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terça-feira, 28 de agosto de 2018

AINDA AS ELEIÇÕES — ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA



Já estou farto de falar sobre a inelegibilidade chapada de Lula, que boa parte da imprensa vem tratando como preso político, quando ele é na verdade um político preso. Aliás, vale abrir um parêntese para dizer que até nas formas de tratamento o Brasil é um país sui generis: treinador de futebol é “professor”, professor é “tio”, e falar em mãe é xingamento. Juiz é “meritíssimo”, mesmo que não tenha mérito algum; reitores são tratado por “vossa magnificência” e prefeitos, governadores e presidente, por “excelências”, independentemente da excelência de sua administração (vejam o caso de Sérgio Cabral). E tanto é excelentíssimo um presidente ilibado (fico devendo o exemplo, pois não me ocorre nenhum) quanto os que deixaram o cargo pela porta dos fundos (oi, Collor, olá, Dilma) ou migrado para uma cela na carceragem da PF em Curitiba (hello, Lula!).

Chega a ser engraçado ver os membros da nossa mais alta corte de digladiando como galos de rinha, mas (quase) sempre sem perder a pose (o eminente colega falta com a verdade; o douto ministro fulano tem interesses escusos, vossa excelência é um ladrão, e por aí vai). Ou os debates no Senado, na Câmara, nas Assembleias Legislativas — há ótimos exemplos no Congresso: Carlos Lacerda, um dos maiores oradores do País, teve certa vez o discurso interrompido por um adversário, aos berros de “Vossa Excelência é um purgante”. Respondeu na lata: “E Vossa Excelência é o efeito”. Fecho o parêntese.

Voltando às eleições, as esperanças e ilusões do povo brasileiro se perderam pelo caminho, e o que a esquerda propõe é renová-las com um projeto fracassado. Juscelino propôs avançar 50 anos em 5 — aí construiu Brasilha da Fantasia, e deu no que deu. Os atuais candidatos já não conseguem cativar o eleitorado com suas propostas vazias, palavras jogadas ao vento do alto dos palanques, das mídias eletrônicas e, a partir do final desta semana, do programa eleitoral obrigatório. Alguns não conseguem sequer disfarçar seu total despreparo — caso do Cabo Daciolo e, por que não dizer, de Jair Bolsonaro; este, após levar uma invertida da sonhática Marina, disse que deixaria de participar dos debates, mas depois voltou atrás. Mas isso não é de estranhar vindo de um admirador confesso da ditadura... Que ditadura? Talvez nem tenha havido uma ditadura na história recente do Brasil, nem mesmo o golpe militar que lhe daria origem, mas tão somente uma saudável interrupção democrática destinada a pôr ordem onde antes havia somente desordem.

O extremado de direita também desdisse tudo que seu pretenso superministro dissera dias antes, numa entrevista à Globo News. Dono de uma proposta que defende a privatização das estatais (verdadeiros cabides de emprego sustentados pelo dinheiro público que não raro servem apenas como moeda de troca na compra de apoio partidário ou de parlamentares venais), uma aliança de centro-direita conservadora nos costumes e liberal na economia, o fim da reeleição e por aí vai, Paulo Guedes teria o voto de muita gente se fosse ele o candidato.

Alckmin, o eterno baluarte da insipidez, apoia-se em experiências do passado que ninguém sabe se funcionarão no presente, repetindo que sua campanha irá decolar após a estreia das propagandas no rádio e na TV (apostando no tempo de exposição que as coligações lhe garantem), mas não consegue convencer os representantes do mercado financeiro — boa parte do qual se identifica com o tucano. Prova disso é a disparada do dólar, que fechou a semana passada acima dos R$ 4, refletindo o temor de um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro.

Quanto ao PT, o entusiasmo diante dos números ostentados pelo criminoso de Garanhuns pode durar pouco. Haddad tem 4% das intenções de voto e, ao contrário de Lula, é um ilustre desconhecido no Nordeste — onde há até quem se refira a ele como Andrade — e nada garante que a transferência de votos acontecerá com a expressividade almejada pelo partido. Talvez até o bando vermelho se saísse melhor se quem subisse de vice para cabeça de chapa, quando Lula finalmente sair de cena, fosse o ex-governador baiano Jaques Wagner, mas a velha raposa não quer se arriscar a enfrentar as acusações da Lava-Jato numa disputa nacional, preferindo, muito sabiamente, disputar uma cadeira no Senado, que lhe garantirá mais 8 anos de foro privilegiado.

