Já estou farto de falar sobre a inelegibilidade chapada de Lula, que boa parte da imprensa vem tratando como preso político, quando ele é na verdade
um político preso. Aliás, vale abrir
um parêntese para dizer que até nas formas de tratamento o Brasil é um país sui generis: treinador de futebol é “professor”, professor é “tio”, e falar em mãe é xingamento. Juiz
é “meritíssimo”, mesmo que não tenha
mérito algum; reitores são tratado por “vossa
magnificência” e prefeitos, governadores e presidente, por “excelências”, independentemente da
excelência de sua administração (vejam o caso de Sérgio Cabral). E tanto é excelentíssimo um presidente ilibado (fico
devendo o exemplo, pois não me ocorre nenhum) quanto os que deixaram o cargo pela
porta dos fundos (oi, Collor, olá, Dilma) ou migrado para uma cela na
carceragem da PF em Curitiba (hello,
Lula!).
Chega a ser engraçado ver os membros da nossa mais alta corte de digladiando como galos de rinha, mas (quase) sempre sem perder a pose (o eminente colega falta com a verdade; o douto ministro fulano tem interesses escusos, vossa excelência é um ladrão, e por aí vai). Ou os debates no Senado, na Câmara, nas Assembleias Legislativas — há ótimos exemplos no Congresso: Carlos Lacerda, um dos maiores oradores do País, teve certa vez o discurso interrompido por um adversário, aos berros de “Vossa Excelência é um purgante”. Respondeu na lata: “E Vossa Excelência é o efeito”. Fecho o parêntese.
Chega a ser engraçado ver os membros da nossa mais alta corte de digladiando como galos de rinha, mas (quase) sempre sem perder a pose (o eminente colega falta com a verdade; o douto ministro fulano tem interesses escusos, vossa excelência é um ladrão, e por aí vai). Ou os debates no Senado, na Câmara, nas Assembleias Legislativas — há ótimos exemplos no Congresso: Carlos Lacerda, um dos maiores oradores do País, teve certa vez o discurso interrompido por um adversário, aos berros de “Vossa Excelência é um purgante”. Respondeu na lata: “E Vossa Excelência é o efeito”. Fecho o parêntese.
Voltando às eleições, as esperanças e ilusões do povo
brasileiro se perderam pelo caminho, e o que a esquerda propõe é renová-las com
um projeto fracassado. Juscelino
propôs avançar 50 anos em 5 — aí construiu Brasilha da Fantasia, e deu no que
deu. Os atuais candidatos já não conseguem cativar o eleitorado com suas propostas
vazias, palavras jogadas ao vento do alto dos palanques, das mídias eletrônicas
e, a partir do final desta semana, do programa eleitoral obrigatório. Alguns não
conseguem sequer disfarçar seu total despreparo — caso do Cabo Daciolo e, por que não dizer, de Jair Bolsonaro; este, após levar uma invertida da sonhática Marina, disse que deixaria de
participar dos debates, mas depois voltou atrás. Mas isso não é de estranhar vindo de um admirador confesso da ditadura... Que ditadura? Talvez nem tenha havido uma ditadura na história recente do Brasil, nem mesmo o golpe militar que lhe daria origem, mas tão somente uma saudável interrupção democrática destinada a pôr ordem onde antes havia somente desordem.
O extremado de direita também desdisse tudo que seu pretenso
superministro dissera dias antes, numa entrevista à Globo News. Dono
de uma proposta que defende a privatização das estatais (verdadeiros cabides de
emprego sustentados pelo dinheiro público que não raro servem apenas como moeda
de troca na compra de apoio partidário ou de parlamentares venais), uma aliança
de centro-direita conservadora nos costumes e liberal na economia, o fim da
reeleição e por aí vai, Paulo Guedes
teria o voto de muita gente se fosse ele o candidato.
Alckmin, o eterno
baluarte da insipidez, apoia-se em experiências do passado que ninguém sabe se
funcionarão no presente, repetindo que sua campanha irá decolar após a estreia
das propagandas no rádio e na TV (apostando no tempo de exposição que as
coligações lhe garantem), mas não consegue convencer os representantes do
mercado financeiro — boa parte do qual se identifica com o tucano. Prova disso é
a disparada do dólar, que fechou a semana passada acima dos R$ 4, refletindo o
temor de um segundo turno entre Haddad
e Bolsonaro.
Quanto ao PT, o
entusiasmo diante dos números ostentados pelo criminoso de Garanhuns pode durar
pouco. Haddad tem 4% das intenções
de voto e, ao contrário de Lula, é
um ilustre desconhecido no Nordeste — onde há até quem se refira a ele como Andrade — e nada garante que a
transferência de votos acontecerá com a expressividade almejada pelo partido. Talvez até o bando vermelho se saísse melhor se quem subisse de vice para cabeça de chapa, quando Lula finalmente sair de cena, fosse o ex-governador baiano Jaques Wagner, mas a velha raposa não quer se arriscar a enfrentar as acusações da Lava-Jato numa disputa nacional, preferindo, muito sabiamente, disputar uma cadeira no Senado, que lhe garantirá mais 8 anos de foro privilegiado.
No TSE, a ideia dos
ministros era julgar o pedido de registro do molusco até o dia 31, mas o mais
provável é que a decisão seja tomada na primeira semana de setembro, e que ele
perca por 7 a zero (ainda que a decisão seja unânime, o petralha terá 3 dias
para recorrer, mas o apelo será julgado pelos mesmos ministros, e a derrota se
repetir. Um possível recurso ao STF servirá
apenas para manter o nome de Lula em
evidência, já que a corte tem posição consolidada pela proibição de candidaturas
por órgãos colegiados da Justiça.
Enfim, o objetivo do PT,
que é tão público e notório quanto a inelegibilidade de seu eterno presidente
de honra, é arrastar o julgamento até 17 de setembro, a partir de quando não
haverá mais tempo para substituir, nas urnas eletrônicas, a foto de Lula pela de Haddad, induzindo o “esclarecidíssmo” eleitorado a erro, já que
muitos apertariam o botão pensando estar votando no demiurgo de Garanhuns,
quando na verdade estariam escolhendo seu “poste”.
Enquanto isso, dedicamos pouca ou nenhuma atenção ao Congresso, onde 440 deputados e senadores de um total de 594 parlamentares serão candidatos à reeleição. Nesse caso, não precisamos de um "salvador da pátria", mas de centenas deles. E não estou falando apenas de renovar os quadros, colocar gente nova no lugar das excelências pegas com a boca na botija. Dilma Rousseff era uma tremenda novidade e resultou no desastre por todos visto e por nosso bolso sentido. Jânio Quadros, embora vereador, deputado, prefeito e governador, em 1960 simbolizava "o novo", sem falar em Collor, o desperdício-mor da primeira eleição direta pós-ditadura.