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domingo, 9 de setembro de 2018

SOBRE LULA, HADDAD E O SILÊNCIO DA ONU QUANTO AO ATENTADO CONTRA BOLSONARO




Bastou dizer que não havia novidades sobre a situação jurídico-política do cafetão da hipocrisia para que sua defesa protocolasse mais um recurso no STF em pleno feriado de 7 de setembro —, desta vez contra a decisão em que Fachin que negou a suspensão da inelegibilidade do presidiário. 

Os advogados lulistas pedem que o apelo seja analisado pela segunda turma, como se o Supremo fosse um restaurante “à la carte” onde cada qual pudesse escolher a seu talante o ministro ou a turma mais propensa a agasalhar seu petitório (mal comparando, seria como alguém jogar os dados várias vezes seguidas, até finalmente obter o desejado duplo seis). A bola está com Fachin, que pode encaminhar a questão ao plenário, como já fez em outras oportunidades.

Na última quinta-feira, enquanto a notícia do atentado contra a vida de Bolsonaro corria o mundo, Lula sofreu mais duas derrotas. Uma no próprio STF, com a rejeição do ministro Celso de Mello ao pedido de autorização para fazer campanha enquanto o tribunal não decidir sobre uma contestação ao julgamento de sua candidatura na Justiça Eleitoral, e outra no TRF-4, que negou a reinclusão de Gleisi Hoffmann na lista de advogados do petralha para que ela pudesse confabular com o chefe sem obedecer aos horários de visita.

Na última quarta-feira, o ministro João Otávio de Noronha, presidente to STJ, afirmou que a Justiça brasileira não está vinculada ao parecer do Comitê de Direitos Humanos que defendeu a candidatura do ex-presidente condenado e preso. Ele classificou a recomendação como “absurda” e frisou que o STJ e o STF “evidentemente não se curvarão” a uma opinião que afronta a Constituição de um país independente e soberano. “Quem interpreta e julga o brasileiro soberanamente é a Justiça brasileira. Na ONU, você tira o parecer que quer”, pontuou o ministro.

Ainda sobre a ONU, houve uma grita geral pelo fato de a entidade não se ter pronunciado sobre o atentado contra Bolsonaro, mas Birgit Gerstenberg, representante do Escritório para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, não só repudiou o ataque como pediu uma investigação rápida do crime. "Confiamos nas autoridades brasileiras para uma pronta investigação e punição dos responsáveis" (vide imagem que ilustra esta matéria).

Observação: Tanto as mais altas autoridades tupiniquins quanto os adversários de Bolsonaro repudiaram o ato criminoso — como se fosse possível dizer algo diferente em público... Aliás, da mesma forma agem todos os políticos investigados, indiciados, denunciados, réus e condenados por caixa 2 de campanha, corrupção, lavagem de dinheiro e o diabo a quatro, que invariavelmente se declaram inocentes, afirmam confiar na Justiça e juram que sua inatacável retidão restará, afinal, provada. Quanta retidão e quanta injustiça!

Mudando de pau pra cacete, já se encontra no STJ o recurso da defesa de Lula contra a condenação confirmada pelo TRF-4 no processo referente ao triplex do Guarujá. Também segundo o ministro Noronha, o apelo deverá ser julgado até meados do mês que vem. Lembro que o TRF-4 deu seguimento a esse apelo, mas barrou o recurso extraordinário ao STF por entender que inexiste questão constitucional a ser respondida (como não poderia deixar de ser, a defesa recorreu também dessa decisão).

Termina na próxima terça-feira o prazo para o PT substituir seu candidato a titular na esdrúxula “chapa tríplex” que tem Haddad como vice e Manoela d’Ávila como trice. Segundo a revista eletrônica Crusoé, o partido deverá fazer amanhã uma “prévia” do lançamento do ex-prefeito de São Paulo. O anúncio oficial, porém, ficará para terça-feira, em Curitiba, seguindo a estratégia de “esticar a corda ao máximo” para protagonizar a cena eleitoral e/ou inflar a transferência de votos para Haddad, cuja possibilidade de disputar o segundo turno pode até existir, mas não é tão grande quanto imagina a militância lunática. 

Em se confirmando a posição estável de Bolsonaro nas intenções de voto — ou mesmo seu crescimento, dadas as repercussões do atentado contra sua vida —, aumentam as chances de o segundo turno ser disputado entre PSL e PT, com Bolsonaro prometendo resolver à bala os problemas do país e Haddad defendendo uma proposta bolivariana-social-democrata como a que levou a Venezuela fundo do poço, mas que a patuleia desvairada tanto admira.

PT tem demonstrado o mais absoluto desprezo pelas instituições democráticas e se aproveitado de brechas legais para denunciar uma perseguição política que não existe. Depois que o TSE melou a candidatura de Lula, mas flexibilizou a interpretação da legislação eleitoral de maneira a permitir que o candidato a vice faça propaganda como se fosse o titular, os “cumpanhêros” foram mais além, veiculando propagandas em que o deus pai da Petelândia aparece como candidato e esgotando o tempo legal para contestar na ONU e o Judiciário, buscando reforçar a narrativa de que o político preso seria na verdade um preso político. Nos bastidores, porém, os dirigentes já dão como certa a unção de Haddad, já que as chances de o STF liberar a candidatura do presidiário são pífias. Mesmo assim, parte do partido defende a estratégia suicida de focar no aumento da bancada no Congresso em detrimento da disputa ao Planalto, visando armar-se para o confronto com o futuro presidente, seja ele quem for (dessa cáfila de lunáticos espera-se qualquer coisa).

Mesmo Lula sendo carta fora do baralho, ainda ouviremos muito do PT e de sua militância o discurso do injustiçado, inobstante a sentença condenatória proferida pelo juiz federal Sérgio Moro, a ratificação da decisão (e aumento da pena) pelo TRF-4, a rejeição a todos os recursos ao STJ e ao STF e a cassação do registro da candidatura do demiurgo pelo TSE. Depois que quatro órgãos colegiados se manifestaram contra o petralha, nem mesmo a ingênua Velhinha de Taubaté acreditaria na tresloucada narrativa de perseguição, mas a cada minuto nasce um otário neste mundo, e os que nascem no Brasil já vêm com o título de eleitor enfiado no rabo. E é aí que mora o perigo.

Bom domingo a todos.

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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

O NAUSEABUNDO CENÁRIO POLÍTICO — TERCEIRA PARTE



PESQUISA É COMO BIQUÍNI: REVELA TUDO, MENOS O ESSENCIAL.

