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domingo, 24 de fevereiro de 2019

FORO ÍNTIMO — AINDA SOBRE O REBOSTEIO BEBIANNO/BOLSONARO



Eu havia pautado para hoje o primeiro capítulo de uma sequência sobre o todo poderoso ministro supremo Gilmar Mendes, que anda “desgostoso” (entre aspas para indicar a ironia associada ao termo neste contexto) com auditores da equipe especial de fraudes da Receita Federal. Todavia, considerando que a audiência despenca aos finais de semana, que o imbróglio Bebianno ainda não foi totalmente digerido — embora o Planalto tente dar o caso por encerrado — e que a coluna de Roberto Pompeu de Toledo em Veja desta semana está imperdível, resolvi alterar a pauta (note que o fato de eu dizer que a coluna está imperdível não significa necessariamente que concordo com tudo que o colunista diz). Sem mais delongas, vamos ao que interessa:

Falta presidente à Presidência Bolsonaro. Falta presidente para pôr ordem no governo, na bancada do Congresso, na família. E falta presidente para dar vida à figura do presidente. Deixar-se fotografar como um molambo, com camisa do Palmeiras sob o paletó e chinelos deixando aparecer os dedos dos pés, em cerimônia no Alvorada, é o de menos. Pior é a sôfrega implicância com que, nos áudios divulgados por VEJA, fustiga o então ministro Gustavo Bebianno. Nas gravações, extraídas de conversas pelo WhatsApp, o ministro é a voz serena e racional; o presidente, a da provocação ressentida.

O vídeo em que Bolsonaro anunciou a demissão de Bebianno começava assim: “Comunico que, desde a semana passada, diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação. Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal-entendidas de parte a parte, não sendo adequado prejulgamentos de qualquer natureza”. De que se falava? Parecia que se tinha entrado no cinema com o filme começado. Seguia-se um parágrafo de elogios à atuação de Bebianno e só no fim, em poucas palavras, quase escondida, a comunicação da demissão.

No episódio Bebianno o governo exibiu suas fragilidades por dentro e por fora. No vídeo, o amontoado de considerações sem sujeito nem tema definidos (“necessidade de uma reavaliação”, “questões mal-entendidas”, “julgamentos de qualquer natureza”) encobre um silêncio ensurdecedor. Por que mesmo o ministro foi defenestrado? O estopim da crise teria sido o caso das candidaturas-fantasma no partido do governo, um episódio em que cabe uma barretada de admiração aos obstinados corruptos brasileiros, pelo senso de oportunidade; como a lei exige dos partidos um mínimo de 30% de mulheres em suas listas de candidatos a deputado, eles preenchem a cota apenas para amealhar boladas do fundo eleitoral e desviá-las para seus próprios fins.

Bebianno, como presidente nacional do PSL, teria culpa pelas falcatruas na agremiação. Mas, se é assim, por que não demitir também o ministro do Turismo, o mineiro Marcelo Álvaro Antônio, cujas digitais aparecem muito mais nitidamente em iguais procedimentos no seu estado? Foi a pergunta que a repórter Delis Ortiz fez ao porta-voz do governo, Otávio Rêgo Barros. Sua resposta: “O nosso presidente, ele demandou o tempo necessário para a consecução de sua decisão em função de vários atores, várias ações. Natural que, pensando em nosso país, isso se faça de modo mais consensual e mais maturado possível”. Dessa vez nem era chegar atrasado ao cinema. Era topar com outro filme. Comprou-se ingresso para Cidadão Kane e apareceu na tela De Pernas pro Ar 2!

“O senhor está bem envenenado”, diz Bebianno a Bolsonaro, a certa altura das gravações. Em entrevista à rádio Jovem Pan, o ex-ministro daria o nome do envenenador: “O senhor Carlos Bolsonaro fez macumba psicológica na cabeça do pai”. Carlos é o Zero Dois do presidente. A questão é de “foro íntimo”, acabou soltando o porta-voz da Presidência, em desesperada tentativa de escapar de mais inquirições sobre a saída do ministro. O foro íntimo é um lugar que abriga questões cabeludas. No caso, pode incluir o episódio em que o pai emancipou o filho Carlos, aos 17 anos, para que pudesse concorrer à Câmara dos Vereadores do Rio e derrotar a mãe. (Esta, apesar de divorciada, insistia em apresentar-se como representante do ex-marido.) Ou o episódio em que o filho, no desfile da posse, se aboletou atrás do pai no Rolls-Royce para, armado, reforçar a equipe de segurança.

Aos cinquenta dias do governo, evidencia-se que os bolsobrothers são um caso sério, o mais sério para o bom andamento da administração. Carlos, segundo contou Bebianno na Jovem Pan, chorou em seu ombro — dele, o ministro agora vilipendiado — quando o pai sofreu o atentado em Juiz de Fora. Seis meses depois, o Zero Dois posta no Twitter: “É uma mentira absoluta de Gustavo Bebianno que ontem teria falado três vezes com Jair Bolsonaro”, disparando o tirambaço que jogou Bebianno para fora da nau governamental. De fornecedor do ombro que substituiu o do pai na hora incerta, teria o ex-ministro virado o intruso que atrapalhava o acesso ao muito mais valioso ombro do pai? Eis-nos bem-arranjados, às vésperas da reforma da Previdência. Antes de pôr ordem na administração e na bancada, a família Bolsonaro precisaria pôr ordem em si mesma. Seria o caso de uma boa psicanálise. O diabo é que eles devem considerar a psicanálise um braço do marxismo cultural.

