Nunca é demais lembrar que as consequências de corrupção
revelada, no Brasil, nunca são muito radicais. Ninguém fica arruinado para
sempre.
Um dos delatores da JBS
comentou no seu depoimento que o presidente Temer não foi elegante ao pedir um milhão para si próprio, dos
milhões que cruzavam à sua frente. Segundo o delator, só o Kassab fez o mesmo.
Notava-se uma certa decepção na voz do delator ao contar que
Temer reivindicara uma beirada do
propinato em trânsito para o seu bolso. De um Kassab não se esperava outra coisa. Mas de um presidente da
República?
O corruptor lamentava o ocorrido. Uma certa etiqueta fora
rompida. Uma certa presunção de elegância — presente até entre bandidos — fora
frustrada.
A Presidência do Brasil parece um daqueles touros mecânicos
sobre os quais poucos se equilibram, e o que varia é a maneira de cada um ser
derrubado, com mais ou com menos elegância.
Nenhum presidente deposto caiu mais dramaticamente do que o Getúlio. Jânio caiu ridiculamente; Jango,
pateticamente; Tancredo,
surpreendentemente.
Os generais encontraram uma maneira prática de evitar a
queda e o vexame: desligaram o touro e o mantiveram desligado por 20 anos.
Collor caiu sem
perder a linha. Dilma idem (aqui eu,
Fernando, acrescento“até porque a anta vermelha não tinha linha a perder”), com a desculpa adicional de ser a
primeira mulher a montar no touro.
Como o Temer
cairá do touro, se cair, ninguém sabe.
Pouco se falou do milhão por fora que ele pediu para o delator
da JBS, talvez porque, em comparação
com os bilhões que enchem os ares, um milhão pareça mais uma gorjeta do que uma
propina. E há a possibilidade de o corruptor ter mentido.
Seja como for, o que Temer
precisa antes de mais nada é recuperar a pose.
O conselho vale para todo mundo: elegância, gente.
Nunca é demais lembrar que as consequências de corrupção
revelada, no Brasil, nunca são muito radicais. Ninguém fica arruinado para
sempre, nenhuma carreira política se interrompe, o tempo reconstrói qualquer
reputação abalada. Corruptos se desculpam, corruptores confessos deixam para
trás uma república deflagrada e voam para Nova York, e tudo bem.
Se fosse no Japão, já teriam acontecido no mínimo 17
haraquiris.
Texto de Luiz
Fernando Veríssimo, publicado no Blog
do Noblat, em O GLOBO
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