quinta-feira, 21 de novembro de 2024

BANDIDO BOM É BANDIDO SOLTO

QUANDO VOCÊ ESTÁ NUM POÇO E O DESTINO LHE DÁ UMA CORDA, CABE A VOCÊ USÁ-LA PARA SUBIR OU PARA SE ENFORCAR.

Há tempos que o Brasil é governado como uma usina de processamento de esgoto, onde a merda entra por um lado (pela porta das urnas), ganha nova embalagem e sai pelo outro lado (na posse do novo governante). O resultado é um círculo vicioso, no qual os políticos, endeusados por uma choldra tacanha, elegem-se para roubar, roubam para se reeleger e criam leis em benefício próprio, em detrimento dos interesses da população. 
 
Assistir aos telejornais tornou-se uma provação. Quando não é o PCC executando delatores sob o nariz da polícia, é Haddad exaltando o óbvio na tentativa de convencer o PT e o próprio Lula de que é preciso cortar despesas para manter o déficit fiscal sob controle. E antes mesmo de decidir onde cortar — Saúde, Educação, Segurança Pública ou Previdência Social —, Lula nos enfia goela abaixo um novo Aerolula orçado em US$ 250 milhões.

ObservaçãoO inquérito sobre a trama golpista mudou de patamar na última terça-feira, quando veio à público que um grupo de oficiais da tropa de elite do Exército urdiu um plano que envolvia o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes. A questão agora não é mais se Bolsonaro e seus cúmplices serão condenados à prisão, mas quando as sentenças serão proferidas. Em que pesem as bobagens verbalizadas pelo filho do pai, o artigo 359-M do Código Penal anota que é crime "tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído". Relator do inquérito, Xandão avalia que a materialidade da tentativa de golpe está comprovada. A PF deve encaminhar ao Supremo ainda nesta semana o relatório que antecede os indiciamentos. Juridicamente, o destino dos golpistas logo estará nas mãos do procurador-geral Paulo Gonet. Politicamente, os aliados de Bolsonaro foram presenteados com um pretexto para organizar uma chapa à sucessão de 2026 sem o capetão. Até aqui, a pose de vítima do ex-presidente golpista era uma caricatura; a partir de agora, a ideia de articular algo que se pareça com a reabilitação política de um "mito" de pés de barro torna-se um escárnio.  
 
De um lado da Praça dos Três Poderes, nossos congressistas mantêm um olho no peixe (as presidências da Câmara e do Senado), outro no gato (as "emendas Pix") e os ambos na proposta que simplifica o impeachment de ministros do STF. Do outro lado da praça, semideuses togados empurram para as calendas a prisão de Collor e adiam as férias compulsórias de
 Bolsonaro e seus asseclas na Papuda ou no raio que os parta.

Collor, para quem não lembra, derrotou Lula em 1989 e se tornou primeiro presidente eleito pelo voto popular na “Nova República” e o primeiro a sofrer impeachment. Depois de recuperar seus direitos políticos, o sacripanta disputou (e perdeu) o governo de Alagoas, foi eleito senador, tentou o governo do estado e perdeu outra vez, renovou o mandato de senador em 2014 e foi denunciado pela saudosa Lava-Jato, no ano seguinte, de desviar R$ 20 milhões da BR Distribuidora.
 
Passados nove anos, o "Rei-Sol" continua livre, leve e solto, embora tenha sido condenado pelo STF a 8 anos de 10 meses de prisão. Os embargos de declaração (recurso que se destina apenas a esclarecer pontos contraditórios, omissos ou obscuros da sentença) começaram ser apreciados no escurinho do plenário virtual em fevereiro. Depois que Moraes votou pela rejeição, Toffoli vestiu a fantasia de paladino e emperrou o julgamento com um pedido de vista tão escancaradamente protelatório quanto os próprios embargos, já que a defesa pedia simplesmente a redução da pena.
 