Como hoje é domingo e faltam poucos dias para o Carnaval, um pouco de descontração cai bem. Aliás, o país está numa merda que faz gosto, mas, diferentemente do que se viu nos últimos natais, no Carnaval a coisa muda. Mais do que causar espécie, essa idiossincrasia dos brasileiros reforça a impressão de que vivemos mesmo num país de merda (bom seria se fosse só impressão). Mas o aspecto que eu quero salientar é a pluralidade de acepções da palavra MERDA, que, a meu ver, é uma da mais ricas da língua portuguesa. Duvida? Então confira a seguir algumas de suas muitas aplicações:

1) Como indicação geográfica 1: Onde fica essa MERDA?
2) Como indicação geográfica 2: Vá a MERDA!
3) Como indicação geográfica 3: São 18h00; vou embora desta MERDA.
4) Como substantivo qualificativo: Você é um MERDA!
5) Como auxiliar quantitativo: Trabalho pra caramba e ganho uma MERDA!
6) Como indicador de especialização profissional: Ele só faz MERDA.
7) Como indicativo de MBA: Ele faz muita MERDA.
8) Como sinônimo de covarde: Seu MERDA!
9) Como questionamento dirigido: Fez MERDA, né?
10) Como indicador visual: Não se enxerga MERDA nenhuma!
11) Como elemento de indicação do caminho a ser percorrido: Por que você não vai a MERDA?
12) Como especulação de conhecimento e surpresa: Que MERDA é essa?
13) Como constatação da situação financeira de um indivíduo: Ele está na MERDA...
14) Como indicador de ressentimento natalino: Não ganhei MERDA nenhuma!
15) Como indicador de admiração ou de rejeição: PUTA MERDA!
16) Como indicador de espécie: O que esse MERDA pensa que é?
17) Como indicador de continuidade: Tô na mesma MERDA de sempre.
18) Como indicador de desordem: Tá tudo uma MERDA!
19) Como constatação científica dos resultados da alquimia: Tudo que ele toca vira MERDA!
20) Como resultado aplicativo: Deu MERDA.
21) Como indicador de performance esportiva: O Palmeiras não está jogando MERDA nenhuma!
22) Como constatação negativa: Que MERDA!
23) Como classificação literária: Eita texto de MERDA!
24) Como situação de “soberba/jactância”: Ela se acha e não tem MERDA NENHUMA!
25) Como indicativo de ocupação: O fato de você ter lido até aqui mostra que não está fazendo MERDA nenhuma.

Bom domingo a todos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

A CRISE QUE NÃO EXISTE, BEBIANNO, BOLSONARO, LAMARTINE BABO E ENGELBERT HUMPERDINCK



Morre-se de várias coisas no jornalismo, menos de tédio”, dizia o saudoso Ricardo Boechat. E com efeito: dia sim, outro também a mídia leva ao ar uma nova novela ou um novo e emocionante capítulo de alguma novela que esteja em curso. Bons exemplos são tragédia em Brumadinho — note que até hoje a imprensa fala em “x” mortos e “y” desaparecidos, como se fosse possível haver sobreviventes — e o imbróglio Fabrício Queiroz/Flávio Bolsonaro — que promete novas emoções depois de ter sido temporariamente “esquecido” devido ao sucesso retumbante do curta-metragem produzido e dirigido por Carlos Bolsonaro, o vereador que deixou a Câmara para palpitar na transição do governo federal e, en passant, criar crises palacianas metralhando desafetos e pretensos usurpadores, traidores e o escambau. Aliás, dizem as más línguas que “o garoto” se escafedeu e levou com ele o primo que encarregara de ficar de olho no papai quando ele voltasse a verear na Cidade Maravilhosa. Quanta maldade!

Não estou pegando no pé dos Bolsonaros por simples implicância. Fazê-lo seria me rebaixar ao nível dos militantes da causa petista, que defendem caninamente seu eterno líder — um corrupto desprezível, mas que o fanatismo desbragado dessa caterva transmuda na quintessência da lisura, na figura de preso político condenado sem provas (a 25 anos, e isso é só o começo) e jogado no xadrez para não voltar a "espalhar o bem" entre os milhões de pobres, descamisados, desvalidos e desalentados deste grande país. Só falta essa escumalha dizer que o crápula de nove dedos está preso porque é preto e pobre. Se é que já não disse. Mas vamos ao que interessa. 

Bolsonaro foi eleito para fazer contraponto à corrupção metastática que se espalhou impiedosamente ao longo dos 13 anos e fumaça de gestões lulopetistas. Isto posto, não há como não ver com preocupação os desserviços produzidos pela ingerência da filharada real no governo federal.

