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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

O INCRÍVEL HUCK



Muita gente que apoiou Bolsonaro para evitar a volta do PT se decepcionou com seu governo. Eu, inclusive. E não sem razão. Embora não alimentasse esperanças de que um obscuro membro do baixo-clero da Câmara Federal pudesse se tornar um estadista da noite para o dia, imaginei que sua postura antipetista e a nomeação do ex-juiz federal Sérgio Moro para a pasta da Justiça e Segurança Pública produziriam efeitos detergentes na corrupção, da mesma que a escolha do Posto Ipiranga reconduziria a Economia aos trilhos do crescimento.

Isso sem mencionar a promessa de acabar com a reeleição, que se tornou mais uma das muitas falácias de campanha que o candidato eleito largou no pé da rampa do Palácio do Planalto — para ficar no exemplo mais notório, cito a "carta-branca" prometida a Moro e o apoio incondicional a seu pacote de medidas anticrime e anticorrupção, que se tornaram letra morta depois que o "mito" abandonou o discurso original ("se for culpado, deve ser punido") para blindar seu primogênito no "Caso Queiroz".

Em 11 meses de governo, o indômito Capitão Caverna se indispôs com Deus e o mundo, vituperou ofensas gratuitas a torto e a direito e demitiu assessores que havia escolhido entre amigos de longa data, conquanto mantivesse no cargo Damares Alves, Abraham Weintraub, o laranjista pesselista Marcelo Álvaro Antônio e outras aberrações indicadas pelo ex-astrólogo e guru palaciano Olavo de Carvalho. Em vez de governar para todos e, na medida do possível, contribuir para baixar a fervura da dicotomia que o câncer vermelho fomentou com seu "nós contra eles", limita-se o presidente a jogar para a plateia, para o nicho que o enxerga como a patuleia desvairada enxerga o sumo pontífice da seita do inferno.

Às vésperas de completar um ano, este governo cravou com sua maior conquista a aprovação da PEC previdenciária, que só passou graças ao empenho do LegislativoBolsonaro não ajudou e ainda fez o que pode para atrapalhar sua tramitação, quiçá para tirar a castanha com a mão do gato, colhendo os frutos da emenda sem associar diretamente sua imagem a uma reforma repudiada pelos brasileiros menos afeitos a raciocinar, sempre abertos às aleivosias do presidiário mais ilustre do Brasil e da caterva de políticos filiados à organização criminosa que ele comenda.

Observação: Bolsonaro se revelou uma profícua usina de crises. Sua beligerância inata, combinada com uma inusitada vocação para ver conspirações e conspiradores em toda parte e impulsionada tanto pelos primeiros filhos quanto por um ministério eivado de apaniguados do retrocitado guru de araque lhe garantiu até mesmo uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, por incitação ao genocídio de indígenas brasileiros (claro que há muita falácia por trás disso, mas o fato é que poderíamos dormir sem essa).

Candidatíssimo à reeleição que prometeu extinguir e em pé de guerra com o cancro vermelho, o intrépido capitão antecipa em dois anos a campanha eleitoral de 2022, que, por mal dos nossos pecados, deve se desenrolar sob a absurda polarização político-partidária que tanto mal tem feito ao país. Na avaliação de Dora Kramer, transitam pelo espaço eleitoral localizado entre o o presidente e o encantador de burros políticos identificados com correntes do centro à direita civilizada, entre os quais destacam-se o apresentador global Luciano Huck e o governador João Doria.

Em público, os artífices da construção daquilo que já esteve em moda chamar de terceira via dizem que é cedo para falar em nomes e assumir candidaturas, mas, nos bastidores, atuam com afinco e o fazem com base em um cenário com os prováveis concorrentes: Bolsonaro, Fernando Haddad — ou o bonifrate da vez —, João Amoêdo, Luciano Huck, João Doria e Ciro Gomes. Rodrigo Maia só entra na lista como possibilidade para vice. 

Os trabalhos do centro (chamemos assim, pois até os nitidamente de direita recusam constrangidos o título, mesmo se tidos como “civilizados”) se concentram em Doria e Huck, o primeiro praticamente assumido como candidato e o outro ainda encenando indecisão, embora já tenha dado o o.k. aos adeptos e nos bastidores esteja em plena construção da empreitada.

