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segunda-feira, 7 de maio de 2018

SOBRE JUCÁ, O CAJU



Encerrei a postagem de sábado prometendo algumas linhas sobre Romero Jucá, mas achei de falar sobre a aprovação da restrição do foro privilegiado e acabei deixando Caju (codinome do senador emedebista nas planilhas de propina do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht) para a postagem de hoje. Sem mais delongas, vamos a ela.

Romero Jucá Filho nasceu em Recife (PE), em 1954. Formou-se em Economia pela Universidade Católica de Pernambuco e iniciou a carreira política como diretor da Secretaria de Educação do estado. Foi presidente da FUNAI entre 1986 e 1988 e governador biônico do recém-criado estado de Roraima ― cargo que perdeu 18 meses depois, por não conseguir ser eleito pelo voto popular no pleito de 1990. Em 1994, ainda filiado ao PPR, conquistou uma cadeira no Senado; depois de filiar-se ao PMDB, passou a presidir o diretório estadual da sigla em Roraima. Foi líder do governo no Senado nas gestões de FHC, Lula e Dilmanta. Chegou a ser nomeado ministro da Previdência Social no governo Lula, mas deixou o cargo 4 meses depois da posse, por suspeitas de corrupção. Quando a nefelibata da mandioca foi afastada e seu vice passou a titular, Jucá assumiu o ministério do Planejamento, mas, mais uma vez, foi obrigado a deixar o cargo ― que ocupou por míseros 11 dias ―, desta feita devido a acusações de obstrução à Lava-Jato.

Alvo de 13 inquéritos ― sete dos quais no âmbito da Lava-Jato, dois na Operação Zelotes, um de Belo Monte e um da Transpetro ―, Romero Jucá foi o primeiro senador a se tornar réu no STF em ação decorrente das delações de executivos da Odebrecht. Mas continua orbitando o poder central ― aliás, desde a redemocratização que ele participa de todos os governos e se mostra útil a cada um deles. Mas seu afastamento de Dilma ― que ocorreu antes da eleição de 2014 ― o aproximou da oposição, com quem sempre teve boas relações.

No último pleito, Jucá apoiou Aécio, e em 2015, durante a crise que resultou no impeachment, foi um dos principais articuladores do “Plano Temer”. Depois que o PMDB (hoje MDB) assumiu o poder, sua influência cresceu significativamente: não houve neste governo medida no Congresso que não contasse com sua atuação, da aprovação da PEC dos gastos à lei da terceirização, da reforma da Previdência às tentativas (malogradas, felizmente) de blindar a classe política contra a ação saneadora da Lava-Jato.

Jucá encarna como ninguém a elite política ameaçada pela investigação que revelou uma corrupção sistêmica vigente no país há pelo menos três décadas, e a exemplo dos demais políticos investigados, denunciados e réus na Justiça penal, refuta as declarações dos delatores e jura inocência. Da sua ótica, o Brasil caminha para virar uma Itália ― referindo-se à extinção dos principais partidos do país após a Operação Mãos-Limpas, no início da década de 1990, que resultou na assunção de Silvio Berlusconi à Presidência.

Em Roraima, Caju seguiu o exemplo do senador maranhense José Sarney, com quem é unha e carne, no propósito de dominar completamente o estado: sua família é dona de emissoras de TV ― como as retransmissoras locais da Record e da Bandeirantes ―, além de estações de rádio, jornais e empresas de serviço, e sua segunda mulher, Teresa Surita, está no quinto mandato à frente da prefeitura de Boa Vista.

Jucá é o exemplo do político em quem uma pessoa consciente jamais deveria votar para representá-la, nem que fosse como síndico de condomínio. Para não impor ao leitor apenas a minha opinião, transcrevo o que escreveu Roberto Pompeu de Toledo sobre essa figura prosaica, em maio de 2016, quando Temer assumiu a presidência:

“No mesmo dia 17 de abril em que uma presidência apodrecida foi derrubada por uma Câmara dos Deputados podre, o sistema político brasileiro morreu. Não, a afirmação não se sustenta. Seria bom demais para ser verdade. Nas horas seguintes, foram divulgadas fotos do Palácio do Jaburu, onde o vice Michel Temer aguardava, como marido ansioso, o parto de seu triunfo e quem, numa dessas fotos, brilhava em primeiro plano, de pé, enquanto o vice e outros convidados figuravam ao fundo, sentados num sofá, assistindo à transmissão da TV? Romero Jucá!Jucá bem merece o ponto de exclamação; anos atrás, este colunista confessou seu fascínio pelo senador por Roraima, cujos perfil e biografia resumem o que pode haver de mais característico no político brasileiro. Escrevi então:

‘Procura-se alguém capaz de servir a (e servir-se de) diferentes regimes e governos? Dá Jucá na cabeça. Alguém que já saltou repetidas vezes de um partido para outro? Dá Jucá. Alguém com suficiente número de escândalos nas costas? Outra vez, Jucá não decepciona. Alguém que, representante de um estado pobre, de escassa oferta de oportunidades, consegue construir respeitável patrimônio pessoal? Jucá cai como uma luva. Um político que traz parentes para fazer-lhe parceria na carreira? Jucá! Proprietário de emissora de TV? Jucá! Um político que, derrotado aqui e denunciado ali, no round seguinte se reergue, pronto para novos cargos e funções? Jucá! Jucá!’ (VEJA, 6/6/2007).

De lá para cá, Romero Jucá só fez ser fiel a si mesmo. Depois de servir como líder no Senado aos governos FHC e Lula, serviu também ao de Dilma Rousseff. Tudo somado, ficou mais de dez anos na liderança do governo dos três últimos presidentes. Pulou do barco de Dilma na campanha de 2014, quando só a presidente não percebeu que era uma ótima oportunidade para perder, e apoiou Aécio Neves. No ano passado, como era previsível, teve seu nome incluído na famosa “lista do Janot”, em que o procurador-geral da República arrolou os políticos implicados no escândalo da Petrobras. Nas últimas semanas, assumiu a presidência do PMDB, no lugar de Temer, e comandou a cabala de votos em favor do vice e a consequente oferta de empregos no futuro governo. Com Jucá em posição de relevância, não há possibilidade de mudança no sistema político. Não se encontrará entre os políticos brasileiros um mais fiel seguidor da regra de que, quando as coisas mudam, é para ficar tudo igual.

A duradoura influência de Jucá na política brasileira embute um enigma. Ele não se distingue como orador e carece de magnetismo pessoal. Nunca se ouviu dele uma ideia inovadora ou um discurso coerente sobre os rumos nacionais. Representa um estado pequeno (500 000 habitantes) e, fora do mundinho da política, poucos ligarão o nome à pessoa. Uma hipótese é que seu sucesso repouse exatamente na soma de tais deficiências. Por não fazer sombra a nenhum dos pares, circula com desenvoltura entre eles. Por não representar nenhuma ideia, não há como ser desafiado no campo intelectual. Jeitoso, conhece o caminho para, em todas, ficar do lado vencedor.

Há outros sinais de que o sistema seguirá o mesmo. A condescendência com Eduardo Cunha é o mais eloquente. Na votação de domingo, sempre que um deputado acusava o presidente da Câmara, sua voz era abafada por um coro de desprezo. Seguiu-se, um dia depois, uma articulação aberta para salvá-lo das punições que o ameaçam. Foi constrangedor ver um réu por crime de corrupção e lavagem de dinheiro no comando da sessão de impeachment e é inimaginável vê-lo como o segundo na linha de sucessão presidencial. Cunha perde de Jucá, porém, em itens decisivos. Ele se expõe, enquanto o outro se poupa. É atrevido como um jogador de cassino, enquanto o outro soa respeitoso como um sacristão. Por mais protegido que continue, Cunha talvez já não tenha condição de figurar numa foto junto ao provável futuro presidente. Jucá, na última quarta-feira, acompanhou Temer em um almoço com o ex-ministro Delfim Netto, e o trio foi fotografado à saída.

Dilma, uma presidente que une a inépcia à arrogância, não tinha como continuar. Seu governo derreteu-se na mesma medida em que se derretia a economia e esgotavam-se seus recursos para deter o desastre. Quem esperava, no entanto, que, em acréscimo, viria uma mudança no modo de fazer política perdeu. Deu Jucá.


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sábado, 5 de maio de 2018

MARUN, JUCÁ E LULA LÁ



Antes de se sagrar escudeiro de Michel Temer, o deputado Carlos Marun se desmanchava em rapapés para o ex-todo poderoso Eduardo Cunha. Quando o ex-presidente da Câmara foi cassado ― não pelos crimes que cometeu, mas por ter mentido a seus pares ―, o hipopótamo dançarino não só votou contra, mas foi o único deputado no plenário a defender o correligionário. Depois que Cunha foi preso, Marun se tornou o pitbull do Temer e relator da CPI da JBS ― mesmo tendo recebido R$ 103 mil reais em doações do frigorífico e sendo alvo de um processo por improbidade administrativa (acusado de beneficiar uma empresa de software em contratos de R$ 16,6 milhões).