Desde o final do ano passado que as pesquisas de intenção de voto apontam dois extremistas disputando a preferência do eleitorado — o que vem mudando ao longo do tempo é o percentual atribuído a cada um. Quando nada, esses números comprovam que o eleitor tupiniquim votaria numa lata de estrume se a ela fosse carismática e profícua em promessas populistas (qualquer semelhança com o pulha de Garanhuns não é mera coincidência).

Uma eleição em dois turnos é o mesmo que duas eleições. O primeiro escrutínio envolve todos os candidatos e o segundo, apenas os dois mais votados na etapa anterior. Lula, embora seja franco-favorito nas pesquisas, jamais se elegeu no primeiro turno — nem ele nem sua imprestável sucessora, que, aliás, só venceu Aécio em 2014 por uma maioria insignificante de votos (diferença essa que muita gente atribui a urnas com “ideias próprias e convicções partidárias favoráveis” ao PT).

Faltando pouco mais um mês para o pleito presidencial, apenas 4 ou 5 dos 13 candidatos registrados têm chances reais de disputar o segundo turno. O fato de Lula, mesmo preso, vir crescendo nas pesquisas se contrapõe à informação — obtida através das mesmas pesquisas — de que a maioria dos eleitores repudia políticos ficha-suja. Mas convém ter em mente que pesquisa é como biquíni: revela tudo, menos o essencial. Além disso, os institutos coletam informações junto a alguns milhares de entrevistados e as projetam num cenário de 147 milhões de eleitores, de modo que dizer que a margem de erro é de 2 ou 3 por cento me parece muito otimismo.

Na melhor das hipóteses, os índices atribuídos aos candidatos representam um instantâneo do momento em que o público-alvo foi abordado, e devem ser vistos como uma tendência — basta lembrar que, nas eleições municipais de 2016, João Doria foi eleito prefeito de Sampa no primeiro turno, embora Ibope, Datafolha e demais institutos de pesquisa o tivessem na conta de azarão; em outro episódio, chegou-se a estampar em manchetes a vitória de Martha Suplicy, mas quem se elegeu foi Gilberto Kassab.

Observação: A despeito de sua inelegibilidade acachapante, Lula continua sendo incluído nas pesquisas, o que contribui para tumultuar o já conturbado cenário sucessório e confundir a parcela menos esclarecida e pouco informada da população (ou seja, a maioria do eleitorado). Quem ganha com isso, além do PT — visto que a exposição de seu eterno presidente de honra ajuda a canalizar votos para o poste que o substituirá nas urnas —, é a seleta confraria que vem enchendo as burras com a instabilidade do mercado financeiro e as sucessivas altas do dólar. Mas essa é outra conversa.

Como salientou José Nêumanne, mesmo com seu líder cumprindo pena numa dita sala de “estado-maior”, como a definiu o juiz que o encarcerou, a máquina de propaganda do petismo não cessou de funcionar. Em 14 de agosto, o jornal The New York Times publicou um artigo, de suposta lavra da pena (no sentido figurado) do molusco abjeto, exaltando programas de seu governo e chamando de “golpe” o impeachment do poste que elegeu para sucedê-lo. Ou seja, o órgão de imprensa de convicções liberais que trava uma guerra contra o presidente Donald Trump reproduziu as diatribes a que recorrem os advogados do apenado e dirigentes do seu partido.

A máquina de propaganda petista, sem contar mais com os colunistas de aluguel nem com emissoras ditas públicas de rádio e televisão — cabides de emprego de militantes e simpatizantes —, divulgou com estardalhaço o texto de seu profeta. Como se, por terem sido impressas sob o timbre do jornalão nova-iorquino, representassem uma adesão deste às teses absurdas de defesa de um criminoso e acusação contra a Justiça brasileira. Pois, como escreveu Fernando Gabeira em artigo no Globo do último dia 20, “para salvar Lula, é necessário condenar a Justiça”. Na verdade, por mais que possa parecer estranho à malta esquerdista, numa democracia os jornais, especialmente os liberais, como o NYT, publicam rotineiramente opiniões estranhas e até opostas às deles. Este foi o caso do artigo em questão, embora isso não impeça que, do lado de cá, em defesa da democracia que escolhemos para nos reger, não tenhamos comentários desairosos sobre esses registros de pulp fiction.

José Roberto Guzzo, em sua coluna na revista Veja, escreveu: “O que a imprensa mundial diz ao público é que Lula está preso porque lidera ‘todas as pesquisas’; se estivesse solto, seria candidato a presidente e ganharia a eleição, e ‘não querem’ que isso aconteça, porque ele voltaria a ajudar os pobres. Quem ‘não querem’? E o que alguém ganharia ficando contra ‘os pobres’? Não há essas informações. Também não há nenhuma palavra sobre o fato de que a presidência de Lula foi o período de maior corrupção já registrado na história mundial ­— realidade comprovada por delações, confissões e devolução de bilhões em dinheiro roubado. Mas e daí? Ninguém está ligando para o Brasil como ele é. O Brasil do Zé Carioca é muito mais interessante”.

O apoio que a caterva lulista acha ter encontrado na mídia burguesa, porém, não basta. Em pleno mês do desgosto, a fábrica de fake news, hoje por conta de robôs nas redes sociais, encontrou mais um tema para incutir nos desinformados a ilusão de que o condenado — e, portanto, inelegível pela Lei da Ficha-Limpa — conta com adesão internacional para defender sua candidatura inviável à presidência da República. Fê-lo com a notícia de que certo “comitê” de direitos humanos da ONU — sempre a ONU — havia intimado o Brasil, ou o governo brasileiro, ou seja lá o que for, a permitir que o condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro disputasse as eleições, ao arrepio da lei.

O que houve de verdade? O comunicado a que recorreu a fábrica petista de fake news em exigência para permitir candidatura do condenado é um documento emanado de um “comitê” formado por 18 “especialistas” independentes sem nenhum poder decisório ou mandatório. Ou seja, está sendo repetido o estratagema do convite da FAO, já denunciado por Carlos Brickmann no site Chumbo Gordo: não havia no calendário de eventos oficiais daquele órgão da ONU nenhum registro do tal compromisso oficial. Agora também não há. 

