Quando eu comecei a me entender por gente, lá pelo início da década de 60, as crianças perdiam os dentes-de-leite bem antes de deixar de acreditar em Papai Noel. Além disso, o “Espírito do Natal” começava a dar o ar da graça lá pelo início de Dezembro – a princípio timidamente, mas num crescendo como o do apito de um trem que aproxima da estação. Depois baixava firme e forte, como Orixá em terreiro de Candomblé, e só cantava pra subir após a virada do ano, lá pelo Dia de Reis (data em que os mais tradicionalistas desmontam suas árvores de Natal).
Confesso que não sou do tipo saudosista – aliás, detesto aquele papo de que “no meu tempo era melhor”, e coisa e tal –, mas é inegável que o apelo de uma festividade eminentemente religiosa está se tornando mais comercial a cada dia que passa. Claro que vivemos num país (mundo?) capitalista, e não há nada de errado em aproveitar determinadas datas comemorativas para aquecer a economia, mas eu me pergunto: aonde foi parar aquele clima festivo, aquele espírito de camaradagem que tomava conta das pessoas nessa época do ano, independentemente de sua fé ou crença religiosa?
Abrindo um parêntese, o Natal celebra o nascimento de Jesus – que, curiosamente, era judeu –, e finca o marco zero da Era Cristã (a despeito de ter sido comemorado em outras datas até por volta do século IV, quando alguém resolveu oficializar o dia 25 de dezembro, talvez por corresponder ao solstício de inverno no hemisfério norte). Ademais, existem controvérsias em relação à data de nascimento de Cristo – alguns pesquisadores dizem até que ele teve irmãos e irmãs, casou-se, teve filhos e morreu com bem mais de 33 anos de idade –, mas isso não vem ao caso para os efeitos desta postagem. Fecha parêntese.
Voltando ao que interessa, nos meus tempos de criança os “votos de boas festas” pareciam mais sinceros: durante todo o mês de Dezembro, desejávamos um feliz Natal – e ao final, um feliz ano novo – ao caixa da padaria, ao balconista da farmácia, ao frentista do posto de gasolina, ao faxineiro do prédio e até aos desconhecidos que encontrávamos nos ônibus, ou com quem simplesmente cruzávamos pelas ruas. Isso sem mencionar que enfeitar a árvore, armar o presépio e pendurar a guirlanda na porta de casa fazia parte da festa.
Hoje em dia, embora o Natal chegue mais cedo – especialmente nos shopping centers, onde os comerciantes nem esperam acabar o mês de outubro para desembalar e pendurar seus ornamentos –, a coisa ficou impessoal, sem-graça. Ainda que as pessoas armem suas árvores e pendurem redes de lampadinhas pisca-pisca nas janelas, o clima é artificial e os votos carecem de calor humano (a despeito do calor da estação).
Enfim, a título de curiosidade, acredita-se que a tradição da árvore de Natal teve início no século XVI, quando Martinho Lutero reproduziu com galhos de árvores, algodão, velas acesas e outros enfeites, a beleza dos pinheiros cobertos de neve com as estrelas ao fundo. Já a idéia de montar um presépio para recriar o cenário do nascimento de Jesus é atribuída a São Francisco de Assis, ao passo que a figura do Papai Noel, inspirada num bispo de nome Nicolau, que costumava ajudar os pobres deixando saquinhos com moedas de ouro junto às chaminés de suas casas.
A propósito, conta que Papai Noel era representado originalmente com uma roupa de inverno na cor marrom, até que o cartunista alemão Thomas Nast criou uma nova imagem (com a indefectível roupa vermelha, detalhes em branco e cinto preto), que foi posteriormente popularizada por uma campanha publicitária da Coca-Cola, em 1931, já que essas eram também as cores do rótulo do refrigerante.
Para concluir, desejo um Feliz Natal a todos que me honraram durante mais este ano com sua atenção. Que vocês nunca deixem de sonhar, e que todos os seus sonhos se tornem realidade.
Boas festas, bom feriadão e até segunda-feira, se Deus quiser (e ele há de querer).