O gaúcho Carlos Eduardo Xavier Marun é descendente de imigrantes libaneses. Formou-se em Engenharia e, nos anos 1980, trocou Alegrete (RS) pelo Mato Grosso do Sul. Elegeu-se deputado federal em 2015 e teve uma ascensão meteórica: em menos de 3 anos, conquistou uma cadeira no 4ª andar do Palácio do Planalto.

No mês passado, Marun chegou a pedir o impeachment do ministro Barroso ― por “ter sido contaminado por suas preferências políticas”. Semanas atrás, quando a procuradora-geral mandou prender amigos íntimos de Temer, o pitbull palaciano rosnou que Raquel Dodge integrava “um complô para depor o presidente”. Mas a cereja do bolo foi a infeliz dancinha em plenário ― com direito a rebolado de quadril ― da marchinha “Tudo está em seu lugar”, de Benito Di Paula, para comemorar a rejeição da segunda denúncia oferecida contra o amigo Michel por Rodrigo Janot.

Até assumir a vaga de deputado, em 2015, o patrimônio declarado de Marun resumia-se a duas cadernetas de poupança e um Citroën Picasso. Mal chegava a R$ 100 mil. Já no primeiro ano de mandato, o emedebista comprou uma casa de mais de 200 metros quadrados num luxuoso condomínio em Campo Grande, que foi registrada por mais de R$ 1 milhão. Em 2016, os negócios continuaram a prosperar ― em meio à recessão que obrigou diversas empresas a fechar as portas, a família Marun lançou uma “assessoria empresarial” voltada para países árabes.

Segundo a jornalista Débora Bergamasco, Marun tornou-se o Silvio Costa ― deputado rouco e histriônico defensor de Dilma ― de Michel Temer, atribuindo-se espontaneamente o múnus de defender o presidente das duas denúncias da PGR. Como relator da CPI da JBS, utilizou a caneta, o microfone e os holofotes para fazer implacáveis críticas ao MPF, atirando mais precisamente contra Janot ― que se tornou persona non grata entre a maioria dos parlamentares. Em dezembro passado, pediu o indiciamento do ex-procurador-geral, do procurador Eduardo Pelella e do agora advogado Marcello Miller ― a repercussão foi péssima até mesmo entre governistas, levando o cão de guarda a retirar o tópico do texto em troca da aprovação de seu relatório.

Fato é que Michel Temer está muito mal assessorado. Nos últimos dias, cometeu erros crassos a pretexto de tentar reverter sua impopularidade, que ombreia com a de Collor e Dilma durante os respectivos impeachments. Um presidente que convoca uma rede nacional de rádio e TV para celebrar o Dia do Trabalhador e pede “esperança” aos mais de 13 milhões de desempregados não tem noção da tragédia que se espalha pelo país, pouco importando que o grosso do desemprego se deva a erros anteriores a sua gestão. E ainda que sua equipe econômica tenha conseguido reduzir a inflação e os juros e aprovar alguns projetos importantes, a recuperação não veio com a intensidade e a velocidade esperadas.

Na opinião de Merval Pereira, o anúncio do aumento do Bolsa Família ― que só entrará em vigor em julho ― não traz esperanças nem a quem vive do sustento governamental, e anunciá-lo agora foi outro equívoco de quem está ansioso para melhorar sua aceitação pública. Mas comparecer ao local do desmoronamento de um prédio ocupado por movimentos populares em São Paulo foi a quintessência da falta de noção (conforme eu mencionei no post anterior, Temer compareceu a um local minado politicamente e teve que sair de lá às pressas). Parece a piada onde o sujeito muda de calçada apenas para escorregar numa casca de banana.

Quanto a Lula, a tal “comoção nacional” com sua prisão ― preocupação do ministro Marco Aurélio Mello ― não foi observada sequer neste melancólico 1º de Maio. Mesmo sendo insuflados pelos irresponsáveis caciques petistas que sobraram fora da cadeia, as lideranças sindicais não se deixaram levar pelo radicalismo, deixando claro que o molusco indigesto perdeu grande parte de sua capacidade de mobilizar a população.

Ainda assim, Gleisi Hoffmann, Lindbergh Farias, Humberto Costas e outros petralhas ― cujos discursos, trocados por merda, ainda seriam caros ― insistem em confrontar a Justiça, na vã esperança de tentar tirar seu amado líder da cadeia e fortalecer uma campanha presidencial da qual o bandido de Garanhuns certamente não participará. As tentativas dos últimos dias, com chicanas e mais chicanas, vêm sendo derrubadas uma a uma. O showmício em Curitiba mostra bem o isolamento do PT: apenas Boulos e Manuela D’Ávila, candidatos de esquerda, compareceram. O suposto provável substituto de Lula na campanha, Jaques Wagner, defende a aliança com Ciro Gomes e fala em aproximação até mesmo com Joaquim Barbosa, que, durante o julgamento do mensalão, chamou o PT de organização criminosa.

Uma das maiores virtudes de Lula sempre foi a capacidade de enganar as pessoas mais humildes com argumentos populistas. Mas, para se aproveitar da boa-fé dos desassistidos e menos esclarecidos, o demiurgo ofendeu a inteligência de muita gente, que passou a vê-lo como cínico, oportunista, explorador e mentiroso. Apostar na ignorância eterna da maioria da sociedade talvez tenha sido seu maior erro. Embora jamais tivesse chegado onde chegou sem sua vocação inata para ludibriar os ignorantes num tempo em que não havia internet, o petralha subestimou o avanço dos meios de comunicação e o acesso a dispositivos conectados, que tornaram as pessoas menos "trouxas".

Com isso, seus admiradores foram aos poucos se familiarizando com o verdadeiro Lula, que não conseguiu se "reinventar" e prosseguiu com sua retórica demagógica e corrupção desenfreada, confiando na fidelidade de seus cúmplices, achando que eles jamais entregariam os podres do lulopetismo ― o que, em tese, lhe garantia sigilo sobre as falcatruas em que se envolveu. Mas aí vieram a Lava-Jato e a perseverança extraordinária dos procuradores e do juiz Sergio Moro.

Réu em sete ações penais, condenado na primeira delas por corrução e lavagem de dinheiro, o molusco eneadáctilo descobriu na prática qual é o fim de qualquer criminoso. O prodígio que alcançou notoriedade mundial se vê agora na condição de condenado pela justiça, com bens confiscados, preso e rejeitado pela sociedade ― menos pela patuleia incorrigível, que, por algum motivo insondável, continua acreditando no seu besteirol.

Por questões de espaço, vamos deixar Jucá para uma próxima vez.

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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

FERNANDO SEGOVIA E A MALA DE DE ROCHA LOURES


O desejo era antigo ― vinha desde a consumação do impeachment da anta vermelha ―, mas faltava coragem para torná-lo realidade quando a população não só rosnava nas redes sociais como saía às ruas para mostrar os dentes. Finalmente, há coisa de duas semanas, nosso temerário presidente ― aquele dos 3% de aprovação popular ― trocou Leandro Daiello, por Fernando Segovia no comando da PF.

Daiello ocupava o cargo desde 2011 e teve papel preponderante na Operação Lava-Jato. Segovia foi ex-adido policial na África do Sul e ex-superintendente da PF no Maranhão, feudo da família Sarney ― cujo macróbio patriarca foi um dos responsáveis pela oportuna indicação do delegado, e sua nomeação, recebida com reservas, é vista como fruto de uma “forte movimentação do quadrilhão do PMDB”. Precisa dizer mais alguma coisa? Precisa, sim. Até porque todo mundo merece o benefício da dúvida, embora concedê-lo a alguns é uma prova incontestável de ingenuidade. Mas vamos por partes.

A nomeação de Segovia pode ser resumida da seguinte maneira: um presidente da República sob investigação da PF troca o chefe daqueles que o investigam. Não à toa, o gesto presidencial foi prontamente retribuído: em sua primeira entrevista coletiva, logo após a cerimônia de posse, o delegado reduziu as denúncias oferecidas contra Temer pelo então procurador-geral Rodrigo Janot, sustentadas nas delações da JBS e em investigações da própria PF, a “um ponto de interrogação que fica hoje no imaginário popular brasileiro”. Não satisfeito com essa “pérola”, Segovia pariu mais uma ao dizer que “uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção” [referindo-se à mala com R$ 500 mil em dinheiro vivo, entregue por Ricardo Saud a Rodrigo Rocha Loures ― homem da mais estreita confiança do presidente, segundo o próprio presidente ―, numa operação controlada da PF].

