últimos três anos, e que ele pagou R$ 133,5 mil em dinheiro vivo por uma cirurgia no Hospital Israelita Albert Einstein, mas isso é assunto para outra hora.

Em vez de apresentar uma contestação convincente, o primogênito do presidente da República tenta criar incidentes processuais — talvez por ser difícil defender o indefensável, como aprenderam a duras penas o ex-presidente Lula e seus advogados estrelados. Mesmo tendo fracassado em duas tentativas de barrar as investigações (primeiro no STF, depois no TJ-RJ), a defesa de Flávio tenta novamente derrubar a quebra dos sigilos bancário e fiscal de seu cliente, desta vez sob a alegação de que o pedido foi mal fundamentado. Mesmo que fosse bem sucedida (e tudo indica que não será), a estratégia não atenuaria as suspeitas que pairam sobre o político — que, ao posar de perseguido, só reforça a tese de que funcionava em seu gabinete na Alerj uma organização criminosa que praticava crimes de peculato e lavagem de dinheiro. Com bem lembrou Josias de Souza, já vimos esse filme com atores petistas, e verificou-se no final que não havia mocinhos no enredo.

Voltado a Sérgio Moro: Ao lhe prometer a próxima vaga que surgir no STF, Bolsonaro alivia a dor das caneladas que o ministro vem levando dia sim, outro também — dentre outros exemplos, cito o pacote de medidas anticrime e anticorrupção, que deveria tramitar em paralelo com a PEC previdenciária, mas está parado e corre o risco de ser diluído em meio a um conjunto de medidas sugeridas tempos atrás pelo togado supremo Alexandre de Moraes.

A permanência do ex-juiz da Lava-Jato no ministério agrega credibilidade ao governo do capitão, como ficou claro nas manifestações do último domingo. Por outro lado, a despeito das negativa, o presidente tenciona, sim, disputar a reeleição, caso as reformas essenciais sejam aprovadas e a economia deslanche. E ninguém é bobo de regar uma sementinha plantada no terreno do vizinho que tenha tamanho potencial de fazer sombra em seu próprio quintal.

      

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A CRISE QUE NÃO EXISTE, BEBIANNO, BOLSONARO, LAMARTINE BABO E ENGELBERT HUMPERDINCK



Morre-se de várias coisas no jornalismo, menos de tédio”, dizia o saudoso Ricardo Boechat. E com efeito: dia sim, outro também a mídia leva ao ar uma nova novela ou um novo e emocionante capítulo de alguma novela que esteja em curso. Bons exemplos são tragédia em Brumadinho — note que até hoje a imprensa fala em “x” mortos e “y” desaparecidos, como se fosse possível haver sobreviventes — e o imbróglio Fabrício Queiroz/Flávio Bolsonaro — que promete novas emoções depois de ter sido temporariamente “esquecido” devido ao sucesso retumbante do curta-metragem produzido e dirigido por Carlos Bolsonaro, o vereador que deixou a Câmara para palpitar na transição do governo federal e, en passant, criar crises palacianas metralhando desafetos e pretensos usurpadores, traidores e o escambau. Aliás, dizem as más línguas que “o garoto” se escafedeu e levou com ele o primo que encarregara de ficar de olho no papai quando ele voltasse a verear na Cidade Maravilhosa. Quanta maldade!

Não estou pegando no pé dos Bolsonaros por simples implicância. Fazê-lo seria me rebaixar ao nível dos militantes da causa petista, que defendem caninamente seu eterno líder — um corrupto desprezível, mas que o fanatismo desbragado dessa caterva transmuda na quintessência da lisura, na figura de preso político condenado sem provas (a 25 anos, e isso é só o começo) e jogado no xadrez para não voltar a "espalhar o bem" entre os milhões de pobres, descamisados, desvalidos e desalentados deste grande país. Só falta essa escumalha dizer que o crápula de nove dedos está preso porque é preto e pobre. Se é que já não disse. Mas vamos ao que interessa. 

Bolsonaro foi eleito para fazer contraponto à corrupção metastática que se espalhou impiedosamente ao longo dos 13 anos e fumaça de gestões lulopetistas. Isto posto, não há como não ver com preocupação os desserviços produzidos pela ingerência da filharada real no governo federal.

Embora eu seja um admirador confesso do ex-juiz Sérgio Fernando Moro, não posso deixar de discordar — com todas as vênias de estilo — do que ele disse um dia depois de o porta-voz Otávio Rêgo Barros confirmar a exoneração de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência da República. Litteris: "No mundo real não existe nenhuma crise dentro do governo. O governo está apresentando projetos", e desculpe se isso parece laudatório do atual governo, mas o governo tem sido absolutamente exitoso nas propostas e projetos que tem apresentado”. De qual "mundo real" estamos falando, ministro?

