terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

NAVEGADOR LENTO? NINGUÉM MERECE!

COMO UM CACHORRO QUE VOLTA AO PRÓPRIO VÔMITO, O TOLO TENDE A REPETIR SUAS TOLICES.

Navegador que demora a abrir, leva uma eternidade para carregar páginas e empaca sem mais aquela, ninguém merece. Felizmente, ao contrário do que ocorria até não muito tempo atrás, já não nos faltam alternativas ao browser padrão do sistema operacional. Aliás, depois de desbancar o Internet Explorer, em maio de 2012, o Google Chrome se tornou o queridinho dos internautas no mundo inteiro.

Observação: O festejado MS Internet Explorer, que reinou quase absoluto durante anos e anos, acabou cedendo ao Chrome, em maio de 2012, o trono, a coroa e o cetro. Ainda que continue a integrar a lista de componentes do Windows 10, ele perdeu o status de navegador-padrão para o Microsoft Edge (do qual falaremos mais adiante). Segundo o StatCounter Global Stats, o browser do Google é o preferido de 83,21% dos internautas tupiniquins, enquanto o Firefox, o IE e o Edge conquistam, respectivamente, 9,11%, 2,94% e 1,44% ― em nível mundial, a fatia do Chrome é de “apenas” 62,09%, contra 14,85% do Firefox, 10,49% do IE, 5,28% do Safari e 3,58% do Edge.

O fato é que não existe software perfeito, e o Chrome não é exceção. E um de seus “defeitos” é o apetite pantagruélico por memória RAM, que acarreta lentidão e, em situações extremas, chega a travar o aplicativo, sobretudo se o usuário abre diversas tabs (abas) e se esquece de fechá-las à medida que ficam ociosas. O esquema de abas propicia uma economia significativa no consumo de memória, se comparado ao uso simultâneo de várias instâncias do navegador, mas impacta o desempenho do browser. Demais disso, o alto consumo de memória não é o único responsável por lentidão, instabilidade e travamento do navegador ― cache lotado e complementos (extensões) malcomportados também têm sua parcela de culpa.

Se você usa o Chrome, saiba que o Google disponibiliza o plug-in Great Suspender ― que monitora em tempo real as abas abertas e coloca em animação suspensa aquelas que estão inativas. Para adicioná-lo, clique no botão que exibe três pontinhos alinhados verticalmente, na extremidade direita da barra de endereços do browser, selecione Mais ferramentas, clique em Extensões > Obter mais extensões e pesquise por Great Suspender. Quando localizar o programinha, clique sobre ele e em Usar no Chrome.

Concluída a instalação (que demora poucos segundos), reinicie o navegador, clique no ícone que será adicionado à esquerda da barra de endereços e, no menu suspenso, selecione Configurações. Feito isso, ajuste o tempo de inatividade da página (o intervalo padrão é de uma hora, mas você pode alterar para qualquer outro entre 20 segundos e 3 dias ― sugiro 1 minuto).

Amanhã a gente continua. Abraços e até lá.


TALVEZ ATÉ DESSE UM ROMANCE ― Texto de Vladimir Safatle (*)

Em uma república em algum lugar na América Latina, o vice-presidente mobiliza toda a casta política para derrubar a titular e "estancar a sangria" produzida por denúncias de corrupção a envolver toda a classe, além do próprio personagem em questão. Depois do “golpe”, no entanto, a sangria não para totalmente, e a máquina colocada em funcionamento no Poder Judiciário continua, mesmo que aos trancos e barrancos.

Mas eis que um "terrível acidente" resulta na morte do juiz do Supremo responsável pelas homologações das delações contra a casta política, exatamente no momento em que elas pareciam envolver de vez os nomes-chave do governo do “vice-presidente golpista” e do partido fundamental de sustentação do seu governo ― que poderíamos chamar em nosso romance de, digamos, PSDB.

No lugar do juiz acidentado, o vice-presidente nomeia seu próprio ministro da Justiça: homem organicamente vinculado a todos os esquemas do dito, digamos, PSDB. Alguém cuja meteórica passagem pelo referido ministério foi marcada por uma crise no sistema penitenciário que resultou no assassinato de centenas de presos, levando a república em questão a figurar no noticiário internacional devido ao seu sistema carcerário medieval.

No meio da crise, o ministro entrou para a história não por ter tomado medidas sensatas e precisas para conter o problema, mas por simplesmente ter mentido despudoradamente quando evidenciados sua inação e descaso à ocasião de um pedido de auxílio de uma governadora de Estado. Algo tão absurdo que até mesmo a imprensa, normalmente complacente com o vice-presidente golpista, foi obrigada a reconhecer que o ministro era o homem errado no lugar errado.

Como se não fosse suficiente, o personagem já tinha provocado polêmicas ao defender a tortura "em alguns casos", isto em um país no qual a polícia tortura mais hoje do que na época de seu antigo regime militar, e por usar a força militar e brutalidade de sua polícia para conter todo o tipo de manifestação e mobilização social.

Quando estava a sair do ministério, eis que um dos Estados da federação passa por uma greve da polícia e se transforma em pura e simples zona de anomia, com direito a saques em plena luz do dia, assaltos e afins. O que demonstra a incrível competência do nosso personagem, suas qualificações indiscutíveis para tão alto cargo.

Não, pensando bem, esse enredo não daria um bom romance. Muito óbvio, muito primário. Ninguém iria acreditar ser possível algo assim nos dias de hoje. Certamente, se isto ocorresse atualmente, haveria grandes manifestações nas ruas contra a natureza despudorada de tal esquema. Haveria uma mobilização da opinião pública contra a desagregação das instituições da República. Não, como romance o enredo definitivamente não funcionaria. Bem, talvez como comédia ele desse certo.

É, como comédia isso aí poderia funcionar. Nós poderíamos começar com a descrição de grandes manifestações populares a varrer as cidades da dita república exigindo combate feroz contra a corrupção e mostrando indignação cidadã. Depois de a presidenta deposta, poderíamos mostrar essas mesmas pessoas tentando defender o vice-presidente envolvido em escândalos, indo para as ruas contra a corrupção, mas indignados não com o chefe do esquema, mas com um tal "presidente do Senado", isto em uma semana na qual o próprio vice-presidente fora pego em um escândalo primário de tráfico de influência envolvendo dois de seus ministros. Poderíamos mostrar ainda essas mesmas pessoas caladas quando da nomeação do ministro "aos amigos tudo, aos inimigos a lei" convocado para empacotar os processos contra seu partido do coração.

Sim, seria hilário, o mundo todo morreria de rir. É verdade que seria um pouco difícil acreditar na possibilidade de tudo isso, mas, em comédia, há sempre algo da ordem do vale-tudo, algo da ordem da ampliação caricatural até o absurdo, o que libera a imaginação para ganhar asas e pensar até mesmo o impensável. Ou seja, pensar o Brasil atual.

(*) Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP. Deixo claro que não concordo necessariamente com todas as colocações do articulista e que reproduzo este texto (originalmente publicado na suspeita Folha de São Paulo) por tê-lo achado criativo, interessante e, em grande medida (mas não totalmente) sintonizado com a realidade desta republiqueta da Bananas. E viva o povo brasileiro! 

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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

SEGURANÇA DIGITAL ― BARBAS DE MOLHO

A HABILIDADE DE ALCANÇAR A VITÓRIA MUDANDO E ADAPTANDO-SE DE ACORDO COM O INIMIGO É CHAMADA DE GENIALIDADE.

Os cibercriminosos estiveram muito ativos no ano passado, abusando de velhas falhas nos softwares e desenvolvendo novas formas de desfechar seus ataques, informa a conceituada empresa de segurança digital AVAST, que vislumbra nuvens negras no horizonte. Até porque, à medida que a conscientização sobre as ameaças aumenta, aumentam também a sofisticação tecnológica e as estratégias que eles empregam para se manter um passo à frente dos desenvolvedores de cibersegurança. Demais disso, o crescimento do número de aparelhos móveis pessoais, a expressiva migração para aplicativos na nuvem e a gradativa popularização da Internet das Coisas configuram um panorama complexo e desafiador para 2017.

