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sábado, 8 de junho de 2019

BOLSONARO, O ALTÍSSIMO, LULA, JUCÁ E A SURUBA




Jair Messias Bolsonaro vê o exercício da Presidência como missão divina. Em vista à Argentina, na condição de preposto do Altíssimo, ele abençoou por antecipação os portenhos que “votarem com muita razão e menos emoção” — o que significa reeleger Maurício Macri para evitar que a volta do kirchnerismo transforme aquele país numa segunda Venezuela. Legítimo representante de Deus ou não, o Messias deveria arrumar a própria casa antes de ministrar lições no exterior...

Lula não admite usar tornozeleira — segundo ele, isso é coisa pra pombo correio e pra bandido (?!). Menos de 24 horas depois, o criminoso reincidente tornou-se réu pela 10ª vez, numa ação penal aberta na última quinta-feira na Justiça Federal de Brasília.

 

Incorporado pelo eleitor de Roraima à tribo dos sem-foroRomero Jucá foi denunciado na última terça-feira pela força-tarefa da Lava-Jato, acusado de beliscar propina de R$ 1 milhão na Transpetro, uma subsidiária da Petrobras então presidida pelo amigo Sergio Machado.

A novidade é a mais eloquente evidência de que falharam todas as tentativas — de Jucá e seus assemelhados  de melar a força-tarefa de Curitiba. Vale a pena rever a transcrição da conversa vadia que Romero Jucá manteve com Sérgio Machado em 2016, antes do impeachment da nefelibata da mandioca:

— É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional — disse Sérgio Machado.

— Com o Supremo, com tudo — respondeu Jucá, dando asas ao sonho peemedebista de passar uma régua nas apurações da Lava-Jato.

— Com tudo, aí parava tudo — animou-se Machado, cujas traficâncias já se encontravam sob o crivo do então juiz Sergio Moro.

— É. Delimitava onde está, pronto! — concordou Jucá, em cujos calcanhares de vidro a Procuradoria começava a agarrar.

Hoje, Temer é um colecionador de inquéritos e ações penais. Já passou um par de vezes pela cadeia, em prisões temporárias. Machado é um delator bem-sucedido. Não colocou os pés num xilindró. Desfruta gostosamente do exílio luxuoso de sua mansão em Fortaleza. E Jucá, que prepara para experimentar os rigores da primeira instância curitibana, definiu o que está por vir numa declaração de abril de 2017.

Num instante em que o Supremo estava prestes a limitar a abrangência do foro privilegiado, os caciques do Senado realizaram um movimento cenográfico. Colocaram para andar um projeto de lei que acabava com a prerrogativa de foro para todas as autoridades, exceto os chefes dos Três Poderes. Jucá disse na época: "Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada."

Pois bem. Ex-líder de todos os governos que se instalaram no país desde a chegada das caravelas, Jucá será apresentado aos rigores de uma "suruba" que já encarcerou outros companheiros de (P)MDB. Noves fora Temer, que não chegou a esquentar lugar na prisão, encontram-se em cana Sergio Cabral, Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima.

Com Josias de Souza.
Incorporado pelo eleitor de Roraima à tribo dos sem-foro, Romero Jucá foi denunciado nesta terça-feira pela força-tarefa de Curitiba. É acusado de beliscar propina de R$ 1 milhão na Transpetro, uma subsidiária da Petrobras então presidida pelo amigo Sergio Machado. A novidade é a mais eloquente evidência de que falharam todas as tentativas de Jucá e seus assemelhados de melar a Lava Jato. Vale a pena rever a transcrição da conversa vadia que Romero Jucá manteve com Sérgio Machado em 2016, antes do impeachment de Dilma Rousseff: — É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional, disse Sérgio Machado. — Com o Supremo, com tudo, respondeu Jucá, dando asas ao sonho pee... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/06/04/sem-foro-juca-vive-o-que-chamava-de-suruba/?cmpid=copiaecola
Incorporado pelo eleitor de Roraima à tribo dos sem-foro, Romero Jucá foi denunciado nesta terça-feira pela força-tarefa de Curitiba. É acusado de beliscar propina de R$ 1 milhão na Transpetro, uma subsidiária da Petrobras então presidida pelo amigo Sergio Machado. A novidade é a mais eloquente evidência de que falharam todas as tentativas de Jucá e seus assemelhados de melar a Lava Jato. Vale a pena rever a transcrição da conversa vadia que Romero Jucá manteve com Sérgio Machado em 2016, antes do impeachment de Dilma Rousseff: — É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional, disse Sérgio Machado. — Com o Supremo, com tudo, respondeu Jucá, dando asas ao sonho pee... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2019/06/04/sem-foro-juca-vive-o-que-chamava-de-suruba/?cmpid=copiaecola

segunda-feira, 7 de maio de 2018

SOBRE JUCÁ, O CAJU



Encerrei a postagem de sábado prometendo algumas linhas sobre Romero Jucá, mas achei de falar sobre a aprovação da restrição do foro privilegiado e acabei deixando Caju (codinome do senador emedebista nas planilhas de propina do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht) para a postagem de hoje. Sem mais delongas, vamos a ela.