O governador e o apresentador estão sentados numa hipotética gangorra, em que hoje Huck está em alta e Doria em baixa. Isso se depreende das conversas em que são listados os atributos de um e de outro. Sobre o governador só se ouvem pontos negativos: impaciência, deslealdade, discurso radical beirando a intolerância, inabilidade política. O único destaque positivo seria o fato de “ter” São Paulo. Nesse aspecto há quem lembre: Geraldo Alckmin e José Serra também “tinham” São Paulo e perderam duas presidenciais cada um.

A respeito do apresentador há ainda poucas certezas, várias dúvidas, mas muita esperança, o que acaba por contar a favor dele no balanço da gangorra. Entre seus ativos são citados obviamente a visibilidade proporcionada pelo programa na Rede Globo, a quantidade de seguidores em redes sociais na casa dos quase 50 milhões, o empenho em ganhar conteúdo em viagens no Brasil e no exterior para conhecer realidades, projetos e ações bem-sucedidas. Além disso, há o time composto de dois pilares importantes, Armínio Fraga na economia e Nizan Guanaes na comunicação, mais um grupo de aconselhamento formado por políticos experientes em cujo currículo está a arquitetura da candidatura Fernando Henrique Cardoso na qual o centro se expressou e depois, no governo, predominou.

Pesquisas internas também fazem os humores pender em favor de Huck. Doria aparece nelas com índices em torno de 5%, enquanto o apresentador chega a 16%, com bom grau de aceitação entre os mais pobres e, em âmbito regional, no Nordeste. Esses dois fatores o tornariam apto a entrar na base do PT. Um bom capital, mas ainda tido como insuficiente.

Há desafios a vencer, sendo o principal deles a capacidade de apresentar uma agenda que fale ao bolso, ao coração e ao bem-estar do eleitorado. Um discurso que se coadune com as demandas do mundo real, a fim de que a via alternativa não seja mera representação de equidistância artificial em relação aos extremos. Para isso, na avaliação dos operadores desse campo, é preciso fugir da lógica de acerto de contas com o passado, propor o que fazer daqui em diante entendendo que as pessoas querem emprego, renda e serviços adequados. No mínimo.

O candidato necessariamente terá de mostrar qualificação robusta, um dos motivos pelos quais ainda pairam dúvidas sobre a viabilidade eleitoral de Luciano Huck. E, pelo timing considerado mais adequado para martelos serem batidos em público, ele não terá chance de dirimi-las tão cedo. A ideia é que fique distante da eleição municipal de 2020 e estenda a definição oficial o máximo possível, a fim de não perder o holofote gigantesco da Globo. Quando seria isso? A partir do segundo semestre de 2021. Um tempo enorme, ainda mais se levado em conta nosso ritmo de montanha-russa na política. O quadro, portanto, senhoras e senhores, é o de hoje devendo ser visto (e talvez anotado) na perspectiva do ponto de partida.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

LULA, AS MENINAS DO JÔ E A AVALIAÇÃO LAPIDAR DE CID GOMES, QUE CONTINUA VALENDO ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO



Dias atrás, uma repórter da GloboNews e ex-integrante das “Meninas do Jô” me fez lembrar do próprio , que costumava responder ele mesmo as perguntas que dirigia aos entrevistados. A questão levantada por essa ex-menina (não só porque o “Programa do Jô” deixou de ir ao ar em dezembro de 2016, mas também porque a dita-cuja já colheu 61 primaveras nos jardins da existência) foi sobre como seria o cenário eleitoral em 2022. E sua resposta (dela, não do entrevistado) foi que Bolsonaro é candidatíssimo à reeleição, que João Dória e Luciano Huck provavelmente concorrerão, e que, pela esquerda, tudo depende do “presidente Lula”. Confesso que me senti tentado a ligar para 4002-2884 e deixar o mesmo recado (lapidar, diga-se) que o senador Cid Gomes deu a uma súcia de petistas, em outubro do ano passado: Lula está preso, babaca. (relembre no vídeo a seguir).


Especular sobre a sucessão presidencial quando a gestão atual começou há pouco mais de 3 meses (se começou mal ou não, isso é outra conversa) me parece um exercício de futurologia sem o menor sentido. Demais disso, Bolsonaro afirmou mais de uma vez ser contrário à reeleição — e que pretende propor sua extinção numa possível reforma política. Semana passada, em entrevista ao jornalista Augusto Nunes no programa “Pingos nos Is” da Jovem Pan, ele voltou a dizer que a reeleição é ruim para o Brasil porque “o prefeito, o governador, até o próprio presidente se endivida, faz barbaridades, dá cambalhotas, faz acordo com quem não interessa, para conseguir apoio político...". Na mesma oportunidade, porém, ele disse: “a pressão está muito forte para que, se eu tiver bem [em 2022], obviamente, me candidatar".

