segunda-feira, 13 de junho de 2016

NO BRASIL, A GRANDE DISCUSSÃO, NO MOMENTO, É SABER SE OS QUE NÃO FIZERAM VÃO VOLTAR AO GOVERNO PARA CONTINUAR NÃO FAZENDO.

Em mais um artigo magistral, J.R. Guzzo fecha a edição de Veja desta semana com uma análise imperdível do cenário político tupiniquim.

Segundo o jornalista, não faz o menor sentido comparar o Brasil com a Suíça ou esperar que os dois países fiquem parecidos, algum dia, em termos de conduta do poder público. Mas chama a atenção do leitor para uma “coincidência” interessante, que eu resumo a seguir (vale a pena ler a íntegra da matéria; a revista ainda está à venda, mas será possível acessar seu conteúdo através do acervo digital de VEJA depois que a próxima edição chegar às bancas).

O novo túnel do Monte São Gotardo, com quase 600 km perfurados na rocha bruta, é o mais longo do mundo, e sua construção tornou-se uma epopeia comparável à travessia subterrânea do Canal da Mancha, entre Inglaterra e França. Aberta ao público dias atrás, a obra foi entregue seis meses antes do prazo contratado e custou o que deveria custar ― o equivalente a pouco mais de 10 bilhões de dólares.

Por uma dessas coincidências da vida, a soma é praticamente igual aos 35 bilhões de reais de dívida que as empresas estatais responsáveis pela TRANSNORDESTINA têm a apresentar como resultado de seus avanços até agora. Daí se infere que, quando a Suíça resolve fazer uma estrada de ferro, as pessoas passam a andar de trem (e a 250 km/h), enquanto que no Brasil, ficam devendo: dez anos após anunciadas as obras, não existe ferrovia nenhuma; dos 1700 km de estrada, só há trilhos em 600 km, pelos quais não passa trem algum e cuja função, no momento, é serem deteriorados pelo tempo ou furtados e para a venda a peso do seu aço. Uma beleza!

Quanto mais a tecnologia avança no mundo desenvolvido, mais as obras públicas brasileiras demoram para ficar prontas. Numa época em que a ciência da engenharia é capaz de vencer os mais ingratos desafios da natureza, dentro dos prazos e orçamentos previstos, é como se o Brasil estivesse vivendo nos tempos da régua de cálculo e do trator a gasolina; no ritmo do trabalho seguido pelos dois últimos governos, a ponte Rio-Niterói ainda estaria em obras!

Para piorar, o governo que não faz é o mesmo que não deixa fazer, na sua paixão contra o resultado prático e no seu pânico diante de qualquer benefício público feito pela iniciativa privada.

Por aqui, a grande discussão é saber se os que não fizeram vão voltar ao governo para continuar não fazendo.