No TSE, a ideia dos ministros era julgar o pedido de registro do molusco até o dia 31, mas o mais provável é que a decisão seja tomada na primeira semana de setembro, e que ele perca por 7 a zero (ainda que a decisão seja unânime, o petralha terá 3 dias para recorrer, mas o apelo será julgado pelos mesmos ministros, e a derrota se repetir. Um possível recurso ao STF servirá apenas para manter o nome de Lula em evidência, já que a corte tem posição consolidada pela proibição de candidaturas por órgãos colegiados da Justiça.

Enfim, o objetivo do PT, que é tão público e notório quanto a inelegibilidade de seu eterno presidente de honra, é arrastar o julgamento até 17 de setembro, a partir de quando não haverá mais tempo para substituir, nas urnas eletrônicas, a foto de Lula pela de Haddad, induzindo o “esclarecidíssmo” eleitorado a erro, já que muitos apertariam o botão pensando estar votando no demiurgo de Garanhuns, quando na verdade estariam escolhendo seu “poste”.

Enquanto isso, dedicamos pouca ou nenhuma atenção ao Congresso, onde 440 deputados e senadores de um total de 594 parlamentares serão candidatos à reeleição. Nesse caso, não precisamos de um "salvador da pátria", mas de centenas deles. E não estou falando apenas de renovar os quadros, colocar gente nova no lugar das excelências pegas com a boca na botija. Dilma Rousseff era uma tremenda novidade e resultou no desastre por todos visto e por nosso bolso sentido. Jânio Quadros, embora vereador, deputado, prefeito e governador, em 1960 simbolizava "o novo", sem falar em Collor, o desperdício-mor da primeira eleição direta pós-ditadura. 

Era isso, pessoal. Vamos acompanhar e ver que bicho dá.

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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

O NAUSEABUNDO CENÁRIO POLÍTICO — TERCEIRA PARTE



PESQUISA É COMO BIQUÍNI: REVELA TUDO, MENOS O ESSENCIAL.

Desde o final do ano passado que as pesquisas de intenção de voto apontam dois extremistas disputando a preferência do eleitorado — o que vem mudando ao longo do tempo é o percentual atribuído a cada um. Quando nada, esses números comprovam que o eleitor tupiniquim votaria numa lata de estrume se a ela fosse carismática e profícua em promessas populistas (qualquer semelhança com o pulha de Garanhuns não é mera coincidência).

Uma eleição em dois turnos é o mesmo que duas eleições. O primeiro escrutínio envolve todos os candidatos e o segundo, apenas os dois mais votados na etapa anterior. Lula, embora seja franco-favorito nas pesquisas, jamais se elegeu no primeiro turno — nem ele nem sua imprestável sucessora, que, aliás, só venceu Aécio em 2014 por uma maioria insignificante de votos (diferença essa que muita gente atribui a urnas com “ideias próprias e convicções partidárias favoráveis” ao PT).

Faltando pouco mais um mês para o pleito presidencial, apenas 4 ou 5 dos 13 candidatos registrados têm chances reais de disputar o segundo turno. O fato de Lula, mesmo preso, vir crescendo nas pesquisas se contrapõe à informação — obtida através das mesmas pesquisas — de que a maioria dos eleitores repudia políticos ficha-suja. Mas convém ter em mente que pesquisa é como biquíni: revela tudo, menos o essencial. Além disso, os institutos coletam informações junto a alguns milhares de entrevistados e as projetam num cenário de 147 milhões de eleitores, de modo que dizer que a margem de erro é de 2 ou 3 por cento me parece muito otimismo.

Na melhor das hipóteses, os índices atribuídos aos candidatos representam um instantâneo do momento em que o público-alvo foi abordado, e devem ser vistos como uma tendência — basta lembrar que, nas eleições municipais de 2016, João Doria foi eleito prefeito de Sampa no primeiro turno, embora Ibope, Datafolha e demais institutos de pesquisa o tivessem na conta de azarão; em outro episódio, chegou-se a estampar em manchetes a vitória de Martha Suplicy, mas quem se elegeu foi Gilberto Kassab.

Observação: A despeito de sua inelegibilidade acachapante, Lula continua sendo incluído nas pesquisas, o que contribui para tumultuar o já conturbado cenário sucessório e confundir a parcela menos esclarecida e pouco informada da população (ou seja, a maioria do eleitorado). Quem ganha com isso, além do PT — visto que a exposição de seu eterno presidente de honra ajuda a canalizar votos para o poste que o substituirá nas urnas —, é a seleta confraria que vem enchendo as burras com a instabilidade do mercado financeiro e as sucessivas altas do dólar. Mas essa é outra conversa.