O governo parece ter "duas personalidades". Enquanto uma se esfalfa para formar maioria no Congresso para aprovar a reforma da Previdência (outra novela interminável) e as medidas de combate ao crime organizado e a corrupção, a outra age como o sujeito da velha piada da casca de banana. Vimos isso claramente nesse monumental rebosteio produzido pela denúncia da Folha e potencializado pelo filho do pai — pai que primeiro apoiou seu pitbull, mas logo se viu obrigado a se retratar e cobrir de elogios o desafeto que, num passe de mágica, passou de colaborador valioso a “homem bomba”, com potencial para despejar um caminhão de merda no ventilador palaciano... 

Observação: Numa conversa com o Presidente, o ministro Onyx Lorenzoni disse que Gustavo Bebianno se comprometeu com “Jorge” (Jorge Oliveira, subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil) a não fazer ataques a Bolsonaro depois de deixar o governo. “Ele disse ao Jorge: ‘O que eu tinha para fazer, eu fiz ontem, eu não dou mais nenhuma palavra, acabou tudo ontem. Eu tô te dando a minha palavra. Ok?’”, relata Lorenzoni no áudio. Diante da suposta promessa de Bebianno, Onyx cita uma nota publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, segundo a qual o ex-ministro está “preparando documentos” sobre a campanha, republicada pelo O Antagonista, e afirma ao presidente que Bebianno pediu ao site que apagasse o conteúdo. A nota não consta mais entre as publicadas pelo O Antagonista. Em outro trecho da conversa, Bolsonaro demonstra preocupação com os processos judicias de cuja defesa Bebianno se encarregou gratuitamente:  “Se ele me cobrar individualmente o mínimo, eu to f…”, disse o Presidente. “Tem que vender uma casa minha no Rio para pagar.”

Ao longo da última semana, li notícias, opiniões e ilações sobre a tal “crise imaginária” que dariam um livro de boas 500 páginas, e até agora não sei se o mentiroso e vilão da história é Bebianno, Bolsonaro, ou se ambas as alternativas estão corretas. No mundo real, ninguém minimante racional acha que Jair Messias Bolsonaro, tendo sido deputado federal por quase 30 anos, tem um passado de monge budista. Quando mais não seja, seu temperamento explosivo e suas opiniões polêmicas lhe renderam duas ações penais por injúria e incitação ao crime de estupro. Detalhe: a tramitação desses processos foi sobrestada por determinação do ministro Luiz Fux, mas não devido ao suposto “viés bolsonarista” do magistrado, como querem fazer crer os esquerdistas incorrigíveis, mas porque a Constituição, em seu artigo 86, § 4º, impede que o Presidente da República, na vigência do mandato, seja responsabilizado por atos estranhos ao exercício das suas funções.

Observação: Jair Bolsonaro se tornou réu no STF em 2016 por ter dito, num bate-boca com a deputada petista Maria do Rosário, que "não a estupraria a porque ela era muito feia". Também em 2016, Jean Willis, então deputado pelo PSOL e hoje auto exilado na Espanha, cuspiu em Bolsonaro e afirmou que cuspiria de novo, quantas vezes quisesse. Apesar de sua fama de "truculento" o capitão disse que a cusparada foi um fato gravíssimo, mas nem por isso processaria o cuspidor (muitos teriam lhe quebrado as fuças, mas isso é outra conversa).

Desperdiçar o tempo precioso da nossa Suprema Corte — que já não prima pela celeridade — com esses “crimes hediondos” imputados a Bolsonaro é, a meu ver, um absurdo monumental, mas vivemos sob a égide do “politicamente correto”. Não estivessem providencialmente mortos, Lamartine Babo e Engelbert Humperdinck correriam o risco de terminar seus dias na cadeia; o primeiro por ter composto o samba ”O teu cabelo não nega”, e o segundo por ter escrito o conto de fadas Hansel e Gretel (ou Joãozinho e Maria, como os protagonistas foram batizados pelo tradutor), em cujo final, se não me falha a memória, os dois irmãozinhos queimam a bruxa malvada em seu próprio forno.  

Vamos combinar: amar os filhos — e até mesmo ouvi-los em questões políticas — é humano, mas deixar-se manipular por eles e deixá-los espalhar crises a seu talante, de acordo com seus interesses particulares é um perigo institucional. Como bem pontou Merval Pereira em sua coluna, o Presidente ainda tem popularidade suficiente para seguir em frente e se tornar um grande líder político, mas precisa sair da bolha radicalizada em que ele e seus filhos fazem questão de permanecer.

ObservaçãoMarcelo Álvaro Antonio, outro suposto laranjeiro do PSL, pediu ao STF que a corte avoque para si a investigação sobre as denúncias publicadas pelo jornal O Estado, que estão sendo apuradas no âmbito da Justiça Federal de Minas. O argumento é de que os fatos teriam ocorrido durante o mandato de deputado estadual, do qual Antonio se licenciou para assumir o ministério do Turismo. O pedido chegou no último dia 18 ao gabinete do ministro Luiz Fux, que foi sorteado para relatar a ação. Segundo Onyx Lorenzoni, o governo “observa” e “acompanha” a situação do ministro do Turismo, mas ainda não se cogita de sua exoneração. 

Bambalalão / Senhor capitão / Quem não aprende com os erros / Acaba de calças na mão.