Romero Jucá Filho nasceu em Recife (PE), em 1954. Formou-se em Economia pela Universidade Católica de Pernambuco e iniciou a carreira política como diretor da Secretaria de Educação do estado. Foi presidente da FUNAI entre 1986 e 1988 e governador biônico do recém-criado estado de Roraima ― cargo que perdeu 18 meses depois, por não conseguir ser eleito pelo voto popular no pleito de 1990. Em 1994, ainda filiado ao PPR, conquistou uma cadeira no Senado; depois de filiar-se ao PMDB, passou a presidir o diretório estadual da sigla em Roraima. Foi líder do governo no Senado nas gestões de FHC, Lula e Dilmanta. Chegou a ser nomeado ministro da Previdência Social no governo Lula, mas deixou o cargo 4 meses depois da posse, por suspeitas de corrupção. Quando a nefelibata da mandioca foi afastada e seu vice passou a titular, Jucá assumiu o ministério do Planejamento, mas, mais uma vez, foi obrigado a deixar o cargo ― que ocupou por míseros 11 dias ―, desta feita devido a acusações de obstrução à Lava-Jato.

Alvo de 13 inquéritos ― sete dos quais no âmbito da Lava-Jato, dois na Operação Zelotes, um de Belo Monte e um da Transpetro ―, Romero Jucá foi o primeiro senador a se tornar réu no STF em ação decorrente das delações de executivos da Odebrecht. Mas continua orbitando o poder central ― aliás, desde a redemocratização que ele participa de todos os governos e se mostra útil a cada um deles. Mas seu afastamento de Dilma ― que ocorreu antes da eleição de 2014 ― o aproximou da oposição, com quem sempre teve boas relações.

No último pleito, Jucá apoiou Aécio, e em 2015, durante a crise que resultou no impeachment, foi um dos principais articuladores do “Plano Temer”. Depois que o PMDB (hoje MDB) assumiu o poder, sua influência cresceu significativamente: não houve neste governo medida no Congresso que não contasse com sua atuação, da aprovação da PEC dos gastos à lei da terceirização, da reforma da Previdência às tentativas (malogradas, felizmente) de blindar a classe política contra a ação saneadora da Lava-Jato.

Jucá encarna como ninguém a elite política ameaçada pela investigação que revelou uma corrupção sistêmica vigente no país há pelo menos três décadas, e a exemplo dos demais políticos investigados, denunciados e réus na Justiça penal, refuta as declarações dos delatores e jura inocência. Da sua ótica, o Brasil caminha para virar uma Itália ― referindo-se à extinção dos principais partidos do país após a Operação Mãos-Limpas, no início da década de 1990, que resultou na assunção de Silvio Berlusconi à Presidência.

Em Roraima, Caju seguiu o exemplo do senador maranhense José Sarney, com quem é unha e carne, no propósito de dominar completamente o estado: sua família é dona de emissoras de TV ― como as retransmissoras locais da Record e da Bandeirantes ―, além de estações de rádio, jornais e empresas de serviço, e sua segunda mulher, Teresa Surita, está no quinto mandato à frente da prefeitura de Boa Vista.

Jucá é o exemplo do político em quem uma pessoa consciente jamais deveria votar para representá-la, nem que fosse como síndico de condomínio. Para não impor ao leitor apenas a minha opinião, transcrevo o que escreveu Roberto Pompeu de Toledo sobre essa figura prosaica, em maio de 2016, quando Temer assumiu a presidência:

“No mesmo dia 17 de abril em que uma presidência apodrecida foi derrubada por uma Câmara dos Deputados podre, o sistema político brasileiro morreu. Não, a afirmação não se sustenta. Seria bom demais para ser verdade. Nas horas seguintes, foram divulgadas fotos do Palácio do Jaburu, onde o vice Michel Temer aguardava, como marido ansioso, o parto de seu triunfo e quem, numa dessas fotos, brilhava em primeiro plano, de pé, enquanto o vice e outros convidados figuravam ao fundo, sentados num sofá, assistindo à transmissão da TV? Romero Jucá!Jucá bem merece o ponto de exclamação; anos atrás, este colunista confessou seu fascínio pelo senador por Roraima, cujos perfil e biografia resumem o que pode haver de mais característico no político brasileiro. Escrevi então:

