Na última terça-feira, por 4 votos a zero (o ministro Luiz Fux não estava presente, mas, se estivesse, provavelmente teria votado com a maioria), a primeira
turma do STF tornou Romero Jucá o primeiro réu, naquela Corte, em um processo o pela
delação da Odebrecht.
Em maio de 2016, quando Dilma
foi afastada, Temer aguardava como marido
ansioso o parto do seu triunfo, posando para fotos com Jucá em segundo plano. Na época, Roberto Pompeu de Toledo reproduziu em sua coluna na revista Veja
um texto que havia publicado originalmente em 2007:
“Procura-se alguém capaz de servir a (e servir-se de) diferentes regimes e governos? Dá Jucá na cabeça. Alguém que já saltou repetidas vezes de um partido para outro? Dá Jucá. Alguém com suficiente número de escândalos nas costas? Outra vez, Jucá não decepciona. Alguém que, representante de um estado pobre, de escassa oferta de oportunidades, consegue construir respeitável patrimônio pessoal? Jucá cai como uma luva. Um político que traz parentes para fazer-lhe parceria na carreira? Jucá! Proprietário de emissora de TV? Jucá! Um político que, derrotado aqui e denunciado ali, no round seguinte se reergue, pronto para novos cargos e funções? Jucá! Jucá!”.
“Procura-se alguém capaz de servir a (e servir-se de) diferentes regimes e governos? Dá Jucá na cabeça. Alguém que já saltou repetidas vezes de um partido para outro? Dá Jucá. Alguém com suficiente número de escândalos nas costas? Outra vez, Jucá não decepciona. Alguém que, representante de um estado pobre, de escassa oferta de oportunidades, consegue construir respeitável patrimônio pessoal? Jucá cai como uma luva. Um político que traz parentes para fazer-lhe parceria na carreira? Jucá! Proprietário de emissora de TV? Jucá! Um político que, derrotado aqui e denunciado ali, no round seguinte se reergue, pronto para novos cargos e funções? Jucá! Jucá!”.
Prossegue o colunista, agora em 2016:
"De lá para cá, Romero Jucá só fez ser fiel a si mesmo. Depois de servir como líder no Senado aos governos FHC e Lula, serviu também ao de Dilma Rousseff. Tudo somado, ficou mais de dez anos na liderança do governo dos três últimos presidentes. Pulou do barco de Dilma na campanha de 2014, quando só a presidente não percebeu que era uma ótima oportunidade para perder, e apoiou Aécio Neves. Como era previsível, teve seu nome incluído na famosa “lista do Janot”, em que o procurador-geral da República arrolou os políticos implicados no escândalo da Petrobras. Com a ascensão de Temer à presidência da República, Jucá substituiu-o na presidência do PMDB (hoje MDB) e comandou a cabala de votos em favor do interino e a consequente oferta de empregos no futuro governo. Com Jucá em posição de relevância, não havia possibilidade de mudança no sistema político. Não se encontraria entre os políticos brasileiros um mais fiel seguidor da regra de que, quando as coisas mudam, é para ficar tudo igual".
"De lá para cá, Romero Jucá só fez ser fiel a si mesmo. Depois de servir como líder no Senado aos governos FHC e Lula, serviu também ao de Dilma Rousseff. Tudo somado, ficou mais de dez anos na liderança do governo dos três últimos presidentes. Pulou do barco de Dilma na campanha de 2014, quando só a presidente não percebeu que era uma ótima oportunidade para perder, e apoiou Aécio Neves. Como era previsível, teve seu nome incluído na famosa “lista do Janot”, em que o procurador-geral da República arrolou os políticos implicados no escândalo da Petrobras. Com a ascensão de Temer à presidência da República, Jucá substituiu-o na presidência do PMDB (hoje MDB) e comandou a cabala de votos em favor do interino e a consequente oferta de empregos no futuro governo. Com Jucá em posição de relevância, não havia possibilidade de mudança no sistema político. Não se encontraria entre os políticos brasileiros um mais fiel seguidor da regra de que, quando as coisas mudam, é para ficar tudo igual".
A duradoura influência de Jucá na política brasileira embute um enigma. Ele não se distingue
como orador e carece de magnetismo pessoal. Nunca se ouviu dele uma ideia
inovadora ou um discurso coerente sobre os rumos nacionais. Representa um
estado pequeno (500 000 habitantes) e, fora do mundinho da política, poucos
ligarão o nome à pessoa. Uma hipótese é que seu sucesso repouse exatamente na
soma de tais deficiências. Por não fazer sombra a nenhum dos pares, circula com
desenvoltura entre eles. Por não representar nenhuma ideia, não há como ser
desafiado no campo intelectual. Jeitoso, conhece o caminho para, em todas,
ficar do lado vencedor.
Havia outros sinais de que o sistema seguiria o mesmo. A
condescendência com Eduardo Cunha era
o mais eloquente. Sempre que um deputado acusava o presidente da Câmara, sua
voz era abafada por um coro de desprezo. Seguiu-se uma articulação aberta para
salvá-lo das punições que o ameaçavam. Foi constrangedor ver um réu por crime
de corrupção e lavagem de dinheiro no comando da sessão de impeachment e era
inimaginável vê-lo como o segundo na linha de sucessão presidencial. Cunha perdia
de Jucá, porém, em itens decisivos.
Ele se expunha, enquanto o outro se poupava. Era atrevido como um jogador de
cassino, enquanto o outro soava respeitoso como um sacristão. Por mais
protegido que fosse, Cunha já não tinha condição de figurar numa foto junto ao
provável futuro presidente. Jucá, no
entanto, acompanhou Temer em um
almoço com o ex-ministro Delfim Netto,
e o trio foi fotografado à saída.
Dilma, que uniu a
inépcia à arrogância, não tinha como continuar no comando do país. Seu governo
derreteu-se na mesma medida em que se derretia a economia e esgotavam-se seus
recursos para deter o desastre. Mas quem esperava que, em acréscimo, viria uma
mudança no modo de fazer política perdeu. Deu Jucá.
Amanhã eu conto o resto.
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