2016 foi o “Ano do Ransomware”, mas deve perder o título para 2017. A disseminação desse tipo de praga para todos os sistemas operacionais, inclusive para mobiles, vem ficando cada vez mais fácil. No ano passado, a AVAST identificou mais de 150 novas famílias de ransomwares ― aí consideradas somente as que afetam o sistema operacional Windows ―, e com o aumento da oferta de ransomwares de código aberto no GitHub e em fóruns de hackers, a conclusão é óbvia.

Ransomwares ― bem como outros programinhas maliciosos ― podem ser encontrados gratuitamente e utilizados por qualquer pessoa com expertise suficiente para compilar códigos já desenvolvidos para achacar suas vítimas. Para piorar, quem não é capaz de criar o seu próprio malware conta com a ajuda da comunidade. Existe até um modelo ― conhecido como RaaS (da sigla em inglês para Ransomware como um Serviço) ― que fornece executáveis gerados automaticamente, de maneira que criar ou comprar um ransomware nunca foi tão fácil.

Tradicionalmente, os ransomwares “sequestram” os arquivos da máquina infectada e exigem um resgate para liberá-los, mas uma alternativa que vem se tornando comum é induzir as vítimas que não podem ou não querem pagar a disseminar as ameaças. Para os malfeitores digitais, isso pode ser particularmente interessante, especialmente quando o sequestrado infecta a rede corporativa da empresa onde trabalha (pequenas e medias empresas são alvos bem mais rentáveis do que uns poucos usuários isolados).

Uma sólida proteção antimalware minimiza o risco de você se tornar vítima dessas pragas, mas não o desobriga de criar backups de arquivos importantes e atualizá-los regularmente ― a partir dos quais você poderá recuperá-los no caso de essa proteção falhar.
Observação: A bandidagem também faz cópias dos arquivos das vítimas para extorqui-las mediante a ameaça de expor sua privacidade. Essa técnica é chamada de doxing, e a despeito de ainda não ser largamente explorada via ransomware, a AVAST prevê a possibilidade de isso mudar em 2017.

Com a crescente popularização das casas e edifícios inteligentes, tudo está sendo conectado a roteadores ― de carros a monitores e câmeras, de termostatos a aparelhos IdC ― e, consequentemente, mais vulnerável a ataques do nunca, pois esses dispositivos podem ser facilmente acessados mediante credenciais de login padrão ou outras falhas bem conhecidas. No ano passado, grandes redes zumbis foram formadas a partir de aparelhos inocentes e, depois, utilizadas para obter dinheiro digital, enviar spam ou desfechar ataques DDoS. Para a AVAST, o número dessas redes deve crescer à medida que a IdC se popularizar e o número de e aparelhos conectáveis ― e, portanto, escravizáveis ― crescer ao longo de 2017.

Observação: A DIRTY COW é uma brecha que dá acesso a privilégios administrativos no kernel (núcleo) do Linux. Embora ela conhecida e venha sendo explorada há anos, passou agora a ser usada para atingir aparelhos até então considerados impossíveis de rootear (fazer o root num aparelho significa obter acesso a partes do sistema que ficam fora do alcance do usuário comum). Considerando o número significativo de aparelhos Android que funcionam com esse kernel, é fácil imaginar o estrago que essa prática pode causar.

Os wearables (vestíveis) também constituem um desafio. Eles oferecem a conveniência de simplificar os processos e ações do nosso dia a dia ― como, por exemplo, rastreando as nossas atividades físicas ­―, mas, como quaisquer outros dispositivos que executam programas, são vulneráveis a ataques. Com o avanço do WYOD  (Wear Your Own Device), um passo além do BYOD, os wearables se tornaram uma mão na roda para os crackers, já que cada novo aparelho conectado que entra em nossa casa ou local de trabalho abre uma nova porta para a bandidagem digital e representa um desafio para nosso arsenal de proteção. Os roteadores que usamos em casa, escritório, loja, empresa, etc. para conectar inúmeros dispositivos à internet são elo mais fraco da corrente, uma vez que a prevenção de ameaças através de atualização do firmware não é um processo adequado nem sustentável. Os routers precisam evoluir e se tornar inteligentes e capazes de frustrar esses tipos de ataques.

Barbas de molho, pessoal.

QUEM MATOU O PT?

O PT finalmente chegou ao poder, após quase vinte cinco anos desde a sua fundação e após o ex-presidente Lula ter amargado três derrotas consecutivas ao longo de 12 anos em campanha pelo Brasil com a tal da “Caravana da Esperança”. Logo que sua vitória foi anunciada pelo TSE, o molusco abjeto, em sua primeira entrevista à imprensa como presidente eleito, agradeceu a Deus ― consta que o cara é ateu, mas até aí... ―, à Justiça Eleitoral e a FHC (que lhe havia prestado uma ajuda valiosa, além de ter deixado o país com a economia estabilizada e plenamente inserida no âmbito da globalização). Os eleitores, a militância e os companheiros de partido ficaram para depois.

Observação: Lula e FHC eram amigos desde os anos 1970. O tucano sempre defendeu a alternância no poder como um dos requisitos fundamentais da democracia e, em 2002, não só não se envolveu na campanha, mas também não promoveu o candidato do seu partido (José Serra), que obteve 38,73% dos votos, contra os 61,27% do petista.

Em 2003, tão logo assumiu a presidência, o petralha se autoproclamou o pai do milagre econômico no Brasil, a despeito de, no governo de seu predecessor, a estabilidade da moeda ter sido fundamental para as pessoas comprarem imóveis, veículos e outros bens através de longos financiamentos ― fenômeno que atraiu gigantes globais como Toyota, Honda, Mitsubishi, Peugeot, Renault, Kia, Hyundai, e por aí afora. Foi também durante a gestão de FHC que ícones de outros setores ― petroquímico, farmacêutico, de máquinas agrícolas, eletroeletrônicos e empresas como Samsung, LG, Motorola, Wal-Mart e tantas outras se instalaram no país, gerando 18 milhões de empregos diretos e indiretos, a maioria dos quais durante o governo Lula.

Lula e os petistas estavam seguros de que poderiam levar adiante o maior sonho do partido: governar o Brasil por 30 anos. Ao mesmo tempo em que se encarregava de aparelhar a máquina pública, o nove-dedos implantou uma verdadeira organização criminosa na Petrobras e, financiado por setores que não conseguiram bons contratos durante a era FHC, como o grupo Odebrecht, organizou esquemas criminosos na Estatal em troca de propina para financiar seu projeto de poder.

Com a expansão da indústria e do consumo no país e com o alto valor das commodities no mercado internacional, a arrecadação do governo bateu um recorde atrás do outro, e quanto mais dinheiro entrava nos cofres públicos, mais a petralhada roubava. A partir do segundo mandato, o capo di tutti i capi e seus comparsas se tornaram ainda mais agressivos nos esquemas de corrupção. Curiosamente, o chefe escapou impune no esquema do mensalão, embora Delúbio, Dirceu, Genoino e outros ícones petralhas não tenham tido a mesma sorte.

Naquela época, o esquema de corrupção na Petrobras funcionava a todo vapor. Mas Lula e o PT queriam mais, e assim resolveram investir pesado na propaganda do pré-sal, visando justificar os investimentos bilionários anunciados pelo então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli. Hoje, sabe-se que a campanha de Dilma superou o valor declarado pelo partido em pelo menos três vezes, graças ao dinheiro roubado da Petrobras. Segundo o TSE, a eleição da sucessora foi responsável por 60% de todo o dinheiro gasto da corrida presidencial ― mais adiante, as investigações da Lava-Jato revelariam que esse número saltou para quase 95%, superando a casa dos R$ 3 bilhões.

