quarta-feira, 10 de abril de 2024

SUTILEZAS ESTARRECEDORAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

UNS LEVAM ALEGRIA AONDE VÃO, OUTROS DÃO ALEGRIA QUANDO SE VÃO.

Poucos infortúnios são mais inquietantes do que a espera por um infortúnio. Mas a expectativa dos aliados de Bolsonaro em relação à decisão de Alexandre de Moraes a respeito da estadia do investigado na embaixada da Hungria evolui rapidamente do temor para a galhofa. 
No último sábado, um integrante da brigada bolsonarista disse que "falta coragem ao Xandão" . Disse que "encarcerar Mauro Cid é uma coisa, e outra bem diferente é prender Bolsonaro sem uma sentença. Afirmou que "o barulho seria grande no Congresso e nas ruas", e que "a prisão preventiva seria uma covardia injustificável." 
Depois que o Times noticiou os dois pernoites de Bolsonaro na sede da embaixada da Hungria, Moraes intimou a defesa a se explicar e requisitou manifestação da PGR. Os defensores do encrencado sustentaram que não havia razões para ele razões ele temer ser preso, e que seria absurdo supor que ele dormiu duas noites na embaixada para ficar fora do alcance da PF ou negociar um pedido de refúgio diplomático. O teor do parecer da PGR, encaminhado ao Supremo na última quinta-feira, permanece em segredo. Nos bastidores, diz-se que o documento exclui a hipótese de prisão preventiva. 
A posição do Ministério Público pode ser acatada ou desprezada por Moraes, mas vale lembrar que, além da prisão, há alternativas menos gravosas. O ministro, que já confiscou o passaporte do investigado, pode impor a ele o uso de tornozeleira eletrônica e obrigá-lo a se apresentar semanalmente perante o Judiciário.
O bolsonarismo aposta que Xandão deixará tudo como está para ver como é que fica. Façam suas apostas.

Certa vez, li num adesivo colado no caixa de uma padaria os seguintes dizeres: "MINHA EDUCAÇÃO DEPENDE DA SUA". Em outra ocasião, vi numa churrascaria de estrada um quadro informando que: "SE OS CLIENTES INSISTIREM EM DEPOSITAR CINZA DE CIGARRO NOS PRATOS E COPOS, TEREMOS PRAZER EM SERVIR A COMIDA NOS CINZEIROS". 

Se grosseria tem limite, salamaleques em excesso devem ser evitados — a menos que a intenção seja expressar ironia. Aliás, li certa vez que "A PAZ QUE PROCURAMOS PODE ESTAR NO FODA-SE QUE NÃO DIZEMOS". Diz um ditado que "QUEM FALA DEMAIS DÁ BOM-DIA A CAVALO" (mais uma pérola para sua coleção de inutilidades); como já não usamos carroças como meio de transporte, o equivalente seria dizer "muito obrigado" ao carro ao final uma viagem sem sobressaltos. 

Não me lembro de ter feito isso nem tampouco de ter visto alguém fazer, mas sei de gente que cumprimenta a Alexa antes de formular uma pergunta e, ao final, agradece a ajuda prestada. Parece caso de internação, mas talvez não seja.

Gadgets alimentados por IA são programados para tratar os usuários com cortesia — o que é fácil para eles, que não estão sujeitos a "dias difíceis". Isso me lembra a anedota do médico que, repreendido pelo diretor do hospital por ter sido rude com uma enfermeira, explicou que perdeu a hora, que seu carro não deu a partida, que foi difícil encontrar um taxi e, quando ele finalmente chegou ao hospital, o elevador estava em manutenção. Subiu 18 andares pela escada, chegou a sua sala suado e esbaforido, e então a tal enfermeira apareceu e disse: "Doutor, o paciente do quarto tal amanheceu morto. Sobrou este supositório. O que faço com ele?"

Algumas pessoas tratam sistemas tecnológicos — computadores, celulares, televisores etc. — como se esses aparelhos fossem humanos. Isso vem sendo estudado há tempos. Num experimento realizado nos anos 1990, um computador que foi programado para elogiar um grupo de pessoas por executar bem uma tarefa recebeu uma nota maior, ainda que os participantes soubessem que os elogios foram gerados automaticamente. Desde então, vários estudos demonstraram que costumamos antropomorfizar as máquinas, e que, quando um sistema tecnológico imita qualidades humanas, como a cortesia, percebemos um melhor desempenho de sua parte. 

O que se pretende descobrir é se é ou não apropriado ser educado com Alexa, ChatGPT, Copilot, Luzia e companhia, se faz ou não sentido considerar chatbots como sujeitos morais e se a cortesia no tratamento influencia a eficiência operacional desses dispositivos. O sistema nervoso dos animais lhes permite sentir dor, prazer, e até ter um nível de consciência que pode ser afetado positiva ou negativamente pela ação dos humanos, mas as máquinas não têm essas capacidades emocionais e, portanto, não podemos compará-las a animais nem (muito menos) a pessoas. 

Para o professor Enrique Dans diz que não há nada de errado em ser gentil com as máquinas, embora se deva ter em mente que, sem percepções, emoções ou consciência, elas não são capazes de compreender e valorizar a cortesia ou a gratidão que expressamos. Mas será mesmo que elas não são? 

É o que veremos nos próximos capítulos, que deixarão claro o porquê de eu ter incluído o termo "estarrecedor" no título desta matéria.