A notícia foi dada (ou seja, vazada) pela BBC, não pelas Nações Unidas. E tanto nunca foi oficial que a própria ONU divulgou nota informando que a função do tal “comitê” é “supervisionar e monitorar” o cumprimento dos acordos internacionais de defesa dos direitos humanos. E fazer recomendações, sempre em entendimento e consultas com os países envolvidos. O texto dessa nota de informações não deixa dúvidas quanto ao uso impróprio da entidade na divulgação: “É importante notar que esta informação, embora seja emitida pelo Escritório das Nações Unidas para Direitos Humanos, é uma decisão do Comitê de Direitos Humanos, formado por especialistas independentes. (Logo) esta informação deve ser atribuída ao Comitê de Direitos Humanos”.

O título da coluna de Jânio de Freitas na Folha, Brasil ignora tratados internacionais no caso de Lula, vai na contramão dessas conclusões falsas e apressadas. Já na quinta-feira 16 o comentarista de economia Carlos Alberto Sardenberg registrou em seu artigo semanal na página de opinião de O GloboFake ONU, o seguinte: “Vai daí que são fake todas as notícias do tipo: ONU manda, determina, exige que Lula participe da eleição; Conselho da ONU decide a favor de Lula (forçando uma confusão do Comitê com o Conselho, por ignorância ou má-fé); decisão do Comitê é obrigatória”. 

Ainda na semana passada, em pleno espocar dos foguetões dos lulistas devotos, o colega José Fucs esclareceu no site BR18 do Portal do Estadão: “O comunicado revela, de qualquer forma, o grau de interferência política que predomina nas iniciativas do órgão e o seu aparelhamento pelos PTs do mundo e por países cujos interesses têm pouco ou nada a ver com a defesa da liberdade e dos direitos humanos. Não por acaso, em junho deste ano, os Estados Unidos decidiram se retirar da entidade, que inclui ‘exemplos’ de democracia, como Angola, China, Cuba e Venezuela, em protesto contra suas críticas frequentes a Israel”.

Os fanáticos do padim Lula poderão argumentar que o presidente norte-americano, Donald Trump, não é flor que se cheire em matéria de verdade, além de se declarar publicamente inimigo número um da imprensa livre de seu país. Mas ninguém de boa-fé ou de boa vontade pode considerar os ditadores comunistas dos países citados por Fucs como militantes da defesa da liberdade de dissentir de seus dissidentes internos. 

The New York Times, a BBC, a ONU e os tais militantes, que não são diplomatas das “nações unidas”, mas “especialistas em direitos humanos”, normalmente de esquerda e que compõem o tal “comitê”, não assumiram nenhum compromisso de lealdade com as instituições do Estado de Direito vigente no Brasil por livre e soberana vontade majoritária do povo brasileiro. Os robôs a serviço da pregação ideológica da farsa da “perseguição de Lula para evitar que ele se candidate” não têm vontade própria nem discernimento. Mas, pelo menos em teoria, o PT e o PCdoB, que apoiam as pretensões presidenciais de Lula, e principalmente ele próprio deveriam respeitar e proteger nossas instituições democráticas, se é que pretendem mesmo disputar o voto do cidadão sob a égide delas.

Amanhã a gente continua.

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domingo, 22 de julho de 2018

MAIS SOBRE POLÍTICA, CENÁRIO ELEITORAL E PROPAGANDA GRATUITA NO RÁDIO E NA TV



Mesmo em fim de mandato, com índices de popularidade abissais, sem credibilidade nem apoio parlamentar, o presidente Michel Temer resolveu ir à Ilha do Sal, na última terça-feira, para participar da Cúpula de Chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Como o país está sem vice e tanto Rodrigo Maia quanto Eunício de Oliveira planejam concorrer à reeleição, coube a ministra Cármen Lúcia assumir interinamente o timão da Nau dos Insensatos.

Observação: Os presidentes da Câmara e do Senado precedem a chefe do Supremo na linha sucessória, mas as regras do jogo eleitoral os impedem de disputar eleições se ocuparem a Presidência nos 180 dias que antecedem o pleito eleitoral — a menos que tencionem concorrer ao Planalto. Daí ambos terem inventado um compromisso oficial qualquer no exterior, o que, no caso específico de Rodrigo Maia, comprova que sua pré-candidatura à Presidência é uma falácia, servindo apenas para valorizar o apoio do DEM a um candidato com chances reais de vencer a eleição.

A ministra já substituiu o presidente em abril e junho deste ano, quando acumulou os cargos (como fez Lewandowski antes dela, durante o governo nada saudoso da anta vermelha). Desta vez o decano Celso de Mello assumiu o plantão no STF, já que o vice-presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, estava em férias na Europa. A questão é que ele retorna neste final de semana, e assim poderá assumir o plantão do STF durante a viagem de Temer, entre os dias 23 e 27. Daí o boato de que o PT aposta na passagem do ministro-cumpanhêro pela presidência da Corte para, mais uma vez, tentar soltar o demiurgo de Garanhuns.

Observação: Assim como o hábito não faz o monge, a toga presenteada não legitima o magistrado ou torna jurista que nunca passou de rábula. Costuma-se imaginar os ministros do Supremo como pessoas ilibadas, de passado imaculado, cuja retidão incontaminável é o sustentáculo do Judiciário. Agora, porém, qualquer filósofo de botequim sabe como funciona o Supremo e que os ministros são escolhidos de acordo com a preferência do presidente da República da vez ou de partidos que o apoiam, e não raro procuram retribuir o favor satisfazendo os desejos de seu patrocinador ou interesses outros que não os da Justiça. Quem comanda esse circo não é a lei inexorável, mas a vontade imutável do juiz.

O que leva Temer a essas viagens oficiais é uma história à parte, já que ele não passa de um pato-manco em fim de mandato, um presidente altamente impopular, sem apoio parlamentar e com uma penca de explicações a dar ao Judiciário quando deixar o cargo. Mas isso é conversa para outra hora.

Falando em viagens estapafúrdias, Gleisi HoffmannDilmanta e mais uma penca de militantes petistas viajaram a Cuba para participar do Foro de São Paulo — movimento que reúne partidos da esquerda de diversos países. Como sempre, o propósito é denunciar as “arbitrariedades e injustiças contra seu amado líder”. É claro que nem a Velhinha de Taubaté engoliria essa falácia de perseguido político condenado sem provas, mas a cegueira mental dos comunas reunidos em Cuba os leva a sorver cada palavra do discurso do bando com a sede de um beduíno, a despeito dos 125 recursos negados ao bandido de Garanhuns nas quatro instâncias do Judiciário. Enfim, parafraseando José Saramago"a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito".

