A combinação de um Executivo
mambembe com um Legislativo corrupto e corporativista transformou o Judiciário numa tábua de salvação para os
esperançosos mais obstinados (este país não tem remédio, só não vê quem não
quer). Prova disso é o fato de o povão reconhecer a fuça dos 11 ministros do STF mais facilmente que a dos 11
titulares da seleção brasileira, a despeito de estarmos às vésperas da Copa do Mundo na Rússia.
Felizmente para a senhora de pedra que guarda a entrada do
prédio do STF em Brasília ―
esculpida por Alfredo Ceschiatti
(1918 – 1989) ―, a grossa venda que lhe cobre os olhos também lhe tapa as
orelhas, poupando-a de ver e ouvir os conflitos ruidosos que não raro se
deflagram nas dependências da Corte, e de corar de vergonha diante da atual
composição daquele Tribunal ― talvez a pior desde que foi criado, em 28 de
fevereiro de 1891, para substituir o Supremo
Tribunal de Justiça do Império.
Dos onze ministros atuais, três são paulistas: Celso de Mello, indicado por Sarney, Dias Toffoli, pelo criminoso Lula,
e Alexandre de Moraes, por Michel Temer. Os fluminenses Marco
Aurélio Mello, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso foram promovidos
durante o governo da anta sacripanta,
à exemplo da gaúcha Rosa Weber e do
gaúcho-paranaense Edson Fachin. Ricardo Lewandowski, nascido no rio,
mas criado em São Paulo, e a mineira Cármen
Lúcia assumiram o cargo na gestão do sevandija
de Garanhuns, e o mato-grossense Gilmar
Mendes é herança do governo FHC.
Observação: O então presidente e hoje presidiário Lula chegou a nomear oito ministros, e
a ex-presidente e presidiária-to-be Dilma,
cinco, devido em parte às aposentadorias precoces de Francisco Rezek, Nelson
Jobim, Ellen Gracie e Joaquim Barbosa ― um surto de
debandadas que respingou desprestígio na mais alta corte do país, em princípio
propiciadora do ápice do mais honroso posto de uma carreira jurídica (leia mais
sobre as “virtudes” de alguns ministros da Corte nesta e nesta postagem).
Depois de proferir o voto que formou maioria no julgamento
virtual do recurso que buscava libertar Lula
da cadeia, concluído pela 2ª Turma do
STF no último dia 10, Gilmar Mendes,
com a avidez de um alcoólatra afastado da garrafa por dias a fio, deu vazão a
seus instintos laxantes mandando soltar Paulo
Preto, que estava preso desde 6 de abril em
razão das suspeitas de desvios nas obras do Rodoanel Sul, Jacu Pêssego e Nova Marginal Tietê, realizadas nos governos
dos tucanos José Serra, Alberto Goldman e Geraldo Alckmin. A defesa de Paulo Preto recorreu
ao TRF-3 e ao STJ, mas não logrou êxito em soltá-lo. No Supremo, no entanto, Gilmar
Mendes concedeu o habeas corpus
por entender que é "patente o constrangimento ilegal", e que "a justificação
processual da prisão preventiva não encontra amparo em fatos".
Observação: Preto
é amigo de Aloysio Nunes Ferreira há
mais de 25 anos e foi durante pelo menos uma década o homem forte do tucanato. De
engraxate em seus mais verdes anos, ele se tornou assessor especial da
Presidência da República e, mais adiante, diretor da Dersa. Seu patrimônio deu um prodigioso salto de R$ 113 milhões (depositados em 4 contas na Suíça,
segundo a promotoria daquele país).
Apontado como operador do dinheiro ilícito que irrigou as campanhas de candidatos do PSDB em 2006 e 2010, Preto vinha se queixando de desamparo. Enviou para fora do xadrez recados que soaram como o canto do carcará ― aquela ave que pega, mata e come. Foi como se quisesse renovar um aviso que emitira em 2010, quando tucanos “ingratos” fingiam que não o conheciam: “Não se deixa um líder ferido na estrada a troco de nada.”
Quem conhece Paulo Preto acredita que, se mantido preso, Paulo Preto não hesitaria em negociar um acordo de colaboração e, para valorizar sua delação, concentraria seu poder de fogo em Geraldo Alckmin ― ex-governador de São Paulo, candidato à presidência em 2006 (quando foi derrotado por Lula) e pré-candidato nas próximas eleições (quando será derrotado por si mesmo e pelo seu estúpido partido). Se o alvará de soltura expedido por Mendes revela alguma coisa, é que o operador do tucanato pode estar ferido, mas não foi largado à beira da estrada.
Solto, Preto tende a prender a língua. A hipótese de se tornar um delator continua viva no jogo, mas acaba de se tornar uma carta embaralhada. Sua delação poderia produzir efeitos deletérios na candidatura de Alckmin, que já não entusiasmava o eleitorado antes de ser investigado na Justiça Eleitoral por suspeitas de caixa-dois ― segundo as pesquisas, o tucano tem entre 5 e 7 por cento das intenções de voto).
Michel Temer, que é unha e carne com Gilmar Mendes, aventou a possibilidade de se candidatar à reeleição, certamente movido pela esperança de manter o foro privilegiado e adiar indefinidamente o julgamento dos processos oriundos das denúncias apresentadas por Janot, que foram bloqueadas pela Câmara até o final do mandato presidencial. No entanto, sua prodigiosa impopularidade e seus pífios 5% de intenções de voto levaram-no a considerar uma aliança com o ex-governador de São Paulo. Essa união renderia mais prejuízo do que lucro a Alckmin, mas traria uma montanha de minutos no horário eleitoral obrigatório. Por outro lado, alguns a veem como um “abraço de afogados” ― segundo a revista Veja, um dirigente tucano que pediu anonimato ponderou que “de nada adianta ter um tempo gigantesco na TV e só fruta podre para vender”.
Observação: A desistência de concorrer à reeleição não
foi exatamente uma opção de Michel Temer,
que, crivado de acusações de corrupção e reprovado por sete em cada dez
brasileiros, não teria chance sequer de passar para o segundo turno. Falando
no presidente, semana passada, durante uma palestra na Escola Superior de
Propaganda e Marketing em São Paulo, ele
tentou explicar por que, embora o
desemprego tenha diminuído, o desemprego aumentou. A plateia saiu de lá com
uma certeza: ninguém convive impunemente
por tanto tempo com Dilma Rousseff.
Do lado do MDB, de seus 27 diretórios estaduais, 20 são contrários à aliança nacional com
os tucanos ― o que deve levar Temer
a tratar com menos desapreço a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que trocou o PSD pelo MDB para disputar o Planalto. Mas o fato é que, a cinco meses da
eleição, é impossível arriscar um palpite sobre o que vai acontecer. O PSDB, finalmente na mira da Lava-Jato,
quer um aliado limpo, o que, em tese, excluiria Temer ou outro nome de destaque do MDB, já que o partido como um todo está imerso até os beiços no
atoleiro da corrupção. Já os emedebistas querem um candidato viável que aceite
defender o legado de Temer. Juntos
ou separados, ambos buscam pela mercadoria que lhes é mais cara no feirão da política:
o voto dos eleitores.
Voltaremos a conversar (com mais vagar) sobre Gilmar Mendes, talvez já na próxima
postagem.
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