Embora eu seja um admirador confesso do ex-juiz Sérgio Fernando Moro, não posso deixar de discordar — com todas as vênias de estilo — do que ele disse um dia depois de o porta-voz Otávio Rêgo Barros confirmar a exoneração de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência da República. Litteris: "No mundo real não existe nenhuma crise dentro do governo. O governo está apresentando projetos", e desculpe se isso parece laudatório do atual governo, mas o governo tem sido absolutamente exitoso nas propostas e projetos que tem apresentado”. De qual "mundo real" estamos falando, ministro?

O governo parece ter "duas personalidades". Enquanto uma se esfalfa para formar maioria no Congresso para aprovar a reforma da Previdência (outra novela interminável) e as medidas de combate ao crime organizado e a corrupção, a outra age como o sujeito da velha piada da casca de banana. Vimos isso claramente nesse monumental rebosteio produzido pela denúncia da Folha e potencializado pelo filho do pai — pai que primeiro apoiou seu pitbull, mas logo se viu obrigado a se retratar e cobrir de elogios o desafeto que, num passe de mágica, passou de colaborador valioso a “homem bomba”, com potencial para despejar um caminhão de merda no ventilador palaciano... 

Observação: Numa conversa com o Presidente, o ministro Onyx Lorenzoni disse que Gustavo Bebianno se comprometeu com “Jorge” (Jorge Oliveira, subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil) a não fazer ataques a Bolsonaro depois de deixar o governo. “Ele disse ao Jorge: ‘O que eu tinha para fazer, eu fiz ontem, eu não dou mais nenhuma palavra, acabou tudo ontem. Eu tô te dando a minha palavra. Ok?’”, relata Lorenzoni no áudio. Diante da suposta promessa de Bebianno, Onyx cita uma nota publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, segundo a qual o ex-ministro está “preparando documentos” sobre a campanha, republicada pelo O Antagonista, e afirma ao presidente que Bebianno pediu ao site que apagasse o conteúdo. A nota não consta mais entre as publicadas pelo O Antagonista. Em outro trecho da conversa, Bolsonaro demonstra preocupação com os processos judicias de cuja defesa Bebianno se encarregou gratuitamente:  “Se ele me cobrar individualmente o mínimo, eu to f…”, disse o Presidente. “Tem que vender uma casa minha no Rio para pagar.”

Ao longo da última semana, li notícias, opiniões e ilações sobre a tal “crise imaginária” que dariam um livro de boas 500 páginas, e até agora não sei se o mentiroso e vilão da história é Bebianno, Bolsonaro, ou se ambas as alternativas estão corretas. No mundo real, ninguém minimante racional acha que Jair Messias Bolsonaro, tendo sido deputado federal por quase 30 anos, tem um passado de monge budista. Quando mais não seja, seu temperamento explosivo e suas opiniões polêmicas lhe renderam duas ações penais por injúria e incitação ao crime de estupro. Detalhe: a tramitação desses processos foi sobrestada por determinação do ministro Luiz Fux, mas não devido ao suposto “viés bolsonarista” do magistrado, como querem fazer crer os esquerdistas incorrigíveis, mas porque a Constituição, em seu artigo 86, § 4º, impede que o Presidente da República, na vigência do mandato, seja responsabilizado por atos estranhos ao exercício das suas funções.

Observação: Jair Bolsonaro se tornou réu no STF em 2016 por ter dito, num bate-boca com a deputada petista Maria do Rosário, que "não a estupraria a porque ela era muito feia". Também em 2016, Jean Willis, então deputado pelo PSOL e hoje auto exilado na Espanha, cuspiu em Bolsonaro e afirmou que cuspiria de novo, quantas vezes quisesse. Apesar de sua fama de "truculento" o capitão disse que a cusparada foi um fato gravíssimo, mas nem por isso processaria o cuspidor (muitos teriam lhe quebrado as fuças, mas isso é outra conversa).

Desperdiçar o tempo precioso da nossa Suprema Corte — que já não prima pela celeridade — com esses “crimes hediondos” imputados a Bolsonaro é, a meu ver, um absurdo monumental, mas vivemos sob a égide do “politicamente correto”. Não estivessem providencialmente mortos, Lamartine Babo e Engelbert Humperdinck correriam o risco de terminar seus dias na cadeia; o primeiro por ter composto o samba ”O teu cabelo não nega”, e o segundo por ter escrito o conto de fadas Hansel e Gretel (ou Joãozinho e Maria, como os protagonistas foram batizados pelo tradutor), em cujo final, se não me falha a memória, os dois irmãozinhos queimam a bruxa malvada em seu próprio forno.  

Vamos combinar: amar os filhos — e até mesmo ouvi-los em questões políticas — é humano, mas deixar-se manipular por eles e deixá-los espalhar crises a seu talante, de acordo com seus interesses particulares é um perigo institucional. Como bem pontou Merval Pereira em sua coluna, o Presidente ainda tem popularidade suficiente para seguir em frente e se tornar um grande líder político, mas precisa sair da bolha radicalizada em que ele e seus filhos fazem questão de permanecer.