Mas o circo de horrores não para por aí: somos você, eu e os demais “contribuintes” que patrocinamos a cerimônia do "beija-mão" dos parlamentares cumpanhêros que visitam Lula na cadeia. As despesas são pagas com dinheiro da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar”, que deveria se limitar a reembolsar as passagens de ida e volta entre Brasília e os estados que os congressistas representam. Cito como exemplo os deputados Paulo Pimenta — um dos que articularam a mutreta para soltar o molusco durante o plantão do desembargador Favreto — e seu colega José Guimarães, que foram pedir a bênção ao titio petralha à expensas do Erário, malgrado seus estados de origem sejam o Grande do Sul e o Ceará, respectivamente.

E quem acha que já viu tudo em matéria de indecência na compra descarada de votos para barrar as denúncias contra Michel Temer no Congresso não pode deixar de acompanhar os próximos acontecimentos. Até o dia 5 de agosto os candidatos venderão a alma ao diabo em troca de apoio de outros partidos, visando aumentar o tempo no rádio e na TV. Às favas, portanto, com a ideologia e os programas de governo. Viva a hora da xepa, onde muita coisa podre será oferecida a peso de ouro.

Para encerrar esta conversa, engana-se quem imagina que famigerada propaganda eleitoral gratuita”, que nos aporrinha de dois em dois anos, é bancada pelas emissoras de rádio e televisão. Explicando melhor: existe uma tabela de preços pelo tempo de exposição utilizado pelos partido, mas eles não pagam por isso, de modo que seria de imaginar que o ônus recaísse sobre as próprias emissoras. Até porque o direito de transmissão tem caráter de serviço público e é explorado pela União, diretamente ou mediante concessão. Então, no momento em que recebessem a concessão, as emissoras já estariam comprometidas com os custos da propaganda partidária eleitoral, não havendo que falar em direito à remuneração pelo espaço cedido aos partidos políticos, certo? Errado: nossos sábios legisladores criaram uma lei segundo a qual “as emissoras de rádio e televisão terão direito à compensação fiscal pela cedência do horário gratuito previsto nesta lei”. 

Dados da Receita Federal dão conta de que a compensação fiscal concedida às emissoras pela transmissão da propaganda eleitoral custou aos cofres públicos, em 2010, a bagatela de R$ 850 milhões. Então, quando o programa a que você estiver assistindo for interrompido pelo horário político obrigatório, comemore. Você é que está pagando a conta.

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segunda-feira, 14 de maio de 2018

SOBRE O STF, GILMAR MENDES, PAULO PRETO, MDB E PSDB



A combinação de um Executivo mambembe com um Legislativo corrupto e corporativista transformou o Judiciário numa tábua de salvação para os esperançosos mais obstinados (este país não tem remédio, só não vê quem não quer). Prova disso é o fato de o povão reconhecer a fuça dos 11 ministros do STF mais facilmente que a dos 11 titulares da seleção brasileira, a despeito de estarmos às vésperas da Copa do Mundo na Rússia.

Felizmente para a senhora de pedra que guarda a entrada do prédio do STF em Brasília ― esculpida por Alfredo Ceschiatti (1918 – 1989) ―, a grossa venda que lhe cobre os olhos também lhe tapa as orelhas, poupando-a de ver e ouvir os conflitos ruidosos que não raro se deflagram nas dependências da Corte, e de corar de vergonha diante da atual composição daquele Tribunal ― talvez a pior desde que foi criado, em 28 de fevereiro de 1891, para substituir o Supremo Tribunal de Justiça do Império.

Dos onze ministros atuais, três são paulistas: Celso de Mello, indicado por Sarney, Dias Toffoli, pelo criminoso Lula, e Alexandre de Moraes, por Michel Temer. Os fluminenses Marco Aurélio Mello, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso foram promovidos durante o governo da anta sacripanta, à exemplo da gaúcha Rosa Weber e do gaúcho-paranaense Edson Fachin. Ricardo Lewandowski, nascido no rio, mas criado em São Paulo, e a mineira Cármen Lúcia assumiram o cargo na gestão do sevandija de Garanhuns, e o mato-grossense Gilmar Mendes é herança do governo FHC.

Observação: O então presidente e hoje presidiário Lula chegou a nomear oito ministros, e a ex-presidente e presidiária-to-be Dilma, cinco, devido em parte às aposentadorias precoces de Francisco Rezek, Nelson Jobim, Ellen Gracie e Joaquim Barbosa ― um surto de debandadas que respingou desprestígio na mais alta corte do país, em princípio propiciadora do ápice do mais honroso posto de uma carreira jurídica (leia mais sobre as “virtudes” de alguns ministros da Corte nesta e nesta postagem).

Depois de proferir o voto que formou maioria no julgamento virtual do recurso que buscava libertar Lula da cadeia, concluído pela 2ª Turma do STF no último dia 10, Gilmar Mendes, com a avidez de um alcoólatra afastado da garrafa por dias a fio, deu vazão a seus instintos laxantes mandando soltar Paulo Preto, que estava preso desde 6 de abril em razão das suspeitas de desvios nas obras do Rodoanel Sul, Jacu Pêssego e Nova Marginal Tietê, realizadas nos governos dos tucanos José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin. A defesa de Paulo Preto recorreu ao TRF-3 e ao STJ, mas não logrou êxito em soltá-lo. No Supremo, no entanto, Gilmar Mendes concedeu o habeas corpus por entender que é "patente o constrangimento ilegal", e que "a justificação processual da prisão preventiva não encontra amparo em fatos". 

Observação: Preto é amigo de Aloysio Nunes Ferreira há mais de 25 anos e foi durante pelo menos uma década o homem forte do tucanato. De engraxate em seus mais verdes anos, ele se tornou assessor especial da Presidência da República e, mais adiante, diretor da Dersa. Seu patrimônio deu um prodigioso salto de R$ 113 milhões (depositados em 4 contas na Suíça, segundo a promotoria daquele país).

Apontado como operador do dinheiro ilícito que irrigou as campanhas de candidatos do PSDB em 2006 e 2010, Preto vinha se queixando de desamparo. Enviou para fora do xadrez recados que soaram como o canto do carcará ― aquela ave que pega, mata e come. Foi como se quisesse renovar um aviso que emitira em 2010, quando tucanos “ingratos” fingiam que não o conheciam: “Não se deixa um líder ferido na estrada a troco de nada.”

