Mudando de um ponto a outro, hoje é sexta-feira, sexta-feira é de pizza, e nada como o aroma de uma pizza assando no forno para nos deixar com água na boca. Noves fora quando se trata do forno metafórico da Justiça tupiniquim, onde as pizzas fedem como um esgoto a céu aberto.
Em meados do mês passado, a PF concluiu o relatório sobre o caso da "fraude em certificado vacinal", e indiciou Jair Bolsonaro, Mauro Cid e outros 15 investigados pelos crimes de inserção de dados falsos em sistemas de informação, falsidade ideológica e associação criminosa. A pretexto de "não deixar nenhuma porta aberta para a defesa técnica do ex-presidente", a PGR determinou o aprofundamento da investigação. Isso me lembra a anedota do sujeito que estava viajando com a esposa quando foi notificado da morte da sogra. Perguntado se a falecida deveria ser sepultada ou cremada, ele baixou a voz (para não ser ouvido pela patroa) e respondeu: "primeiro crema e depois enterra; com essa velha não se brinca".
Comenta-se que o procurador Paulo Gonet acalenta a esperança de obter uma confissão escrita de próprio punho e assinada por Bolsonaro com a caneta Compactor substituiu a velha Bic depois da troca de farpas entre o então presidente e seu colega francês Emmanuel Macron. Mas isso não passa de maledicência, a exemplo do que vem sendo dito sobre Alexandre de Moraes ter "amarelado" diante das manifestações bolsonaristas no último domingo em Copacabana.
Ao mandar arquivar o caso dos pernoites na embaixada da Hungria sem impor novas sanções cautelares ao ex-mandatário, Moraes levou água ao moinho do bolsonarismo. Josias de Souza anotou em sua coluna no UOL que, segundo um parlamentar bolsonarista, o encerramento do caso foi uma "autocontenção" produzida pelo "fator rua", e que "encarcerar Mauro Cid é uma coisa, ou coisa bem diferente é prender Bolsonaro sem uma sentença, pois o barulho seria grande".
Escorando sua decisão nos mesmos argumentos técnicos expostos em parecer da PGR, Moraes anotou em seu despacho: "Não há 'elementos concretos' que indiquem 'efetivamente' que o ex-presidente buscou asilo político ao passar duas noites na embaixada da Hungria em fevereiro, e, portanto, não violou a medida cautelar que o proíbe de se ausentar do país". Lembrou que, embora tenham proteção especial, os locais das missões diplomáticas não são considerados extensão de território estrangeiro, donde "não se vislumbra qualquer violação a medida cautelar de "proibição de se ausentar do País".
O arquivamento do caso indica que Moraes só determinará a prisão do ex-mandatário quando houver elementos suficientes para condená-lo com base nas investigações, e não por descumprimento de medidas cautelares. Nos bastidores, o arquivamento vem sendo comparado com a decisão da PF de não pedir o indiciamento de Bolsonaro na investigação que apurava suposta importunação a uma baleia jubarte em 2023.
Ao conter sua poderosa Montblanc, Moraes sinaliza a intenção de customizar seus embates conforme as especificações do cliente e estimulou nos devotos do "mito" a ilusão de que o investigado mais ilustre realizará, em algum momento, a grande façanha de desfritar todos os ovos que a PF levou à frigideira dos inquéritos. Paralelamente, a defesa do capetão planeja apresentar um novo pedido de liberação do passaporte de seu cliente.
Observação: Por mais defeitos que tivesse — e ele os tinha aos montes — , FHC, que era constantemente alvejado em reportagens e artigos, nunca pediu a cabeça de um jornalista, nunca cortou verbas publicitárias de revista nem fez ameaças contra o dono. Se ligava quando era desagradado, era para conversar e argumentar. Infelizmente, hoje temos o exato oposto em todas as esferas de poder.
Tirar gênios da garrafa é mais fácil do que convencê-los a entrar de volta. O próprio Moraes sinaliza a intenção de refinar procedimentos, selecionar brigas e encaminhar processos para a fase de encerramento. Depois de avalizar a decisão da PGR que, em vez de denunciar Bolsonaro no caso da falsificação de cartões de vacina, pediu diligencias complementares à PF, preferiu não impor sanções cautelares ao dito-cujo pelos excessos cometidos na manifestação do último domingo, além de mandar arquivar a investigação dos pernoites na embaixada da Hungria.
Moraes parece ter se dado conta que até ele está sujeito à condição humana. Portando-se como uma espécie de "ex-Xandão", resguarda-se para o julgamento que grudará sentenças condenatórias nas biografias de Bolsonaro e dos integrantes do alto-comando do golpe.
A conferir.