ObservaçãoMarcelo Álvaro Antonio, outro suposto laranjeiro do PSL, pediu ao STF que a corte avoque para si a investigação sobre as denúncias publicadas pelo jornal O Estado, que estão sendo apuradas no âmbito da Justiça Federal de Minas. O argumento é de que os fatos teriam ocorrido durante o mandato de deputado estadual, do qual Antonio se licenciou para assumir o ministério do Turismo. O pedido chegou no último dia 18 ao gabinete do ministro Luiz Fux, que foi sorteado para relatar a ação. Segundo Onyx Lorenzoni, o governo “observa” e “acompanha” a situação do ministro do Turismo, mas ainda não se cogita de sua exoneração. 

Bambalalão / Senhor capitão / Quem não aprende com os erros / Acaba de calças na mão. 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

CRISE? QUE CRISE?



Já nem sei quantas vezes modifiquei este texto ou adiei sua publicação, tantos foram os fatos e versões que se sucederam desde que a Folha denunciou a laranjada do PSL nas eleições, transformando o cenário político numa espécie de figura produzida num caleidoscópio. E se a novela Fabrício Queiroz/Flávio Bolsonaro — que ainda não terminou — já continha elementos bastantes para preocupar o núcleo do governo, este novo folhetim está aí para provar que nada é tão ruim que não possa piorar.

Até onde a vista alcança, a crise que culminou com a exoneração do secretário-geral da Presidência se deve em grande medida a Carlos Bolsonaro, que nunca simpatizou com Bebianno e sempre teve ciúmes de sua influência sobre o pai. A essa antipatia se acirrou o filho do capitão se viu sem cargo no governo, enquanto o desafeto ganhou um ministério. Aliás, de tudo que vi, li e ouvi sobre esse rebosteio, nada supera o tuíte do impagável J.R. Guzzo, que reproduzo a seguir:

 “Ninguém na oposição está conseguindo prejudicar mais o trabalho do governo do que os três filhos do presidente. Não importam as intenções de cada um, mas sua conduta pública; o que fazem está sabotando o país. Ou Bolsonaro faz os três se calarem, hoje, ou vira um banana completo.”   

Cabe ao Presidente da República escolher seus ministros e demiti-los a qualquer momento, a seu talante. Mas a demissão serôdia de Bebianno, oficializada quase uma semana depois de a Folha denunciar o laranjal do PSL, produziu uma crise que talvez não tivesse existido se Carlos Bolsonaro não se aproveitasse da situação para se vingar do desafeto, desmentindo as conversas que ele afirmou ter tido com o Presidente, como forma de minimizar o estrago produzido pela denúncia da Folha.

Bebianno foi um dos primeiros a vislumbrar o potencial da candidatura de Jair Bolsonaro, a quem auxiliou de diversas maneiras ao longo do trajeto que o levou o capitão da Câmara ao Planalto. Ele nega as irregularidades, afirmando que não, como presidente nacional do PSL, não escolheu as candidatas que receberam dinheiro do partido, já que isso é prerrogativa dos diretórios regionais. Se a mágoa pode transformá-lo em “homem-bomba”, bem, sabemos que conhecimento é poder

Pelo visto, nem a nota lacônica lida pelo porta-voz da Presidência, na última segunda-feira, agradecendo os valorosos serviços prestados pelo ex-ministro, nem o pronunciamento feito em seguida pelo próprio Presidente, que elogiou tanto a atuação de Bebianno na campanha quanto sua dedicação ao cargo que ocupou por 50 dias, tiveram o condão de evitar a sucessão de desdobramentos que a mídia vem explorando alegremente, com destaque para os áudios que Veja divulgou na última terça-feira, e que, salvo melhor juízo, desmentem a versão de Carlos Bolsonaro (endossada pelo próprio Presidente), sobre Bebianno não teria conversado com o chefe. A menos, naturalmente, que não se considere como conversa uma troca de mensagens feita pelo WhatsApp, mas isso seria flertar com o ridículo. A pergunta é: Quem mentiu em toda essa história? Responda quem souber.

Observação: O jornalista Augusto Nunes, durante a transmissão do programa OS PINGOS NOS IS, na Rádio Jovem Pan, assumiu a responsabilidade pela divulgação dos áudios com as conversas por WhatsApp entre Bolsonaro e Bebianno, que lhe foram repassados pelo próprio ex-presidente do PSL.

Sem passado político nem mandato popular, Bebianno só ganhou maior protagonismo devido aos recorrentes entreveros com zero dois, a quem o Presidente se refere carinhosamente como “meu pitbull” — aliás, Carluxo anunciou praticamente todos os ministros pelo Twitter, com exceção de Bebianno, com quem disputava desde a campanha o controle da comunicação digital do capitão. Por outro lado, sua exoneração preocupa políticos, militares e assessores mais próximos do núcleo do governo, que receiam ter suas conversas privadas vazadas para o público pelos filhos do capitão, que usam suas contas no Twitter como metralhadoras giratórias sem controle, mirando em qualquer um.  