Quem conhece Paulo Preto acredita que, se mantido preso, Paulo Preto não hesitaria em negociar um acordo de colaboração e, para valorizar sua delação, concentraria seu poder de fogo em Geraldo Alckmin ― ex-governador de São Paulo, candidato à presidência em 2006 (quando foi derrotado por Lula) e pré-candidato nas próximas eleições (quando será derrotado por si mesmo e pelo seu estúpido partido). Se o alvará de soltura expedido por Mendes revela alguma coisa, é que o operador do tucanato pode estar ferido, mas não foi largado à beira da estrada.

Solto, Preto tende a prender a língua. A hipótese de se tornar um delator continua viva no jogo, mas acaba de se tornar uma carta embaralhada. Sua delação poderia produzir efeitos deletérios na candidatura de Alckmin, que já não entusiasmava o eleitorado antes de ser investigado na Justiça Eleitoral por suspeitas de caixa-dois ― segundo as pesquisas, o tucano tem entre 5 e 7 por cento das intenções de voto).

Michel Temer, que é unha e carne com Gilmar Mendes, aventou a possibilidade de se candidatar à reeleição, certamente movido pela esperança de manter o foro privilegiado e adiar indefinidamente o julgamento dos processos oriundos das denúncias apresentadas por Janot, que foram bloqueadas pela Câmara até o final do mandato presidencial. No entanto, sua prodigiosa impopularidade e seus pífios 5% de intenções de voto levaram-no a considerar uma aliança com o ex-governador de São Paulo. Essa união renderia mais prejuízo do que lucro a Alckmin, mas traria uma montanha de minutos no horário eleitoral obrigatório. Por outro lado, alguns a veem como um “abraço de afogados” ― segundo a revista Veja, um dirigente tucano que pediu anonimato ponderou que “de nada adianta ter um tempo gigantesco na TV e só fruta podre para vender”.

Observação: A desistência de concorrer à reeleição não foi exatamente uma opção de Michel Temer, que, crivado de acusações de corrupção e reprovado por sete em cada dez brasileiros, não teria chance sequer de passar para o segundo turno. Falando no presidente, semana passada, durante uma palestra na Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo, ele tentou explicar por que, embora o desemprego tenha diminuído, o desemprego aumentou. A plateia saiu de lá com uma certeza: ninguém convive impunemente por tanto tempo com Dilma Rousseff.

Do lado do MDB, de seus 27 diretórios estaduais, 20 são contrários à aliança nacional com os tucanos ― o que deve levar Temer a tratar com menos desapreço a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que trocou o PSD pelo MDB para disputar o Planalto. Mas o fato é que, a cinco meses da eleição, é impossível arriscar um palpite sobre o que vai acontecer. O PSDB, finalmente na mira da Lava-Jato, quer um aliado limpo, o que, em tese, excluiria Temer ou outro nome de destaque do MDB, já que o partido como um todo está imerso até os beiços no atoleiro da corrupção. Já os emedebistas querem um candidato viável que aceite defender o legado de Temer. Juntos ou separados, ambos buscam pela mercadoria que lhes é mais cara no feirão da política: o voto dos eleitores.

Voltaremos a conversar (com mais vagar) sobre Gilmar Mendes, talvez já na próxima postagem.

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quinta-feira, 10 de maio de 2018

SOBRE A PRISÃO DE LULA E AS ELEIÇÕES SEM JOAQUIM BARBOSA



A maioria dos ministros da 2ª Turma STF já votou contra conceder liberdade ao criminoso de Garanhuns, que está preso desde o mês passado. O julgamento em plenário virtual começou no último dia 4, e o prazo para os ministros apresentarem seus votos termina às 23h59 desta quinta-feira. Até a última atualização, já haviam votado contra conceder liberdade a Lula os ministros Luiz Edson Fachin (relator), Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Ainda falta o voto de Celso de Mello, mas a maioria foi estabelecida com voto o de Gilmar. Volto a este assunto oportunamente.

Fala-se que as eleições presidenciais deste ano serão parecidas com a de 1989, quando o caçador de marajás de festim venceu o sindicalista lalau. Na época não se sabia que o caçador de marajás era de festim, nem que o sindicalista era lalau, mas isso é outra conversa. Importa dizer é que o contexto atual é bem diferente do de então, e a parecença não vai além da quantidade absurda de disputantes ao cargo mais importante desta Banânia.

O Brasil nunca precisou tanto de uma campanha eleitoral de verdade, com debate de propostas, posições políticas, questões envolvendo economia, privilégios de poucos e mazelas de muitos. E em 1989 havia debates, e os políticos não estavam na mira da maior operação anticorrupção jamais vista no Brasil. Não que os políticos de então não fossem corruptos, mas isso também é outra conversa. O fato é que nas próximas eleições os candidatos subirão mais uma vez nos palanques (sobretudo virtuais) para prometer o que sabem que não vão poder cumprir.
  
A ausência de uma campanha política de verdade, com debates de ideias e propostas, está fora da agenda de todos os partidos. Entre os pré-candidatos, Alckmin, Ciro e Marina (nem vou mencionar Collor, que isso seria escarnecer do leitor), já concorreram outras vezes, e nenhum foi capaz de apresentar programa de governo para um país afundado em crise. Marina, a eterna sonhática, chama Bolsonaro de hiena. Bolsonaro comemora a prisão de Lula. Ciro fala mal do PT e Álvaro Dias bate em Alckmin, que simplesmente desaparece, a pretexto de estar em campanha.

Joaquim Barbosa, quando ministro do STF, ganhou notoriedade durante o julgamento da ação penal 470 (vulgo julgamento do Mensalão), sobretudo por seus embates com Ricardo Lewandowski ― que atuou mais como advogado de defesa dos petistas do que como magistrado da nossa mais alta Corte. Mas adiante, devido a problemas de saúde, o ministro antecipou sua aposentadoria e descartou a possibilidade de ingressar na política, pelo menos naquele momento. Meses atrás, porém, despontou como candidato a candidato e ganhou rapidamente o apoio popular, notadamente do segmento da sociedade que não aguenta mais tanta corrupção.

Antes mesmo de formalizar sua filiação partidária e afirmar com todas as letras que pretendia concorrer, Barbosa tinha invejáveis 10% das intenções de voto, superando com folga Geraldo Alckmin ― não à-toa conhecido como picolé de chuchu ―, Ciro Gomes, Álvaro Dias e mais um ou dois postulantes que teriam chances reais de passar para o segundo turno.

