O ÚNICO TALENTO DE ALGUMAS PESSOAS É EXALTAR O ÓBVIO.
Elon Musk deu ao absurdo uma doce e admirável naturalidade ao desperdiçar o final de semana postando no X uma espetacularização das suas contrariedades. Na noite de domingo, o ministro Alexandre de Moraes empurrou o bilionário para dentro do inquérito sobre milícias digitais e fixou multa diária de R$ 100 mil por perfil, caso a ameaça de levar ao ar conteúdo tóxico banido da rede por ordem judicial seja cumprida.
Assim, o STF e o dono do ex-Twitter executam um balé de elefantes à margem da regulamentação das atividades de conglomerados que controlam redes de comunicação sem produzir conteúdo. Em vez de potencializar a democracia ecoando um debate racional sobre temas de interesse coletivo, promovem uma inusitada tribalização social monetizando a mentira e o ódio.
Em plena era da inteligência artificial, computadores e celulares tornaram-se difusores de uma ignorância natural que industrializa a raiva, a desinformação e a criminalidade. O Congresso, incapaz de produzir consensos, mantém no gavetão dos assuntos pendentes o Projeto de Lei das Fake News, enquanto o Supremo retarda o julgamento de quatro ações que poderiam impor limites éticos e legais às big techs, e a República, rendendo-se ao absurdo e desafiada pelas bravatas de resultados de Musk, demora a perceber a falta que faz a racionalidade.
Paradoxos são afirmações aparentemente verdadeiras que desaguam em contradições lógicas. Se um hipotético viajante do tempo voltasse ao passado e matasse o próprio avô antes de ele se casar, por exemplo, esse viajante criaria um conflito lógico de existência que obstaria seu próprio nascimento — se ele não nascesse, não poderia viajar a parte alguma, muito menos para o passado.
As equações de Einstein admitam as viagens no tempo, mas a volta ao passado esbarra nos paradoxos. Além de intrigar astrofísicos cosmólogos, essas "inconsistências" inspiram obras de ficção como a trilogia "De volta ao futuro e o seriado "Dark". Mas um artigo publicado na New Scientist descreve um modelo no qual seria matematicamente possível "contornar esse obstáculo" viajando de uma linha do tempo para outra através de um buraco de minhoca.
Essa teoria sugere a existência de infinitos universos paralelos diferentes, mas onde as coisas são praticamente as mesmas. Como cada um deles é matematicamente uma linha de espaço-tempo separada, seria possível um viajante do tempo matar o avô sem produzir um paradoxo, pois suas ações não repercutem na linha do tempo vigente no universo de onde ele partiu.
Para resolver a questão dos paradoxos, os pesquisadores estudaram matematicamente o comportamento de um corpo que entra numa curva de viagem ao passado e concluíram que ele poderia seguir caminhos diferentes sem alterar o resultado de suas ações, pois os eventos se ajustam em prol de uma solução única e consistente. Trocando em miúdos, um hipotético viajante do tempo que voltasse ao passado poderia fazer o que bem entendesse sem mudar o curso da história, pois os eventos mais relevantes seriam recalibrados constantemente, de modo a produzir sempre o mesmo resultado e evitar os paradoxos.
Resta agora colocar a teoria à prova.