Parafraseando o Major Olímpio, líder do PSL no Senado, “Bolsonaro precisa fazer uma modulação do papel de pai com o papel de Presidente, assim como seus filhos têm que fazer o mesmo. Qualquer espécie de confusão entre esses papéis pode ser realmente desgastante em alguns episódios. Mesmo assim, o senador afirma que a saída de Bebianno não deve atrapalhar a articulação política do governo para aprovar a reforma da Previdência e o pacote de medidas anticrime. Parafraseando a mim mesmo, urge livrar o governo dessa aura de pseudo realeza e conscientizar os pseudo príncipes de que eles devem cuidar de seus próprios mandatos e deixar o comando da nação a cargo de quem foi eleito para comandá-la.

Nesse meio tempo, a Folha critica a Globo e classifica o SBT e a Record de emissoras “chapa-branca”. Para quem aprecia esse tipo de "jornalismo", recomendo dar uma lida nesta matéria. Antes de encerrar, algumas linhas da lavra de Augusto Nunes e, em seguida, a opinião de Josias de Souza

"O preço pago por Jair Bolsonaro para livrar-se de um ministro que nada fez de errado merece ser festejado por quem torce para que o governo dê certo. Na semana passada, o vereador Carlos Bolsonaro, que desencadeou a crise ao chamar Gustavo Bebianno de mentiroso, foi enfim devolvido ao local do emprego. E reapareceu na Câmara Municipal do Rio depois de meses de sumiço. Levou com ele o primo Leonardo Rodrigues de Jesus, vulgo Leo Índio.

Desde 1º de janeiro, quando desfilou no Rolls Royce presidencial com os pés sobre o banco traseiro, Carlos Bolsonaro permaneceu 24 horas por dia ao lado do pai. Hospedado no Palácio da Alvorada, ia de manhã para o Palácio do Planalto e ficava até o fim do expediente acampado no gabinete presidencial. Essa rotina só foi interrompida com a viagem do chefe de governo a Davos.

Carlos não desgrudou do pai nem mesmo no período em que Bolsonaro permaneceu hospitalizado, recuperando-se da terceira cirurgia desde o atentado ocorrido em Juiz de Fora. Léo Índio, por sua vez, foi 58 vezes ao Palácio do Planalto nos 49 dias de novo governo. A menos que tenha usado a alcunha como currículo para virar assessor especial para questões indígenas, ele não ocupa nenhum cargo oficial. Carlos e Léo Índio sumiram do Planalto. São duas ausências que preenchem uma lacuna. Ou duas."

Segue o texto de Josias de Souza:

"O vídeo divulgado pelo Presidente após o anúncio oficial da exoneração de Bebianno foi gravado por exigência do ex-ministro. O teor do pronunciamento foi minuciosamente negociado, com direito rasgados elogios. Em troca do silêncio do ora desafeto, Bolsonaro ladrilhou com pedrinhas de brilhante o caminho percorrido por Bebianno desde a coordenação da campanha presidencial até a poltrona de ministro, passando pelo período em que exerceu o comando de um PSL cítrico. Apenas os dois conhecem na plenitude os segredos que compartilham, mas o desfecho da negociação sinaliza o potencial destrutivo de uma eventual inconfidência.

Numa articulação que teve o ministro Onyx Lorenzoni como principal intermediário, Bebianno esclareceu que não aceitaria calado a "humilhação" de ser exonerado sob as pechas de desleal, incompetente e corrupto. Inicialmente, Bolsonaro deu de ombros, mas as conversas do final de semana suavizaram suas convicções. O Bolsonaro implacável com "todos aqueles que tentam praticar corrupção no Brasil" perdeu-se em algum lugar no trajeto que separa o entrevistado da Record do leitor de teleprompter da última segunda-feira. Acabrunhado com o resultado de sua metamorfose, o ex-Bolsonaro se absteve de reproduzir nas redes sociais o vídeo de sua contrição, comportando-se como um Narciso que acha feio o que deixou de ser o espelho dos habitantes de sua bolha no Twitter."

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

LULA E O DEDO PERDIDO


Complementando o apanhado das "virtudes" que renderam ao ex-presidente presidiário duas penas que somam 25 anos de cadeia (e ainda falta julgar seis ou sete processos), o cinismo, a cara de pau e a desfaçatez eram sua marca registrada desde muito antes da fundação do PT — partido criado a pretexto de fazer diferença na política não roubando nem deixando roubar, mas que se tronou uma organização criminosa que rapinou o Erário por mais de uma década.

Se Lula tirou milhões da miséria, como afirmam seus sectários, foi para azeitar seu projeto de poder e encher as burras — dele, de seus familiares, amigos, apaniguados e afins. O futuro desempregado que deu certo
 já era uma fraude nos anos 1960, quando perdeu o dedinho da mão esquerda no rocambolesco acidente de trabalho que lhe rendeu uma indenização de 350 mil cruzeiros. Segundo ele, um companheiro cochilou e largou o braço da prensa, que fechou e lhe amputou o dedo", e ele teve de esperar o dia amanhecer para ser levado ao Hospital Monumento, o único que atendia ao IAPI (instituto de previdência social da época).