‘Procura-se alguém capaz de servir a (e servir-se de) diferentes regimes e governos? Dá Jucá na cabeça. Alguém que já saltou repetidas vezes de um partido para outro? Dá Jucá. Alguém com suficiente número de escândalos nas costas? Outra vez, Jucá não decepciona. Alguém que, representante de um estado pobre, de escassa oferta de oportunidades, consegue construir respeitável patrimônio pessoal? Jucá cai como uma luva. Um político que traz parentes para fazer-lhe parceria na carreira? Jucá! Proprietário de emissora de TV? Jucá! Um político que, derrotado aqui e denunciado ali, no round seguinte se reergue, pronto para novos cargos e funções? Jucá! Jucá!’ (VEJA, 6/6/2007).

De lá para cá, Romero Jucá só fez ser fiel a si mesmo. Depois de servir como líder no Senado aos governos FHC e Lula, serviu também ao de Dilma Rousseff. Tudo somado, ficou mais de dez anos na liderança do governo dos três últimos presidentes. Pulou do barco de Dilma na campanha de 2014, quando só a presidente não percebeu que era uma ótima oportunidade para perder, e apoiou Aécio Neves. No ano passado, como era previsível, teve seu nome incluído na famosa “lista do Janot”, em que o procurador-geral da República arrolou os políticos implicados no escândalo da Petrobras. Nas últimas semanas, assumiu a presidência do PMDB, no lugar de Temer, e comandou a cabala de votos em favor do vice e a consequente oferta de empregos no futuro governo. Com Jucá em posição de relevância, não há possibilidade de mudança no sistema político. Não se encontrará entre os políticos brasileiros um mais fiel seguidor da regra de que, quando as coisas mudam, é para ficar tudo igual.

A duradoura influência de Jucá na política brasileira embute um enigma. Ele não se distingue como orador e carece de magnetismo pessoal. Nunca se ouviu dele uma ideia inovadora ou um discurso coerente sobre os rumos nacionais. Representa um estado pequeno (500 000 habitantes) e, fora do mundinho da política, poucos ligarão o nome à pessoa. Uma hipótese é que seu sucesso repouse exatamente na soma de tais deficiências. Por não fazer sombra a nenhum dos pares, circula com desenvoltura entre eles. Por não representar nenhuma ideia, não há como ser desafiado no campo intelectual. Jeitoso, conhece o caminho para, em todas, ficar do lado vencedor.

Há outros sinais de que o sistema seguirá o mesmo. A condescendência com Eduardo Cunha é o mais eloquente. Na votação de domingo, sempre que um deputado acusava o presidente da Câmara, sua voz era abafada por um coro de desprezo. Seguiu-se, um dia depois, uma articulação aberta para salvá-lo das punições que o ameaçam. Foi constrangedor ver um réu por crime de corrupção e lavagem de dinheiro no comando da sessão de impeachment e é inimaginável vê-lo como o segundo na linha de sucessão presidencial. Cunha perde de Jucá, porém, em itens decisivos. Ele se expõe, enquanto o outro se poupa. É atrevido como um jogador de cassino, enquanto o outro soa respeitoso como um sacristão. Por mais protegido que continue, Cunha talvez já não tenha condição de figurar numa foto junto ao provável futuro presidente. Jucá, na última quarta-feira, acompanhou Temer em um almoço com o ex-ministro Delfim Netto, e o trio foi fotografado à saída.

Dilma, uma presidente que une a inépcia à arrogância, não tinha como continuar. Seu governo derreteu-se na mesma medida em que se derretia a economia e esgotavam-se seus recursos para deter o desastre. Quem esperava, no entanto, que, em acréscimo, viria uma mudança no modo de fazer política perdeu. Deu Jucá.


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sábado, 17 de março de 2018

TEMER E SUA EQUIPE DE NOTÁVEIS



Na última terça-feira, por 4 votos a zero (o ministro Luiz Fux não estava presente, mas, se estivesse, provavelmente teria votado com a maioria), a primeira turma do STF tornou Romero Jucá o primeiro réu, naquela Corte, em um processo o pela delação da Odebrecht.