O discurso de Segovia foi uma peça política, algo inadmissível a um diretor da PF. Igualmente inadmissível foi ele se comportar como um ministro do Planalto, um advogado de Temer ou o próprio presidente. Seu pronunciamento, além de conter erros factuais acerca das investigações, revelou desconhecimento técnico sobre os inquéritos de Temer e deixou a nítida impressão de subserviência ao palácio do Planalto.  

O fictício detetive Hercule Poirot, imortalizado nos romances policiais da inesquecível Ágata Christie, fazia perguntas para estruturar um raciocínio que desembocava em surpreendentes revelações. Já Segovia não dá respostas, apenas formula insinuantes indagações.

Em vez de deixar o problema na floresta do “imaginário popular”, Segovia deveria anunciar que vai correr atrás de respostas.  O fato de se sentir à vontade para minimizar em público as gravíssimas denúncias de corrupção contra aquele que o nomeou ― e obtidas em grande parte por seus (agora) subordinados ― indicam o triste curso que as coisas tomaram em Brasília.

Por essas e outras, as declarações de Segovia e as circunstâncias de sua nomeação são preocupantes. Sobre Temer, ele disse que “o presidente continuará a ser investigado com a celeridade de todos os outros inquéritos”. Não é o que parece. Como bem ironizou o procurador da Lava-Jato Carlos Fernando Santos Lima, “quantas malas de dinheiro seriam suficientes para o novo Diretor-Geral da Polícia Federal?” 

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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

CADEIA NELES! E LULA LÁ!


Nossas organizações políticas se tornaram quadrilhas que visam exclusivamente acumular riquezas e se perpetuar no poder. Seus membros, na esmagadora maioria, são políticos fisiologistas que moldam a legislação conforme suas conveniências, não raro blindando-a para impedir a renovação dos quadros. Ao impotente eleitor, resta a triste missão de comparecer às urnas a cada dois anos para legitimar a permanência dessa caterva no poder.

No nosso arremedo de democracia, o voto não baliza as ações do governo, apenas se limita, pleito após pleito e escândalo após escândalo, a manter tudo como está. E o resultado não poderia ser diferente do que vimos dias atrás, quando 3 deputados fluminenses, presos por notório envolvimento com a máfia dos ônibus, foram prontamente acudidos por seus cúmplices (39 dos 70 membros da ALERJ) e colocados em liberdade mediante uma discussão legal estapafúrdia, na qual os fatos não produzem consequências.

Foi o STF que, no mês passado, ao julgar uma ação direta de inconstitucionalidade impetrada pelo PP, pelo PSC e pelo Solidariedade, decidiu que medidas cautelares que suspendem ou prejudicam o exercício de mandato parlamentar devem ser submetidas às Casas legislativas em 24 horas. Com isso, abriu-se uma porta para o Senado reverter o afastamento do tucano Aécio Neves, a vergonha nacional, e criou-se o perigoso precedente que já trouxe de volta à vida pública, além dos 3 da ALERJ, deputados corruptos também no Rio Grande do Norte e no Mato Grosso.

Enfim, o TRF-2 mandou Picciani e seus cúmplices de volta para o xadrez, por não reconhecer a competência da ALERJ para anular a prisão original. Resta saber como se pronunciarão o STJ e o STF, já que recursos certamente serão interpostos pelos nobres defensores dessa cáfila de malfeitores, que precisam justificar seus régios honorários.

Depois de assembleias legislativas usarem a decisão do STF para livrar colegas de plenário da prisão antes mesmo da publicação do acórdão, alguns ministros questionaram a extensão da interpretação usada no caso de Aécio para beneficiar deputados estaduais. Caberá ao Supremo esclarecer se todo o Legislativo pode cometer crimes e ficar impune, ou se essa é uma prerrogativa exclusiva dos parlamentares federais ― por enquanto, pelo mesmo ralo onde passa um corrupto federal passam quadrilhas estaduais, oesgoto é o mesmo.

Observação: Nunca é demais lembrar que foi o vergonhoso e pusilânime voto de Minerva da ministra Cármen Lúcia que desempatou o placar o julgamento da tal ação direta de inconstitucionalidade, fazendo o fiel da balança apontar para o lado errado (na minha opinião, naturalmente, que certamente não é a mesma dos nossos caríssimos políticos).

Urge impedir que essa caterva de políticos moralmente putrefatos continue impondo sua imoralidade à sociedade brasileira, como fez com o neto de Tancredo e quase conseguiu fazer com o trio calafrio fluminense a partir de uma discussão “legalista” que só interessa aos advogados que ganham rios de dinheiro defendendo as quadrilhas com mandato. Lugar de corrupto é na cadeia, seja político ou não, tenha mandato parlamentar ou não.

Basta de foro privilegiado para ladrões de colarinho branco. Que sejam todos julgados pela mesma Justiça que investiga, processa, julga e pune de simples ladrões de galinha a empresários que se mancomunaram com políticos para roubar o suado dinheiro dos contribuintes. Cadeia neles! E Lula lá!    

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terça-feira, 31 de outubro de 2017

DEPUTADO MARUN, DANCINHA DA IMPUNIDADE E OUTROS ASSUNTOS



Conforme eu disse nesta postagem, o vice-líder do governo na Câmara e comandante da tropa de choque presidencial Carlos Marun comemorou a palhaçada da última quarta-feira ― não me ocorre outro termo para designar a votação da segunda denúncia contra Temer ― com a dancinha da impunidade, numa paródia mal-ajambrada de Tudo Está no Seu Lugar, de Benito di Paula, que o deputado cantou e dançou com a graça de um hipopótamo bailarino (não deixem de clicar nos links e conferir os vídeos). O amigo do Charlie Brown não gostou nem um pouco da história. Em entrevista à FOLHA, ele disse “estar muito puto” com o que classificou de “desrespeito”, chamou Marun de “babaca” e disse que “o cara merecia processo”.

Como uma cara de pau de Jacarandá-da-Bahia, o ex-presidente petralha, hepta-réu e condenado a 9 anos e seis meses de xilindró vem rodando o país em caravana, muito antes do prazo oficial de campanha, pedindo votos aos trouxas. Infelizmente, idiotas brotam como ervas-daninhas e, no Brasil, eles vêm com título eleitoral como equipamento padrão. Em 2014, o demiurgo de Garanhuns exortou a população menos esclarecida a “votar numa ideia, num bom programa, numa boa chapa, não numa pessoa”. Boa parte desses anormais votou na chapa formada pela deplorável nefelibata da mandioca e seu vice ― ora denunciado (duplamente) por corrupção, formação de quadrilha e obstrução da Justiça.

Falando no vampiro do Planalto, o marqueteiro Elsinho Mouco afirma que conseguirá elevar de 3% para 50% a popularidade de Michel Temer. Depois, certamente dará uma palestra mostrando ser possível enxugar gelo com toalha quente e pintar peidos de verde-amarelo.

O publicitário aposta nas ruas vazias (cooptação de movimentos), na melhora dos indicadores econômicos (obra de Henrique Meirelles) e na parceria com o Congresso (obtida com a uma imoral compra de votos), e sua campanha já tem um novo slogan: “Agora, é Avançar.” Mas não seria melhor usar o bom e velho “Tem que manter isso aí, viu!”, que está inarredavelmente associado a Michel Temer?

Observação: Dizem que Mouco teve uma epifania: um anjo lhe apareceu em sonho e garantiu que haverá uma adesão natural à figura do presidente quando “for totalmente revelada a armação” que ele vem sofrendo. Nem imagino o que esse sujeito possa ter bebido ou cheirado antes de dormir, mas isso se parece mais com uma edição revista e atualizada da falácia do “golpe” que depôs Dilma Anta Rousseff.

A Justiça não pode fazer ouvidos moucos (desculpem, não resisti ao trocadilho) a um levantamento feito pela FOLHA, segundo o qual os pagamentos do governo federal à agência de publicidade Calia Y2 Propaganda e Marketing, que pertence a um irmão de Elsinho Mouco, cresceram 82% na gestão de Michel Temer. Foram R$ 102 milhões entre 31 de agosto do ano passado ― quando Temer foi efetivado na presidência, e 31 de agosto deste ano. Durante todo o (des)governo de Dilma (de janeiro de 2011 a maio de 2016), a média mensal de despesas com a Calia foi de R$ 3,3 milhões, contra cerca de R$ 6,5 milhões no governo Temer (os valores foram atualizados pela inflação). Só neste ano, os desembolsos de janeiro a agosto alcançam R$ 64 milhões, mais do que em qualquer ano de administração da petista.

Elsinho Mouco fez as campanhas eleitorais de Temer e presta serviços ao PMDB há pelo menos 15 anos. Com o impeachment, passou a ser responsável pela imagem do presidente e cunhou o slogan Ordem e Progresso ― que remonta aos primórdios da República ― e o Bora, Temer ― que se contrapõe ao Fora Temer. Em agosto, assumiu o cargo de diretor na agência Isobar (antiga Click), que cuida da estratégia oficial para redes sociais, e passou a receber indiretamente do governo, além de ocupar uma sala dentro do Palácio do Planalto.