Devolvidos os autos e reiniciado o julgamento, um pedido de destaque apresentado pelo ministro bolsonarista André Mendonça (que seguiu o voto de Dias Toffoli pela redução da pena) levou o caso ao plenário físico, onde o recurso foi rejeitado por 6 votos a 4 (o ministro lulista Cristiano Zanin se escusou de votar). Significa dizer que 40% das togas (Toffoli, Mendonça, Mendes e Marques) votaram a favor de cortar a pena pela metade, e como o réu não amargou condenações anteriores e tem mais de 70 anos, o castigo poderia ser convertido de cana dura em prestação de serviços à comunidade. Um acinte!
 
A defesa de Collor ainda pode apresentar novos embargos de declaração. Tecnicamente, isso faz parte do devido processo legal; na prática, olhando esse imbróglio a partir de uma mesa de bar, o cidadão comum pode chegar à conclusão de que, no Brasil, acima de um certo nível de poder e renda, bandido bom é bandido solto.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

CIÊNCIA X RELIGIÃO... (FINAL)

SEM O MEDO DO DIABO NÃO EXISTE NECESSIDADE DE DEUS.
 
A morte é a única certeza que temos na vida, mas o que acontece depois — isso se houver um "depois" — intriga a humanidade desde os tempos mais antigos. 

Os católicos não creem em reencarnação; os "bons" vão para o céu e os "pecadores", para o inferno (não deixe de ler esta anedota). Já os espíritas acreditam que os "maus" reencarnam para evoluir espiritualmente, e os judeus... enfim, cada grupo tem sua própria interpretação do que seria a vida após a morte, e o desfile de crenças é tão variado quanto o das escolas de samba na Sapucaí.

A perspectiva da vida eterna sempre foi e continuará sendo explorada por proselitistas que alegam falar em nome de um Deus cuja existência jamais se provou. E, claro, soam convincentes: afinal, o sucesso do engodo depende da habilidade do enganador em manipular a fé alheia. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Em determinas situações, um palavrão bem dito torna-se bendito, pois produz um alívio que nem a melhor prece é capaz de prover. Mas um palavrão teatral, solto no meio do nada — como o "foda-se" que a primeira-dama dirigiu a Elon Musk —, serve apenas para realçar a teatralidade de alguém que ambiciona ser o centro das atenções. 
Rosângela da Silva demonstra não ter desencarnado do papel de militante de esquerda do qual precisaria se desvincular antes de criar um problema mais sério para o governo e ao país. O episódio da dancinha ao desembarcar na Índia enquanto as enchentes assolavam o Rio Grande do Sul já havia sido constrangedor e aproveitado pela oposição o suficiente para que ela se desse conta da necessidade de se adaptar à posição assumida lá se vão quase dois anos.
O multibilionário, aninhado ao pé do ouvido de Donald Trump, gargalhou para a boquirrota num par de emojis e rogou uma praga: "Vão perder a próxima eleição." Lula preferiu ficar mal no Alvorada a ficar pior na Casa Branca, e tentou atenuar o prejuízo do Itamaraty, que molha os punhos de renda para exorcizar o personalismo que vem afastando a diplomacia dos trilhos do interesse nacional. 
Algumas primeiras-damas preferiam a discrição. Outras amavam os holofotes. Todas devem obedecer a algumas normas e ter alguma noção sobre a liturgia do poder, e nenhuma havia dito um palavrão em cerimônia oficial. Até agora. Alguém deveria lembrar Janja da liturgia que rege o papel de rainha-consorte desta banânia.

 

A origem do termo "conto do vigário" ilustra essa prática. Uma das versões mais conhecidas remonta a Ouro Preto, onde um pároco propôs amarrar uma imagem de Nossa Senhora a um burro, sugerindo que o animal decidisse para qual paróquia a santa deveria ir. O burro foi direto para a igreja de Pilar, que ficou com a imagem até que se descobriu que o dono do burro era o próprio pároco que havia dado a sugestão.


Embora política e religião não sejam mutuamente excludentes, a influência da religião na política cria uma via de mão dupla que fomenta a instrumentalização recíproca. Reivindicando uma suposta interlocução divina, padres, pastores e assemelhados (dentro ou foram dos parlamentos) exercem forte influência sobre a população, que, fragilizado pelo temor do fogo do inferno, se deixa manipular pela verborragia desses mestres do proselitismo. O truque é velho como o diabo, mas funciona, pois oferece conforto diante das incertezas do porvir.