Como salientou José Nêumanne, mesmo com seu líder cumprindo pena numa dita sala de “estado-maior”, como a definiu o juiz que o encarcerou, a máquina de propaganda do petismo não cessou de funcionar. Em 14 de agosto, o jornal The New York Times publicou um artigo, de suposta lavra da pena (no sentido figurado) do molusco abjeto, exaltando programas de seu governo e chamando de “golpe” o impeachment do poste que elegeu para sucedê-lo. Ou seja, o órgão de imprensa de convicções liberais que trava uma guerra contra o presidente Donald Trump reproduziu as diatribes a que recorrem os advogados do apenado e dirigentes do seu partido.

A máquina de propaganda petista, sem contar mais com os colunistas de aluguel nem com emissoras ditas públicas de rádio e televisão — cabides de emprego de militantes e simpatizantes —, divulgou com estardalhaço o texto de seu profeta. Como se, por terem sido impressas sob o timbre do jornalão nova-iorquino, representassem uma adesão deste às teses absurdas de defesa de um criminoso e acusação contra a Justiça brasileira. Pois, como escreveu Fernando Gabeira em artigo no Globo do último dia 20, “para salvar Lula, é necessário condenar a Justiça”. Na verdade, por mais que possa parecer estranho à malta esquerdista, numa democracia os jornais, especialmente os liberais, como o NYT, publicam rotineiramente opiniões estranhas e até opostas às deles. Este foi o caso do artigo em questão, embora isso não impeça que, do lado de cá, em defesa da democracia que escolhemos para nos reger, não tenhamos comentários desairosos sobre esses registros de pulp fiction.

José Roberto Guzzo, em sua coluna na revista Veja, escreveu: “O que a imprensa mundial diz ao público é que Lula está preso porque lidera ‘todas as pesquisas’; se estivesse solto, seria candidato a presidente e ganharia a eleição, e ‘não querem’ que isso aconteça, porque ele voltaria a ajudar os pobres. Quem ‘não querem’? E o que alguém ganharia ficando contra ‘os pobres’? Não há essas informações. Também não há nenhuma palavra sobre o fato de que a presidência de Lula foi o período de maior corrupção já registrado na história mundial ­— realidade comprovada por delações, confissões e devolução de bilhões em dinheiro roubado. Mas e daí? Ninguém está ligando para o Brasil como ele é. O Brasil do Zé Carioca é muito mais interessante”.

O apoio que a caterva lulista acha ter encontrado na mídia burguesa, porém, não basta. Em pleno mês do desgosto, a fábrica de fake news, hoje por conta de robôs nas redes sociais, encontrou mais um tema para incutir nos desinformados a ilusão de que o condenado — e, portanto, inelegível pela Lei da Ficha-Limpa — conta com adesão internacional para defender sua candidatura inviável à presidência da República. Fê-lo com a notícia de que certo “comitê” de direitos humanos da ONU — sempre a ONU — havia intimado o Brasil, ou o governo brasileiro, ou seja lá o que for, a permitir que o condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro disputasse as eleições, ao arrepio da lei.

O que houve de verdade? O comunicado a que recorreu a fábrica petista de fake news em exigência para permitir candidatura do condenado é um documento emanado de um “comitê” formado por 18 “especialistas” independentes sem nenhum poder decisório ou mandatório. Ou seja, está sendo repetido o estratagema do convite da FAO, já denunciado por Carlos Brickmann no site Chumbo Gordo: não havia no calendário de eventos oficiais daquele órgão da ONU nenhum registro do tal compromisso oficial. Agora também não há. 

A notícia foi dada (ou seja, vazada) pela BBC, não pelas Nações Unidas. E tanto nunca foi oficial que a própria ONU divulgou nota informando que a função do tal “comitê” é “supervisionar e monitorar” o cumprimento dos acordos internacionais de defesa dos direitos humanos. E fazer recomendações, sempre em entendimento e consultas com os países envolvidos. O texto dessa nota de informações não deixa dúvidas quanto ao uso impróprio da entidade na divulgação: “É importante notar que esta informação, embora seja emitida pelo Escritório das Nações Unidas para Direitos Humanos, é uma decisão do Comitê de Direitos Humanos, formado por especialistas independentes. (Logo) esta informação deve ser atribuída ao Comitê de Direitos Humanos”.

