O imbróglio envolvendo Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz quase subiu rampa do
Planalto quando zero um resolveu
pleitear foro privilegiado junto ao STF.
Mas o pedido foi negado pelo ministro Marco
Aurélio, que de vez em quando dá uma dentro, e a investigação foi enviada de
volta ao MP-RJ. Tanto o senador
quanto seu ex-assessor negam ter participado ou tido conhecimento de
irregularidades no caso, mas, curiosamente, nenhum dos dois anjinhos compareceu aos depoimentos
agendados pelos procuradores.
Uma
vez empossado Presidente, Jair Bolsonaro não pode ser investigado por fatos
ocorridos anteriormente ao mandato, de modo que a parte que lhe toca nesse furdunço — e que
se resume basicamente ao depósito feito por Queiroz na conta da hoje primeira-dama — vai ter de ficar para
depois. Quanto a Flávio, o mínimo
que se espera dele são explicações convincentes — que ele vem se recusando a
dar, talvez com a esperança de que um fato novo o tire do foco da mídia. Se seu
desejo for realmente esse, o senador pode se considerar atendido: uma nova crise eclodiu no governo assim que a Folha denunciou a ação
de laranjas
do PSL nas últimas eleições.
Durante o período eleitoral, Gustavo
Bebianno era o presidente nacional do PSL e, portanto, o responsável pelo
repasse de verbas aos candidatos. Diante da denúncia da Folha, ele disse em
nota que não escolheu as candidatas que disputaram as eleições
nos estados, pois isso era atribuição dos diretórios regionais. Mais adiante, em
entrevista ao Globo, minimizou a crise afirmando ter conversado sobre o caso com o Presidente Jair Bolsonaro. Luciano Bivar, que sucedeu a Bebianno na presidência nacional do PSL, confirmou a versão do antecessor, e com isso a crise passaria ao largo do Palácio do Planalto se Carlos
Bolsonaro não a puxasse rampa acima e depositasse no colo do papai.
Carluxo jamais
simpatizou com Bebianno e sempre teve
ciúmes de sua influência sobre o pai. As rusgas começaram durante a campanha,
quando o factótum tinha carta branca para tomar as decisões mais delicadas e o rebento,
que tinha um palpite a dar sobre tudo, se via limitado a cuidar das redes
sociais da família. Vencida a eleição, o poder do “cão de guarda” se sobrepôs ao do “pitbull”: o primeiro assumiu a Secretaria-Geral da Presidência da República, e o segundo,
que aspirava ao comando da Secretaria de Comunicação, ficou sem cargo no
governo.
Na semana passada, porém, zero dois viu a chance de se vingar do desafeto: “Ontem
estive 24 horas do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de
Gustavo Bebbiano (sic) que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro”,
postou o filho enciumado no Twitter,
seguido de um áudio no qual se ouve o pai dizer: “Ô Gustavo, está complicado eu
conversar ainda. Então, não vou falar, não vou falar com ninguém, a não ser
estritamente o essencial. Estou em fase final de exames para possível baixa
hoje, tá ok? Boa sorte aí”. E assim foi feita a merda.
Visando minimizar os danos, Bebianno disse que suas conversas com o Presidente se deram pelo WhatsApp, e não por telefone, “como
talvez tenha imaginado o filho Carlos”. Mas o pitbull não recuou, e, para piorar, o próprio Bolsonaro sustentou que não havia conversado com Bebianno, o
que desfez a impressão de que o filho estava criando um salseiro no governo por
conta própria, mas ao mesmo tempo deixou claro que ambos cantavam em coro.
A perspectiva da exoneração do ministro causou mal-estar no Planalto, inclusive no núcleo militar
do governo. No último sábado, depois de se reunir com Bolsonaro
no Alvorada, Onyx Lorenzoni, evitou falar com a imprensa,
mas sabe-se que ele foi encarregado de costurar uma “saída honrosa” para pôr fim à polêmica em torno da exoneração
do colega. A ideia de compensar Bebianno
pela saída do primeiro escalão com um cargo na máquina federal fora do Palácio, porém, foi descartada, já que o artigo
17 da Lei 13.303/2016 veta essa possibilidade.
Bebianno está nitidamente magoado com Jair Bolsonaro, e não se descarta a possibilidade de ele “cair atirando"
. Ao portal G1, o ministro disse que "não
se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado”, que "é preciso ter o mínimo de consideração com
quem esteve ao lado dele o tempo todo", além de publicar nas redes
sociais um texto sobre “lealdade”. A julgar pelo trailer, o filme pode ser
assustador.
Entre os 22 ministros de Estado, nenhum compartilhou mais a intimidade do Presidente do que Bebianno,
que atuou como faz-tudo durante a campanha e, antes disso, como advogado,
ganhou a confiança do então deputado ao se oferecer para defendê-lo de graça de uma acusação de
homofobia. Agora, pego no contrapé, ele diz não entender a violência com que
vem sendo atacado e a facilidade com que foi abandonado pelo Presidente.
Não convide Carlos
Bolsonaro e Gustavo Bebianno para a mesma festa. Desde a companha que o filho do Presidente vem atuando nos bastidores para minar
o poder do advogado junto ao pai. A grande chance surgiu na semana passada, e deu no que deu.
Carluxo sempre
foi genioso, beligerante e adepto a teorias conspiratórias. Já arreganhou os
dentes para o general Mourão, insinuando pelo Twitter que vice estaria interessado na
morte do titular. Sua relação com o pai chega a ser obsessiva. Em 2000, aos 17
anos, desbancou a mãe e se tornou o vereador mais jovem do Rio, mas sentiu-se
usado pelo pai quando descobriu que ele apoiou sua candidatura para evitar a reeleição
da ex-esposa. Pai e filho ficaram sem se falar por anos, e, para reconquistar o
rebento, o primeiro passou a ser mais tolerante com os caprichos do segundo.
Na última sexta-feira, os vereadores cariocas encerraram o recesso, mas
não se sabe se Carluxo deixará
Brasília para reassumir seu mandato. No Planalto, a torcida para que isso
aconteça é grande, sobretudo devido à quantidade de problemas que a relação
entre pai e filho tem gerado. Pelo sim ou pelo não, o pitbull infiltrou um
primo no Palácio e o encarregou de acompanhar de perto os passos do pai. Vamos ver até onde tudo isso vai levar.