A contradição não chega a surpreender, não quando vem de alguém a quem falta coerência e sobram ideias abiloladas, mas isso também é outra conversa. O detalhe é que Bolsonaro disse isso logo após o Datafolha e o Ibope indicarem que ele é o presidente em primeiro mandato menos bem avaliado desde 1985. Pressão de quem, então, cara pálida?

Tenho comigo que Geraldo Alckmin prestou um desserviço ao país ao insistir em disputar a Presidência quando João Dória tinha chances reais de passar para o segundo turno — e, por que não dizer, de vencer a eleição. Doria não terá esse egun mal despachado a assombrá-lo em 2022, o que é um ponto a seu favor. Quanto a Luciano Huck, acho que o apresentador perdeu o bonde e a vez. É certo que teríamos votado no próprio capeta para impedir a vitória do boneco de ventríloquo comandado pelo presidiário de Curitiba (o que explica a vitória do capitão), mas isso se deu num cenário bastante peculiar, que dificilmente se repetirá em 2022.

O ex-presidente Lula (e não “presidente Lula”, como disse a infante sexagenária) foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão em segunda instância (no processo do tríplex no Guarujá) e começou a cumprir a pena no dia 7 de abril de 2018 (há um ano, portanto). Nesse entretempo, foi  sentenciado a mais 12 anos 11 meses de prisão pela juíza substituta Gabriela Hardt (no caso do sítio em Atibaia). Além disso, os autos do processo sobre o terreno do Instituto Lula e a cobertura em São Bernardo do Campo estão conclusos para sentença — o julgamento pode se dar a qualquer momento, a critério do juiz federal Antonio Bonat, que substitui Sérgio Moro no comando da 13ª Vara Federal do Paraná. Aliás, Bonat já negou um pedido de suspeição da defesa do ex-presidente contra o delegado federal Filipe Hille Pace, que investiga Lula no âmbito da Lava-Jato do Paraná. Para além desses processos, o petralha é réu em outros seis, sem mencionar que foi indiciado no início do mês passado, juntamente com o pimpolho Luiz Cláudio, pelos crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de influência (clique aqui para mais informações sobre a capivara do eterno presidente de honra do PT),

Se ninguém botar jabuti em árvore, o REsp de Lula — que dentre outros absurdos pleiteia a anulação do processo do tríplex e o envio do caso à Justiça Eleitoral — será rejeitado pela 5ª Turma do STJ, como já o foi por uma decisão monocrática do ministro Félix Fisher, no final do ano passado. E agora que o presidente do Supremo despautou e adiou sine die o julgamento das ADCs que questionam a constitucionalidade da prisão após condenação por um juízo colegiado, não há por que o STJ continuar empurrando o julgamento barriga. Se o que faltava a Fisher para levar o caso em mesa era a manifestação do MPF sobre o pedido de remessa do processo à Justiça Eleitoral, agora não falta mais: o parecer (contrário ao pedido) foi encaminhado na última terça-feira

Voltando à resposta que a repórter da GloboNews deu a si mesma, segue um texto de Josias de Souza (os grifos são meus):

Lula tornou-se para o PT um personagem paradoxal. Preso há um ano, ele continua sendo a única liderança nacional do partido. Mas seu pesadelo criminal transformou-o num líder sem futuro. Hoje, Lula está inelegível até 2038, quando completará 92 anos. Ou seja, do ponto de vista estritamente eleitoral, é um passado que não passa para o partido que fundou. Para que Lula voltasse a ser candidato, como gostaria, seria necessário que a sentença que o condenou a 12 anos e um mês de cadeia fosse anulada nos tribunais superiores. Mas nem os mais fanáticos adeptos do bordão 'Lula Livre' acreditam nessa possibilidade

O petismo agarra-se a uma tênue esperança dos advogados de que a sentença seja pelo menos reduzida no julgamento de recurso no STJ — uma eventual redução da pena permitiria à defesa reivindicar uma progressão de regime prisional. Com sorte, Lula ganharia uma transferência do regime fechado para o semiaberto. Com muita sorte, iria para a prisão domiciliar. Seria um alívio para o preso, não para o PT. No momento, o grande desafio do petismo é o de se reinventar na oposição. 

