sábado, 5 de julho de 2025

SALVE-SE QUEM PUDER!

O ASNO SE CONHECE PELAS ORELHAS, E O TOLO, PELA LÍNGUA.

Sétimo filho de um casal de lavradores (sem contar outros quatro que não "vingaram"), Luiz Inácio da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945 num casebre depauperado do sítio Várzea Comprida, em Caetés (então município de Garanhuns - PE). A mãe, D. Lindu, não foi assistida por uma parteira (a comadre corpulenta caiu do jegue a caminho do sítio) nem pelo marido, Aristides, que havia "retirado" dois meses antes, deixando esposa grávida e levando a reboque uma prima adolescente de D. Lindu, que ele havia engravidado. 


Lula só conheceu o pai aos cinco anos, quando Aristides voltou de visita à terra natal e, no embalo, engravidou D. Lindu de uma menina — que seria registrada como Ruth porque o cartorário achou Sebastiana um nome muito feioAos sete anos, o projeto de petista foi mordido na barriga por uma jumenta, e só não morreu porque alguém enfiou uma peixeira no pescoço do animal (esse episódio consta do livro Lula, o Filho do Brasil, de Denise Paraná, que foi base da cinebiografia homônima).

 

Aristides era um homem rude e ignorante, que bebia muito e tratava melhor seus 20 cachorros do que a mulher, as amantes (ele teve várias) e os 25 filhos que espalhou pelo Brasil afora antes de morrer de cirrose e ser sepultado numa vala comum do cemitério da Consolação, sem túmulo, sem epitáfio e sem despedidas dos filhos e das viúvas. Por ser analfabeto, ele ditava para o primogênito — que morava com ele e a prima da mulher — cartas nas quais dizia que a vida em Vicente de Carvalho estava difícil e que D. Lindu deveria permanecer no Nordeste. Numa dessas cartas, no entanto, o menino incluiu um trecho dizendo que o pai queria que a mãe e os irmãos viessem morar com eles. 

 

Castigada pelo seca de 1952, D. Lindú vendeu o barraco e seus parcos pertences, reuniu a filharada, sacolejou 13 dias num caminhão "pau-de-arara", desembarcou no Brás (bairro da capital paulista) e seguiu de trem rumo à baixada santista, onde o marido morava com a concubina. O reencontro se deu na antevéspera do Natal, mas não foi nada caloroso. Aristides passou a dividir a semana entre as duas famílias, mas tratava D. Lindu e os filhos nas patas do coice. 


Depois de ser espancada com uma mangueira de jardim, ela subiu a serra (literalmente) e passou a morar nos fundos de um boteco na Vila Carioca (bairro da zona sul da capital paulista). Lula ainda morou algum tempo com o pai, mas se juntou à mãe na capital, onde trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico pelo Senai e conseguir emprego numa metalúrgica — onde perdeu o dedo mínimo da mão esquerda num acidente de trabalho até hoje mal explicado. 


Depois de seis meses desempregado, Lula foi contratado pela Villares. Instigado pelo irmão Frei Chico (que era ateu, comunista, e se chamava José Ferreira da Silva), iniciou sua trajetória sindicalista. Foi sob sua liderança que o ciclo de greves em prol da recomposição salarial dos metalúrgicos teve início. Em 1969, casou-se com Maria de Lourdes da Silva, que contraiu hepatite e foi submetida a uma cesariana de emergência da qual nem ela nem o bebê sobreviveram. Em 1974, ano em que casou com Marisa Letícia, Lula já era pai de Lurian, fruto de um caso com a enfermeira Míriam Cordeiro. Desse casamento nasceram Fábio Luiz, Sandro Luíz e Luiz Cláudio a mulher já tinha um filho do primeiro casamento, que Lula adotou formalmente). 