Com Lula na cadeia e fora do páreo ― embora o PT insista em manter sua candidatura até o mais amargo fim, contando com a possibilidade de substitui-lo de última hora por um poste vermelho qualquer (Fernando Haddad e Jaques Wagner são os mais contados) e torná-lo competitivo com os votos daqueles que continuam iludidos pelo discurso mambembe do demiurgo de Garanhuns (ou criminoso de Garanhuns, como queira), competitivos, mesmo, são Jair Bolsonaro e Marina Silva ― e, vá lá, Ciro Gomes, o cearense nascido em Pindamonhangaba (SP). Fidelix, Eymael, Amoedo, Manoela D’Ávila e uma dúzia de outros aventureiros não têm a menor chance. E era justamente aí que Barbosa assomava como opção para quem têm opção senão votar em branco ou anular o voto, pois era visto como um candidato de centro esquerda, mas capaz de tirar votos de candidatos da direita.

Era, porque na última terça feira o candidato “Viúva Porcina” (aquela que foi sem jamais ter sido) anunciou sua decisão de não concorrer devido a “razões pessoais”, conforme mensagem publicada em sua conta no Twitter. Ele havia se filiado ao PSB em 6 de abril, às vésperas do prazo limite para disputar eleições, e desde então vinha fazendo mistério sobre suas reais pretensões. 

O presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, disse ter recebido um telefonema de Barbosa no início da manhã de terça-feira, 8, comunicando a decisão. Especula-se que, dentre os principais motivos que o levaram a desistir, está a desaprovação da família e o problema gravíssimo de coluna que o levou a se aposentar prematuramente do STF.

Além do temperamento forte, Joaquim Barbosa passava a impressão de que queria ser “aclamado” pelo partido que o acolheu. Só que acabou enfrentando resistência a seu nome, o que também deve ter pesado em sua decisão. Mesmo assim, é de se lamentar sua sua decisão: embora não seja possível prever como ele governaria se eleito fosse, sua vida pregressa ilibada e intransigência com a corrupção levam a supor que perdemos uma boa chance de eleger alguém comprometido com os interesses da nação, alguém que poderia usar o poder para servir, e não para se servir dele.

Muita gente está comemorando a decisão de Barbosa ― dizendo, inclusive, que ele jogou a toalha porque teria algo a esconder. Uma acusação leviana, mas que não chega a causar estranheza vindo de adversários que respiraram mais aliviados com a saída de um concorrente de peso, sobre cuja reputação jamais pairou qualquer suspeita de práticas pouco republicanas. 

Para o PSB, que durante anos orbitou em torno do PT, mas com quem rompeu em 2013, quando lançou a candidatura do então governador de Pernambuco Eduardo Campos ―, ficou mais difícil alçar voo próprio na esfera nacional. Com a desistência de Barbosa, ganha força no partido a possibilidade de apoio a Ciro Gomes.

Barbosa era a principal incógnita nessa equação e o único nome de fora da política na sucessão presidencial, e por essas e outras sua desistência altera o cenário. Para que lado a balança vai pender, ainda é cedo para dizer.

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quinta-feira, 8 de março de 2018

O “DIA D” DA LAVA-JATO


A despeito do que afirmam Gleisi Hoffmann e seus capachos, a prisão de Lula é uma possibilidade real e pode ser decretada já nas próximas semanas, tão logo o TRF-4 julgue os embargos declaratórios (preparem os rojões).

Numa matéria de 4 páginas assinada pela jornalista Laryssa Borges, a revista Veja desta semana (confira a chamada no site) especula como será esse dia histórico ― o planejamento operacional vem sendo mantido em sigilo para evitar vazamento de informações que prejudiquem o cumprimento da operação. 

A reportagem começa relembrando que, em 2016, ao ser conduzido coercitivamente para depor, o ex-presidente ameaçou “lembrar de cada um dos agentes” quando voltasse ao Planalto (essa cena mereceu destaque no filme Polícia Federal ― A Lei é Para Todos, onde Lula é interpretado por Ary Fontoura). Agora, passados dois anos, esse reencontro está prestes a se realizar, mas não da maneira imaginada por sua insolência.

Ainda segundo Veja, todo o efetivo da Superintendência da PF em Curitiba (350 agentes) estará de prontidão para trabalhar no dia da prisão. A PM também será mobilizada para conter eventuais protestos nas ruas e isolar as avenidas consideradas estratégicas para a segurança da operação, e a PF de Brasília já disponibilizou um jato para levar o petralha até Curitiba.

A hipótese mais provável é de Lula ser detido em sua cobertura no Residencial Hill House, em São Bernardo do Campo, mas é possível que a defesa do criminoso negocie com a PF outro local de rendição. O uso de algemas e de camburão está descartado.

Quanto à custódia, a definição ficará a cargo da Justiça. A carceragem da Superintendência da PF em Curitiba, apontada como a alternativa mais adequada para a custódia inicial, exigiria a reacomodação dos demais condenados em duas celas, deixando uma terceira exclusivamente para o ex-presidente.

O Complexo Médico-Penal de Pinhais, também na região metropolitana de Curitiba, tem alas para corruptos e criminosos do colarinho branco (e já abriga Eduardo Cunha, André Vargas, Sérgio Cabral, Aldemir Bendine, João Vaccari e outras estrelas do Petrolão). Embora 30% das vagas estejam desocupadas, acredita-se que Lula só irá para lá se ele for realmente cumprir a pena em Curitiba, já que em casos como o dele a lei faculta o cumprimento da sentença em local próximo aos familiares.

O Quartel-General do Exército e a Base Aérea do aeroporto de Bacacheri, também em Curitiba, não foram descartados, mas especula-se que serão evitados para não alimentar a tese abilolada de prisão política e o escambau.

Existem chances, ainda que remotas, de o STJ ou o STF conceder habeas corpus a Lula. E como o Brasil não é um país sério, não se pode descartar totalmente a possibilidade de uma liminar permitir que esse bandido dispute as eleições em outubro, embora isso fosse o mesmo que mandar às favas a Lei da Ficha-Limpa. Numa entrevista concedida à Folha na última quinta-feira, o demiurgo de Garanhuns disse que não fugirá do país nem se suicidará (ai, que dó!). Mas ele também diz que é inocente, que é vítima de um complô, e blá, blá, blá.

O bom de vivermos numa democracia, ainda que de galinheiro, é que cada um pode dizer o que bem entender e acreditar no que quiser.

A propósito, assistam. É imperdível!


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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

JULGAMENTO DE LULA NO TRF-4 E SUAS CONSEQUÊNCIA NAS ELEIÇÕES ― TUDO EXPLICADO, NADA ENTENDIDO.


Conforme o julgamento da apelação criminal de Lula se aproxima, as incertezas aumentam. Da decisão dos desembargadores às suas consequências no pleito à presidência, tudo se especula. 