Por ora, o partido repete o modelo de oposição agressiva que adotava no passado. Com uma diferença: o PT já não se encaixa no papel de virgem no bordel. Os adversários agora sabem o que os petistas fizeram nos verões passados, quando manusearam a chave do cofre. De resto, ser do contra sem dizer o que colocaria no lugar de projetos como a reforma da Previdência não estimula o eleitor a recolocar o PT na fila de alternativas caso Bolsonaro mantenha o país no caminho do brejo. 

O bordão 'Lula Livre' logo será um assunto chato até para o PT, se é que já não é. Ainda que se materializasse, o sonho de liberdade seria seguido de novos pesadelos. Há mais uma condenação de primeira instância. Há também meia dúzia de processos por julgar. Adepto da teoria da palmeira única, Lula jamais permitiu que brotassem outras lideranças no gramado do PT. Seu egocentrismo condenou o partido a administrar a decomposição do seu único líder rendido aos interesses dele.”


ATUALIZAÇÃO: Como eu disse linhas atrás, existe a possibilidade de a 5ª Turma do STJ julgar o recurso de Lula nesta quinta-feira (ou no próximo dia 23, já que Judiciário, trabalho e Semana Santa não se misturam). Em tese, o relator, ministro Felix Fisher, ainda não levou o assunto em mesa porque aguardava a manifestação do MPF — que foi encaminhada na última terça e é contrária ao pedido da defesa de levar o caso do tríplex do Guarujá para a Justiça Eleitoral. O colegiado, conhecido por manter as decisões das instâncias inferiores nos processos da Lava-Jato, é formado por cinco ministros, um dos quais (Joel Ilan Paciornik) se deu por impedido de participar desse julgamento. Fisher já havia negado o apelo monocraticamente, mas a defesa do petralha argumenta é que o recurso expõe dezoito teses jurídicas compatíveis com a jurisprudência do STJ que deveriam ser enfrentadas por todos os ministros da turma. Possíveis resultados são:

1) O apelo ser negado e a condenação ser mantida (caso em que Lula seguirá cumprindo a pena em regime fechado);

2) O reconhecimento de que as decisões inferiores desrespeitaram alguma lei federal — como o Código Penal ou o Código de Processo Penal —, o que levaria à declaração de nulidade do processo, que voltaria à instância em que a falha foi detectada (a defesa alega que a ação não poderia ter sido julgada pelo juiz Sergio Moro; que o magistrado foi parcial; que foi negada a produção de provas periciais, e por aí afora);

3) O reconhecimento da competência da Justiça Eleitoral para analisar ação, o que também levaria à anulação de todos os atos processuais na esfera da Justiça Federal — inclusive da ordem de prisão;

4) A redução da pena (que a defesa considera exagerada) ou a absolvição do réu quanto ao crime de lavagem de dinheiro — em qualquer dos casos, a redução da pena abriria espaço para que o condenado a cumprisse em regime semiaberto ou em prisão domiciliar;

Façam suas apostas (e cruzem os dedos).

sábado, 17 de fevereiro de 2018

AINDA SOBRE O CIRCO DAS ELEIÇÕES 2018


A imagem acima é uma alusão à intervenção federal na Segurança do Estado do Rio de Janeiro (assunto que será abordado oportunamente). Dito isso, vamos ao que interessa.

Dentre os quase 20 postulantes à presidência da Banânia (num universo surreal de 35 partidos oficialmente registrados e outros 73 aguardando a vez), são bem poucos os que têm chances reais de chegar ao segundo turno. Por ironia do destino ― ou pela ignorância atávica do nosso povo ―, os que mais se destacam são justamente aqueles que mais preocupam.

Lula, ao que tudo indica, ficará fora do páreo. Claro que estamos no Brasil, onde interpretar as leis ao sabor de conveniências e especificidades não é incomum. Mas é consenso entre os juristas ― aí incluídos ministros do TSE e do STF ― que a Lei da Ficha-Limpa sepulta as pretensões eleitorais do criminoso condenado (se o PT chegar a pedir o registro de sua candidatura, o TSE deverá negá-lo). Quando, porém, é que são elas. E enquanto dura essa agonia, Bolsonaro continua colhendo frutos de sua alardeada postura anti-Lula e antipetista (que a mim parece ser seu único predicado).