Como dirigente sindical, Lula participou de assembleias e reuniões em várias cidades — e até no Japão a convite da Toyota. Foi cassado em 1979, mas recuperou o cargo com o fim da greve. Em abril de 1980 — mesmo ano da fundação do PT —, passou 31 dias detido no DOPS por incitar greves, mas não foi torturado. A primeira bandeira do partido foi costurada por Marisa, que pouco apareceria nas campanhas eleitorais do marido até 2002. Ela morreu em 2017, vítima de um aneurisma cerebral, cinco meses antes de Moro sentenciar Lula no caso do triplex no Guarujá. 


Lula dizia ter ojeriza à política e aos políticos, mas deixou o chão de fábrica em 1972, ao se tornar dirigente sindical, e abandonou o batente de vez quando fundou o partido que "faria política sem roubar nem deixar roubar". Desde então, dedicou-se à "arte da política" e desfrutou dos confortos que o poder e o dinheiro podem proporcionar. Sempre cultivou a imagem de operário honesto e defensor da justiça social, mas trocou a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de cem dólares assim que encontrou quem pagasse a conta. Em conversa com o empreiteiro Emílio Odebrecht, o general Golbery do Couto e Silva (vulgo "Bruxo") teria dito que Lula posava de esquerdista, mas não passava de um bon vivant. 


Na primeira eleição presidencial direta desde 1960, o xamã petista foi derrotado por Collor. Em 1994 e 1998 Fernando Henrique foi eleito em primeiro turno. Em 2002, quando faltaram ao tucano de plumas vistosas novos coelhos para tirar da velha cartola, Lula finalmente conseguiu se eleger — e se reeleger em 2006, a despeito do escândalo do mensalão. Em janeiro de 2011, transferiu a faixa para seu "poste" e deixou o Palácio com o ego inflado e a popularidade nas alturas. Em 2012, a despeito de boa parte da alta cúpula petista ter ido parar na cadeia, o chefe sequer foi indiciado na ação penal 470

 

Observação: Durante um jantar regado a Romanée-Conti — vinho da Borgonha que custa US$ 25 mil a garrafa —, Lula tirou uma baforada da cigarrilha cubana (acesa pelo diligente vassalo Delúbio Soares) e se vangloriou: "Sem falsa modéstia, companheiros, eu elejo até um poste para governar o Brasil." E elegeu mesmo. Mas a criatura fez o diabo para se reeleger em 2014, e o criador, sem o manto da Presidência e escudo do foro privilegiado, foi condenado em 2017 e preso em 2018. 


Com a candidatura barrada pelo TSE e o "companheiro" Jaques Wagner declinando do o papel de fantoche, Lula escalou Fernando Haddad para representá-lo no pleito de 2018, mas o ex-prefeito paulistano perdeu para Bolsonaro no segundo turno por 55,13% a 44,87% dos votos válidos. E o resto é história recente: apesar da concorrência acirrada, Bolsonaro sagrou-se o pior mandatário desde Tomé de Souza. Ao longo de sua aziaga gestão, foi alvo de mais de 140 pedidos de impeachment (todos engavetados por Rodrigo Maia e Arthur Lira) e dezenas de denúncias por crimes comuns (que o antiprocurador-geral Augusto Aras matou no peito). 


Como que antevendo a necessidade de defenestrar Bolsonaro em 2022, o STF libertou o então presidiário mais famoso do Brasil — como um delegado que determina a soltura de um ladrão detido pela Guarda Civil Metropolitana sob o pretexto de que o flagrante caberia à PM — e anulou suas suas duas condenações (que somavam quase 25 anos de prisão e haviam transitado em julgado no STJ) e o reabilitou politicamente. De vota ao tabuleiro eleitoral, a "alma viva mais honesta do Brasil" derrotou o refugo da escória da humanidade, no segundo turno, por uma diferença de 1,8% dos votos válidos.