Até aí, tudo ia bem. Lula se jactava de ter conseguido eleger um “poste” e de continuar dando as cartas no governo, e após duas décadas e meia de existência, o PT vivia o ápice dos seus dias de glória. Até que, em meados de 2013, a coisa começou a degringolar. Boa parte da população já estava consciente de que uma organização criminosa e corrupta havia se apoderado do comando da nação, e muitos desconfiavam que o destino traçado pelo PT para o país tinha mais a ver com Cuba e Venezuela do que com aquele que todos sonhavam, de um Brasil próspero, justo e democrático. Aos poucos, as pessoas começaram a perceber que havia algo de estranho em tudo aquilo.

Eram os tempos da primavera Árabe. Governantes de todo o mundo estavam assustados com levantes populares como o que ocorreu no Brasil, e o fenômeno era ainda mais ameaçador para a classe política, já que não havia nenhum grupo ou partido por trás das manifestações. Apavorada com a possibilidade de que a situação se agravasse como ocorreu em outros lugares do mundo, a cúpula petista agendou uma reunião de emergência, em São Paulo, para discutir uma forma de conter os ânimos. Mas há coisas que não podem ser resolvidas em momentos de desespero.

Lula, Dilma e João Santana buscaram desesperadamente uma saída para a situação. O marqueteiro concluiu que o estopim das manifestações populares era a roubalheira descarada dos petralhas, e sugeriu que a anta vermelha desengavetasse alguns projetos de combate à corrupção e fizesse um pronunciamento sobre seus feitos neste sentido. No dia 2 de agosto de 2013, a então presidanta assinou a lei que instituía a delação premiada, visando dar uma resposta imediata ao povo que se avolumava nas ruas. E acabou assinando a sentença de morte do PT. Oito meses depois, foi deflagrada a primeira fase da Operação Lava-Jato, e não demorou para que os investigadores começassem a desvendar o emaranhado que traria à luz o esquema criminoso na Petrobras. E o resto é história recente.

Apavorados com o avanço da Lava-Jato e com a perspectiva de o instituto da delação premiada levar os MPF e a PF aos chefes da quadrilha, a seleta confraria vermelha partiu para o tudo ou nada na campanha suicida em 2014, omitiram e mentindo como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Mas o mundo não acabou. Dilma se reelegeu por uma pequena margem de votos, mas para isso quebrou o país.

Não demorou para que esse fabuloso estelionato eleitoral viesse à tona, a popularidade da gerentona de araque naufragasse em águas abissais, os manifestantes voltassem a ocupar as ruas e o repúdio da sociedade ao PT e aos petralhas crescesse a olhos vistos. Antigos aliados se voltaram contra o governo e passaram a apoiar a deposição da presidanta. No apagar das luzes de 2015, o então presidente da Câmara e hoje hóspede do complexo médico-penal de Pinhais, em Curitiba, deu seguimento ao pedido de impeachment protocolado pelo jurista e ex-petista Hélio Bicudo (que contou com Janaína Pascoal e Miguel Reale como coautores).

Observação: Eduardo Cunha iniciou seu primeiro mandato de deputado federal no mesmo ano em que Lula assumiu a presidência da República, e em pouco mais de uma década tornou-se um expoente da sua legenda (a maior do país), montou uma bancada própria de cerca de cem deputados (de partidos variados), elegeu-se presidente da Câmara em 2015 (contra a vontade de Dilma, que apoiava o petista Arlindo Chinaglia), transformou a já conturbada existência política da estocadora de vento num verdadeiro inferno e deflagrou o processo de impeachment que a destituiu o mandato em 2016. Dizem que ele só deu andamento ao pedido de impeachment da mulher sapiens depois de esgotar todas as tratativas para manter seu mandato e o comando da Casa, mas até aí morreu neves. Ainda que sua participação tenha sido determinante para o desfecho do impeachment, qualquer deputado minimamente sintonizado com o eleitorado teria feito o mesmo.

Fica aqui o resumo dos fatos. A conclusão, deixo a cargo do leitor. Só acrescento que, assim como o PCC, o Comando Vermelho e outras organizações criminosas hão de morrer um dia, o PT morreu por que tinha de morrer.

Post inspirado em um texto publicado originalmente no site Imprensa Viva.

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domingo, 12 de fevereiro de 2017

PONTOS A PONDERAR

Na condição de presidente nacional do maior partido da base aliada do governo petralha, Michel Temer era tudo que a gente não queria ver na presidência da Banânia. Mas “beggars can’t be choosers”; em sendo o vice da calamidade em forma de gente, o peemedebista tornou-se a única opção para penabundarmos a titular sem afrontar a Constituição. Mas, convenhamos: embora o país esteja uma merda, seria ainda pior se a Dilma tivesse dado sequência a sua desastrosa gestão. Felizmente, a gerentona de araque é página virada da nossa ingloriosa história ― embora a mídia ainda lhe conceda espaço, de vez em quando, por conta de seus desatinos delirantes ― e seu abjeto predecessor e mentor segue pela mesma trilha.

Pelo andar da carruagem, o penta-réu que se autodeclara a “alma viva mais honesta do Brasil” não demora a passar da página de política para a policial, ainda que, em sua megalômana parlapatice, insista em nos assombrar ― qual egun mal despachado ― com seus devaneios de poder (por incrível que pareça, ele ainda encontra quem lhe compra o peixe). Mas o fato é que, sem argumento sólido para se defender das acusações contra sua ímproba pessoa, resta a Lula fazer o máximo de alarido para disfarçar a inconsistência do seu batido e abilolado ramerrão, como fez ao recorrer à Comissão de Direitos Humanos da ONU (que lhe mandou plantar batatas) e ao processar o juiz Sergio Moro por abuso de autoridade (o que também resultou em nada vezes nada). Agora, sua defesa pede ao STF que corrija o “erro histórico” cometido com a suspensão da sua nomeação e posse como ministro-chefe da Casa Civil no governo Dilma. O pedido foi feito na última segunda-feira, no âmbito de um mandado de segurança impetrado pelo PPS contra a nomeação do molusco asqueroso, com único propósito era lhe restituir o direito a foro privilegiado e tirá-lo da alçada do juiz Sergio Moro (maracutaia que foi prontamente abortada por uma liminar do ministro Gilmar Mendes, para quem a nomeação do sacripanta fraudou a Constituição).

A nova manifestação dos advogados do petralha se deu depois que Michel Temer nomeou Moreira Franco para a Secretaria-Geral da Presidência ― posto recriado por medida provisória com o fito de, ao que tudo indica, conferir foro privilegiado ao aliado. O partido Rede Sustentabilidade impetrou um mandado de segurança pedindo a suspensão da nomeação do “Angorá” e, na última quarta-feira, uma liminar do juiz federal Eduardo Rocha Penteado suspendeu a nomeação (por desvio de finalidade e ofensa à moralidade). A AGU recorreu da liminar, mas ainda não se sabe o resultado (ou não se sabia até o momento em que eu concluí este texto).

Observação: A Folha apurou que há quatro ações na Justiça Federal sobre o mesmo assunto, duas no DF, uma em São Paulo e outra no Amapá. Com a nomeação, Franco ganha foro privilegiado no STF poucos dias após a homologação dos acordos dos executivos da Odebrecht (só na delação de Cláudio Melo Filho, que comandava o setor de propina da empreiteira, ele foi citado 34 vezes, acusado ter recebido dinheiro para defender os interesses da empresa. A JF do RJ concedeu liminar suspendendo a nomeação, assim como um juiz de Brasília que já havia tomado a mesma decisão, revertida na manhã da última quinta-feira pelo TRF da 1ª Região, após recurso apresentado pela AGU. A Justiça Federal no Amapá também concedeu liminar suspendendo a nomeação, mas é provável que a AGU recorra também dessa decisão. 