Alckmin empacou nos 5%, mas pode cair se e quando forem comprovadas as denúncias de corrupção feitas por delatores contra ele. No final do ano passado, a PGR pediu ao STJ (instância em que tramitam processos contra governadores, que também têm direito a foro especial por prerrogativa de função) a abertura de um inquérito (que corre em segredo de justiça). Seja como for, pelo que se pode inferir da história pregressa do PSDB, a candidatura do “picolé de chuchu” será mais um voo de galinha ― isso se ele chegar politicamente vivo às eleições. Uma pena, porque, a julgar pelos concorrentes, Alckmin ― se realmente não estiver envolvido nas maracutaias ―, é uma das poucas alternativas dignas de consideração.   

Observação: O governador tucano afirma que “nunca nossa vida pública precisou tanto de transparência e verdade; confio que a apuração das informações pela Justiça encerrará todas as dúvidas”. Mas foi isso mesmo que Temer disse quando sua conversa pecaminosa com Joesley Batista veio a público  e depois vendeu a alma ao Diabo para impedir que as investigações avançassem no STF). E Lula, que jura inocência a despeito de responder a 7 ações criminais (por enquanto), ter sido condenado em uma delas (em duas instâncias do Judiciário) e está com um pé no Complexo Médico-Penal de Pinhais, em Curitiba. Se alguma vez ― uma única vez ―, qualquer figurão da nossa política, investigado, indiciado ou processado, assumir publicamente sua culpa, vai chover merda no Ceará!

Luciano Huck nega ser candidato, mas vem se equilibrando nas pesquisas de opinião pública ― depois de Lula (que, como dito, deverá ser impedido de concorrer) e de Bolsonaro (cuja candidatura tende a se esvaziar sem Lula no páreo). O apresentador compartilha com outros pretendentes o honroso terceiro lugar, o que demonstra a vantagem do “novo” sobre os representantes da velha política tupiniquim. Aliás, quanto mais a candidatura de Alckmin patina, mais cresce entre os políticos de centro a vontade de lançar a candidatura de Huck, que já confirmou que desistiu de concorrer. Lembro que ele disse isso em novembro, mas pediu que seu nome não fosse retirado das pesquisas. Por essas e outras, podemos ter novidades até abril.

Joaquim Barbosa teria dado trabalho a Dilma e Aécio se tivesse concorrido em 2014, quando sua popularidade ― advinda do julgamento do mensalão ― estava nos píncaros, mas perdeu o bonde da história: mesmo empatado com Alckmin e Huck, o ex-ministro enfrenta resistência até mesmo dentro do PSB, onde velhas raposas como Aldo Rebelo e Beto Albuquerque também disputam o posto de candidato. Claro que Barbosa pode se filiar a outro partido até o dia 7 de abril, e já conversou com vários. Só acho estranho que seu “ponto forte” seja a suposta intolerância com a corrupção e, mesmo assim, ele não descarta uma aliança com o próprio PT, embora refute composições com PSDB, MDB e DEM.

Rodrigo Maia e Henrique Meirelles ora são e ora não são candidatos a candidato. Ambos gostariam de disputar, naturalmente, mas eu gostaria que chovesse champanhe francês, e até até hoje isso não aconteceu. Temer também sonha com a reeleição, mas isso é tão improvável que não merece sequer uma análise mais detalhada (até porque o medebista ocupa a "honrosa posição" de presidente mais impopular desde a redemocratização do Brasil).

Propostas excêntricas não faltam entre outros virtuais candidatos: repleto de menções a Deus, o deputado evangélico Cabo Daciolo, que pretende concorrer pelo Avante depois que foi expulso do PSOL, vê na intervenção militar a solução para o país. Ele já chegou a defender o fechamento do Congresso Nacional, onde “só tem corruptos”, e a anunciar que daria sete voltas no prédio da Câmara e do Senado paraexpulsar o demônio da corrupção”. De napoleões de hospício, já nos basta Collor, que se diz candidatíssimo (segundo as más-línguas, está de olho é no governo de Alagoas). Ou a ex-apresentadora Valéria Monteiro, que quer cativar o eleitorado prometendo ― dentre outras sandices ― licença-maternidade de três anos e isenção de Imposto de Renda para quem ganha menos de R$ 3.700.

Nessa bando de doidos destaca-se também cirurgião plástico Roberto Miguel Ray Júnior, mais conhecido como Dr. Hollywood, famoso por recauchutar estrelas de cinema e exibir seus prodígios pela TV. Dentre outras asnices, ele defende a execução do Hino Nacional todas as manhãs ― quando as pessoas deverão ficar em pé e colocar a mão direita no lado esquerdo do peito, como se faz nos EUA ―, diz que não precisa de coligações com outros partidos nem de tempo na TV, e que, se for eleito, reduzirá o número de ministérios a 15, dobrará o salário dos policiais e o efetivo da polícia, e por aí vai. Segundo o médico, “em 2018, o Brasil vai ter uma escolha: a mesma merda de sempre ou o Dr. Rey”.