Como aspirante a golpista, Bolsonaro conseguiu ser pior do que foi como presidente. Embora continue sendo o maior exponente da direita radical, as manifestações em seu favor vêm encolhendo: a mais recente, em 28 de junho, reuniu 12,4 mil pessoas no pico do ato — contra 44,5 mil em abril e 185 mil em fevereiro. Mesmo estando inelegível até 2030 e na iminência de ser condenado pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e grave ameaça contra o patrimônio da União, e deterioração de patrimônio tombado, segue entoando a velha cantilena da perseguição política e posando de candidato ao Planalto, enquanto articula com a banda podre do Congresso uma improvável anistia.

 

Com o país polarizado (cerca de 80% dos eleitores divididos entre nhô-ruim e nhô-pior) e a popularidade do pseudo "Parteiro do Brasil Maravilha" em queda livre, o cenário eleitoral permanece uma incógnita. Pesa contra o macróbio a idade, a saúde precária e o desgaste com o eleitorado. Por outro lado, por ele nunca ter deixado crescer uma arvorezinha que pudesse fazer sombra em seu quintal, a esquerda carece de um "plano B". 


A situação do capetão-golpista é ainda pior: somam-se às pendências judiciais as sequelas da facada que levou em setembro de 2018, a crescente perda de apoio e o discurso de palanque cada vez menos convincente. Ainda assim, e a despeito das candidaturas alternativas à direita — como as de Ronaldo Caiado e Gusttavo Lima —, sua força gravitacional mantém os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Romeu Zema, de Minas Gerais, orbitando a seu redor.

 

Candidatos à reeleição têm a máquina pública e o erário a seu favor, e Lula vem gastando bilhões (dinheiro dos nossos impostos) em projetos assistencialistas para tentar se manter competitivo. Mas o clima com o Congresso azedou de vez — como demonstrou a derrubada do decreto que aumentava o IOF. Isso sem mencionar que o próximo presidente, seja ele quem for, terá de dar nó em pingo d'água para manter o país adimplente. Em entrevista à TV Bahia, ele disse que pretende conversar com Hugo Motta e Davi Alcolumbre para resgatar a "normalidade política nesse país", mas a governabilidade idealizada por ele não depende mais de acertos com os chefes da Câmara e do Senado, mas de acordos miúdos com cada um dos 513 deputados e dos 81 senadores, numa evidencia clara de que o presidencialismo de coalizão está agonizante — e o pior é que não há nada melhor à vista.

 

Nem à direita nem à esquerda tem interesse num embate cujo desfecho é imprevisível. Lula diz estar candidatíssimo, mas já não tem certeza se vale a pena tentar a reeleição, e Bolsonaro precisa decidir o que fará quando e se for condenado (o que deve acontecer entre setembro e outubro). Até o início de 2026, esquerda e direita devem seguir em ritmo de morde e assopra, com governo e oposição ensaiando ataques e recuso conforme a direção dos ventos. Nenhum dos lados está pronto para uma guerra em que um passo em falso pode dar vantagem ao adversário. 


A ressurreição do slogan "nós contra eles" representa uma guinada de Lula à esquerda, e pode afugentar os eleitores nem-nem (nem Lula nem Bolsonaro) que levaram o levaram ao Planalto pela terceira vez. Mas alguma coisa profundamente anormal precisa acontecer para salvar o país e o orçamento, e a única luz visível no horizonte é o reflexo da lua sobre o iceberg em direção ao qual o Titanic tupiniquim segue a toda velocidade. 


Salve-se quem puder. 

sexta-feira, 4 de julho de 2025

PALAVRAS E EXPRESSÕES QUE DEMANDAM ATENÇÃO — FINAL

DINHEIRO SÓ NÃO TRAZ FELICIDADE PARA QUEM NÃO SABE O QUE FAZER COM ELE.

 

Enquanto — Use somente enquanto (e não enquanto que).

 

Em que pese — Modernamente, essa locução dispensa a preposição a e o verbo concorda com o sujeito (em que pesem seus bons argumentos, mantenho meu ponto de vista). A regência clássica, com preposição e o verbo invariável, ainda é usada quando a expressão trata de pessoas (em que pese aos bolsonaristas, o "mito" não passa de um golpista). 

