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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

LARANJADA NO PSL E CRISE NO PLANALTO

ATUALIZAÇÃO (16h45): O governo está em compasso de espera para o desfecho que Jair Bolsonaro dará ao imbróglio iniciado na semana passada, envolvendo o ainda ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A expectativa é de que o impasse seja resolvido ainda hoje, e que o capítulo final seja transmitido daqui a alguns minutos, durante briefing do porta-voz da Presidência. A conferir.

O imbróglio envolvendo Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz quase subiu rampa do Planalto quando zero um resolveu pleitear foro privilegiado junto ao STF. Mas o pedido foi negado pelo ministro Marco Aurélio, que de vez em quando dá uma dentro, e a investigação foi enviada de volta ao MP-RJ. Tanto o senador quanto seu ex-assessor negam ter participado ou tido conhecimento de irregularidades no caso, mas, curiosamente, nenhum dos dois anjinhos compareceu aos depoimentos agendados pelos procuradores.

Uma vez empossado Presidente, Jair Bolsonaro não pode ser investigado por fatos ocorridos anteriormente ao mandato, de modo que a parte que lhe toca nesse furdunço — e que se resume basicamente ao depósito feito por Queiroz na conta da hoje primeira-dama — vai ter de ficar para depois. Quanto a Flávio, o mínimo que se espera dele são explicações convincentes — que ele vem se recusando a dar, talvez com a esperança de que um fato novo o tire do foco da mídia. Se seu desejo for realmente esse, o senador pode se considerar atendido: uma nova crise eclodiu no governo assim que a Folha denunciou a ação de laranjas do PSL nas últimas eleições.

Durante o período eleitoral, Gustavo Bebianno era o presidente nacional do PSL e, portanto, o responsável pelo repasse de verbas aos candidatos. Diante da denúncia da Folha, ele disse em nota que não escolheu as candidatas que disputaram as eleições nos estados, pois isso era atribuição dos diretórios regionais. Mais adiante, em entrevista ao Globo, minimizou a crise afirmando ter conversado sobre o caso com o Presidente Jair Bolsonaro. Luciano Bivar, que sucedeu a Bebianno na presidência nacional do PSL, confirmou a versão do antecessor, e com isso a crise passaria ao largo do Palácio do Planalto se Carlos Bolsonaro não a puxasse rampa acima e depositasse no colo do papai.

Carluxo jamais simpatizou com Bebianno e sempre teve ciúmes de sua influência sobre o pai. As rusgas começaram durante a campanha, quando o factótum tinha carta branca para tomar as decisões mais delicadas e o rebento, que tinha um palpite a dar sobre tudo, se via limitado a cuidar das redes sociais da família. Vencida a eleição, o poder do “cão de guarda” se sobrepôs ao do “pitbull”: o primeiro assumiu a Secretaria-Geral da Presidência da República, e o segundo, que aspirava ao comando da Secretaria de Comunicação, ficou sem cargo no governo. 

Na semana passada, porém, zero dois viu a chance de se vingar do desafeto: “Ontem estive 24 horas do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano (sic) que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro”, postou o filho enciumado no Twitter, seguido de um áudio no qual se ouve o pai dizer: “Ô Gustavo, está complicado eu conversar ainda. Então, não vou falar, não vou falar com ninguém, a não ser estritamente o essencial. Estou em fase final de exames para possível baixa hoje, tá ok? Boa sorte aí”. E assim foi feita a merda.

Visando minimizar os danos, Bebianno disse que suas conversas com o Presidente se deram pelo WhatsApp, e não por telefone, “como talvez tenha imaginado o filho Carlos”. Mas o pitbull não recuou, e, para piorar, o próprio Bolsonaro sustentou que não havia conversado com Bebianno, o que desfez a impressão de que o filho estava criando um salseiro no governo por conta própria, mas ao mesmo tempo deixou claro que ambos cantavam em coro.

A perspectiva da exoneração do ministro causou mal-estar no Planalto, inclusive no núcleo militar do governo. No último sábado, depois de se reunir com Bolsonaro no Alvorada, Onyx Lorenzoni, evitou falar com a imprensa, mas sabe-se que ele foi encarregado de costurar uma “saída honrosa” para pôr fim à polêmica em torno da exoneração do colega. A ideia de compensar Bebianno pela saída do primeiro escalão com um cargo na máquina federal fora do Palácio, porém, foi descartada, já que o artigo 17 da Lei 13.303/2016 veta essa possibilidade. 

Bebianno está nitidamente magoado com Jair Bolsonaro, e não se descarta a possibilidade de ele “cair atirando" . Ao portal G1, o ministro disse que "não se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado”, que "é preciso ter o mínimo de consideração com quem esteve ao lado dele o tempo todo", além de publicar nas redes sociais um texto sobre “lealdade”. A julgar pelo trailer, o filme pode ser assustador.

Entre os 22 ministros de Estado, nenhum compartilhou mais a intimidade do Presidente do que Bebianno, que atuou como faz-tudo durante a campanha e, antes disso, como advogado, ganhou a confiança do então deputado ao se oferecer para defendê-lo de graça de uma acusação de homofobia. Agora, pego no contrapé, ele diz não entender a violência com que vem sendo atacado e a facilidade com que foi abandonado pelo Presidente.

Não convide Carlos Bolsonaro e Gustavo Bebianno para a mesma festa. Desde a companha que o filho do Presidente vem atuando nos bastidores para minar o poder do advogado junto ao pai. A grande chance surgiu na semana passada, e deu no que deu.

Carluxo sempre foi genioso, beligerante e adepto a teorias conspiratórias. Já arreganhou os dentes para o general Mourão, insinuando pelo Twitter que vice estaria interessado na morte do titular. Sua relação com o pai chega a ser obsessiva. Em 2000, aos 17 anos, desbancou a mãe e se tornou o vereador mais jovem do Rio, mas sentiu-se usado pelo pai quando descobriu que ele apoiou sua candidatura para evitar a reeleição da ex-esposa. Pai e filho ficaram sem se falar por anos, e, para reconquistar o rebento, o primeiro passou a ser mais tolerante com os caprichos do segundo.

Na última sexta-feira, os vereadores cariocas encerraram o recesso, mas não se sabe se Carluxo deixará Brasília para reassumir seu mandato. No Planalto, a torcida para que isso aconteça é grande, sobretudo devido à quantidade de problemas que a relação entre pai e filho tem gerado. Pelo sim ou pelo não, o pitbull infiltrou um primo no Palácio e o encarregou de acompanhar de perto os passos do pai. Vamos ver até onde tudo isso vai levar.