Naquela época, 
a segurança do trabalho era quase inexistente, e pelo menos três irmãos de Lula sofreram algum tipo de lesão. Vavá quase perdeu uma das mãos quando trabalhava em uma algodoeira; Jaime, o mais velho, teve parte dos dedos decepados numa serralheria; Zé Cuia, mecânico de caminhão, amassou a mão em uma máquina. E por aí vai.

O fundador do Partido dos Trabalhadores deixou de ser operário em 1980, mas, como líder sindical, já não dava expediente em chão de fábrica desde 1972. Numa conta de padeiro, mais da metade de seus gloriosos dias foi dedicada à “arte da política”, não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. 

Nem mesmo a narrativa sobre seu “acidente” resiste a uma análise mais detalhada. Mas o mais curioso, nesse caso, é que a Fris-Moldu-Car — empresa que funciona até hoje e continua dando calote nos funcionários — “se apropriou” dessa falácia para reivindicar “relevância histórica” e escapar da falência através da recuperação judicial, a despeito de Lula ter iniciado sua carreira de torneiro mecânico em outra metalúrgica. Na verdade, ele já havia trabalhado em duas empresas antes de ingressar na Fris, e foi numa delas — a Metalúrgica Independência, que ficava no bairro paulistano do Ipiranga — que perdeu o dedo.

As chances de alguém perder o dedinho ao operar um torno mecânico, que já são remotas, caem para quase zero quando o operador é destro — a pessoa é destra. Vale a pena conferir o que disse Lewton Verri, ex-engenheiro sênior da CSN e especialista em metalurgia de produção, que conheceu Lula na década de 70 e o tem na conta "sindicalista predador e malandro, que traía os 'cumpanhêros' começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios (mais detalhes nesta postagem).

Golbery do Couto e Silvaque foi chefe da Casa Civil em dois governos militares e artífice da "abertura lenta e gradual", disse a Emílio Odebrecht que Lula "nada tinha de esquerda, que não passava de um bon vivant". E o tempo provou que ele estava certo.

Ao contrário da imagem que se empenhou em construir, Lula sempre foi avesso ao trabalho e viveu de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos e a poder da total ausência daquele conjunto de valores éticos e morais que permitem distinguir o aceitável do inaceitável. E a figura que
 emergiu das delações da Odebrecht, desnudada da roupagem de mito, de salvador da pátria, era de um político que prestava serviços a corporações corruptas de todos os matizes e origens em troca dos prazeres da boa vida, entre os quais a delícia de desfrutar do poder de maneira indecorosa, passando-se por honesto e provido de um senso de justiça social sem paradigma na história deste país. 

Lula lá!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

LARANJADA NO PSL E CRISE NO PLANALTO

ATUALIZAÇÃO (16h45): O governo está em compasso de espera para o desfecho que Jair Bolsonaro dará ao imbróglio iniciado na semana passada, envolvendo o ainda ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A expectativa é de que o impasse seja resolvido ainda hoje, e que o capítulo final seja transmitido daqui a alguns minutos, durante briefing do porta-voz da Presidência. A conferir.

O imbróglio envolvendo Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz quase subiu rampa do Planalto quando zero um resolveu pleitear foro privilegiado junto ao STF. Mas o pedido foi negado pelo ministro Marco Aurélio, que de vez em quando dá uma dentro, e a investigação foi enviada de volta ao MP-RJ. Tanto o senador quanto seu ex-assessor negam ter participado ou tido conhecimento de irregularidades no caso, mas, curiosamente, nenhum dos dois anjinhos compareceu aos depoimentos agendados pelos procuradores.

Uma vez empossado Presidente, Jair Bolsonaro não pode ser investigado por fatos ocorridos anteriormente ao mandato, de modo que a parte que lhe toca nesse furdunço — e que se resume basicamente ao depósito feito por Queiroz na conta da hoje primeira-dama — vai ter de ficar para depois. Quanto a Flávio, o mínimo que se espera dele são explicações convincentes — que ele vem se recusando a dar, talvez com a esperança de que um fato novo o tire do foco da mídia. Se seu desejo for realmente esse, o senador pode se considerar atendido: uma nova crise eclodiu no governo assim que a Folha denunciou a ação de laranjas do PSL nas últimas eleições.

Durante o período eleitoral, Gustavo Bebianno era o presidente nacional do PSL e, portanto, o responsável pelo repasse de verbas aos candidatos. Diante da denúncia da Folha, ele disse em nota que não escolheu as candidatas que disputaram as eleições nos estados, pois isso era atribuição dos diretórios regionais. Mais adiante, em entrevista ao Globo, minimizou a crise afirmando ter conversado sobre o caso com o Presidente Jair Bolsonaro. Luciano Bivar, que sucedeu a Bebianno na presidência nacional do PSL, confirmou a versão do antecessor, e com isso a crise passaria ao largo do Palácio do Planalto se Carlos Bolsonaro não a puxasse rampa acima e depositasse no colo do papai.