Voltando à indicação de Alexandre de Moraes à vaga no STF, eu já havia dito nesta postagem que o procurador Deltan Dallagnol entende que a questão pode impactar a Lava-Jato se o escolhido não compartilhar do entendimento do tribunal (consubstanciado após uma votação cujo placar foi 6 x 5)  sobre a execução provisória da pena (após condenação em segunda instância). Vejamos agora um resumo do que diz o jornalista Reinaldo Azevedo:   

(...) O Brasil é virtualmente o único país em que um processo criminal passa por 4 instâncias, sem falar dos infindáveis recursos (…) A orientação do tribunal nesse tema decide se o envio do réu à
prisão deve aguardar todos os recursos nas quatro instâncias, ou pode ser feita após o tribunal de apelação confirmar a condenação (…) Se a perspectiva é de impunidade, o réu não tem interesse na colaboração premiada. Por que vai entregar crimes, devolver valores e se submeter a uma pena se pode escapar da Justiça? Por outro lado, quanto mais efetivo o direito e o processo penal, mais interessante fica a alternativa de defesa por meio da colaboração premiada. A colaboração é um instrumento que permite a expansão das investigações e tem sido o motor propulsor da Lava-Jato. O criminoso investigado por um crime “A” entrega os crimes B, C, D, E – um alfabeto inteiro ― porque o benefício é proporcional ao valor da colaboração. Mas ela é um ponto de partida ― e não de chegada ― da investigação, e acordos objetivam trocar um peixinho por um peixão ou um peixão por um cardume.

Observação: Em suma, a execução provisória é o que pode garantir um mínimo de efetividade da Justiça Penal contra corruptos, levando-os à prisão dentro de um prazo mais razoável, e é importante para que a Lava-Jato continue a se expandir, chegando a todo o espectro da corrupção. Assim, a escolha do novo ministro, a depender de sua posição nesse tema, continua a ter um imenso impacto, ainda que ele não se torne relator da Operação.

Moraes já deixou claro ser favorável à prisão depois da condenação em segunda instância, mas não cumpre a uma autoridade fazer esse tipo de patrulhamento (...) A peroração de Dallagnol transforma em agentes da impunidade os cinco ministros que defenderam que a prisão se efetive somente depois de esgotados os recursos — como está previsto na Constituição. Formaram a maioria em favor da possibilidade de prisão após a condenação em segunda instância Gilmar Mendes, Carmen Lúcia, Luiz Fux, Teori Zavascki, Roberto Barroso e Edison Fachin. Observem: a questão é mesmo controversa, não obedece nem mesmo a geografia ideológica ou teórica do Supremo (...) Digamos que esse tema volte e que a gente descubra que Moraes decidiu que a prisão só vale depois do último recurso. Isso evidenciaria uma conspiração? Moraes seria apenas um voto. E os outros cinco ministros que votaram contra, também estariam metidos na conspiração? (...)

Surge do MPF outra frente de fofoca contra o futuro ministro do Supremo: ele será o revisor do petrolão no plenário do tribunal e poderia tentar limpar a barra de Michel Temer ― ou dos respectivos presidentes da Câmara e do Senado, caso eles virem réus… Bem, um revisor, como o nome diz, revisa o processo e pode apresentar um voto alternativo. Mas, de novo, para que se provasse a conspiração, seria preciso contar com o concurso de mais cinco conspiradores. Isso que Dallagnol faz, à diferença do que sustentam seus fanáticos, é ruim para o país. Alimenta o clima de permanente desconfiança nos Poderes da República e nas instituições. Mais: o PT aplaude. Passa-se sempre a impressão de que ninguém presta.

Essa é a opinião de Reinaldo; o fato de eu publicá-la não significa (necessariamente) que concordo com ela. VEJA reuniu 10 controvérsias envolvendo Moraes (vale a pena conferir).

Em sua defesa, Moraes alegou ter renunciado a todos os processos em que advogava quando assumiu a Secretaria de Segurança Pública do governo Alckmin, e que nem ele, nem seus sócios, prestaram serviços à pessoas acusadas de fazerem parte do crime organizado, apenas à pessoa jurídica da cooperativa. No entanto, segue lutando contra a pecha de “advogado do PCC”. Outra crítica diz respeito à sua idade, já que terá muitos anos pela frente no STF, e que alguém mais velho poderia fazer mais sentido. Mas essa é uma crítica de menor importância, ainda que válida.

O que pegou mesmo foi o receio de que Moraes possa contribuir para colocar panos quentes da Lava-Jato. Ser o preferido de muitos senadores do PMDB acende a luz amarela. Merval Pereira, em sua coluna, falou do assunto com moderação, relembrando outros casos com viés político na escolha e defendendo a capacidade técnica do indicado. Sobre o receio de ser o revisor das decisões da Lava-Jato, o jornalista comenta: “Pela ordem prevista no Regimento Interno do STF, o revisor é sempre o primeiro a votar depois do relator, o que já causou muita tensão nas sessões do mensalão, por exemplo, quando o revisor de Joaquim Barbosa era o ministro Ricardo Lewandowski. O relator acusou por diversas vezes o revisor de tentar prolongar o julgamento se utilizando de suas prerrogativas.

Talvez esse seja o maior obstáculo político à indicação de Alexandre de Moraes ao STF, já que Temer pode ser um dos citados pelas delações da Lava-Jato. No entanto, é provável que o novo ministro não tenha de revisar nenhum processo contra ele, pois, pela tese que vigora, o presidente da República não pode ser investigado por fatos anteriores ao seu mandato (e muito menos processado). A PGR já se pronunciou a esse respeito em relação a Dilma, e mesmo que alguns ministros do Supremo, como o decano Celso de Mello, considerem que a lei não impede a investigação sobre o presidente, mas que ele seja processado, Janot não deve mudar de posição, e é a ele que compete pedir uma investigação do presidente. Se Moraes, caso venha a ser aprovado, vai agir com independência e imparcialidade, é algo que só o tempo dirá. Mas a escolha levanta suspeitas e incomoda pelo caráter político. Ao nomear para o Supremo um colaborador próximo, Temer sinaliza que priorizou interesses próprios em detrimento dos interesses da nação (aliás, esse sistema de indicação tem se mostrado viciado e precisa ser revisto, para não comprometer a credibilidade da instituição).

Alexandre de Moraes merece o benefício da dúvida, mas é imperativo ficarmos atentos a qualquer sinal de conivência com os acusados na Lava-Jato. O Brasil precisa de um STF independente.

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sábado, 11 de fevereiro de 2017

SOBRE A REELEIÇÃO DE RODRIGO MAIA E SMARTPHONE SER “TREM DO CAPETA”


A eleição de Eunício Oliveira para a presidência do Senado e a [reeleição] de Rodrigo Maia para a da Câmara deram a Temer uma base parlamentar forte e coesa. Com cerca de 400 deputados, o presidente da Banânia já não tem desculpa para não aprovar as reformas e deixar sua marca na história como “o cara que recolocou o Brasil nos trilhos do crescimento”, como afirmou mais de uma vez que gostaria de ser lembrado. No Senado, a situação é ainda melhor: Até o PT fez acordo para ficar na Mesa. Claro que, em alguns pontos, Temer terá de negociar, de abrir mão de alguma coisa, mas isso é regra do jogo no presidencialismo de coalizão.

A reeleição de Maia foi alvo de diversas ações na Justiça, pois o regimento interno proíbe reeleição na mesma legislatura, e como o mandato dos atuais deputados vai até 2018, Maia, em tese, só poderia voltar a ocupar a presidência a partir de 2019 (e ainda assim se conseguir se reeleger). Em sua defesa, o democrata diz que não estaria enquadrado na regra, no que foi respaldado pelo presidente da CCJ da Câmara, para quem “inexiste “vedação expressa” que impedisse sua candidatura, já que a situação “excepcional” de mandato-tampão não é prevista na Constituição. Os demais postulantes recorreram ao STF, mas o ministro Celso de Mello rejeitou os pedidos e liberou a candidatura de Rodrigo Maia ― embora a decisão seja meramente liminar; dependendo da decisão do plenário, a eleição, em tese, pode vir a ser anulada (isso se chama Brasil, minha gente).