 

Estória — Por influência do inglês story, a palavra estória foi proposta para designar narrativa de ficção. Em 1943, a Academia Brasileira de Letras decidiu que história deve ser usada tanto para narrativas reais quanto fictícias.

 

Etc. — O termo etc. é a abreviação da locução latina et coetera, que significa e outras coisas. Recomenda-se que seja seguido de ponto e precedido por vírgula (militares, diplomatas, etc.), como fazem bons autores. No Português do Dia a Dia, do professor Sérgio Nogueira Duarte da Silva, consta que o uso da vírgula é facultativo, que não se deve usar o conectivo e antes, e que, caso o termo finalize uma frase, o ponto final não deve ser duplicado. Tampouco se usa etc. para pessoas (já foram presos Lula, Temer etc.) nem seguido de reticências.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Até onde minha memória alcança, o Brasil jamais teve um presidente que despertasse genuíno orgulho em seu povo, e tampouco teve um povo que não repetisse a cada eleição o que Pandora fez uma única vez. Mas a pior safra de mandatários veio com a redemocratização. Tanto é que foi preciso tirar Lula da prisão para impedir a mais que provável reeleição de Bolsonaro. Aliás, quem vota nesse tipo de gente não é vítima, é cúmplice. Mas isso é conversa para outro hora.

Missão dada, missão cumprida: o ex-presidiário "descondenado" venceu o pior mandatário desde Tomé de Souza por menos de 2% dos votos válidos, mas sua terceira gestão vai de mal a pior, como demonstram os índices de rejeição popular — os mais altos de toda a sua trajetória política. Só não se pode dizer que a emenda foi pior que o soneto porque, ao menos em tese, nada seria pior do que manter no poder o refugo da escória da humanidade. No entanto, como que se espelhando em seu antigo "poste" — que "fez o diabo" para se reeleger em 2014 —, Lula resolveu quebrar a economia em nome de um quarto mandato. 

Depois que o Congresso barrou o decreto presidencial que aumentava o IOF para bancar sua gastança populista e eleitoreira, o governo recorreu ao STF. “Se eu não for ao Judiciário, não governo mais”, vociferou o caga-raiva, acusando nas entrelinhas deputados e senadores de usurparem uma prerrogativa que caberia exclusivamente ao chefe do Executivo. 

Em tempos anteriores, Executivo e Legislativo divergiam. Agora, nem se falam mais. Lula acusa Hugo Motta de descumprir sua palavra — algo impensável e inaceitável em termos políticos, mesmo que o presidente da Câmara tenha levado ao plenário a questão do IOF e imposto ao governo uma derrota humilhante. Para piorar, ao contrário de Rodrigo Pacheco, que costumava servir de contrapeso às investidas de Arthur Lira contra o Planalto, Alcolumbre se associou a Motta para puxar o tapete de Lula a quatro mãos.

A verdade é que a normalidade nas relações entre Executivo e Legislativo deixou de existir há muito tempo. Hoje, dono de suas próprias emendas orçamentárias, cada deputado se sente livre para dar uma banana ao governo — e ao próprio partido: até os líderes de bancada têm dificuldades em falar por seus pares. É como se houvesse 513 partidos na Câmara e mais 81 no Senado. E, no meio desse caos, um presidente enfraquecido tenta governar com base no gogó, no improviso e em decisões judiciais sob medida, como aquela que o "descondenou" e reabilitou politicamente. E o povo que se exploda. Afinal, quem semeia ventos colhe tempestades.


Pronomes demonstrativos:

 

Aquele — Indica algo ou alguém afastado espacial e/ou temporalmente do falante e do ouvinte (aquele dia foi inesquecível), mas pode se usado para designar indivíduo cujo nome se ignora ou que não se possa ou deva nomear (aquele é um caso sério de político corrupto) e se referir a pessoa ou coisa genericamente mencionada (mulher boa é aquela que menos exige). Nos casos em que há dois antecedentes no discurso, refere-se ao primeiro — por oposição a este, que designa o mais próximo (pai e filho conhecem o seu ofício, aquele mais que este).