É mole?

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domingo, 29 de outubro de 2017

TEMER FOI INTERNADO, MAS CONTINUA RESPIRANDO GRAÇAS À AJUDA DE 251 DEPUTADOS.


Reclamando de um “desconforto”, Temer foi internado, na última quarta-feira, para exames urológicos que constataram uma obstrução. Segundo O Sensacionalista, o superministro Gilmar Mendes foi chamado a interceder, e concedeu imediatamente um habeas corpus liberando a uretra presidencial, e o vampiro do Planalto recebeu alta no início da noite, já respirando com a ajuda de 251 deputados e 12 bilhões de reais em emendas.

O Brasil é que vem sentindo um enorme desconforto há mais de um ano, mas nada tem sido feito para resolver isso.

Para poder adquirir parlamentares, Temer baixou os juros para pagar em 24 vezes no crediário. Durante as horas em que a gravidade do quadro de saúde presidencial não era conhecida, o Capeta articulou novas alianças por medo de perder o controle do inferno para o PMDB .

Gozações à parte, dois dias após o sepultamento da denúncia contra si e seus comparsas, Temer, o temerário, voltou a ser internado, desta feita no SUS, digo, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para ser submetido a uma raspagem da próstata. Após o procedimento, o vampiro do Planalto foi levado para o necrotério, digo, para uma unidade semi-intensiva, e passa bem, embora ainda não se saiba o horário do funeral, digo, não se sabe quando sua insolência terá alta.

Apesar da recomendação de repouso, Temer despachou normalmente na quinta e na sexta-feira ― como se realmente precisasse trabalhar feito um mouro para pagar o michê das marafonas da Câmara (o povo já fez isso por ele, e o dinheiro está lá, fruto da escorchante carga tributária a que os cidadãos de bem deste país são submetidos).

Há previsão de alta para amanhã, mas o sepultamento do presidente, digo, o retorno a Brasília deve ocorrer somente na quarta-feira, já que o índio de merda, digo, o presidente da Bolívia, Evo Morales, cancelou  o encontro que teria com Temer na véspera do Halloween (vai que esse troço pega...).

Itamaraty e o governo boliviano ficaram de agendar uma nova data.

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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

MINEIRINHO SAFO SE SAFOU. PARABÉNS, SENADO CORPORATIVISTA! PARABÉNS, STF PUSILÂNIME!


Por 44 votos a 26, o Senado revogou as medidas cautelares impostas a Aécio Neves pelo STF. Com isso, o mineirinho safado, que estava afastado do cargo desde o último dia 26, por decisão da 1ª Turma, deve voltar, a partir de amanhã, a exercer as funções de seu mandato e a circular livremente durante a noite.

Aécio contava com o apoio de Temer para conseguir votos no PMDB, e Temer, com a ajuda de Aécio e do PSDB para barrar, na Câmara, a segunda denúncia da PGR. Para bom entendedor, pingo é letra.

Foi revoltante ver Romero Jucá ― que tirou parte das tripas recentemente, mas interrompeu o resguardo para proferir seu discurso caga-raiva pela imunidade parlamentar ampla, geral e irrestrita e votar em favor de Aécio ― às gargalhadas com o igualmente imprestável Renan Calheiros, e virar as costas para a câmera quando se deu conta de estar sendo filmado. A propósito: Jucá responde a 13 inquéritos, 8 na Lava-Jato, ao passo que Renal é réu por peculato, investigado em outros 17 inquéritos, 13 dos quais oriundos da Lava-Jato. Aliás, entre os senadores que votaram em favor de Aécio, 17 são investigados em ações originadas na operação Lava-Jato.

A votação da admissibilidade da segunda denúncia contra Temer, na CCJ, já começou, e a decisão em plenário deve sair até o final do mês. Alguém duvida de que o espírito de porco ― digo, espírito de corpo ― baixará nos conspícuos deputados, sobretudo nos dublês de amante argentina, que, em troca dos tradicionais presentinhos, concederão seus favores ao sucessor de Dilmanta Rousseff?

Essa corja de filhos da puta está brincando com fogo. Depois os milicos resolvem dar um basta na farra (e promover sua própria festa) e quem paga o pato somos todos nós.

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sábado, 23 de setembro de 2017

LULA, TEMER E O CIRCO MARIMBONDO


Lula e o PT fomentaram a dicotomia a tal ponto que coxinhas e mortadelas passaram de adversários políticos a inimigos figadais, e ora travam um embate insano em que só há perdedores: quando um lado comemora as desventuras do outro, o avanço das investigações traz novos fatos que invertem diametralmente a situação.

Poucos ainda têm estômago para ouvir Lula, o hepta-réu, protestar inocência e se dizer perseguido e injustiçado, mas é igualmente revoltante ver a cara de paisagem de Michel Temer, que age como o país avançasse de vento em popa e sua permanência na presidência não estivesse por um fio. No entanto, daí a defender a anulação do impeachment e a volta de Dilma, com fazem alguns, é tão absurdo quanto saudar a mandioca ou acreditar que o chefe da ORCRIM é o salvador da pátria, o portador da luz e o dono absoluto da verdade.

Observação: Segundo O Globo, Lula, discursando para uma claque na Fundação Perseu Abramo ― entidade ligada ao PT ―, flatulou mais essa: “Mexeram com quem não deveriam mexer”. Não é porque estou acima de qualquer coisa. É porque eu não fiz o que eles dizem que eu fiz. (…) Eles estão mexendo com um político que não roubou, que não tem medo deles e que a única coisa que tem é a sua honra para defender”.

Há quem diga que esse projeto de candidato deveria mesmo concorrer, pois somente sua derrota nas urnas exorcizaria o mito do “grande estadista vítima da conspiração das ‘zelites’, da Globo, da Justiça e da ponte que o partiu”. Mas isso exigiria o sobrestamento de todas as acusações contra ele, e até mesmo nesta republiqueta de bananas a Lei determina que bandido deve ser julgado pela Justiça, não pelas urnas.

O demiurgo do agreste sempre foi mestre em manipular os desassistidos e iludir os desinformados, mas seu carisma já não é o mesmo: em recente caravana pelo Nordeste ― onde a pobreza é acentuada e o eleitorado, mais facilmente manipulado ―, o pupilo de Lampião voltou a ser o que era antes de 2002, ou seja, um candidato de piso alto e teto baixo (o piso alto lhe daria um lugar no segundo turno; o teto baixo lhe retiraria chances de vitória).

Lula confunde o Brasil dos nossos dias com o de 2002, quando ele contava com marqueteiros de primeiro time para criar a imagem do “Lulinha Paz e Amor” ― hoje, sua insolência faz mais o gênero jararaca, e nem Duda Mendonça nem João Santana estão disponíveis para auxiliá-lo. Em 2002, José Alencar ajudou a dispersar o receio de um governo norteado pelas ideias radicais e inconsequentes do PT, e a Carta ao Povo Brasileiro ― idealizada, pelo então aliado e hoje abominado Antonio Palocci ― que corre o risco de ser expulso do partido por ter entregado o chefe ― assegurava que os compromissos internacionais, contratos e metas de superávit primário seriam respeitados, o que foi decisivo para conquistar o apoio de parte do empresariado e obter financiamento de campanha. Naquela época, uma parcela significativa da classe média (nas regiões Sudeste e Sul, inclusive) resolveu dar uma chance ao “candidato do povo”; hoje, o rufião vermelho aparece nas pesquisas como o mais rejeitado entre os pretensos presidenciáveis.

Em 2005, quando o Mensalão veio a público, o sapo barbudo convenceu a militância de que a bandalheira fora necessária, que o PT não era corrupto ― os outros é que eram ―, e que ele precisava de apoio para governar e implementar seus programas sociais. Uma falácia que dificilmente colaria nestes tempos de Lava-Jato, por mais que o colecionador de processos bata na tecla da perseguição política.

Lamentavelmente, os áulicos militantes petistas não são os únicos que se deixam iludir pelo besteirol que inunda a mídia e as redes sociais. Prova disso é o apoio crescente a Jair Bolsonaro e o número de inconsequentes que defendem a intervenção militar como solução pôr ordem na casa de Noca em que se transformou o Congresso Nacional.

Observação: Militares não são imunes à picada da mosca azul, e a história ensina que eles vêm para ficar pouco tempo, mas se entronizam no poder, prendem e arrebentam a torto e a direito e não resolvem merda nenhuma.