Observação: Reportagem publicada pelo “Jornal Nacional” deu conta de que o MPF deve investigar Maia pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Uma investigação feita pela PF chegou à conclusão de que há “indícios fortes” de que o deputado prestou "favores políticos" e defendeu interesses da OAS no Congresso em 2013 e em 2014, e que, em troca da defesa dos interesses da empreiteira na Câmara, recebeu da OAS (empreiteira de Leo Pinheiro) doações eleitorais no valor de R$ 1 milhão. O dinheiro teria sido repassado oficialmente à campanha ao Senado de César Maia, pai do deputado, numa manobra para esconder a origem da propina. Agora fica fácil entender porque RM tentou aprovar a toque de caixa as medidas que punem procuradores e juízes por “abuso de poder”.

Por último, mas não menos importante: O deputado peemedebista mineiro Fábio Ramalho, eleito vice-presidente da Câmara, foi um dos primeiros a chegar à festa de comemoração, em um restaurante chique às margens do Lago Paranoá. O parlamentar, que usa dois celulares simplórios, sem conexão com a Internet, por entender que “smartphone é trem do capeta”, creditou sua vitória aos concorridos jantares que costuma oferecer toda quarta-feira a deputados do baixo e do alto clero. Fiel a seus hábitos, ele deixou cedo o restaurante, pois as panelas já estavam no fogo em seu apartamento funcional, onde, diferente do ambiente sofisticado da comemoração de Rodrigo Maia, sua “festa da vitória” se deu em mesinhas espalhadas pela sala, ao som da dupla sertaneja Jorge e Mateus, num vídeo exibido na TV. Em vez de camarões, filés e profiteroles com sorvete do cardápio da festa do Democratas, ele serviu feijão tropeiro, porco assado, linguiça de porco com pimenta e pé de moleque trazidos de Malacacheta. À curiosidade dos jornalistas sobre a fama de que seus jantares ofereciam bem mais do que leitão à pururuca, o político com jeitão mineiro do interior jurou que seus convidados são quase sempre homens. Como dizia o velho Jack Palance, “acredite se quiser”...

Observação: Para quem não se lembra, na legislatura anterior o vice era Waldir Maranhão ― aquele que assumiu interinamente a presidência com o afastamento de Eduardo Cunha e tentou anular a votação do impeachment da anta vermelha. Pelo jeito, a Câmara trocou um cachaceiro por um putanheiro.

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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

BRECHAS DE SEGURANÇA EM IMPRESSORAS PÕEM EM RISCO DADOS DOS USUÁRIOS

NO BRASIL AS COISAS ACONTECEM, MAS DEPOIS, COM UM SIMPLES DESMENTIDO, DEIXARAM DE ACONTECER.

Segundo o site de tecnologia GIZMODO, um grupo de pesquisadores da  Ruhr University Bochum descobriu diversas vulnerabilidades de segurança em pelo menos 20 modelos de impressoras de grandes marcas ― Dell, HP, Lexmark, Brother, Samsung são alguns dos fabricantes possuem de modelos afetados pela falha ―, e alertou que pelo menos uma dessas brechas permite o roubo de informações que deveriam somente ser impressas (para mais informações, siga este link ou acesse este blog; para visualizar a tabela com os modelos afetados, clique aqui).

Algumas impressoras podem ser bloqueadas por ataque DDoS (*) ou resetadas para os padrões de fábrica. Pior ainda, no entanto, é a possibilidade de capturar documentos enquanto eles são enviados para impressão. Na pior das hipóteses, os pesquisadores dizem que um hacker poderia utilizar a impressora como um ponto de entrada para puxar as credenciais da rede de uma organização e ganhar níveis ainda maiores de acesso à rede.

O time diz ter entrado em contato com todas as marcas afetadas em outubro, e a Dell foi a única a responder. O Gizmodo entrou em contato com as companhias que foram identificadas e apurou que tanto a Lexmark quanto a HP estão investigando o caso. O site promete divulgar novas informações tão logo recebam outras respostas.

(*) Ataques DDoS consistem no envio de milhares de requisições simultâneas para um mesmo endereço, visando causar instabilidades ou mesmo levar o site a parar de responder. Numa analogia elementar, seria como uma central PABX, que deixa de redirecionar as ligações para os ramais quando a demanda cresce a ponto de esgotar sua capacidade operacional.

ALEXANDRE DE MORAES NO STF?

Ao longo da semana passada, Temer recebeu dezenas de indicações para a vaga que a morte de Teori Zavascki abriu no STF. O candidato mais forte era Mauro Campell, ministro do STJ, por seu perfil discreto e por ter sido amigo de Teori. Até mesmo o juiz Sergio Moro chegou a ser cogitado, mas sua escolha traria prejuízos à Lava-Jato, pois, uma vez no Supremo, o magistrado estaria impedido de julgar, no grau recursal ou habeas corpus, os processos em que atuou atuado na 13ª Vara Federal de Curitiba (não sei se Temer levou em conta essa questão, mas para mim ― e para os demais brasileiros que pugnam pelo fim da corrupção e pela punição exemplar de corruptos e corruptores ― isso era uma fonte de preocupação). Enfim, quando o dublê de Kojak e Kinder Ovo estava praticamente descartado, seu nome voltou à baila e desde então, como não poderia deixar de ser, o caldeirão de especulações começou a ferver. Vejamos o que disseram a propósito algumas figurinhas carimbadas da República ― até porque não tenho mais paciência para o besteirol exacerbado dos fanáticos, extremistas e teóricos da conspiração.

O ministro do Marco Aurélio Mello disse ver a indicação com bons olhos, pois, além de atual ministro da Justiça, Moraes é professor, constitucionalista, foi secretário de Segurança Pública em Sampa, na gestão Kassab, e secretário de Justiça e Segurança Pública no governo Alckmin. Eu diria também que ele é filiado ao PSDB, que advogou para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que vazou informações sigilosas sobre as investigações da Lava-Jato e demonstrou total incompetência diante da crise no sistema carcerário. Isso sem mencionar que, em sua tese de doutoramento, sustentou que, na indicação ao cargo de ministro do Supremo, fossem vedados os que exercem cargos de confiança “durante o mandato do presidente da República em exercício”, para que evitar “demonstração de gratidão política”. Por esse critério, a meu ver, ele próprio deveria se dar por impedido e declinar da indicação. Mas não vai.

Para Claudio Lamachia presidente nacional da OAB ― “a sociedade brasileira espera que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, um advogado e reconhecido constitucionalista, uma vez tendo confirmada sua indicação pelo Senado, exerça sua missão no STF pautada pela necessária independência e de forma absolutamente técnica”. Cá entre nós, não seria de se esperar exatamente isso de qualquer indicado para assumir uma vaga no STF?

O fato é que, se o ora indicado à vaga de ministro do Supremo não estava à altura do Ministério da Justiça, tampouco estará para compor nossa mais alta Corte de Justiça. E isso pode se tornar um problemão: ministros de Estado são exonerados regularmente, mas ministros do Supremo, salvo raras exceções, permanecem no cago até a aposentadoria compulsória ― o que garante a Alexandre de Moraes nada menos que 26 como guardião da Constituição (que Deus nos ajude). Mas Temer e seus acólitos parecem pensar diferente, haja vista a pressa do Senado em aprovar sua indicação para o cargo. Dilma levou mais um ano para substituir Joaquim Barbosa e ninguém morreu por isso ― mas essa senhora nunca foi referência para coisa alguma, de modo que..., bom, deixa pra lá.

Importa mesmo dizer é que, se as questões da homologação da Delação do Fim do Mundo e da relatoria da Lava-Jato já foram resolvidas, não há motivo para nomear o novo ministro a toque de caixa. Mesmo assim, o recém-eleito presidente do Senado, Estrupício de Oliveira, sucessor de Renan Caralheiros, anunciou na última terça-feira que a sabatina na CCJ e a votação em plenário devem ocorrer antes do Carnaval. E se o PMDB tem pressa, mau sinal, porque o partido disputa com o PT, cabeça a cabeça, o título de agremiação política com maior número de corruptos.