Fala-se que, independentemente do esgotamento dos recursos no TRF-4 contra uma possível condenação, o picareta dos picaretas poderia concorrer se obtivesse uma liminar no STJ ou no STF. Mas como ficaria sua situação se essa liminar caísse depois do dia da votação?

Para a maioria dos analistas, o marco temporal é o dia da diplomação. No entanto, alguns consideram que o petralha, uma vez eleito, não pode ser impedido de tomar posse, mesmo que a liminar seja cassada. 

Por outro lado, se o STF entende que réus em ações criminais devem ser afastados da linha sucessória presidencial, como conceber que alguém que não esteja qualificado sequer para substituir o presidente da Banânia em caráter eventual possa exercer o cargo como titular?

Gilmar Mendes, o palpiteiro-mor do Supremo e presidente do TSE até fevereiro, afirma que as instâncias superiores em Brasília deverão julgar os recursos do petista antes das eleições, para evitar que a tensão política não aumente ainda mais. Ele não vê motivo para as críticas de Lula quanto à rápida tramitação do recurso; se o TRF-4 deu prioridade ao caso, fê-lo em prol da segurança jurídica ― pelo menos nisso nós concordamos.

Mas não se pode confiar em cabeça de juiz ou em barriga de criança. Segundo magistrados ouvidos pelo GLOBO, o TSE é uma corte dinâmica e sua composição atual é inexperiente em julgamentos de eleições para presidente. Por isso, a jurisprudência produzida não tem a mesma a rigidez verificada nos outros ramos do Direito. Basta lembrar a absolvição da chapa Dilma-Temer, em junho passado, que se deu em flagrante desacordo com a caudalosa enxurrada de provas do uso de dinheiro ilegal no financiamento das campanhas, ainda que a pretexto de, segundo Gilmar Mendes, “manter a governabilidade do país”.

Há quem diga que Lula poderia disputar as eleições independentemente da decisão do TRF-4. Mesmo que a condenação seja mantida, e ainda que não conseguisse uma liminar numa instância superior, poderia pleitear o registro da candidatura ― se o TSE indeferisse, sua defesa apelaria e se manter no páreo até a decisão final. 

Fica aqui a pergunta: Para que diabos servem as leis se os próprios magistrados não as observam?

Nossa legislação capenga e a crise que vivenciamos propiciam situações esdrúxulas, mas, em tese, possíveis. É o que dizem Silvana Batini, professora de Direito Penal e Eleitoral da FGV-Rio, e seu colega Carlos Gonçalves Júnior, professor de Direito Constitucional da PUC-SP. Para eles, mesmo condenado e enquadrado na Lei da Ficha-Limpa, o ex-presidente petralha poderia registrar sua candidatura, pois, mesmo inelegível, estaria autorizado a realizar atos de campanha até a decisão definitiva sobre o registro.

Essa tese ― que a meu ver é estapafúrdia, mas quem sou eu, primo? ― é esposada também pelo doutorando em direito eleitoral catarinense Marcelo Peregrino Ferreira, para quem a condenação não resulta automaticamente em inelegibilidade por ser da competência de um juízo criminal, enquanto a inelegibilidade em si é uma determinação do juízo eleitoral.

Em outras palavras, quem constitui a elegibilidade e candidatura é o juiz eleitoral, e a impugnação deve ser feita após o registro da candidatura. Ou seja, a condenação criminal não proíbe automaticamente uma candidatura, já que ela "não existe", é constituída perante o juiz eleitoral. 

Se você entendeu, caro leitor, faça-me o favor de explicar. Porque eu boiei.

Volto a esse assunto na próxima postagem. Até lá.

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segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

LULA ENTRE A CADEIA E O PLANALTO ― EXERCÍCIO DE FUTUROLOGIA DE VEJA


Na edição desta semana, Veja publica um exercício de futurologia sobre os destinos da candidatura de Lula à luz da decisão que a 8ª Turma do TRF-4 deve proferir no próximo dia 24.

A reportagem “escorrega” ao dizer que o recurso remete a um dos seis processos a que o molusco responde como réu, já que na verdade eles são em número de sete ― o mais recente data de setembro do ano passado e resulta da aceitação, pela Justiça Federal de Brasília, da denúncia contra Lula, seu ex-ministro Gilberto Carvalho e mais cinco investigados ―, mas esse deslize não compromete a qualidade informativa da reportagem, que, em síntese, explora três cenários possíveis:

O primeiro ― e mais improvável ― é a absolvição do redentor dos miseráveis, que o livraria da ameaça de ir para a prisão. Claro que o MPF tentaria reverter o resultado recorrendo primeiramente próprio TRF-4, depois ao STJ e, mais adiante, ao STF. Nesse contexto, o petista poderia registrar sua candidatura até 15 de agosto e disputar as próximas eleições, embora continuasse sendo hepta-réu (e se um réu em ação penal não pode sequer estar na lista sucessória presidencial, não faz sentido ele concorrer a um cargo que não pode ocupar nem mesmo em caráter eventual). 

O segundo cenário, tido como mais provável pela maioria dos analistas, é a condenação ser mantida por 2 votos a 1. Claro que seus advogados interporiam embargos infringentes, e o julgamento ficaria a cargo de um colegiado formado pelas 7ª e 8ª turmas do TRF-4. Lula ganharia tempo, mas não se livraria de ter a prisão decretada. Como os embargos não têm efeito suspensivo, o juiz Sérgio Moro poderia decretar sua prisão assim que recebesse oficialmente o resultado da condenação. Demais disso, em se observando os ditames Lei da Ficha Limpa, a candidatura seria impugnada pelo TSE. Também nesse caso a defesa do petralha recorreria, e, dependendo do resultado das chicanas, ele até poderia disputar a eleição. Todavia, se disputasse, vencesse e não obtivesse uma decisão favorável até a diplomação, não seria empossado (o presidente da Câmara assumiria e convocaria novas eleições no prazo de 90 dias).

O terceiro cenário ― também improvável, mas não impossível ― é a condenação por unanimidade, que deixaria o ex-presidente com um pé na cela, pois os próprios desembargadores do TRF-4 poderiam ordenar a execução imediata da pena. Nessa hipótese, em vez de embargos infringentes, restaria a seus advogados opor embargos de declaração, que teriam efeitos meramente protelatórios. Claro que haveria recursos às instâncias superiores, mas aí as chances de o TSE conceder uma liminar ― ou de a condenação ser modificada no STJ ou STF ― seriam mínimas, uma vez que a decisão de Moro teria sido chancelada e referendada, sem divergência, por um colegiado de desembargadores.

