sábado, 23 de setembro de 2017

LULA, TEMER E O CIRCO MARIMBONDO


Lula e o PT fomentaram a dicotomia a tal ponto que coxinhas e mortadelas passaram de adversários políticos a inimigos figadais, e ora travam um embate insano em que só há perdedores: quando um lado comemora as desventuras do outro, o avanço das investigações traz novos fatos que invertem diametralmente a situação.

Poucos ainda têm estômago para ouvir Lula, o hepta-réu, protestar inocência e se dizer perseguido e injustiçado, mas é igualmente revoltante ver a cara de paisagem de Michel Temer, que age como o país avançasse de vento em popa e sua permanência na presidência não estivesse por um fio. No entanto, daí a defender a anulação do impeachment e a volta de Dilma, com fazem alguns, é tão absurdo quanto saudar a mandioca ou acreditar que o chefe da ORCRIM é o salvador da pátria, o portador da luz e o dono absoluto da verdade.

Observação: Segundo O Globo, Lula, discursando para uma claque na Fundação Perseu Abramo ― entidade ligada ao PT ―, flatulou mais essa: “Mexeram com quem não deveriam mexer”. Não é porque estou acima de qualquer coisa. É porque eu não fiz o que eles dizem que eu fiz. (…) Eles estão mexendo com um político que não roubou, que não tem medo deles e que a única coisa que tem é a sua honra para defender”.

Há quem diga que esse projeto de candidato deveria mesmo concorrer, pois somente sua derrota nas urnas exorcizaria o mito do “grande estadista vítima da conspiração das ‘zelites’, da Globo, da Justiça e da ponte que o partiu”. Mas isso exigiria o sobrestamento de todas as acusações contra ele, e até mesmo nesta republiqueta de bananas a Lei determina que bandido deve ser julgado pela Justiça, não pelas urnas.

O demiurgo do agreste sempre foi mestre em manipular os desassistidos e iludir os desinformados, mas seu carisma já não é o mesmo: em recente caravana pelo Nordeste ― onde a pobreza é acentuada e o eleitorado, mais facilmente manipulado ―, o pupilo de Lampião voltou a ser o que era antes de 2002, ou seja, um candidato de piso alto e teto baixo (o piso alto lhe daria um lugar no segundo turno; o teto baixo lhe retiraria chances de vitória).

Lula confunde o Brasil dos nossos dias com o de 2002, quando ele contava com marqueteiros de primeiro time para criar a imagem do “Lulinha Paz e Amor” ― hoje, sua insolência faz mais o gênero jararaca, e nem Duda Mendonça nem João Santana estão disponíveis para auxiliá-lo. Em 2002, José Alencar ajudou a dispersar o receio de um governo norteado pelas ideias radicais e inconsequentes do PT, e a Carta ao Povo Brasileiro ― idealizada, pelo então aliado e hoje abominado Antonio Palocci ― que corre o risco de ser expulso do partido por ter entregado o chefe ― assegurava que os compromissos internacionais, contratos e metas de superávit primário seriam respeitados, o que foi decisivo para conquistar o apoio de parte do empresariado e obter financiamento de campanha. Naquela época, uma parcela significativa da classe média (nas regiões Sudeste e Sul, inclusive) resolveu dar uma chance ao “candidato do povo”; hoje, o rufião vermelho aparece nas pesquisas como o mais rejeitado entre os pretensos presidenciáveis.

Em 2005, quando o Mensalão veio a público, o sapo barbudo convenceu a militância de que a bandalheira fora necessária, que o PT não era corrupto ― os outros é que eram ―, e que ele precisava de apoio para governar e implementar seus programas sociais. Uma falácia que dificilmente colaria nestes tempos de Lava-Jato, por mais que o colecionador de processos bata na tecla da perseguição política.

Lamentavelmente, os áulicos militantes petistas não são os únicos que se deixam iludir pelo besteirol que inunda a mídia e as redes sociais. Prova disso é o apoio crescente a Jair Bolsonaro e o número de inconsequentes que defendem a intervenção militar como solução pôr ordem na casa de Noca em que se transformou o Congresso Nacional.

Observação: Militares não são imunes à picada da mosca azul, e a história ensina que eles vêm para ficar pouco tempo, mas se entronizam no poder, prendem e arrebentam a torto e a direito e não resolvem merda nenhuma.

Enquanto a tropa de choque do governo define a denúncia do MPF contra o presidente como uma farsa, menospreza o inquérito da PF que mapeou a atuação dos caciques do PMDB ― que, sob o comando de Temer, davam as cartas na Câmara e, depois, no Planalto ―, trata os R$ 51 milhões encontrados no bunker de Geddel como algo de somenos, mas faz o maior carnaval com a foto de Janot sentado em um bar com um dos advogados de Joesley Batista, a patuleia vermelha repete ad perpetuam o mantra de que não há provas contra Lula ― sete vezes réu e já condenado a 9 anos e 6 meses de prisão em um dos processos ― e que Palocci mentiu para se livrar da cadeia.

Haja saco para aturar tanta cretinice!