 

Em contraste, a fé individual não depende de rituais, hierarquias ou dogmas. Ela surge espontaneamente, movida por experiências profundas e pessoais — como um momento inesperado de conexão com a existência — e se desenvolve sem a necessidade de intermediários ou tradições rígidas. Em tempos de desconfiança nas instituições, muitos encontram na espiritualidade independente uma forma de se conectar com uma força maior. Para alguns, a fé é uma confiança silenciosa em algo transcendente; para outros, uma aceitação do mistério sem precisar de "explicações definitivas".

 

Nesse sentido, ciência e filosofia têm colaborado para uma nova visão: a complexidade do universo pode ser contemplada e apreciada mesmo sem uma explicação finalista. Ao afirmar que somos "poeira das estrelas", o físico Carl Sagan não só descreveu uma conexão física entre nós e o cosmos como abriu uma janela para que muitos vejam no vasto universo um sentido de "sagrado", ainda que sem figura divina.

 

Curiosamente, a ciência não invalida a fé; ao contrário, ela a expande. A fé moderna é, muitas vezes, uma admiração pelo universo, uma disposição para o questionamento e uma abertura ao desconhecido. Essa perspectiva vê na dúvida e na busca por novas respostas uma maneira de honrar o mistério da existência. Grandes pensadores, como Einstein e Spinoza, viam no universo uma ordem tão majestosa que, mesmo sem acreditar em um "Deus pessoal", sentiam-se conectados a uma força criadora, e consideravam a busca pelo conhecimento como um ato quase espiritual. Einstein chegou a dizer que o mistério é a fonte de toda verdadeira arte e ciência.

 

A busca pelo autoconhecimento — que algumas correntes psicológicas e filosóficas incentivam — mostra que a espiritualidade livre pode ser um caminho para nos conectarmos com nós mesmos e com o mundo, sem a necessidade de um conjunto de crenças formais. A fé, nesse contexto, se torna uma prática interior, uma jornada de descoberta pessoal que aceita as incertezas da existência.

 

Diferente de muitas religiões tradicionais, que impõem normas e rituais rígidos, a espiritualidade pessoal se ajusta aos valores e necessidades de cada um. Meditação, contemplação da natureza ou mesmo o simples exercício de gratidão são maneiras de alinhar a vida com uma ordem maior. Essa é uma fé que é, ao mesmo tempo, íntima e universal, uma prática de fé que respeita o mistério.

 

Vale destacar que essa fé, que não se prende a religiões formais, não rejeita as tradições; em vez disso, reflete uma busca por autenticidade espiritual. É uma fé que aceita respostas parciais, valoriza o caminho e celebra o mistério. Para muitos, é um retorno ao sentido mais original da espiritualidade: uma ligação com o que nos transcende sem precisar de explicações definitivas, e uma confiança de que, mesmo sem respostas absolutas, nossa existência carrega propósito — ainda que esse propósito seja simplesmente a busca por entender o insondável.


Quod erat demonstrandum.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

META AI — A POLÊMICA

QUEM TEM MEDO DE CAGAR NÃO COME, TOMA SOPA.

A inclusão da Meta AI no WhatsApp, Facebook e Instagram vem preocupando os usuários. 
A empresa reconhece que utiliza os dados para aprimorar sua inteligência artificial, mas garante a conformidade com a LGPD e reforça que o WhatsApp conta com criptografia de ponta a ponta em todas as formas de comunicação.

Em tese, o treinamento se restringe ao uso das informações fornecidas durante as interações com a ferramenta, que, segundo a big tech, não vincula os dados pessoais da conta do WhatsApp aos dados do usuário no Facebook e no Instagram. 

A impossibilidade de remover a IA do WhatsApp não fere a LGPD se a coleta de dados é feita com o consentimento dos usuários, mas quem quiser pode se opor expressamente ao uso dos seus dados preenchendo formulários específicos para o Face e para o Insta (no mensageiro, a solicitação é validada mediante a confirmação de um número de telefone vinculado à conta).