Eu, particularmente, torço pela terceira possibilidade, mas acredito que a segunda seja a mais provável. Para não ficar apenas na minha avaliação, ministros e ex-ministros do TSE ouvidos por O GLOBO entendem que, se o TRF-4 mantiver a condenação, o petralha ficará inelegível; a divergência fica por conta do momento em que a Justiça determinará a impugnação de sua candidatura.

Há quem entenda que Lula pode concorrer enquanto houver recurso pendente de análise no próprio TRF e quem admite essa possibilidade somente se a condenação na Corte não for unânime (situação em que Lula poderia continuar no páreo até o julgamento dos embargos infringentes). Mesmo condenado, ele poderia ter sua candidatura solicitada pelo PT até 5 de agosto, mas, para registrá-la, os documentos exigidos incluem certidões criminais fornecidas pelos órgãos de distribuição das justiças Eleitoral, Federal e Estadual.

As solicitações de postulantes à Presidência da República passam pelo crivo do TSE, que pode negá-las ex-officio ― se constatar que a pessoa não atende os requisitos impostos pela lei, como ausência de condenação em segunda instância ― ou se for provocado por concorrentes, por outros partidos ou pelo Ministério Público. Em qualquer dos casos, é aberta oportunidade de defesa e cabe recurso no próprio TSE. Se o prejudicado quiser debater questão constitucional, poderá apelar para o STF.

Façam suas apostas.

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sábado, 23 de setembro de 2017

LULA, TEMER E O CIRCO MARIMBONDO


Lula e o PT fomentaram a dicotomia a tal ponto que coxinhas e mortadelas passaram de adversários políticos a inimigos figadais, e ora travam um embate insano em que só há perdedores: quando um lado comemora as desventuras do outro, o avanço das investigações traz novos fatos que invertem diametralmente a situação.

Poucos ainda têm estômago para ouvir Lula, o hepta-réu, protestar inocência e se dizer perseguido e injustiçado, mas é igualmente revoltante ver a cara de paisagem de Michel Temer, que age como o país avançasse de vento em popa e sua permanência na presidência não estivesse por um fio. No entanto, daí a defender a anulação do impeachment e a volta de Dilma, com fazem alguns, é tão absurdo quanto saudar a mandioca ou acreditar que o chefe da ORCRIM é o salvador da pátria, o portador da luz e o dono absoluto da verdade.

Observação: Segundo O Globo, Lula, discursando para uma claque na Fundação Perseu Abramo ― entidade ligada ao PT ―, flatulou mais essa: “Mexeram com quem não deveriam mexer”. Não é porque estou acima de qualquer coisa. É porque eu não fiz o que eles dizem que eu fiz. (…) Eles estão mexendo com um político que não roubou, que não tem medo deles e que a única coisa que tem é a sua honra para defender”.

Há quem diga que esse projeto de candidato deveria mesmo concorrer, pois somente sua derrota nas urnas exorcizaria o mito do “grande estadista vítima da conspiração das ‘zelites’, da Globo, da Justiça e da ponte que o partiu”. Mas isso exigiria o sobrestamento de todas as acusações contra ele, e até mesmo nesta republiqueta de bananas a Lei determina que bandido deve ser julgado pela Justiça, não pelas urnas.

O demiurgo do agreste sempre foi mestre em manipular os desassistidos e iludir os desinformados, mas seu carisma já não é o mesmo: em recente caravana pelo Nordeste ― onde a pobreza é acentuada e o eleitorado, mais facilmente manipulado ―, o pupilo de Lampião voltou a ser o que era antes de 2002, ou seja, um candidato de piso alto e teto baixo (o piso alto lhe daria um lugar no segundo turno; o teto baixo lhe retiraria chances de vitória).

Lula confunde o Brasil dos nossos dias com o de 2002, quando ele contava com marqueteiros de primeiro time para criar a imagem do “Lulinha Paz e Amor” ― hoje, sua insolência faz mais o gênero jararaca, e nem Duda Mendonça nem João Santana estão disponíveis para auxiliá-lo. Em 2002, José Alencar ajudou a dispersar o receio de um governo norteado pelas ideias radicais e inconsequentes do PT, e a Carta ao Povo Brasileiro ― idealizada, pelo então aliado e hoje abominado Antonio Palocci ― que corre o risco de ser expulso do partido por ter entregado o chefe ― assegurava que os compromissos internacionais, contratos e metas de superávit primário seriam respeitados, o que foi decisivo para conquistar o apoio de parte do empresariado e obter financiamento de campanha. Naquela época, uma parcela significativa da classe média (nas regiões Sudeste e Sul, inclusive) resolveu dar uma chance ao “candidato do povo”; hoje, o rufião vermelho aparece nas pesquisas como o mais rejeitado entre os pretensos presidenciáveis.

Em 2005, quando o Mensalão veio a público, o sapo barbudo convenceu a militância de que a bandalheira fora necessária, que o PT não era corrupto ― os outros é que eram ―, e que ele precisava de apoio para governar e implementar seus programas sociais. Uma falácia que dificilmente colaria nestes tempos de Lava-Jato, por mais que o colecionador de processos bata na tecla da perseguição política.

Lamentavelmente, os áulicos militantes petistas não são os únicos que se deixam iludir pelo besteirol que inunda a mídia e as redes sociais. Prova disso é o apoio crescente a Jair Bolsonaro e o número de inconsequentes que defendem a intervenção militar como solução pôr ordem na casa de Noca em que se transformou o Congresso Nacional.

Observação: Militares não são imunes à picada da mosca azul, e a história ensina que eles vêm para ficar pouco tempo, mas se entronizam no poder, prendem e arrebentam a torto e a direito e não resolvem merda nenhuma.

Enquanto a tropa de choque do governo define a denúncia do MPF contra o presidente como uma farsa, menospreza o inquérito da PF que mapeou a atuação dos caciques do PMDB ― que, sob o comando de Temer, davam as cartas na Câmara e, depois, no Planalto ―, trata os R$ 51 milhões encontrados no bunker de Geddel como algo de somenos, mas faz o maior carnaval com a foto de Janot sentado em um bar com um dos advogados de Joesley Batista, a patuleia vermelha repete ad perpetuam o mantra de que não há provas contra Lula ― sete vezes réu e já condenado a 9 anos e 6 meses de prisão em um dos processos ― e que Palocci mentiu para se livrar da cadeia.

Haja saco para aturar tanta cretinice!