 

Esse — Designa pessoa ou coisa afastada do emissor da mensagem e próxima a seu receptor (essa cadeira está quebrada, sente-se na outra) ou algo ou alguém não diretamente ligado ou próximo, mas que o emissor pressupõe ser do conhecimento do receptor (esses políticos de hoje só sabem roubar). Pode também designar o que já foi antes mencionado (repouso e boa alimentação, esse é sempre um bom conselho), ser empregado junto a aposto de um termo já referido recentemente (Bolsonaro, esse grande golpista, vai acabar na cadeia), ou com referência a um tempo relativamente distante no passado ou no futuro, mas que foi referido anteriormente (passada essa hora de maior movimento, o trânsito fica uma beleza).

 

Este — Indica o que está próximo ao falante, no espaço, no tempo ou no discurso (este copo aqui é meu). Com substantivos que denotam tempo, indica o tempo presente ou o mais recente, se a frase é passada, ou o primeiro que virá, se a frase é futura (esta noite meus amigos virão à minha casa). Combinado com aquele ou esse, serve para fazer referência a duas pessoas ou coisas já mencionadas, indicando a última (Lula e Bolsonaro não devem disputar a próxima eleição, este por estar inelegível e aquele por estar muito velho).

 

Isso — Substitui o nome de algo que está afastado do falante e mais perto do ouvinte, ou de algo passado, mas relativamente recente, ou que foi mencionado antes (deixe-me ver isso que você tem nas mãos; isso foi ontem, hoje as coisas mudaram).

 

Isto — Indica algo que se acha mais perto de quem fala, ou, temporalmente, que é recente (tirem isto da minha frente!)

 

Face a — A expressão tradicional em português é em face de, mas não existe impedimento quanto ao uso da expressão em questão, já abonada pelos melhores dicionários e gramáticos.

 

Fazer as vezes de — Sem crase (embora fosse terceiro-secretário, fazia as vezes de chefe da missão).

 

Futuro do subjuntivo — Erros nesse tempo verbal são comuns, já que na maioria dos casos a conjugação é idêntica ao infinitivo (se eu quiser, se ela gostar, etc.). Mas há exceções (se o tempo se mantiver firme, e não se manter; se ninguém intervier, e não intervir, etc.) Via de regra, os infinitivos admitem tanto próclise quanto ênclise, mas o futuro do subjuntivo não é um infinitivo, de modo que são erradas construções como se ela não aceitá-lo (a única forma possível é se ela não o aceitar).

 

No caso dos verbos abundantes (como gastar, ganhar, aceitar, eleger, pagar, etc.), usa-se o particípio regular com os verbos ter e haver e o irregular com os verbos ser e estar (tinha ganhado, foi ganho; tinha aceitado, foi aceito, etc.) Alguns gramáticos sustentam que, com os verbos ter e haver, ambos os particípios são admissíveis. Note que isso não se aplica ao verbo chegar (jamais algo como ele tinha chego cedo).

 

Grosso modo — Significa aproximadamente, em geral, e deve ser grafado em itálico (por ser uma locução latina) e sem a preposição a. 

 

Há... atrás — Evite a redundância usando há dez anos ou dez anos atrás. A forma híbrida (há dez anos atrás) pode até ser admissível na linguagem oral, mas deve ser evitada na escrita formal. 

 

Informar — É possível informar alguém de algo ou informar algo a alguém (as mudanças foram informadas a todos; todos foram informados das mudanças).

 

Importa notar / importa assinalar — Expressões que, a exemplo de vale notarcumpre ressaltar, etc., nada acrescentam ao sentido do texto, razão pela qual devem ser evitadas.

 

Implicar — No sentido de acarretar, é transitivo direto (o combate à corrupção implica a adoção de medidas drásticas), mas a variante implicar em também ocorre, inclusive na norma culta.

