Em mais um artigo magistral, J.R. Guzzo fecha a edição de
Veja desta semana com uma análise imperdível do cenário político tupiniquim.
Segundo o jornalista, não faz o menor sentido comparar o
Brasil com a Suíça ou esperar que os dois países fiquem parecidos, algum dia,
em termos de conduta do poder público. Mas chama a atenção do leitor para uma
“coincidência” interessante, que eu resumo a seguir (vale a pena ler a íntegra
da matéria; a revista ainda está à venda, mas será possível acessar seu
conteúdo através do acervo digital de VEJA depois que a
próxima edição chegar às bancas).
O novo túnel do Monte
São Gotardo, com quase 600 km perfurados na rocha bruta, é o mais longo do
mundo, e sua construção tornou-se uma epopeia comparável à travessia
subterrânea do Canal da Mancha, entre Inglaterra e França. Aberta ao público
dias atrás, a obra foi entregue seis meses antes do prazo contratado e custou o
que deveria custar ― o equivalente a pouco mais de 10 bilhões de dólares.
Por uma dessas coincidências da vida, a soma é praticamente
igual aos 35 bilhões de reais de dívida que as empresas estatais responsáveis
pela TRANSNORDESTINA têm a apresentar como resultado de seus avanços até agora. Daí se infere que, quando a Suíça resolve fazer uma estrada
de ferro, as pessoas passam a andar de trem (e a 250 km/h), enquanto que no
Brasil, ficam devendo: dez anos após anunciadas as obras, não existe ferrovia
nenhuma; dos 1700 km de estrada, só há trilhos em 600 km, pelos quais não passa
trem algum e cuja função, no momento, é serem deteriorados pelo tempo ou
furtados e para a venda a peso do seu aço. Uma beleza!
Quanto mais a tecnologia avança no mundo desenvolvido, mais
as obras públicas brasileiras demoram para ficar prontas. Numa época em que a
ciência da engenharia é capaz de vencer os mais ingratos desafios da natureza,
dentro dos prazos e orçamentos previstos, é como se o Brasil estivesse vivendo
nos tempos da régua de cálculo e do trator a gasolina; no ritmo do trabalho
seguido pelos dois últimos governos, a ponte Rio-Niterói ainda estaria em
obras!
Para piorar, o governo que não faz é o mesmo que não deixa
fazer, na sua paixão contra o resultado prático e no seu pânico diante de
qualquer benefício público feito pela iniciativa privada.
Por aqui, a grande discussão é saber se os que não fizeram
vão voltar ao governo para continuar não fazendo.