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

O terrorista de festim que detonou o próprio carro num estacionamento da Câmara e se explodiu na frente do STF provocou um inusitado debate entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes. Numa postagem de ex-Bolsonaro, o ex-presidente anotou: "Apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional." Escorando-se no inquérito que apura os crimes do alto-comando da trama golpista, Xandão rebateu: "Não há possibilidade de pacificação com anistia dos criminosos." 
Na visão de Bolsonaro, o que houve foi "um fato isolado provocado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo". Na avaliação do ministro, "a coisa está conectada com o quebra-quebra do 8 de janeiro num contexto que se iniciou lá atrás, no famoso gabinete do ódio". 
Para o capetão, "já passou da hora de o Brasil voltar a cultivar um ambiente adequado para que as diferentes ideias possam se confrontar pacificamente, e que a força dos argumentos valha mais do que o argumento da força." Para o togado da calva luzidia, a força do direito deve prevalecer sobre o direito da força, e "está chegando a hora da responsabilização total de todos aqueles que atentaram contra a democracia". 
O duelo antecipa as duas consequências práticas das explosões que estremeceram a conjuntura política na noite de quarta-feira: 1) A proposta de anistia dos condenados do 8 de janeiro descerá à sepultura junto com o homem-bomba; 2) Bolsonaro e seus cúmplices ficaram mais próximos de um encontro com incontornáveis sentenças condenatórias.
 
Não há como desativar a ferramenta no WhatsApp nem fazer o downgrade de versão sem baixar um APK de terceiros (o que não é recomendável, pois os APKs copiam o código-fonte do WhatsApp e exigem que o usuário forneça seus dados de login para entrar na plataforma). Enquanto o recurso que permite ocultar botão — que já está disponível nos EUA — não chega ao Brasil, quem quiser evitar que bot fique visível na página inicial do aplicativo deve manter a conversa pressionada e tocar no ícone da lixeira, ou então segurar aba até que a seta para baixo surja, permitindo enviar a conversa para a pasta Arquivadas.
 
Não existe almoço grátis — quando você não paga por um produto, é porque o produto é o você — mas ninguém é obrigado a usar o Facebook, o Instagram, o WhatsApp ou o Xwitter do Mr. Musk (detalhes nesta postagem). 

Por falar no X, uma gambiarra para "desligar" a Meta AI no Zap viralizou na plataforma. O truque consiste basicamente em pedir ao bot que ignore as mensagens do usuário e finja que ele não existe.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

CIÊNCIA X RELIGIÃO (PARTE III)

HÁ UMA DIFERENÇA FUNDAMENTAL ENTRE A RELIGIÃO, QUE SE BASEIA NA AUTORIDADE, E A CIÊNCIA, QUE SE BASEIA NA OBSERVAÇÃO E NA RAZÃO: A CIÊNCIA FUNCIONA.

Depois de perder a esposa e o filho pequeno num acidente causado por um motorista embriagado, um pastor subiu ao púlpito e proferiu o sermão que lhe custou o emprego. Segue uma versão resumida da fala do religioso:

"Em junho do ano passado, três pequenos tornados atingiram a cidade de May, no Oklahoma. Os danos materiais foram consideráveis, mas ninguém morreu. Os moradores, agradecidos, reuniram-se na igreja batista local para orar e cantar. E então um quarto tornado varreu a cidade, destruindo a igreja e matando 41 pessoas, incluindo crianças, e mutilando outras 30."

"Em agosto", prosseguiu o clérigo, "um homem saiu de barco com seus dois filhos e o cachorro da família pelo lago Winnipesaukee. Quando o animal caiu na água, os meninos pularam para salvá-lo. Vendo os filhos serem arrastados pela correnteza, o pai também pulou, mas acabou virando o barco. Os três se afogaram. O cachorro conseguiu nadar até a margem."