O título da coluna de Jânio de Freitas na Folha, Brasil ignora tratados internacionais no caso de Lula, vai na contramão dessas conclusões falsas e apressadas. Já na quinta-feira 16 o comentarista de economia Carlos Alberto Sardenberg registrou em seu artigo semanal na página de opinião de O GloboFake ONU, o seguinte: “Vai daí que são fake todas as notícias do tipo: ONU manda, determina, exige que Lula participe da eleição; Conselho da ONU decide a favor de Lula (forçando uma confusão do Comitê com o Conselho, por ignorância ou má-fé); decisão do Comitê é obrigatória”. 

Ainda na semana passada, em pleno espocar dos foguetões dos lulistas devotos, o colega José Fucs esclareceu no site BR18 do Portal do Estadão: “O comunicado revela, de qualquer forma, o grau de interferência política que predomina nas iniciativas do órgão e o seu aparelhamento pelos PTs do mundo e por países cujos interesses têm pouco ou nada a ver com a defesa da liberdade e dos direitos humanos. Não por acaso, em junho deste ano, os Estados Unidos decidiram se retirar da entidade, que inclui ‘exemplos’ de democracia, como Angola, China, Cuba e Venezuela, em protesto contra suas críticas frequentes a Israel”.

Os fanáticos do padim Lula poderão argumentar que o presidente norte-americano, Donald Trump, não é flor que se cheire em matéria de verdade, além de se declarar publicamente inimigo número um da imprensa livre de seu país. Mas ninguém de boa-fé ou de boa vontade pode considerar os ditadores comunistas dos países citados por Fucs como militantes da defesa da liberdade de dissentir de seus dissidentes internos. 

The New York Times, a BBC, a ONU e os tais militantes, que não são diplomatas das “nações unidas”, mas “especialistas em direitos humanos”, normalmente de esquerda e que compõem o tal “comitê”, não assumiram nenhum compromisso de lealdade com as instituições do Estado de Direito vigente no Brasil por livre e soberana vontade majoritária do povo brasileiro. Os robôs a serviço da pregação ideológica da farsa da “perseguição de Lula para evitar que ele se candidate” não têm vontade própria nem discernimento. Mas, pelo menos em teoria, o PT e o PCdoB, que apoiam as pretensões presidenciais de Lula, e principalmente ele próprio deveriam respeitar e proteger nossas instituições democráticas, se é que pretendem mesmo disputar o voto do cidadão sob a égide delas.

Amanhã a gente continua.

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domingo, 5 de agosto de 2018

O PRESO POLÍTICO E O POLÍTICO PRESO


Desde que Gleisi Hoffmann teve a brilhante ideia de comparar o ex-presidente Lula ao traficante Fernandinho Beira-Mar, pedindo isonomia para que seu amado líder também pudesse dar entrevistas de dentro da cadeia, essa relação entrou no debate político. Na quarta-feira, na “Central das Eleições” da GloboNews, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, deixou implícito um paralelo quando acusou Lula de ter operado “freneticamente” de dentro da prisão para isolá-lo politicamente, impedindo que o PSB o apoiasse.

Mesmo preso e incomunicável, Lula recebe visitas de políticos, advogados e dublês de políticos e advogados que atuam como meninos-de-recados, ajudando-no a contornar a decisão da juíza da 12ª Vara Federal de Curitiba, que o proibiu de gravar vídeos, dar entrevistas, participar por videoconferência de atos de pré-campanha e comparecer à convenção do PT (como se já não bastassem as regalias que lhe são concedidas, a começar pela sala especial na Superintendência da PF em Curitiba).

Outros criminosos, como Fernandinho Beira-Mar (e Marcinho VP, também citado pela defesa de Lula) se comunicam de dentro dos presídios através de celulares que lhes chegam às mãos clandestinamente. Já o petralha,  sozinho numa sala de 15 metros quadrados e sob vigilância constante de agentes da Polícia Federal, não teria como usar um celular se ser flagrado. Aliás, atribui-se a ele um comportamento distinto do ex-governador Sérgio Cabral, por exemplo, que seria arrogante e pretensioso, mesmo na condição em que se encontra. Lula é afável, conversador, e numa dessas conversas teria revelado achar ninguém no PT com condições de substituí-lo e ganhar as eleições (isso vai ao encontro do que eu disse postagens atrás, sobre o molusco jamais ter dado espaço para que outra liderança crescesse a ponto de lhe ofuscar o brilho).