Enquanto a tropa de choque do governo define a denúncia do MPF contra o presidente como uma farsa, menospreza o inquérito da PF que mapeou a atuação dos caciques do PMDB ― que, sob o comando de Temer, davam as cartas na Câmara e, depois, no Planalto ―, trata os R$ 51 milhões encontrados no bunker de Geddel como algo de somenos, mas faz o maior carnaval com a foto de Janot sentado em um bar com um dos advogados de Joesley Batista, a patuleia vermelha repete ad perpetuam o mantra de que não há provas contra Lula ― sete vezes réu e já condenado a 9 anos e 6 meses de prisão em um dos processos ― e que Palocci mentiu para se livrar da cadeia.

Haja saco para aturar tanta cretinice!

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

SOBRE GEDDEL, TEMER E LULA


A honestidade e a lisura no trato da coisa pública ― virtudes esperadas de presidentes, ministros, parlamentares, governadores e políticos em geral ― há muito fizeram as malas e partiram do Brasil. Para onde? Ninguém sabe, ninguém viu. Prova disso é a sucessão de escândalos-nossos-de-cada-dia, de fazer corar santo de pedra, mas que a população transforma em anedota porque lágrimas não pagam dívidas e a vida precisa continuar. 

Um bom exemplo é o caso de Rodrigo Rocha Loures ― homem da mais estrita confiança do presidente segundo o próprio presidente. Flagrado arrastando uma mala com R$ 500 mil, ficou conhecido como o “homem da mala” de Temer, mas foi rebaixado a “homem do nécessaire” quando a PF encontrou oito malas e seis caixas de papelão com R$ 42.643.000 e US$ 2.688.000. Dinheiro pra dedéu ― ou pra Geddel, melhor dizendo, já que a bufunfa estava guardada num apartamento emprestado ao amigão do peito e ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Michel Temer, ex-ministro da Integração no governo de Lula, vice-presidente da CEF na gestão de Dilma, além de cinco vezes deputado federal pelo PMDB da Bahia.

Observação: Digitais de Geddel foram encontradas aos montes, tanto no apartamento quanto nas cédulas. A PF precisou de duas camionetes para transportar a dinheirama, que 11 funcionárias levaram 14 horas para contar, mesmo com a ajuda de 7 máquinas de contar dinheiro.
O cara-de-suíno foi reconduzido ao presídio da Papuda ― onde já havia sido hospedado durante alguns dias, em julho, até que alguém mexeu os pauzinhos e ele passou a cumprir prisão domiciliar no conforto de seu luxuoso apartamento ― e sem tornozeleira eletrônica, que esse dispositivo está em falta na Bahia. O leitor quer saber quem teria mexido os pauzinhos? Ora, quem tinha mais a temer diante da possibilidade de, se mantido preso, Geddel abrir o bico. Deu para entender ou quer que eu desenhe?

Observação: Para que o leitor tenha uma ideia do que representam R$ 51 milhões, um brasileiro que ganhasse salário mínimo precisaria trabalhar durante 35 anos por 129 vidas para acumular essa bufunfa, e isso se não gastasse um único centavo. Com essa quantia é possível comprar, por exemplo, 12.442 smartphones top de linha. Ou dois apartamentos no edifício L’Essence, no bairro paulistano dos Jardins. Ou 1.105 veículos Onix, da GM. Ou 22 helicópteros Robinson R44.

Temer, fleumático como um lorde inglês, faz cara de paisagem, trombeteia as conquistas do seu governo e se diz empenhado na aprovação das urgentes reformas de que o país tanto precisa, enquanto seu advogado pede ao ministro Fachin a suspensão de “qualquer nova medida de Rodrigo Janot” ― o plenário do Supremo deve decidir nesta tarde sobre o pedido.

Também na tarde desta quarta-feira, 13, o molusco abjeto deverá depor pela segunda vez ao juiz Sergio Moro, desta feita nos autos do processo que envolve a compra de um terreno para abrigar o “Instituto Lula” e do apartamento vizinho àquele onde o petralha reside em São Bernardo do Campo, além de outros benefícios espúrios ― como uma série de “palestras” a R$ 200 mil cada ― tudo bancado pelo Grupo Odebrecht em troca benesses nas gestões petistas.

Nunca é demais lembrar que o Demiurgo de Garanhuns já foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão e regime fechado, responde a mais cinco processos, é alvo de pelo menos mais duas denúncias e de inúmeras outras investigações. Mesmo assim, o sacripanta tem viajado pelo Nordeste em campanha antecipada à presidência ― sem que o TSE mova uma palha para impedir.

Depois do depoimento bombástico do cumpanhêro Palocci ― coordenador da campanha de Lula em 2002, ministro de Estado em nos governos de Lula e de Dilma ― e do conteúdo de sua delação premiada (que ainda está em fase de negociação), falta pouco para as aspirações políticas do molusco eneadáctilo naufragarem no mar de corrupção criado pelo projeto de poder do próprio Lula e de seu espúrio partido. E quanto antes, melhor.

Volto com mais detalhes amanhã ou a qualquer momento, em edição extraordinária. Enquanto isso, assista ao clipe de vídeo abaixo:   



Um ótimo dia a todos.

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domingo, 30 de julho de 2017

AINDA SOBRE MICHEL MIGUEL ELIAS TEMER LULIA



O presidente Michel Temer perdeu a primeira grande chance de fazer um favor ao Brasil em agosto do ano passado, quando Dilma foi definitivamente expelida da presidência. Mas não seria mesmo de se esperar a grandeza da renúncia de um vice que não só articulou o impeachment da titular, mas também foi seu maior beneficiário.

Num primeiro momento, a troca de comando pareceu alvissareira. O novo presidente sabia até falar ― um refrigério, considerando que passamos 13 anos ouvindo os garranchos verbais de um semianalfabeto e as frases desconexas de uma aculturada exótica que jamais foi capaz de juntar sujeito e predicado numa frase que fizesse sentido. Claro que seria impossível consertar o país da noite para o dia, dada a magnitude da crise parida pela anta vermelha. Mesmo assim, Temer conseguiu debelar a inflação (que rodava pelos 10% quando ele assumiu e agora está em torno dos 3%), reduzir de maneira “responsável” a taxa SELIC e aprovar a PEC dos gastos e a reforma trabalhista, apenas para citar os exemplos mais notórios.

Por outro lado, o prometido ministério de notáveis revelou-se uma notável agremiação de apaniguados corruptos ― que foram caindo à razão de um por mês, entre maio e dezembro do ano passado. No entanto, mesmo com a podridão aflorando no seu entorno, Michel seguia adiante, conduzindo a nau dos insensatos pelas águas revoltas da crise como um timoneiro experimentado. Sob seu comando, dizia, o Brasil chegaria são e salvo às próximas eleições e seria entregue fortalecido ao próximo dirigente. E a coisa até funcionou durante um tempo, a despeito da impopularidade outorgada ao peemedebista pela pecha da ilegitimidade ― o que é uma bobagem, pois quem queria Dilma presidente votou na Chapa Dilma-Temer, e como vice da anta, Michel era tanto seu substituto eventual quando o primeiro nome na linha sucessória presidencial ― o que ele fez para ser promovido a titular e o fato de seu governo ter degringolado já é outra conversa.

Dilma, sempre arrogante, intransigente e mouca à voz da razão, montou uma arapuca para si mesma, mas levou de roldão tanto os inconsequentes que a reconduziram ao Planalto, no pleito de 2014, quanto a parcela pensante dos brasileiros. Num monumental estelionato eleitoral, essa calamidade em forma de gente represou preços administrados, aumentou gastos com programas eminentemente eleitoreiros e “pedalou” a mais não poder. Seu apetite eleitoral, somado à irresponsabilidade fiscal, aumentou o inchaço da máquina pública e resultou na falência do Estado ― para se ter uma ideia, durante seu segundo mandato, enquanto a Casa Branca contava com 468 servidores, o Palácio do Planalto contabilizava 4 487 funcionários.

A nefelibata da mandioca repetiu na presidência o que fez com duas lojinhas de quinquilharias importadas, em meados da década de 90 (detalhes nesta postagem). Em setembro de 2015, nove meses depois do início de sua segunda gestão, o Orçamento já acumulava um rombo de R$ 30 bilhões ― algo nunca visto em toda a história deste país. Era o começo do fim: embora a justificativa oficial tenha sido as pedaladas fiscais, a deposição da petista foi resultado do conjunto da sua obra e da total falta de jogo de cintura no trato com o Congresso. E como desgraça pouca é bobagem, a cada dia que passa o governo de Michel Miguel Elias Temer Luria fica mais parecido com o de Dilma Vana Rousseff.

Quando a delação de Joesley Batista veio à lume, Temer perdeu a segunda grande chance de renunciar. Chegou a pensar seriamente em fazê-lo, mas foi demovido da ideia por Eliseu Padilha, Moreira Franco e outros assessores igualmente investigados ou suspeitos de práticas nada republicanas ― que perderiam os cargos e o foro privilegiado caso o presidente renunciasse. Assim, em seu primeiro pronunciamento à nação depois de o encontro clandestino com o moedor de carne bilionário ter sido revelado pelo jornalista Lauro Jardim, sua excelência afirmou enfaticamente que não renunciaria, e que o inquérito no STF seria o território onde surgiram as explicações e restaria provada sua inocência. E o que fez desde então? Mentiu descaradamente para justificar o injustificável, atacou seus acusadores e moveu mundos e fundos (especialmente fundos) para obstruir a denúncia. 