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Submetido à evidência de que Bolsonaro normalizara o golpismo, Lula fez dois gols, ambos contra. Num, ele potencializou a polarização. No outro, esquecendo que a vitória de 2022 veio por pequena margem (1,8%), desperdiçou a chance de ampliar sua base de apoio e, de quebra perdeu cedo demais as pessoas que haviam se juntado ao petismo apenas para salvar a democracia. 
A lufada de centro-direita da eleição municipal e a vitória de Trump mostraram à esquerda que não basta defender a democracia, é preciso dar ao regime uma noção qualquer de serventia prática. Lula costuma dizer que sua prioridade é colocar o pobre no orçamento, mas o grande desafio do atual governo — e de todos os que o antecederam desde a chegada das caravelas  é tirar o rico do orçamento. 
Sob o petista, fica a impressão de que a equipe econômica erra o alvo ao apontar a tesoura para o salário mínimo, a pensão dos velhinhos do BPC, as rubricas da saúde e da educação, e por aí afora. Na verdade, falta ao governo disposição e apoio político para transferir os marajás do orçamento para o imposto de renda.
Se não quiser recuar ao tempo de líder sindical, Lula pode buscar inspiração em Woody Allen: "A realidade é chata, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom filé." 

"Em outubro" prosseguiu o clérigo, "um furacão devastou Wilmington, na Carolina do Norte. Dez pessoas morreram, incluindo seis crianças que estavam na creche de uma igreja. O corpo de uma sétima criança foi encontrado dias depois, no alto de uma árvore. Anos antes, no Zaire, uma família de missionários que levava alimentos, remédios e o evangelho foi brutalmente assassinada — ou devorada por canibais, como sugeria a reportagem nas entrelinhas."

"Cristo, dizem, ascendeu aos céus em corpo e espírito. Nós, pobres mortais, ficamos aqui com pedaços de carne mutilada e uma única pergunta: 'Por quê?' Leio a Bíblia desde sempre — primeiro no colo de minha mãe, depois na Juventude Metodista e, mais tarde, na Faculdade de Teologia — e afirmo a vocês que a resposta não está nas Escrituras. O que mais se aproxima dela está em Coríntios, numa advertência de São Paulo: 'Não perguntem, irmãos, porque vocês não entenderão'. E quando Jó questionou o próprio Deus, recebeu uma resposta ainda mais dura: 'Onde estavas tu quando eu fundava a Terra?' — o equivalente a um 'Cai fora, seu trouxa!'"

"A religião deveria ser nosso conforto nas horas mais sombrias. 'Deus é nossa vara e nosso cajado', proclama o grande salmo, 'e nos guiará no Vale da Sombra da Morte'. Outro salmo O descreve como 'refúgio e fortaleza'. Mas o que diriam as pessoas que morreram na igreja de Oklahoma? E aquela família que se afogou tentando salvar seu cachorro?" A Bíblia nos exorta a aceitar tudo com fé, como se a vida fosse uma piada cósmica e o Céu, o lugar onde a moral da história será finalmente revelada."

"Quando pesquisei sobre as várias vertentes religiosas", prosseguiu o pastor, "fiquei perplexo com a quantidade. Católicos, metodistas, episcopalianos, mórmons, anglicanos, luteranos, presbiterianos, adventistas do sétimo dia, ortodoxos gregos, quacres… e isso sem contar muçulmanos, budistas, judeus, hindus… Cada religião alega ter linha direta com o Todo-Poderoso, mas muitas foram construídas sobre sangue e ossos dos que se recusaram a aceitar a ideia de Deus que elas pregam. Os romanos atiraram cristãos aos leões; cristãos mutilaram e queimaram hereges, Hitler sacrificou milhões de judeus ao falso deus da pureza racial; outros milhões de viventes foram eletrocutados, enforcados, esquartejados e envenenados — tudo em nome de um deus."

"O que ganhamos com nossa fé? A promessa de que o Céu nos espera e que lá, finalmente, tudo fará sentido? Desde a infância, nos ensinam sobre o Céu como recompensa e o inferno como castigo. 'Céu, Céu, Céu!', repetem. Prometem o reencontro com nossos pais, o abraço de nossas mães falecidas. O paraíso é a cenoura; o inferno, a vara. Ameaçamos nossas crianças com o fogo eterno por roubarem uma bala ou mentirem, mas não há prova alguma – nem uma sombra de evidência. Apenas uma certeza cega de que tudo tem um propósito."

"A religião é como um golpe de seguro", concluiu o pastor. "Pagamos o prêmio e, no fim, descobrimos que a empresa que levou nosso dinheiro sequer existe. Viemos do mistério e ao mistério retornaremos. Talvez haja algo além, mas, se houver, certamente não será o 'Deus' das igrejas."