Observação: Adivinha quem foi eleito na última quinta-feira, por aclamação, para presidir a CCJ do Senado pelos próximos 2 anos? Edison Lobão ― que, quando era ministro de Minas e Energia, teria recebido R$ 1 milhão do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, em troca de ingerência política em favor dos interesses do consórcio responsável pelas obras da usina nuclear Angra 3. O ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, outro delator da operação, disse que o senador “queria receber a maior propina mensal paga aos membros do PMDB”. Eis aí mais um dos “notáveis” de Michel Temer. É mole???

Deltan Dallagnol, coordenador da Lava-Jato, postou no Face que o novo ministro terá “forte impacto” no futuro da operação, sobretudo por poder inverter o placar da votação da questão relativa ao cumprimento de pena dos condenados em segunda instância ― tese avalizada pelo Plenário do Supremo no ano passado por 6 votos a 5, mas que, se mudar, pode prejudicar o trunfo representado pela delação premiada. Mais uma vez, “alea jacta est”.

E como hoje é sexta-feira:




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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A SEGURANÇA É UM HÁBITO E COMO TAL DEVE SER CULTIVADA

ANTES SÓ DO QUE MUITO ACOMPANHADO.

Há muito que navegar na Web passou de um bucólico passeio no parque a um safári selvagem, onde os perigos se escondem em cada sombra (quase como acontece nas esquinas das grandes cidades, notadamente depois que o governo perdeu o controle da segurança pública e abandonou a população à sua própria sorte, mas isso já é assunto para ser discutido na minha comunidade de política).

No ano passado, vazamentos de senhas afetaram milhões de internautas, e o pior é que muitos deles continuam relapsos, ignorando aplicativos antivírus, antispyware e de firewall e pouco se importando com as regrinhas básicas de segurança digital cuja adoção eu venho recomendando em muitas das quase 3.000 postagens que publiquei aqui no Blog ao longo dos últimos dez anos e lá vai fumaça.

Se você imagina que roubos de senhas e dados confidenciais acontecem apenas com quem visita sites suspeitos, está mais que na hora de rever seus conceitos: só no ano passado, milhões de usuários de serviços de webmail populares e de armazenamento de arquivos “na nuvem” foram alvo da bandidagem cibernética. 

O Yahoo!, que é um dos mais tradicionais serviços de email da Web, confirmou recentemente um dos maiores vazamentos da história da internet (emails, senhas, datas de nascimento e números de telefone foram surrupiados de pelo menos meio milhão de usuários). E o pior é que o incidente ocorreu em 2014, mas só veio a público no final do ano passado, quando a empresa reconheceu também que outro episódio semelhante, ocorrido em 2013, envolveu cerca de 1 bilhão de contas de usuários. O GMail ― popular provedor de correio eletrônico da gigante Google ― também foi alvo de ataques parecidos (consta que um cracker russo conseguiu acessar dados de, pasmem, 24 milhões de contas de email). Nem o Hotmail (da Microsoft) escapou, embora o número de usuários “hackeados” tenha sido bem menor.

Acha pouco? Então vamos lá: em maio do ano passado veio a público que um grupo de hackers do mal estava vendendo no mercado negro 117 milhões de senhas de contas de usuários do popular Linkedln (na época, a empresa não havia criptografado as senhas, o que contribuiu para o vazamento das informações). Meses mais tarde, foi a vez do Dropbox, onde o vazamento afetou 60 milhões de usuários.

Por essas e por outras, e considerando que não basta ter um antivírus para proteger os dados de , creepware e outros malwares, é fundamental manter os arquivos confidenciais criptografados, especialmente se você costuma armazená-los em drives virtuais (na nuvem). E para isso a suíte de segurança Steganos Online Shield é sopa no mel ― clique aqui para obter mais informações, testar o produto gratuitamente por 7 dias e adquirir uma licença válida por um ano (ao custo de R$ 99,00).
ransomware

Vale relembrar também que é igualmente importante utilizar senhas fortes, conforme eu já disse em diversas oportunidades. O problema é que senhas seguras são difíceis de memorizar, e a dificuldade aumenta à medida que cresce o número de serviços online que acessamos mediante logon (webmail, netbanking, e por aí afora). A boa notícia é que a Steganos oferece o Password Manager, um gerenciador de senhas muito legal, que armazena dados de logon de diferentes sites e inicia automaticamente as sessões, além de gerar senhas seguras e diferentes para cada conta, robustecendo ainda mais a proteção ― clique aqui para fazer uma avaliação gratuita por 30 dias e/ou obter uma licença válida por um ano (por R$79,90).

Volto a lembrar também que desde 1996 a Steganos oferece softwares para a segurança digital, que protegem os dados ― dentro e fora da internet ― com as melhores tecnologias de criptografia, e estão disponíveis em português, espanhol, alemão, inglês e francês. Para mais informações sobre a empresa e seus produtos, acesse www.segurisoft.com.br.

A MORTE, A DEMAGOGIA E LULA LÁ... (Continuação da postagem anterior)

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) descreveu de forma lapidar o comportamento do deus pai da Petelândia no velório da mulher: “Lula não tem limites em sua capacidade de ser indecoroso. Conseguiu ir além mais uma vez desse limite ao profanar a própria viuvez e ousar atribuí-la a terceiros. Se alguém pode ser responsabilizado pelo infortúnio de dona Marisa, é quem a envolveu nesse mar de delitos e que não soube (ou não quis) poupar a própria família. Ao tentar politizar – e terceirizar – um drama que ele e somente ele produziu, expõe-se ao vexame público. Fez com a família o que fez com a pátria, semeando desordem e infelicidade. E agora quer acusar a justiça, na tentativa de inverter os papéis. O réu é ele, não a justiça. Se não consegue respeitar o Brasil, deveria ao menos respeitar sua família”.

Na avaliação do economista e colunista Rodrigo Constantino, para ser apenas desprezível, Lula teria de melhorar muito. Sua moral é não ter moral alguma, usar qualquer coisa para se beneficiar pessoalmente, mesmo que pisando nos outros, ferrando com a vida de milhões, destruindo um país inteiro. Claro que um sujeito desses não encontraria nem mesmo na saúde da esposa um limite ético para o silêncio, para a reflexão, para a reclusão civilizada que separa o humano da política. A vida de Lula é o palanque, e o vitimismo é sua marca registrada. Quando “dona” Marisa teve um AVC e foi internada, algumas pessoas partiram para um ato deplorável: celebrar, festejar, torcer pelo pior. Tudo muito tosco. A vida de um ser humano deveria estar acima disso. Se ela é culpada, se é cúmplice do marido, o chefe de uma quadrilha, então que ela pague por isso (...) Mas vibrar com seu AVC é inadmissível, como é inaceitável fazer uso político do caso pelo outro lado.

Foi isso que o PT fez. Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, logo culpou a Lava Jato pelo ocorrido, por “perseguir” Lula e colocar sua família toda sob pressão. Era mera questão de tempo o próprio Lula subir no palanque ― mesmo que esse palanque fosse o esquife da companheira ― e bancar a vítima. Constantino deixa no ar a pergunta: Que tipo de pessoa faz uso político de uma grave condição de saúde da própria mulher? Que tipo indecente de gente tenta obter dividendos políticos com uma tragédia pessoal? Em vez de se dedicar à esposa de forma reclusa, num momento de privacidade que toda família tem direito, Lula escolhe a via da demagogia, do populismo, jogando para a plateia com o discurso de vítima, que culpa os guardiões das leis pelo AVC de Marisa. E conclui: Há um lugar no inferno reservado aos que celebram a morte de Marisa Silva. E há um lugar ainda mais profundo, bem no colo do Capeta, guardado para os que politizam sua morte. Mas não é porque petistas são baixos que seremos também. Uma coisa não justifica a outra. Sejamos decentes, por favor! 