 

Mais bem, mais mal — Antes de particípio, use as formas mais bem e mais mal (mais bem acabado, mais malsucedido, em vez de melhor acabado, pior sucedido.

 

Mandado / mandatoMandado é ordem (mandado de segurança) e mandato é poder (mandato parlamentar).

 

Nem — Conjunção aditiva que significa tampouco e dispensa a conjunção e (não houve danos estruturais nem estéticos). Note que ela pode preceder as locuções adverbiais nem mesmo, nem sequer e nem ao menos.

 

O fato de o, de a, de ele — O Acordo Ortográfico em vigor reafirma o preceito da gramática normativa que recomenda não ligar a preposição (por exemplo, “de”) a palavras que se lhe sigam quando antecedidas de verbo no infinitivo: "O fato de o país (e não "do país) ter crescido a taxas elevadas no período..."; "O fato de eles (e não "deles") ainda não terem respondido à consulta..."; etc.

 

Obedecer — Rege a preposição "a": Obedecer a alguém ou a alguma coisa (obedecer-lhe). "O parecer obedeceu à lógica"; todos lhe obedecem, etc. 

 

Outrossim – Advérbio em desuso, quando cabível, substitua por "do mesmo modo" ou "igualmente".

 

Parêntese — Usar nessa forma: um parêntese, os parênteses.

 

Pedir — A regência tradicional é pedir algo a alguém ("pediu ao assessor o relatório da reunião") ou pedir a alguém que faça alguma coisa ("pediu a todos que fizessem silêncio"). Portanto, evite usar a forma "pedir para".


Por conta de — Embora o uso dessa locução com o sentido de "por causa de" ser extremamente comum na fala e na escrita jornalística, ele ainda é considerado impróprio (ou pelo menos inadequado) do ponto de vista normativo. No entanto, essa prática está tão disseminada que muitos dicionários e manuais de estilo já admitem, embora com ressalvas em textos formais, acadêmicos ou jornalísticos de alto padrão. Portanto, para manter a elegância e a correção, prefira sempre por causa de ao indicar motivo e deixe por conta de para contextos financeiros ou de responsabilidade.

 

Precisar — É transitivo indireto: quem precisa, precisa de alguma coisa. Com verbos no infinitivo, a preposição pode ser dispensada: "precisamos agir com rapidez". 

 

Preferir — A regência culta tradicional admite apenas a preposição "a": "preferir uma coisa a outra". Vale o mesmo para o adjetivo preferível: "Isto é preferível àquilo."

 

Responder — Rege a preposição "a": "responder a uma mensagem" (e não "responder uma mensagem").

 

"Se" como indeterminador do sujeito  — Quando o pronome "se" é usado como indeterminador do sujeito, o verbo se mantém no singular: "Na Grécia antiga adorava-se a vários deuses"; “precisa-se de empregados"; "não se deu ouvidos às queixas". Apenas com verbos transitivos diretos é possível empregar o "se" como apassivador, o que permite conjugações como: "ouviram-se críticas", "nunca se viram tantos títulos"; "vendem-se casas", etc. Sem embargo, tanto as construções com "se" apassivador quanto aquelas com "se" indeterminador ("ouviu-se críticas" ou "ouviram-se críticas") têm emprego na norma culta.

 

Ter a ver / ter que ver – Ambas as expressões são corretas e podem ser usadas com o sentido de "ter relação com", "estar relacionado com", "dizer respeito a". Note que as expressões "nada há ver" e "nada haver" são inadmissíveis.

 

Ter de / ter que — Ambas as construções existem e são admitidas na norma culta; pode-se dizer indiferentemente "temos de enfrentar o problema" ou "temos que enfrentar o problema".

 

Tratar-se de — É sempre usado com sujeito indeterminado e, portanto, invariável: "Trata-se de opiniões, não de fatos". 