Mas Lula tem mais liberdade que os bandidos comuns para mandar seus “salves” — recados enviados para fora da cadeia por líderes de facções criminosas, com a conivência de visitantes ou mesmo de advogados. Foi através desses “salves” que ele costurou o isolamento de Ciro Gomes e a estratégia para forçar o PSB a ficar neutro na campanha presidencial — o PT apoiará a reeleição do governador Paulo Câmara em Pernambuco em troca do apoio do PSB a Fernando Pimentel na disputa pelo governo de Minas Gerais (com isso, Marcio Lacerda, candidato do PSB ao governo mineiro, teve de abandonar a disputa).

Mesmo preso, o criminoso de Garanhuns comanda com mão de ferro seu grupo político — classificado de “organização criminosa” nas sentenças que o condenaram —, para, como dito linhas e postagens atrás, inibir o surgimento de novas lideranças que lhe façam sombra. Da cadeia, ele condena à morte política que se atreve a desafiar suas ordens, da mesma forma como fazia quando estava solto e comandava a ORCRIM.

Durante a sabatina na Globo News, na noite da última quarta-feira, Ciro Gomes ponderou que, mesmo considerando injusta a prisão de Lula, é impossível tê-lo na conta de “preso político”. Por sua atuação “frenética”, o petista não passa de um político preso tentando se manter no controle da esquerda — coisa que eu também já disse isso em diversas oportunidades. Mas para não ficar apenas com a minha opinião, transcrevo a seguir o que disse Dora Kramer em sua coluna em Veja desta semana:

Tudo na abordagem eleitoral do PT de insistir numa candidatura presidencial legalmente impossível mostra que a sigla voltou a apostar no quanto pior, melhor — partindo do princípio de que, perdido por um, perdido logo de uma vez por mil. E nada pior para o país que a eleição de um brucutu enlouquecido, cuja ascensão ao poder equivaleria à assinatura de um contrato com o aprofundamento de todas as crises, a quebra da ordem social, a desorganização da economia e a desestabilização institucional.

O traço desse cenário caótico não é fruto de exagero, de delírio, muito menos de posicionamento ideológico. Resulta apenas da soma dos atributos mentais, orais e gestuais do deputado Jair Bolsonaro, cuja exibição não deixa a menor dúvida. Faz sucesso? Ora, a figura do rinoceronte Cacareco (Google, juventude!) em tempos idos também fez, e de lá para cá houve vários campeões de audiência no quesito voto inútil nas eleições. Uns eleitos, outros apenas fermento no índice de nulos.

Isso dito, não é Bolsonaro o foco aqui. Ou melhor, é e não é, mas vamos adiante. O tema mesmo é a rota escolhida pelo PT nesta eleição, um caminho rumo ao abismo. O partido, ou a parte que segue Lula (a outra existe, mas só sussurra ou simplesmente se cala), optou pelo suicídio. Não elegerá o presidente, embora faça de conta que isso não acontecerá por obra das “forças do atraso”. Não pode, por causa da candidatura fantasma, organizar-se nos estados. Não articula alianças política e eleitoralmente eficazes e, portanto, tende a eleger poucos parlamentares no âmbito nacional e estadual.

Candidaturas majoritárias — a presidente, governador e senador — impulsionam a eleição dos representantes nos pleitos proporcionais tanto ao Congresso quanto às assembleias legislativas. Na disputa pela Presidência, Lula se fará procurador de alguém que poderá ser Jaques Wagner, Fernando Haddad ou outrem para ficar ali fingindo que joga a sério. Como só pretende definir o delegado(a) aos 45 minutos, este(a) não terá tempo nem autoridade para estruturar bons palanques estaduais. Como consequência, o PT tende a eleger bancada parlamentar ínfima, ficando, assim, relegado à irrelevância do ponto da influência política sobre o próximo governo. Considerando-se que tal estratégia não resulta de burrice, de ingenuidade nem de desconhecimento de causa por parte de Lula, sobra uma hipótese: extinta a relevância institucional do coletivo, restaria ao partido a tarefa de sustentar o mito com base na fantasia da vítima do “sistema”.

Daí que Lula joga o partido ao naufrágio a fim de sobreviver na condição de uma ilha de excelência regressiva a ser resgatada das cinzas, dando de ombros à própria responsabilidade na deflagração do incêndio. Levando-se em conta que a eleição de Bolsonaro seria a garantia do caos, não seria de todo ruim (ao contrário, seria ótimo) para o PT a eleição daquele que consolidaria a falência geral a fim de que o embuste pudesse se travestir de fênix regenerada e injustamente castigada.

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