Outro texto imperdível, de Gabriel Tebaldi, corre assim: “‘Nunca entre num lugar de onde tão poucos conseguiram sair’, alertou Adam Smith. ‘A consciência tranquila ri-se das mentiras da fama’, cravou o romano Ovídio. ‘Corrupção é o bom negócio para o qual não me chamaram’, ensinou o Barão de Itararé. Na contramão de todos, está alguém que abriu mão de si mesmo pelo poder. Lula construiu uma história de vida capaz de arrastar emoções e o levar à presidência. Agora, de modo desprezível, destrói-se por completo. Não é preciso resgatar o tríplex, o sítio ou os R$ 30 milhões em “palestras” para atestar sua derrocada; basta reparar na figura pitoresca em que ele se transformou. O operário milionário sempre esbanjou o apoio popular e tomou para si o mérito de salvar o país da miséria. Contudo, cedeu aos afetos das maiores empreiteiras, não viu mal em lotear a máquina pública e nem se constrangeu de liderar uma verdadeira organização criminosa. Sem hesitar, brincou com os sonhos do povo, fez de seu filho, ex-faxineiro de zoológico, um megaempresário, aceitou financiamentos regados a corrupção e mentiu, mentiu e mentiu. O resultado, enfim, chegou: ao abrir mão de si mesmo, Lula perdeu o povo. Pelas ruas, ele é motivo de indignação e fonte de piadas. Virou chacota, vergonha, deboche. Restou-lhe a militância do pão com mortadela e daqueles que veem a política com os olhos da fé messiânica. Seu escárnio da lei confirma sua queda. Lula ainda enxerga o Brasil como um rebanho de gado e não percebe que está só, cercado por advogados que postergam seu coma moral. Enquanto ofende o judiciário e todos aqueles que não beijam seus pés, trancafia-se na bolha de quem ainda acredita que meia dúzia de gritos e cuspes podem apagar os fatos. O chefe entrou num mundo sem saída, trocou sua consciência pelo poder e corrompeu-se até dissolver sua essência. Lula morreu faz tempo. Restou apenas uma carcaça podre que busca a vida eterna no inferno de si mesmo”.

Sobre como a perda da companheira de 43 anos impactará o molusco septuagenário e abjeto, o jornalista Ricardo Boechat pondera que ao peso do momento somam-se dissabores capazes não apenas de sepultar sonhos que Lula persegue desde a juventude metalúrgica, mas de leva-lo à prisão e de destruir sua biografia. A provação ainda inclui temores ― mais que justificáveis ― quanto ao destino dos filhos, ligadíssimos à mãe, dois dos quais também ameaçados por investigações com horizonte possível de prisão e perdas patrimoniais.

Amigos do ex-presidente se perguntam como e se ele resistirá, ou, mais precisamente, se terá ânimo para concorrer ao Planalto em 2018 ― isso se a Justiça permitir, claro, porque, nunca é demais lembrar, o petralha já é penta-réu. Ainda não foi condenado, é verdade, mas isso pode mudar em breve, pois o juiz Sergio Moro costuma levar 6 meses, em média, para sentenciar réus da Lava-Jato. Isso sem mencionar que outras ações criminais podem resultar das delações dos 77 da Odebrecht ― notadamente as de Emílio e do filho Marcelo ― e de prováveis novos acordos de colaboração, como o do casal de publicitários João Santana e Mônica Moura (recentemente condenados a 8 anos e 4 meses de prisão).

O conteúdo da delação de Marcelo Odebrecht ainda não foi divulgado. Espera-se que Rodrigo Janot peça ao ministro Fachin a suspensão do sigilo, mas isso pode levar algum tempo, pois as investigações estão apenas começando e o procurador-geral precisa saber quais são os pontos que precisam de sigilo (voltarei a esse assunto numa próxima postagem). No entanto, já se sabe que o príncipe das empreiteiras afirmou taxativamente que Lula recebeu propina em dinheiro vivo. O pai, Emílio, seria ainda mais próximo de Lula, mas detalhes sobre sua delação ainda não são conhecidos.

Observação: Embora uma coisa nada tenha a ver com a outra, Janot pediu a abertura de um inquérito para investigar a prática de obstrução às investigações da Lava-Jato pelo ex-presidente Sarney, pelos senadores Renan e Jucá e pelo ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado. O pedido será analisado pelo ministro Fachin e tem como base a delação de Machado, que gravou seis horas de ligações telefônicas com os peemedebistas. Nos diálogos, Sarney, Renan e Jucá fizeram comentários que demonstravam suas intenções de brecar as apurações da Lava-Jato e de encontrar alternativas para influenciar o então relator Teori Zavascki a “estancar essa sangria”.

Outro que pode complicar a vida do molusco é Ricardo Pessoa, dono da UTC, que afirma ter dado R$ 2,4 milhões para a campanha de Lula à reeleição em 2006. E Eike Batista, que teve relações promíscuas com o BNDES durante o governo do sapo barbudo. E Duda Mendonça, que recebeu nas Bahamas R$ 10 milhões referentes à campanha de Lula em 2002. Como se vê, o braseiro está cada vez mais quente e a batata do ex-presidente petralha não demora a assar.

Resumo da ópera: se Lula não vergar sob a carga que o destino lhe está impondo e jogar a toalha, se resolver tentar dar a volta por cima e retomar a pregação contra as elites e a favor dos pobres ― mantendo viva as esperanças da militância e arquitetando a vingança eleitoral contra os adversários de sempre e, com gosto especial, contra os muitos que o traíram e abandonaram, após incontáveis ceias do poder ―, ele ao menos terá um elemento emocional a mais para explorar, qual seja o fim de um casamento de 43 anos em que dividiu com a companheira pobreza, militância, perseguição política, derrotas, ascensão, glória e (o atual) ocaso. E sugerir que a “perseguição desumana” da Lava-Jato à mulher se encaixa como luva nesse figurino. Alguém duvida?

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O SISTEMA BINÁRIO E A ÁLGEBRA BOOLEANA

O ESPERANTO É A LÍNGUA UNIVERSAL QUE NÃO SE FALA EM LUGAR NENHUM.

Computadores só entendem linguagem de máquina: mesmo quando trabalhamos com textos, figuras, músicas, vídeos, animações e comandos operacionais, eles manipulam e processam os dados na forma de zeros e uns (para mais detalhes, clique aqui e aqui).

O sistema binário (que é a base para a Álgebra Booleana) opera com apenas dois algarismos (0 e 1), embora seja possível codificar qualquer valor decimal dividindo-o sucessivamente por dois, marcando zero quando o resultado for exato e um se sobrar resto e, ao final, lendo esses zeros e uns de trás para diante, como se vê na figura acima, onde o decimal 45 resulta no binário 101101 (para saber mais, clique aqui).

Observação: Se você tem interesse nesse tema, não deixe de ler os artigos sobre Lógica Digital e Álgebra Booleana de Benito Piropo – um dos mais respeitados colunistas de informática do Brasil –, começando por este aqui. Se não for a sua praia, as considerações a seguir e as informações adicionais para as quais remetem os links que eu incluí no texto são suficientes para dar uma ideia elementar.

A Lógica Digital se baseia em operações onde VERDADEIRO e FALSO são os únicos valores possíveis, de modo que, para tomar decisões, o computador simplesmente gera equações lógicas e as resolve com auxílio das operações NOT, AND, OR, NAND, NOR e XOR. Para facilitar a compreensão, vou simplificar um exemplo usado pelo Mestre Piropo, no artigo cuja leitura eu sugeri linhas atrás:

Imagine que você resolve ir à praia, mas somente no caso de não chover. Então, a decisão (ir à praia) depende da condição (estar chovendo), o que resulta na equação lógica (vou à praia) = [NOT (estar chovendo)], onde o valor da condição (estar chovendo) pode ser verdadeiro ou falso. Se não chover, teremos (Está chovendo) = (FALSO), portanto [NOT (está chovendo)] = [NOT (FALSO)] = VERDADEIRO, e o resultado será (vou à praia) = VERDADEIRO (decisões mais complexas dependem da combinação de valores de duas ou mais condições, mas isso já é outra conversa).

O ideal seria seguir discorrendo sobre transistores e a possibilidade de combiná-los para criar dispositivos capazes de emular operações lógicas e tomar decisões, mas isso exigiria detalhar alguns aspectos básicos de eletrônica digital, o que foge aos propósitos e possibilidades desta postagem.

Um bom dia a todos e até a próxima.