Arroz de festa na política tupiniquim desde os tempos de antanho, Jucá foi governador biônico de Roraima por indicação de Sarney e ministro da Previdência durante o primeiro governo Lula. Deixou à pasta depois de apenas 4 meses, devido a denúncias de corrupção. Voltou à Esplanada dos Ministérios em 2016, quando Michel Temer assumiu interinamente a presidência, mas chefiou a pasta do Planejamento por míseros 11 dias, também devido a denúncias de corrupção. Atualmente, ele é investigado em pelo menos uma dúzia de inquéritos, mas continua orbitando o poder central, na condição de líder do governo no Senado e vice-líder no Congresso.

Em maio de 2016, quando Dilma foi afastada, Temer aguardava como marido ansioso o parto do seu triunfo, posando para fotos com Jucá em segundo plano. Na época, Roberto Pompeu de Toledo reproduziu em sua coluna na revista Veja um texto que havia publicado originalmente em 2007:

Procura-se alguém capaz de servir a (e servir-se de) diferentes regimes e governos? Dá Jucá na cabeça. Alguém que já saltou repetidas vezes de um partido para outro? Dá Jucá. Alguém com suficiente número de escândalos nas costas? Outra vez, Jucá não decepciona. Alguém que, representante de um estado pobre, de escassa oferta de oportunidades, consegue construir respeitável patrimônio pessoal? Jucá cai como uma luva. Um político que traz parentes para fazer-lhe parceria na carreira? Jucá! Proprietário de emissora de TV? Jucá! Um político que, derrotado aqui e denunciado ali, no round seguinte se reergue, pronto para novos cargos e funções? Jucá! Jucá!”.

Prossegue o colunista, agora em 2016:

"De lá para cá, Romero Jucá só fez ser fiel a si mesmo. Depois de servir como líder no Senado aos governos FHC e Lula, serviu também ao de Dilma Rousseff. Tudo somado, ficou mais de dez anos na liderança do governo dos três últimos presidentes. Pulou do barco de Dilma na campanha de 2014, quando só a presidente não percebeu que era uma ótima oportunidade para perder, e apoiou Aécio Neves. Como era previsível, teve seu nome incluído na famosa “lista do Janot”, em que o procurador-geral da República arrolou os políticos implicados no escândalo da PetrobrasCom a ascensão de Temer à presidência da República, Jucá substituiu-o na presidência do PMDB (hoje MDB) e comandou a cabala de votos em favor do interino e a consequente oferta de empregos no futuro governo. Com Jucá em posição de relevância, não havia possibilidade de mudança no sistema político. Não se encontraria entre os políticos brasileiros um mais fiel seguidor da regra de que, quando as coisas mudam, é para ficar tudo igual".

A duradoura influência de Jucá na política brasileira embute um enigma. Ele não se distingue como orador e carece de magnetismo pessoal. Nunca se ouviu dele uma ideia inovadora ou um discurso coerente sobre os rumos nacionais. Representa um estado pequeno (500 000 habitantes) e, fora do mundinho da política, poucos ligarão o nome à pessoa. Uma hipótese é que seu sucesso repouse exatamente na soma de tais deficiências. Por não fazer sombra a nenhum dos pares, circula com desenvoltura entre eles. Por não representar nenhuma ideia, não há como ser desafiado no campo intelectual. Jeitoso, conhece o caminho para, em todas, ficar do lado vencedor.

Havia outros sinais de que o sistema seguiria o mesmo. A condescendência com Eduardo Cunha era o mais eloquente. Sempre que um deputado acusava o presidente da Câmara, sua voz era abafada por um coro de desprezo. Seguiu-se uma articulação aberta para salvá-lo das punições que o ameaçavam. Foi constrangedor ver um réu por crime de corrupção e lavagem de dinheiro no comando da sessão de impeachment e era inimaginável vê-lo como o segundo na linha de sucessão presidencial. Cunha perdia de Jucá, porém, em itens decisivos. Ele se expunha, enquanto o outro se poupava. Era atrevido como um jogador de cassino, enquanto o outro soava respeitoso como um sacristão. Por mais protegido que fosse, Cunha já não tinha condição de figurar numa foto junto ao provável futuro presidente. Jucá, no entanto, acompanhou Temer em um almoço com o ex-ministro Delfim Netto, e o trio foi fotografado à saída.

Dilma, que uniu a inépcia à arrogância, não tinha como continuar no comando do país. Seu governo derreteu-se na mesma medida em que se derretia a economia e esgotavam-se seus recursos para deter o desastre. Mas quem esperava que, em acréscimo, viria uma mudança no modo de fazer política perdeu. Deu Jucá.

Amanhã eu conto o resto.

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