Deixo as conclusões a cargo do leitor.

domingo, 17 de novembro de 2024

NEM SÓ DE MACARRÃO VIVEM OS MOLHOS

CONSERTE AS GOTEIRAS ENQUANTO O TEMPO ESTÁ FIRME.

 
O sabor da macarronada, do nhoque, do rondelle e de outros tipos de massa depende diretamente do molho, mas nem só de massa "vive" o molho. Dito isso, veremos como preparar almôndegas —ou polpette, como os italianos se referem a essas bolas de carne temperada servidas "al pomodoro", ou seja, com molho de tomate. 

Você vai precisar de:
 
- ½ kg de patinho moído;
- 1 cebola média picada;
- 3 dentes de alho;
- 1 ovo
- ½ xícara (chá) de queijo parmesão ralado fino;
- ¼ de xícara (chá) de farinha de rosca;
- 6 raminhos de salsa;
- Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto;
- Azeite.
 
O preparo é simples:
 
  • Misture a carne moída com ¾ da cebola, 2 dentes de alho e a salsinha picados e tempere com sal e pimenta a gosto. 
  • Quebre o ovo num copo ou xícara (assim você não perde a receita se ele estiver estragado), transfira para a tigela com a carne e os temperos e misture com as mãos por cerca de 2 minutos;
  • Faça uma bola de carne e arremesse-a contra a tigela algumas vezes (o choque evita que as almôndegas se desmanchem durante a fritura), adicione o queijo ralado e a farinha de rosca e amasse novamente para incorporar.
  • Unte as mãos com óleo ou azeite e enrole porções da massa não menores que bolas de pingue-pongue nem maiores que bolas de tênis, coloque-as numa travessa e reserve.
  • Aqueça uma colher (chá) de azeite numa panela ou frigideira de borda alta, esmague os dentes de alho restantes com com sal até formar uma pasta e, usando uma colher de pau ou de silicone, misture essa pasta ao azeite na panela.
  • Coloque as almôndegas uma ao lado da outra (sem amontoar), doure-as por cerca de 5 minutos (virando as bolinhas de vez em quando, para que fiquem douradas por igual), transfira-as para uma travessa forrada com papel-toalha e repita o processo com as demais almôndegas (se necessário, acrescente um pouco mais de azeite).
  • Coloque um pouco de água na frigideira e raspe bem para "deglaçar" (ou seja, diluir e transformar em molho os resíduos da fritura que ficaram grudados no fundo da panela).
  • Adicione o molho de tomate (receita nesta postagem), deixe cozinhar em fogo médio até ferver, retorne as almôndegas douradas à frigideira com o molho, baixe o fogo e deixe cozinhar por mais 6 minutos, polvilhe com parmesão ralado e decore com folhinhas de manjericão.
Aproveitando o embalo, segue uma variação que é muito popular na Alemanha, onde esses bolinhos de carne são chamados de Frikadellen, Bulette, Fleischklöpse, Fleischpflanzerl, Klops, Fleischküchle, Hacktätschli, Beefsteak, Brisolette, Faschierte Laibchen, Fleischlaberl, conforme a região: 

Misture ½ kg de carne moída, 1 cebola cortada em cubinhos, 4 ovos inteiros, ½ maço de cebolinha, sal, pimenta-do-reino, orégano, páprica doce e molho de pimenta a gosto, ½ maço de cebolinha picada e farinha de rosca, faça bolinhos pequenos, frite-os em óleo bem quente, virando de todos os lados para dourar por igual, e sirva com mostarda escura.


Se alguém botar defeito nessas delícias, é porque esse alguém tem problemas de paladar. Nada que um bom otorrino não resolva. 
 
Bom proveito.

sábado, 16 de novembro de 2024

VOCÊ SABIA?

A DISTINÇÃO ENTRE PASSADO, PRESENTE E FUTURO NÃO PASSA DE UMA ILUSÃO TEIMOSAMENTE PERSISTENTE.