Carluxo jamais simpatizou com Bebianno e sempre teve ciúmes de sua influência sobre o pai. As rusgas começaram durante a campanha, quando o factótum tinha carta branca para tomar as decisões mais delicadas e o rebento, que tinha um palpite a dar sobre tudo, se via limitado a cuidar das redes sociais da família. Vencida a eleição, o poder do “cão de guarda” se sobrepôs ao do “pitbull”: o primeiro assumiu a Secretaria-Geral da Presidência da República, e o segundo, que aspirava ao comando da Secretaria de Comunicação, ficou sem cargo no governo. 

Na semana passada, porém, zero dois viu a chance de se vingar do desafeto: “Ontem estive 24 horas do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano (sic) que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro”, postou o filho enciumado no Twitter, seguido de um áudio no qual se ouve o pai dizer: “Ô Gustavo, está complicado eu conversar ainda. Então, não vou falar, não vou falar com ninguém, a não ser estritamente o essencial. Estou em fase final de exames para possível baixa hoje, tá ok? Boa sorte aí”. E assim foi feita a merda.

Visando minimizar os danos, Bebianno disse que suas conversas com o Presidente se deram pelo WhatsApp, e não por telefone, “como talvez tenha imaginado o filho Carlos”. Mas o pitbull não recuou, e, para piorar, o próprio Bolsonaro sustentou que não havia conversado com Bebianno, o que desfez a impressão de que o filho estava criando um salseiro no governo por conta própria, mas ao mesmo tempo deixou claro que ambos cantavam em coro.

A perspectiva da exoneração do ministro causou mal-estar no Planalto, inclusive no núcleo militar do governo. No último sábado, depois de se reunir com Bolsonaro no Alvorada, Onyx Lorenzoni, evitou falar com a imprensa, mas sabe-se que ele foi encarregado de costurar uma “saída honrosa” para pôr fim à polêmica em torno da exoneração do colega. A ideia de compensar Bebianno pela saída do primeiro escalão com um cargo na máquina federal fora do Palácio, porém, foi descartada, já que o artigo 17 da Lei 13.303/2016 veta essa possibilidade. 

Bebianno está nitidamente magoado com Jair Bolsonaro, e não se descarta a possibilidade de ele “cair atirando" . Ao portal G1, o ministro disse que "não se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado”, que "é preciso ter o mínimo de consideração com quem esteve ao lado dele o tempo todo", além de publicar nas redes sociais um texto sobre “lealdade”. A julgar pelo trailer, o filme pode ser assustador.

Entre os 22 ministros de Estado, nenhum compartilhou mais a intimidade do Presidente do que Bebianno, que atuou como faz-tudo durante a campanha e, antes disso, como advogado, ganhou a confiança do então deputado ao se oferecer para defendê-lo de graça de uma acusação de homofobia. Agora, pego no contrapé, ele diz não entender a violência com que vem sendo atacado e a facilidade com que foi abandonado pelo Presidente.

Não convide Carlos Bolsonaro e Gustavo Bebianno para a mesma festa. Desde a companha que o filho do Presidente vem atuando nos bastidores para minar o poder do advogado junto ao pai. A grande chance surgiu na semana passada, e deu no que deu.

Carluxo sempre foi genioso, beligerante e adepto a teorias conspiratórias. Já arreganhou os dentes para o general Mourão, insinuando pelo Twitter que vice estaria interessado na morte do titular. Sua relação com o pai chega a ser obsessiva. Em 2000, aos 17 anos, desbancou a mãe e se tornou o vereador mais jovem do Rio, mas sentiu-se usado pelo pai quando descobriu que ele apoiou sua candidatura para evitar a reeleição da ex-esposa. Pai e filho ficaram sem se falar por anos, e, para reconquistar o rebento, o primeiro passou a ser mais tolerante com os caprichos do segundo.

Na última sexta-feira, os vereadores cariocas encerraram o recesso, mas não se sabe se Carluxo deixará Brasília para reassumir seu mandato. No Planalto, a torcida para que isso aconteça é grande, sobretudo devido à quantidade de problemas que a relação entre pai e filho tem gerado. Pelo sim ou pelo não, o pitbull infiltrou um primo no Palácio e o encarregou de acompanhar de perto os passos do pai. Vamos ver até onde tudo isso vai levar.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

A CRISE CARLOS BOLSONARO/GUSTAVO BEBIANNO



Não bastasse a novela Queiroz/Flávio Bolsonaro, que ainda promete novos e emocionantes capítulos, uma nova crise se instalou no governo depois que Carlos Bolsonaro, o zero dois, causou constrangimentos tanto inoportunos quanto desnecessários ao desmentir, pelo Twitter, o Secretário-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que afirmou ter se encontrado com Jair Bolsonaro

O que poderia ser creditado ao destempero e inabilidade política do pitbull palaciano adquiriu maior dimensão porque, ao que tudo indica, ele tinha o aval do pai, que quer se livrar do ministro, mas prefere não exonerá-lo para não desagradar parte da bancada federal do PSL e alguns líderes de siglas aliadas, que têm em Bebianno um interlocutor. 