 

Todo, todo o – A diferenciação que se tentou criar entre as duas formas não existe na gramática tradicional nem tem respaldo na história ou nos usos da língua. Portanto, tanto faz usar "todo mundo" ou "todo o mundo", lembrando que no plural (como em "todas as pessoas") é preciso manter o artigo. 

 

Visar — É transitivo direto no sentido de validar, autenticar (um documento). Exemplo: "Visou o passaporte". Com o sentido de “objetivar”, é transitivo indireto e rege a preposição "a": "as providências visavam ao interesse dos alunos". Antes verbos no infinitivo, a preposição é dispensável ("visam reunir o maior número de assinaturas").

 

Vir a — A preposição usual é “a” (vir ao Brasil), embora, como com “chegar” e “ir”, também ocorra modernamente com a preposição “em” ("ele nunca tinha vindo aqui em casa"). Quando ao verbo "vir" se segue outro verbo, a preposição “a” é de rigor entre os dois verbos, com em "isso poderia vir a prejudicar as relações...", lembrando que em casos assim a locução "vir a" é dispensável ("isso poderia prejudicar..."). 

 

Zero — Use no singular, mesmo com o substantivo no plural ("zero graus", "zero chances", etc.) 

 

Fontes: Manual de redação oficial e diplomática do Itamaraty e Manual de comunicação da Secom do Senado Federal.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 34ª PARTE

SOMOS APENAS UMA ESTIRPE AVANÇADA DE MACACOS EM UM PLANETA MENOR DE UMA ESTRELA MUITO COMUM, MAS TEMOS NOCÃO DO UNIVERSO, MAS TER NOÇÃO DISSO NOS TORNA ESPECIAIS.

A ciência que estuda o tempo é chamada de cronologia em homenagem a Chronos — o deus do tempo da mitologia grega que devorava os próprios filhos —, mas ainda não se sabe se o tempo realmente existe ou se não passa de uma convenção criada para explicar fenômenos como o dia e a noite, as fases da Lua e as estações. 


Enquanto os físicos buscam decifrar esse mistério, escritores e roteiristas de ficção científica, inspirados no clássico A Máquina do Tempo, usam e abusam das viagens no tempo em produções como Interestelar, Feitiço do Tempo e De Volta para o Futuro, entre tantas outras.


Viajamos para o futuro desde o momento em que nascemos, e vislumbramos o passado quando observamos o céu noturno e vemos a luz que as estrelas emitiram há milhões ou bilhões de anos. Talvez não seja tão emocionante quanto o antigo seriado televisivo O Tunel de Tempo, mas é real. Como também é real a possibilidade de o tempo pode não ter uma direção preferencial no mundo microscópico — regido pela mecânica quântica — onde as partículas podem se mover livremente para frente ou para trás, como sustenta um estudo publicado na Scientific Reports por pesquisadores da Universidade de Surrey.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Desde 1889, quando o primeiro de muitos golpes de Estado substituiu a monarquia parlamentarista do Império pelo presidencialismo republicano — houve um breve período de parlamentarismo após a renúncia de Jânio, mas isso é outra conversa —, 37 brasileiros ocuparam a Presidência da República, e o mais próximo de um estadista que tivemos desde a redemocratização foi Fernando Henrique. No entanto, como bem observou Lord Acton, o poder corrompe. 

Picado pela mosca azul, FHC comprou a PEC da reeleição. E como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte, é burro ou não em arte, disputou e conquistou seu segundo mandato. No entanto, faltaram-lhe novos coelhos para tirar da velha cartola, e Lula derrotou José Serra em 2002, dado azo à tomada do poder pelos petralhas, que desgovernaram esta banânia até maio de 2016. 

Roberto Jefferson denunciou o mensalão petista em 2005, mas Lula não só foi reeleito no ano seguinte como elegeu um poste em 2010 — que deveria retribuir-lhe o favor em 2014, mas fez o diabo para se reeleger e acabou impichada. Em 2018, surfando no antipetismo, um mix de mau militar e parlamentar medíocre com vocação para golpista foi guindado ao Planalto. Em 2022, para livrar o país dessa excrescência, a minoria pensante do eleitorado se uniu à patuleia ignara para devolver a poltrona presidencial a Lula — que fora libertado da prisão, descondenado e reabilitado politicamente por togas companheiras. 