Outra figura bizarra é Guilherme Boulos, líder do MTST, que estuda concorrer pelo PSOL. É certo que com Lula fora do páreo o chefe dos arruaceiros até pode dividir votos da patuleia com a deputada estadual gaúcha Manuela D’ávila, do PCdoB. Ou com Marina Silva, a eterna candidata, mas acho que não dá para o cheiro.

Junta-se a esse séquito de desvairados o pseudo cearense Ciro Gomes, que concorreu e perdeu em 1998 e 2002; Cristovam Buarque, que disputou em 2006; Eymael ― do jingle chiclete “Ey-Ey-Eymael, um democrata cristão” ― e Levy Fidelix ― do “aero trem”. Se fosse de internar todos esses napoleões de hospício, faltariam vagas nos manicômios como faltam celas nas penitenciárias para trancafiar todos os criminosos engravatados deste país

As eleições presidenciais de 2018 se assemelham às de 1989 na quantidade estapafúrdia de candidatos, mas as similaridades não vão além disso, pois a conjuntura atual é muito diferente. No final dos anos 1980, havia esperança; hoje, o que existe é um pessimismo generalizado das pessoas com com o sistema político. Isso foi comprovado pelo número de abstenções, votos nulos e em branco nas eleições de 2016, e tudo indica que em outubro a coisa será ainda pior (voltarei a esse assunto oportunamente).

Para Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, terá chances de se eleger quem conseguir transmitir soluções para as principais aflições da população (segurança pública, saúde e estabilidade econômica) e que melhor fizer frente ao ambiente de rejeição aos políticos em geral, cujo plano de fundo é a corrupção.

Resta-nos votar com consciência e ver que bicho dá.

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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

ELEIÇÕES 2018 ― O CIRCO PROMETE!


O cenário eleitoral que se descortina lembra o de 1989, quando 22 candidatos disputaram a presidência desta Banânia. Desta vez, porém, além de políticos tradicionais, teremos banqueiros, apresentadores de TV, um líder dos sem-teto, um bombeiro e até um recauchutador de celebridades ― que anunciou sua intenção de concorrer caso consiga refundar o Prona, partido que lançou o folclórico Dr. Enéas à presidência nos anos 1990. 

Diante dos escândalos de corrupção suprapartidária, é natural que surjam nomes de fora da política tradicional ― e que os políticos de carreira “manifestam preocupação” com os oportunistas, aventureiros e salvadores da pátria, pois receiam perder a teta que os alimenta. Mas o fato é que, a menos de oito meses das eleições, ainda não surgiu ninguém capaz de desbancar, pela esquerda, Lula, o criminoso condenado, e pela direita, Bolsonaro, o militar aposentado e extremista abilolado, que disputam a preferência dos pouco instruídos e nada esclarecidos eleitores tupiniquins. Ou, pelo menos, é isso que apontam as pesquisas de intenção de voto.

Pouco lembrados pelo povão, mas cheios de gás (segundo eles próprios), estão Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Marina Silva, Levy Fidelix, Christovam Buarque, Eymael e, pasmem, Fernando Collor ― os notórios integrantes do bloco “Tente Outra Vez”. 

Entre os “Eternamente Indecisos”, destacam-se Joaquim Barbosa, Luciano Huck, Rodrigo Maia e Henrique Meirelles. Na ala dos “novatos”, figuram João Amoedo, Paulo Rabello e, pasmem de novo, Guilherme Boulos, e no “Bloco do Eu Sozinho”, além de Bolsonaro, sambam Manuela D’Ávila, Álvaro Dias e outras figuras prosaicas, como o Dr. Hollywood, o cabo Daciolo e a apresentadora Valéria Monteiro.

Para aumentar ainda mais a confusão, FHC vem dando corda a Luciano Huck, ainda que o candidato oficial do seu partido à sucessão presidencial seja Geraldo Alckmin, o “picolé de chuchu”.