Agora, enquanto Michelle ma belle promove uma verdadeira liquidação de cargos e emendas para evitar evitar a instauração do inquérito contra sua real pessoa, diversos órgãos do governo ― dentre os quais a Câmara Federal ― estouram o teto de gastos. E não é para menos: sustentamos 30 ministérios com quase 100 mil cargos de confiança e comissionados ― cada senador tem direito a 70 assessores. Bancamos aluguéis, passagens, diárias, assistência médica, beleza e educação de ministros, parlamentares e seus familiares. O funcionamento do Congresso custa a “bagatela” de R$ 28 milhões por dia! Pagamos até as viagens de Dilma ― que só neste ano torrou R$ 520 mil em viagens para contestar o impeachment. E os demais ex-presidentes (Lula, Collor, FHC e Sarney) também têm suas viagens bancadas pelo Erário, além de contarem com um séquito de assessores e automóveis com motorista, combustível e manutenção bancados pelo suado dinheiro dos “contribuintes” (volto a essa questão mais adiante).

Dias atrás, o governo anunciou um Plano de Demissão Voluntária de servidores. Em teoria, faz sentido; basta circular pelos ministérios para ver que há pessoal em excesso. Na prática, porém, os resultados serão inexpressivos. E o pior é que, enquanto sobram afilhados de políticos ocupando cargos na estrutura pública, onde vagas são oferecidas em troca da fidelidade na votação da denúncia por corrupção, faltam servidores em áreas fundamentais ― como na Polícia Rodoviária Federal. Isso sem mencionar que políticos aliados que não conseguiram se eleger ganham polpudas remunerações nos altos escalões de estatais, de onde dão uma banana para o teto salarial e morrem de ri da crise e dos trouxas que sustentam suas mordomias.

Enquanto Michel Temer reedita os tempos sombrios em que Dilma agonizava ― só que com juros de agiota e correção monetária da era Sarney ―, a sociedade civil continua calada, pagando a conta de um governo que aumenta escandalosamente os impostos sobre os combustíveis para cobrir o rombo no Orçamento, mas torra R$ 2,5 bilhões com excesso de bagagem, carros oficiais e serviços de copa e cozinha. Só com despesas relacionadas com carros oficiais foram gastos mais de R$ 1,6 bi ― mais que o triplo da verba destinada ao Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, que terá de se virar com cerca de R$ 440 milhões neste ano.

Mexer nesse vespeiro não bastaria para cobrir o rombo de R$ 139 bilhões nas contas públicas, mas seria uma alternativa ao aumento de impostos. Segundo o economista Gil Castelo Branco, do site Contas Abertas, o corte de despesa mostraria que o dinheiro público não está descendo pelo ralo. Mas o governo age como um obeso mórbido, que precisa fazer uma cirurgia bariátrica, mas opta por simplesmente tomar uma sauna ― e na saída, claro, festejar com uma cervejinha e uma travessa de batatas fritas. Afinal, ninguém é de ferro.

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sábado, 17 de junho de 2017

O BALAIO DE GATOS DO CENÁRIO POLÍTICO

Como escreveu o jornalista Merval Pereira em sua coluna desta sexta-feira, a situação está de vaca não conhecer bezerro. Os partidos, que há muito perderam o rumo, agora começam a defender posições opostas às que sempre defenderam.

FHC, depois de muitas idas e vindas, passou a defender a antecipação das eleições diretas, enquanto o PT defende a tese de que não é preciso aval da Câmara para que um presidente da República seja processado.

O cacique tucano vê nas diretas uma solução para seu partido sair do imbróglio em que se meteu ao defender o atual governo a qualquer custo, enquanto os petralhas querem pegar o presidente Temer, esquecendo-se de que quem com ferro fere, com ferro será ferido, pois Lula ― ou qualquer outro petista eventualmente eleito presidente num pleito antecipado ― poderia vir a ser objeto de uma ação da PGR.

A emenda constitucional que permite processar parlamentares sem a autorização da Câmara ou do Senado ― e que o PT pretende usar como parâmetro legal para permitir que Temer seja processado pelo STF sem autorização da Câmara ― foi aprovada em 2001, quando o então deputado Aécio Neves era presidente da Casa. Os petralhas, que saudaram a aprovação desse “pacote ético”, agora alegam que a necessidade de permissão para processar o presidente da República (prevista no artigo 86 da Constituição) não é compatível com essa alteração constitucional e nem com a autorização dada pelo STF de abertura de ações contra governadores sem aval das assembleias.

Mutatis mutandis, o mesmo se dá com a emenda constitucional que acaba com o foro privilegiado ― já aprovada no Senado e que agora tramita na Câmara ―, segundo a qual os parlamentares continuariam podendo ser presos somente em flagrante e por crime inafiançável, mas, em vez de ter que conceder permissão para a prisão, a Câmara ou o Senado poderiam relaxá-la.

Hoje, o foro privilegiado continua blindando parlamentares, e as Casas Legislativas continuam tendo de avalizar a prisão de um de seus membros ― como no caso que será analisado na próxima terça-feira pela 1ª Turma do STF em relação ao senador afastado Aécio Neves (a PGR voltou a pedir sua prisão, enquanto há uma ação para que ele reassuma suas funções no Senado; se a Turma aprovar a prisão, o plenário do Senado terá de autorizá-la, o que indica a possibilidade de uma disputa entre o Legislativo e o Judiciário que pode complicar ainda mais a crise política).

Em última análise, o PSDB só mantém o apoio ao governo para obter a contrapartida do PMDB na eventual votação sobre Aécio no Senado, mas, com a mudança de posição de seus principais líderes, é possível que o senador tucano seja uma vítima colateral desse desentendimento entre os dois partidos.

Parafraseando o ministro Gilmar Mendes, que teve papel determinante na absolvição da chapa Dilma-Temer durante a palhaçada travestida de “julgamento do século” no TSE, essas questões não são “coisas para leigos”. A propósito, escreveu J.R. Guzzo em sua coluna na revista Veja da semana passada:

(...) Tudo isso só é incompreensível para o leigo, esse amador ingênuo, chato e incapaz de raciocinar como um jurista; é um bobo que utiliza a palavra “justiça” e acredita que a autoridade pública deva tomar decisões “justas”. Para os que influem ou mandam no sistema judiciário brasileiro, o leigo, tristemente, é incapaz de pensar como um profissional sério da ciência jurídica. Ali, como sabem as pessoas realmente qualificadas para tomar decisões legais, o que importa não é a aplicação do conceito romântico, tolo e pedestre de “justiça”, e sim a aplicação da “lei”; não interessa que as decisões sejam “justas”, e sim que sejam “legais” — isto é, que estejam de acordo com o que os altos tribunais decidirem.

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sexta-feira, 16 de junho de 2017

A CONFRARIA DOS IMPRESTÁVEIS

O PSDB, conhecido por sua indecisão congênita, agora dá mostras de que a incoerência é outra de suas “virtudes”: depois de passar semanas ameaçando bater asas e voar, os tucanos (ou boa parte deles, pois a decisão nem de longe foi unânime) resolveram continuar apoiando o governo “até que surja algum fato novo” e, paradoxalmente, recorrer da sentença esdrúxula do TSE, que, por 4 votos a 3, ignorou o monumental elenco de provas reunidas pelo ministro-relator e, a pretexto de resguardar a governabilidade do país (ou outra justificativa igualmente estapafúrdia), salvou o mandato de Michel Temer e os direitos políticos da anta vermelha que o antecedeu na presidência da Banânia.

Romper com o governo prejudicaria a aprovação das reformas, justificam-se os líderes do tucanato. Mas o fato é que essa decisão não passa de uma tentativa de salvar o rabo do senador zumbi Aécio Neves ― que foi afastado por decisão do STF, mas continua assombrando o Congresso e recebendo salários e benefícios ― e de garantir o apoio do PMDB nas eleições de 2018 ― como se o PSDB fosse a alternativa aos corruptos PT e PMDB para os eleitores que estão fartos de tanta corrupção e anseiam por mudanças, e como se Geraldo Alckmin fosse realmente um nome de peso para disputar a presidência (claro que existe a possibilidade de João Doria concorrer, mas isso é outra história).

