Lula e o PT fomentaram a dicotomia a tal ponto que coxinhas e mortadelas
passaram de adversários políticos a inimigos figadais, e ora travam um
embate insano em que só há perdedores: quando um lado comemora as desventuras
do outro, o avanço das investigações traz novos fatos que invertem
diametralmente a situação.
Poucos ainda têm estômago para ouvir Lula, o hepta-réu, protestar inocência
e se dizer perseguido e injustiçado, mas é igualmente revoltante ver a cara de paisagem de Michel Temer, que age como o país
avançasse de vento em popa e sua permanência na presidência não estivesse por
um fio. No entanto, daí a defender a anulação do impeachment e a volta de Dilma, com fazem alguns, é tão absurdo quanto saudar a mandioca ou acreditar que o chefe da ORCRIM é o salvador da
pátria, o portador da luz e o dono absoluto da verdade.
Observação: Segundo O
Globo, Lula, discursando para uma claque na Fundação
Perseu Abramo ― entidade ligada ao PT
―, flatulou mais essa: “Mexeram com quem não deveriam mexer”. Não é porque estou acima de
qualquer coisa. É porque eu não fiz o que eles dizem que eu fiz. (…) Eles estão
mexendo com um político que não roubou, que não tem medo deles e que a única
coisa que tem é a sua honra para defender”.
Há quem diga que esse projeto de candidato deveria mesmo
concorrer, pois somente sua derrota nas urnas exorcizaria o mito do “grande estadista
vítima da conspiração das ‘zelites’, da Globo, da Justiça e da ponte que o
partiu”. Mas isso exigiria o sobrestamento de todas as acusações contra ele, e
até mesmo nesta republiqueta de bananas a Lei determina que bandido deve ser julgado pela Justiça, não
pelas urnas.
O demiurgo do agreste
sempre foi mestre em manipular os desassistidos e iludir os desinformados, mas
seu carisma já não é o mesmo: em recente caravana pelo Nordeste ― onde a
pobreza é acentuada e o eleitorado, mais facilmente manipulado ―, o pupilo de
Lampião voltou a ser o que era antes de 2002, ou seja, um candidato de piso alto e teto baixo (o piso alto lhe daria um
lugar no segundo turno; o teto baixo lhe retiraria chances de vitória).
Lula confunde o
Brasil dos nossos dias com o de 2002, quando ele contava com marqueteiros de
primeiro time para criar a imagem do “Lulinha
Paz e Amor” ― hoje, sua insolência faz mais o gênero jararaca, e nem Duda
Mendonça nem João Santana estão
disponíveis para auxiliá-lo. Em 2002, José
Alencar ajudou a dispersar o receio de um governo norteado pelas ideias
radicais e inconsequentes do PT, e a
Carta ao Povo Brasileiro ―
idealizada, pelo então aliado e hoje abominado Antonio Palocci ― que corre o risco de ser expulso do partido por ter entregado o chefe ―
assegurava que os compromissos internacionais, contratos e metas de superávit
primário seriam respeitados, o que foi decisivo para conquistar o apoio de
parte do empresariado e obter financiamento de campanha. Naquela época, uma
parcela significativa da classe média (nas regiões Sudeste e Sul, inclusive)
resolveu dar uma chance ao “candidato do povo”; hoje, o rufião vermelho aparece
nas pesquisas como o mais rejeitado entre os pretensos presidenciáveis.
Em 2005, quando o Mensalão
veio a público, o sapo barbudo convenceu a militância de que a bandalheira fora
necessária, que o PT não era
corrupto ― os outros é que eram ―, e que ele precisava de apoio para governar e
implementar seus programas sociais. Uma falácia que dificilmente colaria nestes
tempos de Lava-Jato, por mais que o
colecionador de processos bata na tecla da perseguição política.
Lamentavelmente, os áulicos militantes petistas não são os
únicos que se deixam iludir pelo besteirol que inunda a mídia e as redes
sociais. Prova disso é o apoio crescente a Jair
Bolsonaro e o número de inconsequentes que defendem a intervenção militar como solução pôr ordem na casa de Noca em que se transformou o Congresso Nacional.
Observação: Militares não são imunes à picada da mosca azul, e a história ensina que eles
vêm para ficar pouco tempo, mas se entronizam no poder, prendem e arrebentam a
torto e a direito e não resolvem merda nenhuma.
Enquanto a tropa de choque do governo define a denúncia do
MPF contra o presidente como uma farsa, menospreza o inquérito da PF que mapeou
a atuação dos caciques do PMDB ― que, sob
o comando de Temer, davam as cartas na Câmara e, depois, no Planalto ―,
trata os R$ 51 milhões encontrados no bunker de Geddel como algo de somenos, mas faz o maior carnaval com a foto de Janot sentado em um bar com um dos
advogados de Joesley Batista, a patuleia
vermelha repete ad perpetuam o mantra
de que não há provas contra Lula ―
sete vezes réu e já condenado a 9 anos e 6 meses de prisão em um dos processos ―
e que Palocci mentiu para se livrar
da cadeia.
Haja saco para aturar tanta cretinice!