Do alto dos seus quase 90 anos (mas com invejável lucidez), o ex-presidente tucano ignora solenemente as constantes negativas de Huck (que já comunicou oficialmente à Globo, no final do ano passado, que não será candidato) e diz que o apresentador está considerando a ideia, que seu estilo é peessedebista e que sua candidatura “seria positiva, porque é preciso arejar, botar em perigo a política tradicional, mesmo que seja do PSDB”.

Publicamente, Geraldo Alckmin ― que já se viu ameaçado pela súbita (e efêmera) popularidade de João Dória, mas acabou sagrando-se presidente nacional do PSDB e candidato oficial à presidência ― mantém as aparências, mas, nos bastidores, seu descontentamento com a fala do tucano-mor é notório.

É bom lembrar que, nas pesquisas de intenção de voto, Alckmin fica entre 5% e 6%, de modo que Fernando Henriqueque jamais caiu de amores pelo governador de São Paulo, apenas verbalizou o que pensa boa parte do partido, ou seja, que "é melhor vencer com Huck do que perder com Alckmin".

Luciano Huck nega ser candidato, mas não consegue esconder sua vontade de concorrer, como dá conta o avanço das tratativas com os partidos que lhe abriram as portas. Além do namoro com o DEM, ele agendou para depois do Carnaval uma nova rodada de negociações com o PPS e vem estreitado relações com o movimento Agora ― do qual já faz parte ―, talvez visando pavimentar sua eventual sustentação no Congresso. Parece que lhe falta apenas o empurrão definitivo ― que, se ainda não veio, não deve demorar.

Quanto a Lula, em que pese o pedido de habeas corpus preventivo no STF ― que o relator Fachin jogou no colo do plenário ―, a Justiça Eleitoral não deve autorizar sua candidatura. Em conversas de bastidor, vários ministros sinalizaram que eventuais recursos apresentados por candidatos “ficha-suja” serão analisados em menos de uma semana, e Luiz Fux, atual presidente do TSE, deixou claro que candidatos enquadrados na Lei da Ficha-Limpa até podem pedir o registro, mas ele lhes será negado.

Mas a verdade é uma só: para que o horizonte se desanuvie, é imperativo definir de vez a situação jurídica e eleitoral do molusco abjeto. Enquanto isso não acontecer, todas as previsões e exercícios de futurologia serão tão confiáveis quanto horóscopo de revista de fofoca.

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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

ELEIÇÕES 2018 ― TUDO COMBINADO E NADA RESOLVIDO



Nas próximas eleições, além da presidência da República, estarão em jogo os governos estaduais, 2/3 do Senado, e a totalidade da Câmara. Em 1989, disputava-se apenas a presidência ― o que dava mais força ao candidato do que ao partido que o apoiava ―, e todas as grandes lideranças políticas estavam na disputa. O embate final se deu entre os populismos de direita e de esquerda, com Brizola sendo expelido no primeiro turno e Collor derrotando Lula no segundo.

No pleito desse ano, os principais protagonistas são os populismos de esquerda e de direita, encarnados, respectivamente, em Lula e Bolsonaro. Isso se deve em parte ao fato de decadência moral e a crise econômica servirem de adubo para populistas radicais, mas também por não ter surgido, pelo menos até agora, um mísero candidato “de centro” que empolgue o eleitorado.

O último candidato não populista a presidente a derrotar um rival populista foi FHC ― que venceu Lula em dois pleitos consecutivos, sempre no primeiro turno ―, menos pelo seu estilo de fazer política e mais pelo Plano Real, que teve efeitos benignos sobre o eleitorado (nada mais popular do que garantir ao povo uma melhoria imediata de vida e uma moeda valorizada).

Melhorias de vida imediatas são geralmente produzidas por medidas populistas. O Plano Cruzado, por exemplo, garantiu a vitória dos acólitos de Sarney nas eleições majoritárias e proporcionais de 1986. Outro bom exemplo é o Bolsa Família, que alavancou o lulopetismo. Num país tão desigual quanto o Brasil, Getúlio sempre vencerá o Brigadeiro ―, lembra Merval Pereira, referindo-se às duas derrotas que Eduardo Gomes sofreu na década de 40; uma para Dutra, candidato de Getúlio, e outra para o próprio Getúlio.

Para Michel Temer e seu “legado”, o desafio será chegar às eleições sem se tornar a “Gení”, como aconteceu com Sarney em 1989. Ele aposta na melhora da economia e parece mesmo acreditar que seu apoio será decisivo em outubro, e em momentos de delírio explícito cogita até mesmo em se candidatar à reeleição.