Hoje, a pouco mais de um ano das eleições, o xamã petista amarga índices de rejeição jamais registrados momento algum de sua trajetória política. Ao recorrer ao STF contra a derrubada do reajuste do IOF no Congresso, ele sinaliza aos rivais que não se deixará fritar. Mas a revogação do aumento do imposto — com votos de partidos que controlam ministérios — deixou-o bem passado, e a adição de fermento na articulação pró-Tarcísio inflou um bololô que reúne a direita patrimonialista e as viúvas de Bolsonaro. 

Com a impopularidade a pino, o macróbio vermelho faz uma guinada à esquerda e requenta o velho ramerrão do “nós contra eles”. “Acabará governando contra todos”, ironizou o presidente da Câmara durante um jantar na casa de João Doria, com mais de cinquenta empresários. 

No gogó, o ministro da Fazenda diz apostar num entendimento com o Congresso para aprovar medidas que ajudem a fechar as contas de 2025 e 2026. Na real, o que há na praça é uma campanha eleitoral prematura, não um ajuste fiscal tardio — e a única certeza disponível é que o próximo presidente, seja ele quem for, terá de gerenciar um orçamento federal inviável. 

A dúvida é se o apagão orçamentário virá antes ou depois da posse. Façam suas apostas.

 

O conceito de seta do tempo foi baseado na 2ª Lei da Termodinâmica, mais exatamente na entropia (desordem), que, num sistema fechado, sempre tende a aumentar. Mas as equações de campo de Einstein demonstraram que o tempo passa mais devagar para quem se move do que para quem está parado (princípio da dilatação temporal). Na visão do físico alemão, a distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma ilusão teimosamente persistente, e viajar para o futuro é viável, ainda que voltar ao passado seja extremamente improvável. No entanto, essa possibilidade ganhou força com o avanço das pesquisas e experimentos no âmbito da mecânica quântica.

 

Diversas leis da física precisariam ser violadas para uma viagem ao passado se concretizar, mas um pesquisador da Universidade de Queensland, na Austrália, sustenta que o espaço-tempo poderia se adaptar para evitar paradoxos, e que loops temporais podem existir juntamente com o livre-arbítrio e os princípios da física clássica. Assim, mesmo que voltar ao passado implique mudar o futuro, a liberdade de ação impede o surgimento de paradoxos. No entanto, o fato de as equações mostrarem que sistemas quânticos abertos não privilegiam o passado ou o futuro não significa que estamos em via de viajar no tempo como nos filmes de ficção científica

 

Resumo da ópera: a irreversibilidade da passagem do tempo fica evidente quando um copo cai e se espatifa — já que os cacos não se rejuntam espontaneamente —, mas alguns fenômenos parecem não distinguir claramente uma direção nesse fluxo temporal. Se no mundo quântico o tempo pode realmente fluir em ambas as direções sem violar a relatividade, talvez ele não seja uma linha reta, mas um labirinto de possibilidades onde cada descoberta acrescenta novas bifurcações e atalhos. 


Não faltam exemplos de cientistas que foram ridicularizados por suas ideias heterodoxas — como Copérnico, que desafiou o geocentrismo, Lister, que revolucionou a medicina com a desinfecção, e Wegener, que propôs a teoria da deriva continental — até que o tempo provasse que eles estavam certos. Einstein previu em 1915 a existência de objetos celestes com gravidade tão intensa que nem a luz poderia escapar (o termo "buraco negro" só seria cunhado 52 anos depois), e morreu achando que tudo não passava de teoria, já que foi somente em 2019 que o Event Horizon Telescope fotografou o M87*, a 55 milhões de anos-luz da Terra.

 

Continua...