A maioria dos ministros da 2ª Turma STF já votou contra
conceder liberdade ao criminoso de Garanhuns, que está preso desde o mês
passado. O julgamento em plenário virtual começou no último dia 4, e o prazo
para os ministros apresentarem seus votos termina às 23h59 desta quinta-feira. Até a última
atualização, já haviam votado contra conceder liberdade a Lula os ministros Luiz Edson Fachin (relator), Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo
Lewandowski. Ainda falta o voto de Celso
de Mello, mas a maioria foi estabelecida com voto o de Gilmar. Volto a este assunto oportunamente.
Fala-se que as eleições presidenciais deste ano serão parecidas com a de 1989, quando o caçador de marajás de festim venceu o sindicalista lalau. Na época não se sabia que o caçador de marajás era de festim, nem que o sindicalista era lalau, mas isso é outra conversa. Importa dizer é que o contexto atual é bem diferente do de então, e a parecença não vai além da quantidade absurda de disputantes ao cargo mais importante desta Banânia.
O Brasil nunca precisou tanto de uma campanha eleitoral de
verdade, com debate de propostas, posições políticas, questões envolvendo
economia, privilégios de poucos e mazelas de muitos. E em 1989 havia debates, e
os políticos não estavam na mira da maior operação anticorrupção jamais vista
no Brasil. Não que os políticos de então não fossem corruptos, mas isso também
é outra conversa. O fato é que nas próximas eleições os candidatos subirão mais
uma vez nos palanques (sobretudo virtuais) para prometer o que sabem que não vão
poder cumprir.
A ausência de uma campanha política de verdade, com debates
de ideias e propostas, está fora da agenda de todos os partidos. Entre os pré-candidatos, Alckmin, Ciro e Marina (nem vou
mencionar Collor, que isso seria
escarnecer do leitor), já concorreram outras vezes, e nenhum foi capaz de
apresentar programa de governo para um país afundado em crise. Marina, a eterna sonhática, chama Bolsonaro de hiena. Bolsonaro comemora a prisão de Lula. Ciro fala mal do PT e Álvaro Dias bate em Alckmin, que simplesmente desaparece, a pretexto de estar em campanha.
Joaquim Barbosa, quando
ministro do STF, ganhou notoriedade
durante o julgamento da ação penal 470
(vulgo julgamento do Mensalão), sobretudo por seus embates
com Ricardo Lewandowski ― que atuou mais como advogado de defesa dos petistas do
que como magistrado da nossa mais alta Corte. Mas adiante, devido a problemas
de saúde, o ministro antecipou sua aposentadoria
e descartou a possibilidade de ingressar na política, pelo menos naquele
momento. Meses atrás, porém, despontou como candidato a candidato e ganhou rapidamente o apoio popular, notadamente do segmento da sociedade que não
aguenta mais tanta corrupção.
Antes mesmo de formalizar sua filiação partidária e afirmar
com todas as letras que pretendia concorrer, Barbosa tinha invejáveis 10% das intenções de voto, superando com folga Geraldo Alckmin ― não à-toa conhecido como picolé de chuchu ―, Ciro
Gomes, Álvaro Dias e mais um ou
dois postulantes que teriam chances reais de passar para o segundo turno.
Com Lula na cadeia e fora do páreo ― embora
o PT insista em manter sua
candidatura até o mais amargo fim, contando com a possibilidade de substitui-lo
de última hora por um poste vermelho qualquer (Fernando Haddad e Jaques
Wagner são os mais contados) e torná-lo competitivo com os votos daqueles
que continuam iludidos pelo discurso mambembe do demiurgo de Garanhuns (ou criminoso
de Garanhuns, como queira), competitivos, mesmo, são Jair Bolsonaro e Marina Silva ― e, vá lá, Ciro Gomes, o cearense nascido em
Pindamonhangaba (SP). Fidelix, Eymael, Amoedo, Manoela D’Ávila e uma dúzia de outros aventureiros não têm a menor chance. E era justamente aí que Barbosa assomava como
opção para quem têm opção senão votar em branco ou anular o voto, pois
era visto como um candidato de centro esquerda, mas capaz de tirar votos de
candidatos da direita.
Era, porque na última terça feira o candidato “Viúva Porcina” (aquela que foi sem jamais ter sido) anunciou sua
decisão de não concorrer devido a “razões pessoais”, conforme mensagem
publicada em sua conta no Twitter. Ele havia se filiado ao PSB em 6 de abril, às
vésperas do prazo limite para disputar eleições, e desde então vinha fazendo mistério sobre
suas reais pretensões.
O presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, disse ter recebido um telefonema de Barbosa no início da manhã de terça-feira, 8, comunicando
a decisão. Especula-se que, dentre os principais motivos que o levaram a desistir,
está a desaprovação da família e o problema gravíssimo de coluna que o
levou a se aposentar prematuramente do STF.
Além do temperamento forte, Joaquim Barbosa passava
a impressão de que queria ser “aclamado” pelo partido que o acolheu. Só que acabou
enfrentando resistência a seu nome, o que também deve ter pesado em sua
decisão. Mesmo assim, é de se lamentar sua sua decisão: embora não seja
possível prever como ele governaria se eleito fosse, sua vida pregressa ilibada
e intransigência com a corrupção levam a supor que perdemos uma boa chance
de eleger alguém comprometido com os interesses da nação, alguém que poderia usar o poder para servir, e não para se servir dele.
Muita gente está comemorando a decisão de Barbosa ― dizendo, inclusive,
que ele jogou a toalha porque teria algo a esconder. Uma acusação leviana, mas
que não chega a causar estranheza vindo de adversários que respiraram mais aliviados
com a saída de um concorrente de peso, sobre cuja reputação jamais pairou
qualquer suspeita de práticas pouco republicanas.
Para o PSB, que durante anos orbitou em torno do PT, mas com quem rompeu em 2013, quando lançou a candidatura do
então governador de Pernambuco Eduardo
Campos ―, ficou mais difícil alçar voo próprio na esfera nacional. Com a
desistência de Barbosa, ganha força
no partido a possibilidade de apoio a Ciro
Gomes.
Barbosa era a
principal incógnita nessa equação e o único nome de fora da política na
sucessão presidencial, e por essas e outras sua desistência altera o cenário.
Para que lado a balança vai pender, ainda é cedo para dizer.
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