Michel
Temer não conseguiu sequer atravessar a miserável
pinguela que o levaria a vestir a faixa presidencial até o final do ano que
vem. Chegou mesmo a montar um bom ministério e estava, afinal, começando a
contabilizar bons resultados, mas não deu. E nem poderia, já que assumiu a
presidência em D.O.A (dead on arrival,
como dizem os relatórios hospitalares e policiais nos EUA). Chegou morto porque
só sabe fazer política, agir e pensar para um Brasil em processo de extinção,
onde presidentes da República recebem em palácio indivíduos à beira do xadrez,
discutem com eles coisas que jamais deveriam ouvir e não chamam a polícia para
levar ninguém preso. Seu governo não existe mais. A atual oposição ― até ontem
governo ― do PT-esquerda não existe mais. Os políticos, como classe, não
existem mais.
Como ficou claro há muito tempo, não se
poderia mesmo esperar algo diferente. O Brasil de hoje é governado como uma
usina de processamento de esgoto, onde entra merda por um lado e sai merda pelo
outro. O que mais poderia sair? Entre a porta de entrada, que é aberta nas
eleições, e a de saída, quando se muda de governo, a merda muda de aparência,
troca de nome, recebe nova embalagem ― mas continua sendo merda.
Reprocessou-se
o governo de Lula, deu no governo de
Dilma; reprocessou-se o governo de Dilma, deu no de Temer. Não houve, de 2003 para cá, troca do material processado
pela usina. Não houve alternância no poder, e isso inclui o moribundo governo
Temer. Continuou igual, nos três, a compostagem de políticos “do ramo”,
empreiteiras de obras públicas, escroques de todas as especialidades,
fornecedores do governo, parasitas ideológicos, empresários declarados “campeões
nacionais” por Lula, por Dilma e pelos cofres do BNDES.
Temer,
na verdade, faz parte integral da herança que Lula deixou para os brasileiros. Tanto quanto Dilma, é pura criação do ex-presidente, e só chegou lá porque o PT
o colocou na vice-presidência ― ou alguém acha que Temer foi colocado de vice na chapa de Dilma sem a aprovação do molusco? Ninguém votou nele, não se cansam
de dizer desde que Temer assumiu o
cargo, com o impeachment da anta vermelha. Com certeza: quem fez a escolha foi Lula, ninguém mais. Foi dele o único
voto que Temer teve, e o único de
que precisava.
Com o PMDB
veio Michel Temer, mais Eduardo Cunha, Renan Calheiros, José Sarney
e família, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Eunício Oliveira, Geddel
Vieira Lima, e daí para pior. Hoje são odiados nos discursos de Lula e do PT, mas ontem eram os melhores amigos e, principalmente, comparsas.
E a eles vieram juntar-se os empresários “nacionalistas” de Lula e Dilma: os Joesley e Wesley
Batista, os Emílio e Marcelo
Odebrecht, os Eike Batista e
tantos outros capitães da indústria que já foram, continuam sendo e em breve
serão inquilinos do sistema penitenciário nacional. Juntos construíram a
calamidade moral, econômica e administrativa que está aí, e com certeza vão
tentar, de algum jeito, beneficiar-se da gosma constitucional hoje formada em
torno do pós-Temer.
Essa gente toda, com Lula e o PT à frente e
bilhões de reais atrás, nos deixou o seguinte país: um dos maiores empresários
do Brasil ― e também um dos mais investigados por crimes cometidos em suas
empresas ― entra na residência presidencial e, numa ação nos limites da
bandidagem, grava pessoalmente uma conversa do pior nível com o presidente, e
com isso, ao menos até agora, livra-se da cadeia, ganha uma soma não calculada
de milhões e vira herói de folhetim, no papel de “justiceiro”.
O ex-presidente Lula oscila entre duas possibilidades: ir para a prisão ao para o
Palácio do Planalto. Sua sucessora é trazida, por denúncia de pessoas íntimas,
para o centro do lodaçal. Seu adversário nas últimas eleições, Aécio Neves, recebe malas de dinheiro
vivo desses Joesley e Wesley que atiram para todo lado. O
governo e o conjunto da vida pública passaram a depender integralmente de
delegados de polícia, procuradores públicos e juízes criminais. O voto popular
nunca valeu tão pouco: o político eleito talvez esteja no próximo camburão da
Polícia Federal. Os sucessores mais diretos de Temer podem estar em breve a caminho do pelotão de fuzilamento;
fazem parte da caçamba de dejetos e detritos que há na política brasileira de
hoje.
Um país assim não pode funcionar ― não o tempo
inteiro, como tem sido nos últimos anos. Trata-se de uma realidade que está
mais que evidente há mais de três anos, quando a Lava-Jato passou a enterrar o
Brasil Velho. Era um país que, enfim, começava a agonizar: pela primeira vez na
história seus donos tinham encontrado pela frente a aplicação da Justiça ― ou,
mais exatamente, o princípio de que a Lei tem de valer por igual para todos.
Não acreditaram, e tentam não acreditar até hoje, que aquilo tudo estava mesmo
acontecendo. O único Brasil possível, para eles, é o Brasil que tem como única
função colocar a máquina pública a serviço de seus bolsos.
Gente como Lula, Odebrecht, Joesley,
empresários campeões, etc. simplesmente não entende a existência de pessoas
como Sérgio Moro; eles têm certeza
de que não há seres humanos que não possam ser comprados ou intimidados. E o resultado está aí: um país que não consegue mais
ser governado, porque os governantes não conseguem mais esconder o que fazem,
nem controlar a Justiça e a Lava-Jato, que a qualquer momento pode bater à sua
porta.
Post criado com base
no artigo “UM PAÍS
INVIÁVEL”, de J.R. GUZZO
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