A tetravó do celular nasceu na década de 1930, quando a Alemanha Alemanha começou a testar em trens a telefonia móvel que seu exército usaria na Segunda Guerra Mundial, mas a iniciativa de levar o telefone para o carro partiu de uma parceria entre a empresas norte-americanas Motorola e a Bell

Em 1948, esse sistema já atendia 4 mil usuários em 60 cidades, mas o hardware, caro e volumoso, e o preço, proibitivo, afugentava os interessados. Em abril de 1973, um engenheiro da Motorola ligou para um colega da AT&T usando um protótipo do DynaTAC (foto). O trambolho pesava cerca de 1kg, media 25cm x 7cm, tinha autonomia de 20 minutos e demorava 10 horas para recarregar a bateria... mas funcionava. E o resto é história recente.

O celular desembarcou no Brasil nos anos 1980 e se popularizou depois que FHC privatizou as TELES, e o que era bom ficou ainda melhor quando Steve Jobs revolucionou o mercado com o iPhone (2007). E menor, já que, com a transformação dos dumbphones em microcomputadores ultraportáteis, a miniaturização deixou de fazer sentido.

ObservaçãoVale registrar que o primeiro celular capaz de acessar a Internet não foi o iPhone, mas o Nokia 9000 Communicator, lançado em 1996.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

As cabeças de direita carecem de miolos. A esquerda sofre da mesma carência, mas só tem uma cabeça (quase careca e remendada com 5 pontos). A lufada conservadora nas eleições municipais já havia acomodado o PT no divã, mas a vitória de Trump fez da autocrítica um fator de sobrevivência do grupo.
O fascismo verde-oliva sobreviveu às passeatas pacíficas e triturou a resistência armada. Lula, então crítico ferrenho do "milagre" militar, mudou a agenda da esquerda e deu aulas de pragmatismo jogando o jogo de um capitalismo que ideólogos pequeno-burgueses desprezavam, e a  proeminência sindical lhe rendeu a ascendência política — ele chegou a ensaiar uma parceria com FHC, mas um foi fundar o PT e o outro, o PSDB. 
No alvorecer da redemocratização, a derrota para Collor desenvolveu no petista um complexo social — o rico derrotou o representante da maioria pobre —, e as duas derrotas para FHC plantaram em sua alma de operário um complexo intelectual — a USP prevaleceu sobre o chão de fábrica da VW e da GM. 
Nos dois mandatos de FHC, partidos herdeiros da Arena se consolidaram como legendas de adesão e trocaram governabilidade por cargos e verbas. Lula farejou a fadiga de material do tucanato, recuperou o pragmatismo e, vestindo Armani e suavizando o discurso numa Carta aos Brasileiros, ganhou a classe média. Em seus dois primeiros mandatos, o matrimônio com o centrão evoluiu para o patrimônio. Deu em Mensalão, em Petrolão, no impeachment de Dilma, em Bolsonaro e no orçamento secreto, que manteve o grotesco no Planalto por quatro anos e transformou a palavra "governabilidade" em outro nome para corrupção. 
O retorno de Lula se deveu à formação de uma falaciosa frente ampla em defesa da democracia. Do palanque, o ex-presidiário "descondenado" prometeu um governo "para além do PT", mas o quebra-quebra do 8 de janeiro foi um aperitivo do que estava por vir: pela primeira vez na história, um presidente assumiu o Planalto com um pedaço da população pedindo intervenção militar na porta dos quartéis. 
A conspiração sobreviveu às urnas, mas a ideologia de Lula é a saudade: hoje, o petista lamenta que a realidade seja tão reacionária e pergunta a seus botões por que pregoeiros ultradireitistas do evangelho da prosperidade encantam a periferia com ilusões vendidas no templo das redes sociais. Vivo, Freud lhe recomendaria investigar seus motivos inconscientes.

O Google lança novas versões do Android anualmente, mas as novidades nem sempre saltam aos olhos. Muitos usuários desconhecem a divisão de tela, por exemplo, que foi inaugurada no Android 9. Para utilizá-la, abra os programas desejados, toque no botão que exibe os apps recentes (na barra inferior da tela), no ícone de um deles (na parte superior da janelinha) e em Abrir na opção em tela dividida.
 
Outro recurso pouco conhecido, mas útil quando você empresta seu celular a alguém, é o perfil de convidado. Tocando em Configurações > Usuários > DispositivosConvidado, você ativa um perfil que limita a acesso desse alguém a seus aplicativos e arquivos pessoais (lembrando que isso não funciona todas as marcas/modelos de smartphones Android).
 