Falando em Aécio, sua irmã e “braço direito”, presa preventivamente desde 18 de maio, teve seu pedido de liberdade negado pela 1ª Turma do STF (o placar foi apertado; após o ministro Marco Aurélio, relator do agravo, e Alexandre de Moraes votarem pela revogação, o ministro Luís Roberto Barroso abriu divergência e foi seguido por Rosa Weber e Luiz Fux). No próximo dia 20, a mesma Turma deverá decidir o destino do senador tucano, que ainda não foi preso por prerrogativa do cargo (parlamentares só podem ser presos em flagrante delito e por crimes inafiançáveis).

Mudando de pato para ganso, mas sem deixar a avícola dos imprestáveis, o PT, que defende “diretas já” para escolher o substituto de Temer, elegeu por via indireta e com o beneplácito de Lula a sua nova presidenta ― como prefere ser chamada a senadora Gleisi Hoffmann e, antes dela, a anta vermelha que destruiu nossa economia e ora pugna por ser reconduzida ao cargo para “consertar o Brasil que Temer destruiu”. Gleisi, que venceu o senador Lindbergh Farias por 367 votos a 226, é ré no STF, investigada na Lava-Jato e citada por pelo menos 3 delatores da Odebrecht. Afinal, nada como um criminoso para chefiar uma organização criminosa.

E já que falamos em Lula, sua excelência deve estar se sentindo desprestigiada. Enquanto Sérgio Cabral foi preso preventivamente em novembro do ano passado, tornou-se réu pela primeira vez no mês seguinte, responde (como réu) a 10 processos e já foi agraciado com sua primeira sentença (a 14 anos e dois meses de prisão em regime fechado), o molusco indigesto, que se tornou réu pela primeira vez há um ano, ainda não passou do penta e continua livre, leve e solto. A despeito de o ex-diretor da Petrobras Rento Duque e o ex-presidente da OAS Leo Pinheiro tenham declarado, em depoimento ao juiz Sergio Moro, que foram incitados pelo petralha a destruir provas contra a ORCRIM ― e de essa prática caracterizar obstrução da Justiça ―, o eneadáctilo não teve a prisão decretada. Hello, ministério público, hello, juiz Moro!

Fecho esta revoltante lista de imprestáveis com uma breve alusão ao cangaceiro das Alagoas, o ex-presidente do Congresso e senador da República (pelo PMDB, como não poderia deixar de ser) Renan Calheiros ― um rebotalho do coronelismo nordestino que já foi denunciado 3 vezes, responde a dezenas de processos e procedimentos judiciais e agora é suspeito de receber propina na compra de um poço seco da Petrobras na África, mas, como Lulalalau, continua livre, leve e solto, agora fazendo oposição ao governo, de olho nas próximas eleições, até porque, como Renan bem sabe, o eleitorado nordestino não é grande fã de Michel Temer. Aliás, de uns tempos a esta parte o presidente é como leprosário: um mal necessário, mas que não faz sucesso em lugar nenhum.

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sábado, 27 de maio de 2017

O BRASIL E A USINA DE PROCESSAMENTO DE ESGOTO


Michel Temer não conseguiu sequer atravessar a miserável pinguela que o levaria a vestir a faixa presidencial até o final do ano que vem. Chegou mesmo a montar um bom ministério e estava, afinal, começando a contabilizar bons resultados, mas não deu. E nem poderia, já que assumiu a presidência em D.O.A (dead on arrival, como dizem os relatórios hospitalares e policiais nos EUA). Chegou morto porque só sabe fazer política, agir e pensar para um Brasil em processo de extinção, onde presidentes da República recebem em palácio indivíduos à beira do xadrez, discutem com eles coisas que jamais deveriam ouvir e não chamam a polícia para levar ninguém preso. Seu governo não existe mais. A atual oposição ― até ontem governo ― do PT-esquerda não existe mais. Os políticos, como classe, não existem mais.

Como ficou claro há muito tempo, não se poderia mesmo esperar algo diferente. O Brasil de hoje é governado como uma usina de processamento de esgoto, onde entra merda por um lado e sai merda pelo outro. O que mais poderia sair? Entre a porta de entrada, que é aberta nas eleições, e a de saída, quando se muda de governo, a merda muda de aparência, troca de nome, recebe nova embalagem ― mas continua sendo merda.

Reprocessou-se o governo de Lula, deu no governo de Dilma; reprocessou-se o governo de Dilma, deu no de Temer. Não houve, de 2003 para cá, troca do material processado pela usina. Não houve alternância no poder, e isso inclui o moribundo governo Temer. Continuou igual, nos três, a compostagem de políticos “do ramo”, empreiteiras de obras públicas, escroques de todas as especialidades, fornecedores do governo, parasitas ideológicos, empresários declarados “campeões nacionais” por Lula, por Dilma e pelos cofres do BNDES.

Temer, na verdade, faz parte integral da herança que Lula deixou para os brasileiros. Tanto quanto Dilma, é pura criação do ex-presidente, e só chegou lá porque o PT o colocou na vice-presidência ― ou alguém acha que Temer foi colocado de vice na chapa de Dilma sem a aprovação do molusco? Ninguém votou nele, não se cansam de dizer desde que Temer assumiu o cargo, com o impeachment da anta vermelha. Com certeza: quem fez a escolha foi Lula, ninguém mais. Foi dele o único voto que Temer teve, e o único de que precisava.

Com o PMDB veio Michel Temer, mais Eduardo Cunha, Renan Calheiros, José Sarney e família, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Eunício Oliveira, Geddel Vieira Lima, e daí para pior. Hoje são odiados nos discursos de Lula e do PT, mas ontem eram os melhores amigos e, principalmente, comparsas. E a eles vieram juntar-se os empresários “nacionalistas” de Lula e Dilma: os Joesley e Wesley Batista, os Emílio e Marcelo Odebrecht, os Eike Batista e tantos outros capitães da indústria que já foram, continuam sendo e em breve serão inquilinos do sistema penitenciário nacional. Juntos construíram a calamidade moral, econômica e administrativa que está aí, e com certeza vão tentar, de algum jeito, beneficiar-se da gosma constitucional hoje formada em torno do pós-Temer.

Essa gente toda, com Lula e o PT à frente e bilhões de reais atrás, nos deixou o seguinte país: um dos maiores empresários do Brasil ― e também um dos mais investigados por crimes cometidos em suas empresas ― entra na residência presidencial e, numa ação nos limites da bandidagem, grava pessoalmente uma conversa do pior nível com o presidente, e com isso, ao menos até agora, livra-se da cadeia, ganha uma soma não calculada de milhões e vira herói de folhetim, no papel de “justiceiro”.

O ex-presidente Lula oscila entre duas possibilidades: ir para a prisão ao para o Palácio do Planalto. Sua sucessora é trazida, por denúncia de pessoas íntimas, para o centro do lodaçal. Seu adversário nas últimas eleições, Aécio Neves, recebe malas de dinheiro vivo desses Joesley e Wesley que atiram para todo lado. O governo e o conjunto da vida pública passaram a depender integralmente de delegados de polícia, procuradores públicos e juízes criminais. O voto popular nunca valeu tão pouco: o político eleito talvez esteja no próximo camburão da Polícia Federal. Os sucessores mais diretos de Temer podem estar em breve a caminho do pelotão de fuzilamento; fazem parte da caçamba de dejetos e detritos que há na política brasileira de hoje.

Um país assim não pode funcionar ― não o tempo inteiro, como tem sido nos últimos anos. Trata-se de uma realidade que está mais que evidente há mais de três anos, quando a Lava-Jato passou a enterrar o Brasil Velho. Era um país que, enfim, começava a agonizar: pela primeira vez na história seus donos tinham encontrado pela frente a aplicação da Justiça ― ou, mais exatamente, o princípio de que a Lei tem de valer por igual para todos. Não acreditaram, e tentam não acreditar até hoje, que aquilo tudo estava mesmo acontecendo. O único Brasil possível, para eles, é o Brasil que tem como única função colocar a máquina pública a serviço de seus bolsos. 

Gente como Lula, Odebrecht, Joesley, empresários campeões, etc. simplesmente não entende a existência de pessoas como Sérgio Moro; eles têm certeza de que não há seres humanos que não possam ser comprados ou intimidados. E o resultado está aí: um país que não consegue mais ser governado, porque os governantes não conseguem mais esconder o que fazem, nem controlar a Justiça e a Lava-Jato, que a qualquer momento pode bater à sua porta.

Post criado com base no artigo “UM PAÍS INVIÁVEL”, de J.R. GUZZO

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sábado, 22 de abril de 2017

AS DELAÇÕES BOMBÁSTICAS E O CASO DA CHAPA

Há poucos dias, a bola da vez no estapafúrdio cenário político tupiniquim era o tão aguardado julgamento da chapa Dilma-Temer pelo TSE. Agora, depois que a suspensão do sigilo da Delação do Fim do Mundo abalou Bangu, digo, abalou Brasília, os holofotes vêm focando nos depoimentos dos delatores, que, ouvidos da boca dos ditos-cujos, com direito e episódios de inequívoco escárnio, tornam-se ainda mais revoltantes. Mas tudo isso já foi coberto em outras postagens, além de estar na mídia 25 horas por dia, 8 dias por semana, de modo que vamos deixar esse assunto de lado por alguns minutos e voltar ao processo de cassação da infausta chapa ― mais um caso típico de “parto da montanha”, ou, em bom português, de muito peido e pouca bosta.  