O general Mourão classificou o caso como futriquinha, mas reprovou a postura de zero dois: “Diz a velha prática que roupa suja a gente lava no tanque da casa e não da casa dos outros. Esta crise está ligada às denúncias em relação aos gastos de campanha do PSL e a um certo protagonismo do filho do presidente que, no afã de defender o pai, interferiu levando as discussões e debates em rede social que acabam sendo de domínio público, o que não é bom”. Não há como não lhe dar razão.

Através de sua conta no Twitter, FHC também se manifestou: “Início de governo é desordenado. O atual está abusando. Não dá para familiares porem lenha na fogueira. Problemas sempre há, de sobra. O Presidente, a família, os amigos e aliados que os atenuem sem soprar nas brasas. O fogo depois atinge a todos, afeta o país. É tudo a evitar”. Também não há como não lhe dar razão.

Para Rodrigo Maia, o Presidente está usando o filho para se livrar de Bebianno. “Ele é presidente da República, não é? Não é mais um deputado, ele não é presidente da associação dos militares. Então, se está com algum problema, tem que comandar a solução, e não pode, do meu ponto de vista, misturar família com isso, porque acaba gerando insegurança, uma sinalização política de insegurança para todos". Maia alertou também que o risco é grande para um governo que vai ter desafios importantes, como a reforma da Previdência.

Não é segredo que o clã Bolsonaro aprecia um enfrentamento. Já na transição do governo houve um arranca-rabo entre zero dois e Bebianno. O pitbull se considera o responsável pela comunicação do pai nas mídias sociais — tem até mesmo as senhas dele, o que é gravíssimo, pois o Estado não pode ficar em mãos indiretas, não importa se do filho do Presidente, da mulher, ou do cachorro — e não admite concorrência. Antes da posse, zero dois postou no Twitter que a morte de Bolsonaro interessava “também aos que estão muito perto” (...) “Principalmente após sua posse”. Na cerimônia, dizendo ter acordado com um mau pressentimento, armou-se de uma Glock e pediu para ser o guarda-costas do pai. Detalhe: Para quem afirma que sua prioridade é proteger o pai, o filho deveria ser mais cauteloso.

Observação: “Governar” pelo Twitter é uma prática que Bolsonaro copiou de Donald Trump. Vale lembrar que o uso de meios particulares para atividades oficiais deu muita dor de cabeça a Hillary Clinton, que, quando Secretária de Estado no governo Obama, dispensou sua conta de email oficial para usar a privada, mesmo para assuntos de Estado (e talvez por isso, ainda que não só por isso, foi derrotada pelo megalômano da peruca laranja).

Pelo andar da carruagem, a saída de Bebianno do ministério não é uma questão de se, mas de como e quando. E deixará mágoas difíceis de superar. O apoio que ele recebeu de políticos e militares surpreendeu o Presidente, que, aliás, terá dificuldade para substituí-lo por outro articulador de igual quilate, sobretudo no momento em que o governo precisa aprovar a reforma da Previdência e não tem uma base aliada organizada e coordenada por políticos experientes. Bebianno seria o interlocutor do governo com Rodrigo Maia, que não por acaso deu a declaração que eu reproduzi linhas atrás, afirmando, dentre outras coisas, que Bolsonaro não é presidente da associação dos militares. A relação de Maia com Onyx Lorenzoni nunca foi boa, embora ambos sejam do mesmo partido, e a conexão entre Maia e Bebianno, assim como com Paulo Guedes, é que facilitaria a tramitação das reformas.

Atualização: A exoneração de Gustavo Bebianno deverá ser publicada amanhã no Diário Oficial da União. Bolsonaro havia resolvido manter o ministro no cargo, mudou de ideia depois de saber do vazamento de áudios com diálogos mantidos entre os dois. No Planalto, o receio é de que, uma vez penabundado, o desafeto crie problemas para o governo, já que é o que se chama no jargão político de “homem bomba”. 

A relação de Bolsonaro com os filhos vem provocando intrigas intra murus, especialmente entre os militares, e desestabilizando um governo que mal começou (e, por que não dizer, que começou mal). Sem cargos no governo, mas agindo como membros da família real numa monarquia, a prole presidencial se dedica a fabricar crises. Flávio, o zero um, tenta se desvencilhar do caso Queiroz; Eduardo, o zero três — que foi filmado em uma palestra dizendo que para fechar o STF bastaria “um soldado e um cabo” e se considera-se um assessor presidencial especialíssimo — já admitiu concorrer à sucessão do pai, caso ele cumpra a promessa de acabar com a reeleição. 

Detalhe: Zero um nunca recebeu apoio de zero dois, e zero três evita falar sobre a crise em que o irmão do meio está metido.