Para definir quais aplicativos podem enviar alertas, toque em Configurações > Aplicativos > Gerenciar Permissões > Notificações e faça os ajustes desejados. 

Para não ser interrompido por mensagens, ligações etc., ative o Modo Foco  toque em Configurações > Modos e rotinas > Trabalho e estipule o tempo durante o qual somente funções como Telefone e Relógio ficarão  acessíveis (aproveite o embalo para conhecer outros "modos" que você pode ativar, como Sono, Cinema, Direção, Exercício, etc.)
 
Na maioria dos smartphones, pressionar os botões liga/desliga e diminuir volume ao mesmo tempo "printa" a tela, mas você pode escolher outras maneiras tocando em Configurações > Recursos Avançados > Tecla lateral

Em alguns aparelhos, a opção "printar a tela" do painel rápido também funciona, mas a Seleção Inteligente permite fazer capturas retangulares ou ovais da janela ativa ou de qualquer porção dela. Para habilitá-la, toque em Configurações > Visor e ligue a chavinha ao lado de Painéis Edge. 
 
O celular se tornou um microcomputador ultraportátil, mas continua servindo para fazer e receber ligações telefônicas. Se você digitar #31# antes do número a ser chamado, o número da sua linha não será exibido, mesmo que esteja na agenda de contatos do destinatário da ligação. Mas vale lembrar que muita gente não atende chamadas de "número desconhecido" ou "número não identificado". 

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

WINDOWS 10 — UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL?

QUEM PERSEGUE DUAS LEBRES NÃO ALCANÇA UMA DELAS E DEIXA A OUTRA ESCAPAR.
 
fim do suporte ao Windows 10 obrigará milhões de usuários a escolher entre continuar usando um sistema inseguro, forçar o upgrade numa máquina que não atende às exigências do Win11, comprar um computador novo, ou migrar para o Linux. 

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

O sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão. O desempenho medíocre do PT nas eleições municipais e a vitória de Donald Trump na disputa pela Casa Branca comprovam essa máxima. De celebrada por encarnar esperança e renovação, Kamala Harris passou a culpada pela estagnação do discurso em tempo já ultrapassado pelas demandas do eleitorado. 
A esquerda brasileira olha para o resultado das urnas como se o problema não remontasse ao primeiro governo Dilma. Num comício da campanha de Haddad à Presidência, o rapper Mano Brown apontou o afastamento do PT da "multidão que precisa ser conquistada" e levou uma tremenda vaia. O abismo estava logo ali, mas o autoengano prevaleceu — e cresceu quatro anos depois, com a volta do ex-presidiário descondenado ao Planalto. 
Lula e seus sectários não praticam autocrítica. Segundo eles, fazê-lo equivaleria a baixar a guarda e abrir passagem para os adversários. Mas retificar condutas não significa capitular. Ao contrário. É, no dizer do samba de Paulo Vanzolini, reconhecer a queda, não desanimar, sacudir a poeira e preparar a volta por cima. 
Irritado com ponderações sobre os erros da esquerda, o deputado Ivan Valente, ex-petista atualmente no PSOL, pontificou: "Isso é conversa de intelectual que nunca foi para porta de fábrica entregar panfleto". Alguém deveria lembrar ao nobre parlamentar que o conceito de "porta de fábrica" deixou de existir quando o panfleto passou a ser digital.

Observação: Comemora-se hoje o 135° aniversário do primeiro golpe militar desta republiqueta de bananas. Clique aqui para ler um breve resumo da verdadeira história da Proclamação da República.
 
Microsoft decidiu oferecer mais um ano de atualizações de segurança a quem se dispuser a desembolsar US$ 30 (lembrando que novos recursos, correções de bugs e suporte técnico não fazem parte do pacote). 

A decisão não foi tomada por solidariedade às "viúvas do Ten", mas porque elas representam mais de 60% dos usuários do Windows.

Aceitar a "gentil oferta" é uma medida paliativa, que serve apenas para emburrar o problema com a barriga até outubro de 2026. Mas por que resolver hoje um problema que pode ficar para amanhã?