A MORTE, A DEMAGOGIA E O PROSELITISMO POLÍTICO

Durante o velório da esposa, no último sábado, Lula proferiu um discurso emocionado, regado a lágrimas. É compreensível. Mesmo que a ex-primeira-dama já tivesse soprado sua 66ª velinha, fosse hipertensa, portadora de um aneurisma, sedentária e fumante, sua morte foi inesperada. Mas o imprevisto costuma ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. E como a vida segue para quem fica, o show tem de continuar. Mais do que ninguém, o molusco abjeto sabe disso ― e se aproveita disso, como veremos mais adiante.

A imprensa concedeu ampla cobertura à desgraça que se abateu sobre o Clã Lula da Silva. Nas redes sociais, mensagens de solidariedade, pêsames e congêneres dividiram espaço com posts publicados por gente que não morre de amores por Lula, pelo PT ou por dona Marisa. Alguns resvalaram do mau gosto para o grotesco, o que é indesculpável, mas ainda assim compreensível.

Militantes de esquerda em geral e puxa-sacos em particular relembraram a infância pobre da falecida, que estudou somente até a 7ª série, começou a trabalhar aos 9 anos, enviuvou do primeiro marido aos 20, liderou a marcha pela libertação do segundo ― preso durante as greves do ABC no fim da década de 70 e começo da de 80 ―, costurou a primeira bandeira do PT, apoiou o comandante da ORCRIM nas campanhas; enfim, pintaram-na como uma Amélia melhorada, com a inteligência de Marie Curie, a abnegação de Madre Teresa, a têmpera de Margaret Thatcher e a fleuma de Hillary Clinton (no episódio Monica Lewinsky).

Curiosamente, porém, ninguém mencionou que essa “quintessência da virtude” deixou patente ― bem antes de o escândalo do mensalão vir à tona ― a notória incapacidade petista de separar o público do privado, mandando plantar no gramado do Alvorada um canteiro de flores vermelhas no formato da estrela símbolo do partido. Tampouco foi lembrado que ela ― muito convenientemente ― teria “fechado os olhos” (aqui metaforicamente) para o affair do marido com Rosemary Noronha (entendeu agora o que eu quis dizer com a “fleuma de Hillary”?).

Rose ― como a “segunda-dama” era chamada pelos puxa-sacos do sapo barbudo ― foi apresentada ao então líder sindical Lula pelo “cumpanhêro” José Dirceu. O “caso” teria começado na década de 90, mas só viria a público em 2012, quando a PF deflagrou a Operação Porto Seguro. Nesse entretempo, a moçoila acompanhou “O Chefe” ― ou “Deus”, como costumava se referir ao então presidente ― em pelo menos 32 viagens oficiais. Seu nome não constava do manifesto de voo e o casal não compartilhava a mesma suíte, naturalmente, mas ela ficava nos melhores hotéis, comia do bom e do melhor em restaurantes estrelados e, segundo Leo Pinheiro, recebia R$ 50 mil por mês da OAS (também a pedido do petista, o empreiteiro incluiu o marido da figura na folha de pagamento da empresa).

Quando a história ganhou notoriedade, o repórter Thiago Herdy e o jornal O Globo entraram na Justiça com um pedido de quebra do sigilo dos gastos de Rose no cartão corporativo da Presidência, mas o STJ empurrou a coisa com a barriga. Em 2014, quando o movimento “Volta, Lula” ganhou corpo, Dilma ― que “fez o diabo” para se reeleger ― ameaçou divulgar as despesas da concubina real, levando o petralha a recuar.

Observação: Segundo o jornalista Cláudio Humberto, do site Diário do Poder, os gastos com cartões corporativos no período de 2003 a 2015 somaram R$ 615 milhões (mais de R$ 51 milhões por ano), enquanto que, no último ano do governo FHC, a conta foi de “apenas” R$ 3 milhões. A farra chegou a tal ponto que um alto funcionário do Ministério das Comunicações chegou a pagar duas mesas de sinuca com o cartão corporativo, que também foi usado por seguranças da “primeira-família”, em SBC, para pagar equipamentos de musculação e materiais de construção para Lurian, filha de Lula.

Em setembro de 2013, o jornalista Augusto Nunes publicou em sua coluna: 

"Neste sábado, Lula completará 288 dias de silêncio sobre o escândalo que protagonizou ao lado de Rosemary Noronha. Ele parece ainda acreditar que o Brasil acabará esquecendo as bandalheiras que reduziram a esconderijo de quadrilheiros o escritório da Presidência da República em São Paulo. No mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, a edição de VEJA tratará de reiterar que a memória da imprensa independente não é tão leviana. As revelações contidas nas quatro páginas tornarão mais encorpada e mais cinzenta a pilha de perguntas em busca de resposta. Por exemplo: quem está bancando os honorários do oneroso exército de advogados incumbido de livrar de punições judiciais a vigarista de estimação do ex-presidente? Num depoimento à Polícia Federal, Rose não conseguiu explicar como comprou o muito que tem com o pouco que ganha. De onde vem o dinheiro consumido pela tropa de bacharéis que cobram em dólares americanos? Lula sabe”. Segue um excerto da matéria: A discrição nunca foi uma característica da personalidade de Rosemary Noronha. Quando servia ao ex-presidente em Brasília, ela era temida. Em nome da intimidade com o “chefe”, fazia valer suas vontades mesmo que isso significasse afrontar superiores ou humilhar subordinados. Nos eventos palacianos, a assessora dos cabelos vermelhos e dos vestidos e óculos sempre exuberantes colecionou tantos inimigos — a primeira-da­ma não a suportava — que acabou sendo transferida para São Paulo. Mas caiu para cima. Encarregada de comandar o gabinete de Lula de 2009 a 2012, Rose viveu dias de soberana e reinou até ser apanhada pela Polícia Federal ajudando uma quadrilha que vendia facilidades no governo. Ela usava a intimidade que tinha com Lula para abrir as portas de gabinetes restritos na Esplanada. Em troca, recebia pequenos agrados, inclusive em dinheiro. Foi demitida, banida do serviço público e indiciada por crimes de formação de quadrilha e corrupção. Um ano e meio após esse turbilhão de desgraças, no entanto, a fase ruim parece ter ficado no passado. Para que isso acontecesse, porém, Rosemary chegou ao extremo de ameaçar envolver o governo no escândalo."

Voltemos ao discurso emocionado de Lula no velório da esposa. Ao se referir à investigação contra eles no âmbito Lava-Jato, sua insolência disse que ambos foram vítimas de injustiça, que a esposa morreu “triste com a maldade que fizeram com ela”, e que espera que “os facínoras que fizeram isso com ela um dia peçam desculpas” e blá, blá, blá. Confira um trecho do comício:

Se alguém tem medo de ser preso, este que está aqui, enterrando sua mulher hoje, não tem. Não tenho que provar que sou inocente. Eles que precisam dizer que as mentiras que estão contando são verdadeiras. Marisa foi mãe, foi pai, foi tia, foi tudo; eu e ela nunca brigamos. Marisa nunca pediu um vestido, um anel. Eu vou continuar agradecendo à Marisa até o dia que eu não puder mais agradecer, o dia em que eu morrer. Espero encontrar com ela, com esse mesmo vestido que eu escolhi para colocar nela, vermelho, para mostrar que a gente não tinha medo de vermelho quando era vivo, e não tinha medo de vermelho quando morre”.

Tocante? Para os sentimentaloides, talvez; para mim, não. E, pelo visto, nem para o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado, para o economista e colunista Rodrigo Constantino, para a jornalista Joice Hasselmann ― que sintetizou de maneira irreprochável, neste vídeo de 6 minutos, o que eu penso da desfaçatez do viúvo que transformou esquife em palanque (e foi aplaudido pelos micos amestrados de costume) ― e tantos outros que leram nas entrelinhas a monstruosidade moral de um safardana nauseabundo, capaz de usar o AVC da mulher para fazer proselitismo político.

Não dá para ter dó de um desqualificado dessa catadura.

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