A tão aguardada audiência terminou minutos depois que começou, porque os ministros acharam que seria preciso dar ainda mais uns dias para os advogados de Dilma apresentarem sua defesa, e, para garantir que nada aconteça, resolveram que as partes podem também convocar novas testemunhas ― que sabe Adão e Eva e a Serpente. Enfim, adiaram tudo novamente e o caso, que ninguém já levava a sério, descambou de vez para a palhaçada.

A assinatura oficial dessa obra de autoria coletiva que soma esforços de juristas, políticos e partidos ― e que o jornalista J.R. GUZZO definiu como uma das peças mais notáveis do acervo em exibição no Museu de Horrores do Estado brasileiro, com seu Tribunal Superior Eleitoral, os 27 tribunais regionais e mais de 20.000 funcionários e funções desconhecidas em qualquer democracia bem sucedida do mundo, onde jamais se julgou necessário criar uma “justiça eleitoral” para fazer eleições ― é da Justiça Eleitoral, que está examinando o caso desde o final de 2014.

O “delito” sub judice é um fenômeno, na medida em que poderia tornar “inelegível” uma chapa que foi eleita há mais de dois anos, deporia de novo do cargo uma presidanta que já foi deposta e mandaria para a rua o presidente atual, cujo mandato termina já no ano que vem. E como se isso não bastasse, o relator da patranha julgou necessário escrever um relatório de 1032 páginas (!) ― mais que isso, só a Bíblia.

Mais uma vez, como vem acontecendo nos últimos 500 anos, “prevaleceu o bom-senso”, como observou um dos marechais de campo da tropa política de Brasília. E quando a gente ouve uma figura pública dizer que prevaleceu o bom-senso, podemos ter certeza de que nos estão batendo a carteira.
O que prevaleceu, mesmo, foi o interesse de cada um. Ninguém gosta do presidente, ou diz que não gosta, mas todos querem que ele fique. O PT finge que está em guerra contra o governo; nas ruas, a militância grita “Fora, Temer”, mas nas conversas para valer, os chefes do partido dizem “Fica, Temer”. O PSDB, que começou a ação para anular a chapa Dilma-Temer, reduziu sua cobrança pela metade: como Dilma já foi, quer que Temer fique. O senador Renan Calheiros, o cangaceiro das Alagoas, se transformou de vinho em água e todo dia requisita os jornalistas para dizer-lhes que agora é um homem de oposição, aliado de coração do ex-presidente Lula e inimigo figadal de Michel Temer.

Ninguém, enfim, quer o que diz ― nem o TSE quer julgar coisa alguma. Estão todos pensando, apenas, em como tirar proveito do que pode acontecer em 2018, e em permanecer fora da cadeia até lá. É o Circo Marambaia. E se você não percebeu quem os políticos, ministros de tribunais, gênios dos partidos etc. escolheram para fazer o papel de palhaço nesse picadeiro, olhe-se no espelho.

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sexta-feira, 14 de abril de 2017

PONTOS A PONDERAR

Quis o destino que Michel Temer fosse o vice-presidente da Banânia quando o Congresso, num dos raros serviços úteis que prestou à nação nas últimas décadas, defenestrou a anta petista do Palácio do Planalto. E assim, junto com a promoção, o peemedebista herdou um monumental abacaxi, que seus antecessores plantaram em solo arado pelas máquinas do proselitismo, regaram com as águas da mentira e fertilizaram com o esterco da corrupção. Descascá-lo seria uma tarefa hercúlea para qualquer político, mas demanda ainda mais esforço de um chefe de governo que carece de apoio popular, está cercado de amigos e assessores suspeitos ou indiciados no âmbito da Lava-Jato e vê seu “ministério de notáveis” ruir como um castelo de cartas e o apoio parlamentar se esvair mais a cada dia.

Observação: Segundo recente pesquisa de opinião pública do CNI/Ibope, a um mês de completar um ano no governo, Temer amarga uma rejeição recorde (superior a 70%) e sua administração é considerada ruim ou péssima por por mais da metade dos entrevistados. Terá de se dar por feliz se conseguir realizar seu sonho de entrar para a história como “o cara que recolocou o país na trilha do crescimento”, e olhe lá. Nem mesmo os tímidos ― mas inequívocos ― sinais de melhora da economia conseguiram mudar essa tendência: inflação recuou, os juros caíram e o mercado de trabalho começou a se recuperar, mas a popularidade do presidente continua rolando ladeira abaixo.

Pela patuleia em geral ― e pelos petralhas em particular ―, Temer é tido como “ilegítimo” e tachado de “golpista”, mas isso é uma asneira monumental. Vamos esquecer por alguns minutos que a chapa Dilma-Temer está em via de ser cassada (ainda que, pelo andar da carruagem, a decisão ficará para as calendas gregas). Se considerarmos legítimos os resultados do pleito de 2014, tanto a anta vermelha quanto seu vice foram eleitos democraticamente pelo voto popular ― até porque nossa legislação não permite votar no candidato a presidente de uma chapa e no vice de outra coligação. Já no que concerne ao suposto “golpe”, só mesmo uma aberração como Dilma para insistir nessa versão bastarda do impeachment que lhe cassou o mandato ― o que ela não perde uma única oportunidade de fazer, no Brasil em dilmês castiço; no exterior, num portunhol estropiado ou num francês de galinheiro de bordel oitocentista de segunda classe.

Para os brasileiros de bem e minimamente esclarecidos, depõe contra Temer o fato de ele ter presidido o PMDB ― principal partido da base aliada que deu suporte aos governos petistas, e que se revelou tão corrupto quanto o próprio PT ―, compactuado por anos a fio com os desmandos da gerentona de araque e se beneficiado do monumental estelionato eleitoral que lhes garantiu a ambos a reeleição que, em última análise, quebrou o país. Temer sabe que as chances de reverter esse quadro nos 20 meses que lhe restam (isso se conseguir chegar ao final do mandato) são as mesmas de o proverbial camelo bíblico passar pelo buraco da agulha. Por outro lado, isso lhe permite levar adiante as reformas impopulares sem ter de se preocupar demais em “jogar para a torcida”.

Mas o tempo urge e a coisa fica mais difícil a cada dia: assombrados pelo fantasma da Delação do Fim do Mundo, parlamentares de todos os partidos buscam limitar a ação da Lava-Jato, impor o voto em lista fechada, anistiar o caixa dois eleitoral e manter sua prerrogativa para adiar ad kalendas græcas o inevitável acerto de contas com a Justiça Penal ― e isso significa se reeleger no ano que vem, quando o eleitorado terá a oportunidade de penabundar os 513 deputados federais e 2/3 dos 81 senadores (mas, como não tem consciência do poder que o voto lhe garante, boa parte dessa sele confraria certamente deixará passar in albis mais essa chance pôr ordem no galinheiro). Assim, é natural que a aproximação das eleições torne mais arredios os rufiões da pátria e proxenetas do parlamento. E como se não bastasse a oposição atávica e irresponsável dos incorrigíveis defensores dos petralhas, Temer vem sendo alvo do “fogo amigo” do próprio PMDB.

Do alto de sua imprestabilidade, colegas de partido do presidente preferem abandonar o governo a votar as reformas impopulares, a pretexto de não serem vocacionados a cometer “suicídio político”. A título de ilustração, um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo dá conta de que 60% dos 251 deputados contrários à proposta da reforma da Previdência integram a base aliada do presidente (os partidos da oposição compõem cerca de 40% dos votos contrários). No PMDB, partido de Temer, 16 dos 64 deputados afirmaram que votarão “não” ao projeto. Dentre os tucanos, 18 de 47 se manifestaram contra. A intenção de melar as reformas com objetivos eminentemente eleitoreiros se sobrepõe, mais uma vez, aos interesses do país. Até porque, do jeito que a coisa está, mais alguns anos e a Previdência não terá recursos para pagar as aposentadorias, pouco importando se os beneficiários já são inativos ou se tornarão nesse entretempo, seja aos 65, 70 ou 90 anos idade, após 25, 35 ou 100 anos de contribuição. E o mesmo se aplica às igualmente necessárias reformas da Legislação Trabalhista, Eleitoral, e assim por diante.

Então, meus caros, antes de crucificar o governo e sair às ruas berrando “Fora Temer”, informem-se melhor sobre os fatos, sob pena de engrossar as fileiras dos imbecis, digo, dos inocentes úteis manipulados pela “esquerda baba-ovo” do Comandante Máximo da ORCRIM e outros de sua laia. 

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