Existe uma longa distância entre o que se deseja e o que se obtém, e nada indica que, nos próximos meses, a melhoria da economia será significativa a ponto o governo mais impopular da história num ativo eleitoral capaz de neutralizar a ânsia da população por um “salvador da pátria” ― papel que Lula e Bolsonaro representam, ainda que por razões distintas.

Em última análise, o momento é de incerteza. Tudo que se tem até agora não passa de mera especulação. O cenário só começará a se definir a partir do próximo dia 24 ― Deus permita que com Lula fora do páreo e, se possível, dentro de uma cela no presídio.

Geraldo Alckmin terá de “fazer o diabo” para crescer nas pesquisas e mostrar que foi acertada a decisão do partido [de escolhê-lo em detrimento de João Doria].  Não é à toa que Luciano Huck parece disposto a voltar ao páreo. Além disso, até abril o cenário pode mudar, com a entrada de nomes como Joaquim Barbosa, Henrique Meirelles, Marina Silva e outros quaisquer. 

Infelizmente, nenhum entusiasma, todos decepcionam. 

Pobre Brasil.

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terça-feira, 28 de novembro de 2017

O INCRÍVEL HUCK


Num país onde até Sílvio Santos já foi candidato a presidente e os campeões de intenção de voto são, até agora, um criminoso condenado e um dublê de militar e deputado federal saudoso dos anos de chumbo, não chega a espantar o fato de Luciano Huck se destacar nas pesquisas, mesmo sem ser oficialmente candidato. Mas que dá medo, isso dá. 

Não de Huck, naturalmente, que me parece um sujeito inteligente e bem-intencionado (ainda que o caminho do inferno esteja pavimentado com boas intenções). O que assusta é o desespero da população diante da absoluta falta de opções que abre uma janela de oportunidade para um populista qualquer posar (outra vez) de salvador da pátria ― e aí não estou me referindo a Luciano Huck, é bom deixar bem claro.

Em extensa matéria publicada em sua mais recente edição, a revista IstoÉ pondera que, tão logo se integrou a movimentos cívicos organizados, Huck se transformou no fenômeno eleitoral da vez. Não que ele tenha manifestado interesse em lançar sua candidatura, mas, principalmente, pelo potencial eleitoral de uma possível candidatura e pelo alvoroço que esse fato político incontestável provocou no País.

Num ambiente altamente tóxico e de total descrédito da classe política, o apresentador encarna um perfil capaz de cativar um eleitorado carente de opções, interessado em escapar da polarização radical Lula x Bolsonaro. Seria o cara certo no lugar certo, num momento de desgaste do carcomido modelo político, em que as pessoas não se sentem mais representadas pelos veteranos do jogo.

Na maioria das simulações, Huck figurou na casa dos dois dígitos, o que representa um desempenho e tanto num cenário pulverizado como o atual. A última pesquisa revelou que ele é o mais bem avaliado entre os 23 nomes submetidos ao eleitor, com uma aprovação de 60% e apenas 32% de reprovação. Em dois meses, cresceu 17 pontos percentuais, enquanto outros cotados na disputa, como o trio assombro Lula, Bolsonaro e Marina, apresentam feedbacks negativos, sempre perto dos 60%, causando calafrios nos que poderiam ser seus oponentes.

O grande “X” da questão é que Huck não é candidato. Embora tencione continuar participando do Agora! e do Renova BR ― dois movimentos suprapartidários nos quais se engajou nos últimos meses ―, ele anunciou que não pretende se filiar a nenhum partido, sendo um ponto fora da curva na nossa política, onde ninguém desiste de ser candidato justamente quando seus índices de aprovação vão de vento em popa. Mas ele o fez, talvez porque, se realmente lançasse sua candidatura, teria a vida pregressa devassada, ou porque a Globo lhe deu prazo até 15 de dezembro para decidir se sai em campanha ou se fica na emissora (caso ele optasse por sair candidato, sua mulher, Angélica, também teria que se desligar da empresa).

Mesmo montado na bufunfa, ninguém em sã consciência abriria mão de um salário de R$ 1,5 milhão por mês, mais contratos de publicidade, para ganhar R$ 33 mil como presidente de uma república de Bananas encrencada como a nossa. A não ser, claro, que enxergasse outros portos além de onde a vista alcança no horizonte... Mas não me parece ser o caso do incrível Huck. E ainda que fosse, é bom lembrar que a Lava-Jato está aí ― combatida, sabotada e enfraquecida, mas ainda ativa e operante. E Lula lá.

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